29 de janeiro de 2007

Banho de Loja

Após migrar para o novo blogger, a Championship Vinyl tomou um banho de loja e ganhou ares mais modernos. Agora, tudo aqui está dividido em seções, muito mais organizado, do jeito que eu sempre imaginei que isso aqui deveria ser.

Porém, como as mudanças não foram poucas (basta ver a barra lateral para ter uma idéia do que estou falando, com três novas seções), acho que cabem algumas explicações aqui, sobre cada uma delas (na verdade, como deu trabalho criar cada uma delas, tô com vontade de falar sobre elas):

Top 5 - Posts Mais Vendidos - são os posts mais comentados nos meses de existência desse blog. Digamos que são os hits do Championship Vinyl, que entrariam num best of. Claro que qualquer post que receber mais comentários vai entrar na lista.

Top 5 - Lado B - são os posts que só os colecionadores conhecem. Em outras palavras, são os textos que eu adorei escrever mas que pouquíssima gente leu - ou, ao menos, pouquíssima gente comentou. Agora, esses posts ganham uma chance para se redimirem.

Prateleiras - finalmente consegui colocar marcadores em cada post. São eles:
A humanidade não deu certo - título auto-explicativo
Culpa do meu Eu-Lírico - devaneios, teorias e desabafos
Metaliguagem – posts sobre o blog em si (como esse aqui)
Ô fase – Pérolas cotidianas que transformam Rob Gordon em Rob Gordon
Cinema - título auto-explicativo
Música - título auto-explicativo
Megastore (Livros-HQ-TV) - outros brinquedos de cultura pop

E, como não podia deixar de ser, nossos parceiros e fornecedores continuam devidamente linkados, logo abaixo de tudo isso.

Agradecemos a preferência e esperamos que gostem das mudanças.

Rob.

Tem Dias que o Post não Vem

Se você tem o hábito de entrar num blog de um amigo quase todos os dias, admirando o quanto aquele cara escreve bem, pode estranhar que, às vezes, o blog dele fica dias sem ser atualizado. Você entra no blog e lá está ele: o mesmo post de dias atrás, abrindo a página. Tem até um pouco de poeira no título. E, se você manda uma mensagem para a pessoa, perguntando por que ela não escreve mais, as respostas que você recebe são sempre as mesmas: “Putz, cara, tô sem tempo para nada esses dias”, ou “Na verdade, estou mexendo no layout do blog, por isso não estou postando nada”.

Sim, isso até pode ser verdade. Ele realmente pode estar trabalhando demais, ou fuçando no html do blog. Mas, normalmente, essas desculpas servem apenas para esconder um dos maiores segredos dos blogueiros. Um segredo que ele não conta para ninguém – nem mesmo para outros blogueiros. Se você é blogueiro, você já sabe do que estou falando e, sim, vou abrir o jogo aqui. O mundo precisa saber disso:

Tem dias que, simplesmente, o post não vem.

Pode parecer difícil de acreditar, mas, nós, blogueiros, que escrevemos aparentemente sobre qualquer assunto e em qualquer estilo, também temos bloqueios criativos. Nós, que escrevemos esses textos que vocês adoram ler quando o chefe não está olhando, também sofremos da síndrome da falta de assunto: às vezes, nada no mundo parece ser interessante a ponto de virar um post. E, às vezes, essa síndrome dura dias.

Sim, porque vocês lêem os textos e pensam: “Uau! Esse cara escreve demais! Tudo para ele é assunto!” Vocês nem imaginam quantas vezes estivemos com os dedos coçando para escrever algo no blog e ficamos horas olhando aquela tela em branco, com fragmentos de textos geniais na sua cabeça – sendo que nenhum deles tem potencial para virar um post de verdade. E você ali, pensando nos textos que já postou, nos elogios que já recebeu... E a tela em branco rindo da sua cara, tentando te convencer de que "aquele post genial de meses atrás que todo mundo adorou foi um lapso da sua parte, que na verdade esse seu lado medíocre é que é a realidade". E, na hora em você abre seu blog e vê que o último post tem mais de uma semana, você começa a dar razão para ela.

Nesses momentos, as pessoas mandando comentários como “e aí, cara, quando você volta a escrever nesse blog?” não ajudam muito. E você, como um viciado que esconde o vício das outras pessoas, responde disparando mentiras prontas e mal-feitas como “estou viajando” ou “estou trocando a conexão da internet aqui em casa, por isso o blog está parado”. Conheço um blogueiro que chegou a forjar a morte da avó como desculpa para a ausência de posts – como ele já tinha postado umas fotos da velhinha no site, ganhou a simpatia geral dos leitores, o que acabou rendendo posts sobre o funeral e até mesmo a missa de Sétimo Dia. Tsc tsc... Tudo para esconder o fato de que estava num bloqueio criativo danado. Não adianta. Blogueiro não assume que está sem assunto.

Sim, pode parecer difícil de acreditar, mas tem dias que o post não vem. Olhamos para todos os lados, fuçamos a internet atrás de algum assunto que renda um post. Eu chego até a sair para a rua e fico olhando as pessoas. Como eu moro em Pinheiros, 30% das pessoas que eu vejo perto de casa rendem alguma coisa para colocar no blog. Mas, nesses dias, parece que apenas as pessoas normais estão andando, os esquisitos, os que-nasceram-para-ser-posts estão em casa, provavelmente fuçando na internet e vendo que seu blog continua ali, intocável.

E você volta para a casa, liga a TV, entra na internet, liga o rádio, começa a olhar seus livros... E nada de interessante acontece. E a coceira nos dedos para escrever aumentando. E a tela branca rindo da sua cara. E as mensagens cobrando posts novos chegando no seu mail. A vontade que você tem é de ir até a varanda e gritar para o mundo:

– PORRA, VOCÊ NÃO PODE SER UM POUCO MAIS INTERESSANTE?

E, não, nenhum blogueiro vai assumir isso – talvez só sob tortura. Isso é segredo de estado. Anote isso: blogueiro nunca está sem inspiração, ele está sem tempo. Assumir que, às vezes, você simplesmente não tem nada para postar é algo imperdoável dentro da blogosfera. É o mesmo que quebrar a máscara na comunidade dos vampiros (nerd mode: on), ou ignorar a omerta, na máfia italiana (fanático por O Poderoso Chefão mode: on).

Provavelmente, eu vou sofrer retaliações por abrir o jogo dessa forma e tornar isso público. É capaz de hackers invadirem meu blog. Ou pior, alguns blogueiros emos descobrirem onde moro e combinarem de fazer uma choradeira coletiva na frente do meu prédio (Uau! que post que isso renderia!). Mas, agora é tarde. Agora eu já contei tudo. O mundo precisava saber disso:

Tem dias que o post não vem.

Se você é blogueiro, sabe disso.

Se você não é blogueiro, você não faz idéia do quanto isso incomoda. Mas, não se preocupe. Nós sempre voltamos. Nem que seja simplesmente para fazer a maldita tela em branco calar a boca!

E, olha só... não que é o fato de não ter um assunto rendeu um post?

5 assuntos que não evoluíram a ponto de virar post no Championship Vinyl

1. ‘O macho da drosófila não pratica crossing-over” - essa frase, dita em alguma aula de biologia, sintetiza totalmente a imbecilidade do colegial e a humilhação que os alunos precisam passar para se formar - afinal, isso é um problema da drosófila, do macho dela e de mais ninguém. Talvez ainda vire um post, tenho algo rabiscado em casa.

2. O sósia do Coronel Mostarda que dançava na Teodoro Sampaio - se você jogou Detetive, sabe quem é o Coronel Mostarda. Agora, imagine ele dançando para as pessoas na Teodoro, com uma camisa florida e bermudas. Infelizmente, como ele sumiu segundos depois, não tinha nada mais para postar sobre ele.

3. A comida do restaurante por kilo aqui do lado – mas ela anda tão insossa que tive medo do blog ter o mesmo sabor de gelatina de hospital.

4. A prisão do Ronaldo Esper após roubar dois vasos de cemitério – a piada já nasceu tão pronta, tão redondinha, que tive medo de mexer e estragar.

5. A moda das “celebridades sem calcinha” – Naaah.... Pobrezinho demais. "Sem assunto" demais.

28 de janeiro de 2007

Perseguição - Variações sobre o Mesmo Tema

Cinco cenários diferentes para a mesma história (com a mesma estrutura narrativa e a mesma linha de acontecimentos). Mudam apenas os personagens.

Escolham a que vocês gostam mais e divirtam-se.

Eu, por outro lado, não tive escolha e fui obrigado a viver uma delas – adivinhem qual?

E, não, não foi nada divertido.


Terra-Média
Final da Segunda Era

Enquanto perseguia o dragão pela caverna úmida, o cavaleiro lembrou-se rapidamente de sua missão: fazer a criatura beber a poção mágica preparada por um feiticeiro, que o colocaria em sono profundo e traria paz aos camponeses da região. Seus pensamentos foram dissipados quando escorregou numa pilha de ossos humanos e restos de roupas esquecidos no chão úmido, o que quase lhe derrubou e deu segundos de vantagem preciosos ao dragão.

– Não escaparás da justiça, vil criatura!, gritou bravamente.

Segundos depois, chegou a uma espécie de câmara, iluminada apenas por alguns raios de sol que penetravam no local por rachaduras na caverna. Não havia mais sinal da fera. O cavaleiro, porém, estava preparado para isso. Sabendo que os dragões são atraídos por cheiro de sangue fresco, voltou à entrada da caverna e voltou, desta vez com seu cavalo – que não disfarçava o medo de penetrar naquele local fétido. Amarrou o bicho num dos pilares naturais que se formaram na caverna através dos séculos e, rápida e silenciosamente, escalou uma parede apoiando os pés em falhas rochosas. Quando encontrou um lugar que lhe dava uma boa visão do local, esperou, pacientemente.

Horas depois, ouviu passos que faziam a estrutura da caverna tremer. Seu cavalo, nervoso, começou a relinchar. Foi uma questão de segundos até que o dragão, enfurecido, estivesse quase em cima do animal, pronto para devorá-lo. Mas os poucos segundos foram suficientes: o cavaleiro pulou de onde estava e caiu justamente sobre a cabeça do dragão, agarrando-se ao seu pescoço. O monstro, assustado e enraivecido, começou a se debater furiosamente, mas o herói não o largava. Buscando apoio com um dos pés sob as escamas avermelhadas do animal, consegui projetar seu corpo ao ar, bem à frente das presas da fera, e, agilmente, jogou o frasco de poção na goela do bicho. Este engasgou com o inesperado líquido, e começou a se debater. Minutos depois, estava deitado no chão da caverna, dormindo silenciosamente.

Os camponeses estavam a salvo!


Colônia de Mineração Gamma VII
Século 28

Enquanto perseguia o alienígena pela caverna úmida, o guerreiro do espaço lembrou-se rapidamente de sua missão: fazer a criatura beber o líquido sintetizado nas usinas da terceira lua de Júpiter, que o colocaria em sono profundo e traria paz aos mineiros daquela colônia. Seus pensamentos foram dissipados quando escorregou numa pilha de equipamentos de mineração e algumas rochas soltas, esquecidos no chão úmido, o que quase lhe derrubou e deu segundos de vantagem preciosos ao alien.

– Não incomodará mais os mineiros deste planeta, vil alienígena!, gritou bravamente.

Segundos depois, chegou a uma espécie de salão dentro da mina, iluminada apenas por algumas tochas artificiais utilizadas pelos mineiros. Não havia mais sinal da criatura. O guerreiro espacial, porém, estava preparado para isso. Sabendo que aquela espécie de alienígena é atraída pelo brilho de pedras preciosas, pegou alguns cristais utilizados como combustível de naves espaciais e depositou-as no chão, cuidadosamente, sem fazer barulho. Acionou seu dispositivo de invisibilidade e esperou, pacientemente, próximo à porta que levava a sala de tratamento dos cristais.

Horas depois, ouviu passos que lembravam o som de alguém pisando em poças d’água. Foi apenas uma questão de segundos até que o alienígena – provavelmente oriundo do sistema Beta XIII - estivesse correndo pelo local, pegando as gemas do chão com seu braço esverdeado e as engolindo. Porém, a criatura distraiu-se com duas pedras que brilhavam mais intensamente, e virou de costas para o local onde o guerreiro, invisível, aguardada. Sabendo que não teria outra chance, disparou com sua pistola uma rede de alumínio maleável sobre a criatura, fazendo com que caísse no chão e começasse a lutar ferozmente pela liberdade. Quando ela parecia cansada e entregue ao seu destino, o valoroso herói agachou-se ao lado dela, e, rapidamente, injetou o líquido na gengiva do animal, que adormeceu profundamente. Agora, era hora de levá-la para o planeta-zoológico de Epsin Plus IV, onde ela seria bem tratada ao lado de outros de sua espécie.

Os mineiros espaciais estavam a salvo!


Novo Texas
1887
Enquanto perseguia o índio renegado pelas pradarias ao pôr do Sol, o pistoleiro lembrou-se rapidamente de sua missão: fazer o pele-vermelha beber uma dose de um calmante, que o colocaria em sono profundo e possibilitaria que a criança branca seqüestrada por ele, fosse resgatada a tempo de ser tratada de sua febre. Seus pensamentos foram dissipados quando seu cavalo tropeçou numa armadilha preparada pelo inimigo com gravetos e rochas soltas, que quase lhe derrubou e deu segundos de vantagem preciosos ao índio.

– Aquela criança precisa de cuidados médicos, vil indígena!, gritou bravamente.

Segundos depois, chegou à entrada da caverna utilizada como esconderijo pelo guerreiro indígena. Mas não havia sinal dele na região. O pistoleiro, porém, estava preparado para isso e sabia que o local deveria estar repleto de armadilhas. Conhecendo os costumes indígenas, afastou-se e montou acampamento a poucos metros dali, amarrando seu cavalo, armando uma pequena fogueira e recheando um saco de dormir com seu casaco e sua sela. Rapidamente, subiu na copa de uma árvore da região e esperou, pacientemente.

Horas depois, ouviu passos que passariam despercebidos a ouvidos menos experientes. Foi apenas uma questão de segundos até que o indígena estivesse ajoelhado ao lado do saco de dormir, com um punhal na mão, pronto para eliminar seu perseguidor. Antes que pudesse desferir o golpe, porém, foi atingido violentamente pelo pistoleiro, que pulou da árvore sobre o pele-vermelha, derrubando-o no solo duro. Ambos começaram a travar uma violenta luta, até que o herói conseguiu segurar o punho do índio, forçando-o a largar o punhal. Segurando o pele-vermelha pelo pescoço, conseguiu derrubá-lo ao chão e, imobilizando-o com o peso do seu corpo, conseguiu fazer o indígena beber o líquido, o que o fez dormir quase instantaneamente.

A criança estava a salvo!


Pequena Ilha no Caribe
Meados do século 16

Enquanto perseguia o capitão pirata através da espessa vegetação da ilha tropical, o marinheiro lembrou-se rapidamente de sua missão: fazer o corsário beber um ungüento modificado, que o faria adormecer rápida e profundamente, o que possibilitaria que ele fosse levado de volta à Inglaterra, como prisioneiro, para responder pelos seus crimes contra a marinha real. Seus pensamentos foram dissipados quando dezenas de pássaros assustados com o barulho voaram de uma moita, o que quase lhe derrubou e deu segundos de vantagem preciosos ao bucaneiro.

– Não escaparás da justiça real, vil criminoso!, gritou bravamente.

Segundos depois, chegou a uma clareira que, certamente, servia como acampamento para o bucaneiro. Mas não havia mais sinal dele na ilha. O marinheiro, porém, estava preparado para isso. Colocou um saco de moedas de ouro na areia branca e, utilizando-se de um truque que aprendera com nativos caçadores do continente, enterrou-se rapidamente ao lado do saco, utilizando apenas um broto oco de plantas para respirar e esperou, pacientemente.

Horas depois, ouviu passos. Foi apenas uma questão de segundos até que o corsário estivesse ajoelhado ao seu lado, contando as moedas com uma mão e segurando a espada com outra. Rapidamente, o marinheiro deu um golpe com sua perna, fazendo o capitão pirata tombar na areia, e pulou sobre o inimigo, atirando para longe sua espada. Porém, o criminoso sabia lutar desarmado e tentou estrangular seu atacante, que conseguiu se defender apenas dando uma cabeçada no rosto do bucaneiro, que praticamente perdeu os sentidos com o golpe. Num átimo, o marinheiro virou o pirata de bruços e, imobilizando-o com o joelho, obrigou-o a beber o ungüento. Segundos depois, o criminoso dormia profundamente no local.

Os navios ingleses estavam a salvo!


Apartamento de Rob Gordon
Sábado à tarde
Enquanto perseguia a Besta-fera através do corredor que dava do quarto para a sala, Rob Gordon lembrou-se rapidamente de sua missão: fazer o bicho beber dez gotas de Novalgina todos os dias, durante uma semana, por causa de uma inflamação no ouvido. Seus pensamentos foram dissipados quando escorregou na merda do caderno de esportes do jornal que estava esquecido no chão, o que quase lhe derrubou e deu segundos de vantagem preciosos ao bicho.

– Volta aqui, porra! Você tem que tomar essa merda!, gritou bravamente.

Segundos depois, chegou à sala, utilizada como esconderijo pelo cão. Mas não havia sinal dele no aposento. Gordon, porém, estava preparado para isso. Conhecendo os costumes do bicho, colocou um pouco de ração no tapete à frente da televisão. Sentando-se no sofá, ligou um DVD de Futurama e começou a assistir o episódio, aparentemente alheio a tudo. Sabia que estava sendo observado e tomou o cuidado de esconder a seringa com a Novalgina entre as pernas. Esperou, pacientemente.

Minutos depois, ouviu passos. Foi apenas uma questão de segundos até que o animal estivesse no chão, ao seu lado, cheirando a ração, aprontando-se para comê-la. Agilmente, Gordon pulou do sofá – sem pausar o Futurama, não havia tempo para isso – e agarrou o bicho com uma das mãos, sem largar a seringa. O animal tentou escapar, mas Gordon foi mais rápido e imobilizou-o com as pernas, forçando o animal a abrir a boca com uma das mãos e espirrando o líquido amargo para dentro de sua goela. O cão saiu chacoalhando a cabeça e olhando para Gordon com um olhar de quem estava muito, muito puto.

Um dia já foi. Faltam apenas seis!


5 epílogos (um para cada uma dessas histórias):
1. Terra-Média: o cavaleiro foi aclamado pelo povo como herói, e, com isso, o rei cedeu a mão de sua filha em casamento a ele. Viveram felizes para sempre.
2. Colônia de Mineração Gamma VII - o guerreiro espacial recebeu inúmeros cristais dos mineiros. Ficou milionário, largou tudo e casou-se com a namorada de infância. Viveram felizes para sempre.
3. Novo Texas - O pistoleiro virou herói de todos os colonos da região, o que lhe valeu o emprego de xerife numa pequena cidade. Lá, conheceu uma dócil e jovem professora, com quem se casou. Viveram felizes para sempre.
4. Pequena Ilha do Caribe - a fama do marinheiro chegou à corte inglesa. A realeza lhe presentou com uma frota de navios e com a mão de uma bela condessa. Casaram-se e viveram felizes para sempre.
5. Apartamento de Rob Gordon - a besta-fera, ainda emputecida com a Novalgina, rouba uma das meias de Rob Gordon e desaparece pela casa. Não se sabe o paradeiro de nenhum dos dois no momento, mas, certamente, planejam viver felizes para sempre.

20 de janeiro de 2007

Babel

Eu estava fuçando na livraria Nobel do Shopping Eldorado e, mesmo sem perceber, estava próximo à prateleira de dicionários. Eis que começo a captar trechos de um diálogo que acontecia ao meu lado. Os protagonistas: um japonês, que deveria ter por volta de uns 25 anos; e a vendedora, loira, de olhos claros, e aquela cara de enfado típica dos vendedores de shopping. Peguei a conversa no meio de uma frase do japonês.

– ... to Portuguese?

– Hum...?, respondeu a vendedora.

– English to portuguese?

– Ai meu Deus, o que será que ele quer?, suspirou a loirinha.

Comecei a me coçar para ajudar o sujeito. Provavelmente o cara veio do país dele para conhecer de perto o famoso buraco do metrô de São Paulo (afinal, ele estava no Shopping Eldorado, e a única coisa interessante para se ver ali perto é justamente o buraco. Ou isso, ou ele é um antropólogo que veio estudar o Largo da Batata. Mas a sandália de couro e o óculos escuros não eram típicos de um cientista social) e estava tendo problemas graves com o idioma.

Me aproximei e disse:

– Ele quer um dicionário Inglês-Português.

– Será? perguntou a loirinha.

– Do you want an English to Portuguese dictionary?, perguntei a ele.

– Oh, yes! That's it!, ele exclamou, vibrando. Não se sentia mais um estranho numa terra estranha.

Virei para a loirinha e disse:

– É, acho que o seu "será?" foi acertado. Ele realmente quer um dicionário inglês para português.

– Ah, vocês são amigos?

(suspirei)

– Não, só falamos a mesma língua. E moramos no mesmo planeta. Essas são as únicas coisas que eu e ele temos em comum. Fora o fato de estarmos na mesma livraria, claro.

A vendedora começou a fuçar nos dicionários e puxou da estante um Houaiss de bolso, claramente orgulhosa de si própria. Entregou ao japonês, que não conseguiu disfarçar sua decepção. Algo me disse que ele havia passado o sábado atrás de um dicionário e sem conseguir se fazer entender, devia estar começando a acreditar que o que se fala aqui é tupi, espanhol, qualquer outro idioma, menos português. Provavelmente ele iria reclamar na agência de viagens.

– No... An ENGLISH-portuguese dictionary, ele disse, pronunciando o "english" bem devagar, como se estivesse falando com uma criança. Seu olhar implorava para que ela entendesse.

– Ai meu Deus! bufou a loirinha.

Na mesma hora, pequei um dicionário Michaelis Inglês-Portugues, Português-Inglês que estava na minha frente (e na frente da vendedora, claro), e entreguei para ele.

– Here it is.

– Oh, great!

A essa altura, ele já me olhava como se eu fosse um amigo de infância. Comecei a sentir o peso da responsabilidade: todas as férias dele dependiam, naquele momento, de mim. Ele folheou o dicionário e perguntou à vendedora, gaguejando:

– Pe... ke...ñi...no?

– Esse é inglês e português! ela respondeu.

– Ele quer um menor, eu disse. E perguntei para ele: Smaller?

– Yeah, smaller! Pekeñino.

– No, no... Menor.

– ... Me...ñor?

– Yes. Menor.

– Men...hor. Men...or... Men or. Great!, ele exclamou, feliz por ter sido aprovado no primeiro módulo do Curso Rob Gordon de Português para Estrangeiros.

Com as palavras "dicionário inglês - português" e "menor" à sua disposição, a vendedora sentiu-se segura para chamar a responsabilidade da conversa para ela. Pegou outros dois dicionários (menores, mostrando que havia entendido essa parte) e entregou para o japonês, que começou a folheá-los. E, na falta de algo melhor para dizer, disparou para ele, em português mesmo:

– Que maneiro o seu óculos!

– What?, ele disse, pedindo socorro para mim com o olhar.

Fiquei mudo. Tenho certeza de que fiz minha cara de "Deus do céu...". E ela repetiu:

– Você não achou o óculos dele maneiro?

– Me...ney...row?, ele disse, começando a folhear um dos dicionários. Como era um dicionário inglês-português, e não inglês-carioca, achei melhor ajudar, de novo.

– É... ela achou o seu óculos.... (apontei o óculos dele, com o dedo) maneiro.

– May...ney...row, right? Hã... What is maynewrow?

– Ah... She likes your sunglasses.

Ele sorriu claramente por educação e continuou a folhear o dicionário. Percebi que ele já estava pronto para enfrentar a cidade tupiniquim, suas palavras estranhas e suas vendedoras nada brilhantes por conta própria e me despedi:

– Listen... I gotta go. Have a nice stay here. Good luck!

– Oh, thank you, thank you!

E parti, na direção do McDonald's, para enfrentar um sundae de amora.

Isso faz três horas. Tenho certeza de que o japonês ainda está na loja, perguntando "How much?" para todo mundo, sem conseguir pagar o dicionário. A vendedora, por outro lado, só quer que o expediente dela acabe logo.

Top 5 frases que qualquer estrangeiro que vier passar férias em São Paulo vai ouvir (e as respectivas traduções).

ou

Top 5 sentences you will certainly hear while on vacation in São Paulo (and the respective translations).

1. Quer táxi, gringo? ("Do you want a cab, dear sir?")

2. Geli-limão? ("Do you want ice and lemmon in your Diet Coke, mister?")

3. Ih...num tem mais trocado, não, cara? ("Sorry, sir, I don't have change")

4. Passa a carteira, mermão! ("Sir, could you please spare me all of your money? Otherwise, I will have to shot you right into between your eyes")

5. Vá tomá no seu cu! ("Please, could you be a little bit more careful while you're driving around here, sir?")

18 de janeiro de 2007

Projeto de Expansão

Aproveito para anunciar o novo endereço da cadeia Championship:

Championship Chronicles

O novo blog abrigará crônicas que escrevi ao longo dos anos e que estavam publicadas em sites diversos - ou mesmo arquivadas no computador, esperando ansiosamente por um lugar ao Sol – e que, pelo formato e estilo, não se encaixariam direito aqui no Championship Vinyl.

O lay-out é exatamente igual ao do Champ Vinyl - afinal, trata-se da mesma rede de blogs - mas as postagens serão menos freqüentes que aqui, por tratarem-se de textos maiores e mais elaborados. Nesses próximos dias, vou colocando lentamente as crônicas que já tenho escritas. Conforme novas forem surgindo, postarei lá e avisarei por aqui.

Quanto ao Championship Vinyl, continua a todo vapor, com postagens sempre que possível. Digamos que esse aqui é blog oficial. O outro, por enquanto, contém apenas algumas bonus tracks que não entrariam aqui.

Se você é fã do que escrevo, fica aqui o convite. Se você não gosta do que escrevo, provavelmente você já parou de ler mesmo, nem deve ter chegado até aqui, então, não fará muita diferença saber se escrevo em um ou dois blogs mesmo.

O link também estará colocado na barra ao lado, na recém-inaugurada seção "Filiais".

Hoje, a blogosfera.

Amanhã, o mundo.

15 de janeiro de 2007

Aviso Importante

Caros leitores:

Se você é uma das 74 pessoas que caíram aqui procurando "bambam pelado" no Google, ou se você pertence ao seleto grupo de 43 pessoas que honraram-me com sua visita após procurar "bam bam pelado" no Google, sinto-me na obrigação de avisar que: "não, aqui não rola".

Ninguém do sexo masculino, especialmente o "Bambam" (ou "Bam Bam", como queiram) irá tirar a roupa nesse blog.

Tenho dito.

Grato.
Se a tanguinha preenche algum fetiche seu, aproveite.
Isso é o máximo que vocês vão conseguir aqui nesse blog.

Eu, Platão e a Igreja Renascer

Não posso negar que vibrei com a prisão dos donos da Igreja Renascer, na semana passada. Eu não gosto de nenhuma dessas igrejas, mas, no caso da Renascer, é diferente. Faz mais de 10 anos que eu tenho esse povo engasgado na minha garganta. Isso por causa de uma história que aconteceu quando eu tinha uns 13, 14 anos e minha vida amorosa apenas começava a ganhar ares de roteiro do Woody Allen.

Nessa época, final do ginásio, eu era totalmente apaixonado por uma menina que estava uma série abaixo de mim. E, você sabe... Quando você tem 15 anos, suas paixões não funcionam de forma normal. Elas não rendem relacionamentos estáveis, duradouros e juras de amor eterno. Elas consistem em observar a pessoa flutuando na sua direção, em câmera lenta, com os cabelos ao vento, normalmente ao som de You Are So Beautiful (na versão do Joe Cocker). Sim, eu sei que na verdade, ela estava no pátio comendo um misto, mas isso não importa agora. Maldito Platão.

É também a fase onde você começa a definir se será, aos olhos do sexo oposto, uma espécie de Humphrey Bogart, misterioso e instigante; um James Dean, rebelde e inconseqüente; um Paul Newman, correto e atencioso; um Leonardo Di Caprio, frágil e carinhoso (para quem não gosta de filmes clássicos); ou um Rob Gordon, mesmo. Eu passava o dia inteiro na escola torcendo para encontrar com essa menina e, quando isso acontecia, era sempre no pior momento, quando tinha acabado de derramar meio litro de Coca na camiseta, ou estava parecendo um débil-mental, com a cara cheia de chocolate. Isso sem falar nos diálogos extremamente sedutores e insinuantes que eu disparava, repleto de frases de efeito.

– Oi, tudo bem?

– Hum... É.... Hehe... É... Ah.... É.... Oi...

– Oi?

– É... Mas... É... É... Hum... Sim.

– Não entendi... Olha, eu vou indo, tá?

– Hum... Hehe... É... Tchau...

Enfim, um dia eu estava com essa menina, no ônibus, voltando para casa. Eu e ela. Sozinhos. Quer dizer, devia ter mais gente no ônibus (ao menos um motorista e um cobrador eu tenho certeza de que tinha), mas ninguém da nossa escola. E estávamos sentados, conversando. Quer dizer, ela estava conversando e eu estava apenas tentando me controlar e torcendo para que ela não percebesse que meu coração estava prestes a saltar pela boca, dar um mortal pela janela do ônibus e sair correndo pela avenida Jabaquara, gritando de pavor. Estávamos falando sobre provas, professores, etc.. E eu estava me saindo bem, admito, conseguindo até mesmo juntar sujeitos e predicados na mesma frase, e até mesmo conseguia sorrir nas horas certas.

Até que, de repente, sem aviso prévio, ela disparou a seguinte frase:

– Posso te fazer um convite?

(Achei que eu fosse enfartar.)

– É... Bem... Claro.

– Se eu te convidasse para ir comigo a um lugar onde você nunca foi antes, você aceitaria?

(Humphrey Bogart teria dito: “qual seu jogo, garota?”; James Dean teria sorrido de forma atrevida; Paul Newman teria dito “claro que aceito”, antes de abraçá-la. Leonardo Di Caprio teria subido no banco do ônibus e gritado "Sou o rei do mundo!" Eu? Bem... Eu fiquei petrificado, suando frio e balbuciando coisas sem sentido)

– Hum... Ah... Hehe... É... Talvez sim.

– Se eu te convidasse para ir comigo a um lugar onde você nunca foi antes, e fazer algo que você nunca fez antes, você aceitaria?

(Minha mente começou a funcionar de forma desesperada. Como eu vou arrumar dinheiro para pagar isso? Nem talão de cheques eu tenho... Meu Deus, eu vou precisar de um RG falso. Ah, não importa, eu dou um jeito. E o que eu vou falar em casa? “Vou passar a noite fora com a mulher da minha vida?” Não, melhor dizer que “vou ao shopping” e invento algo depois, quando chegar em casa as seis da manhã”. Deus do céu, ela está olhando para mim e sorrindo. Eu PRECISO responder isso agora!)

– Olhaprovavelmenteeuclaroqueaceitarianamesmahora.

– Oi?

– É... Talvez... Mas... Qual sua idéia?

– Eu queria convidar você para ir à Igreja Renascer comigo. Uma amiga minha me levou ali, e eu adorei! Estou convidando todo mundo! Quer ir? Podemos organizar uma turma e ir todos juntos!

Não me lembro do que senti na hora. O meu instinto de sobrevivência faz com que meu guarde essas coisas dentro do meu subconsciente, numa sala trancada à chave e com uma placa com a frase “Cuidado com o leopardo” escrita em letras vermelho-sangue. Mas eu sei que a decepção foi grande. Enfim, eu nunca fui para a tal da Renascer – devo ter desconversado na hora, provavelmente da forma mais bizonha do mundo, mas eu nunca esqueci essa situação.

Por isso vibrei com a prisão desse povo. Não estou nem aí se eles exploram os fiéis, se vendem a palavra de Deus à prestação, ou se colocam água-benta em garrafas PET de 2 litros.

Não, nada disso. O buraco é mais embaixo.

Atenção, povo da Renascer: NOSSO PROBLEMA É PESSOAL!!!

5 Respostas que poderiam ter sido dadas à menina (e suas devidas inspirações):

1. “Você realmente acha que isso vai colar, garota?” e a beijaria - sem largar o copo de uísque (Humphey Bogart mode: on)
2. “Esquece esse negócio de igreja. Você vai fugir comigo.” (James Dean mode: on).
3. “Eu não preciso de igreja, eu tenho você aqui.” (Paul Newman mode: on).
4. “Você vai cuidar de mim, ali?” (Leonardo Di Caprio mode: on)
5. “Hum... é.... Viu... Hehe... Ah... Vou ver...” (Rob Gordon mode: on)

9 de janeiro de 2007

Longa Jornada Noite Adentro - 8

Finalmente, a série de posts Longa Jornada Noite Adentro sai do limbo e volta à ativa. Para quem é novo por aqui e não sabe do que se trata, aconselho que leia este post aqui. Lembrando que os filmes postados anteriormente foram Quanto mais Quente Melhor e Apocalypse Now. Seguimos, agora, com...


Tempos Modernos
(Modern Times, EUA, 1936)
Direção: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Paulette Godard

Falar que Charles Chaplin é um dos maiores gênios do cinema é chover no molhado. Chaplin pertence ao status de ícone, sendo admirado e respeitado até mesmo pelas pessoas que nunca assistiram a um filme dele. Ou você realmente acha que todaas as pessoas que compram, nas feirinhas de artesanato, aqueles espelhos cafonas com uma imagem dele (normalmente sentado na guia ao lado de Jackie Coogan em O Garoto) realmente poderiam debater se Luzes da Cidade é melhor que O Circo ou vice-versa?

Curiosamente, apesar de ser considerado um dos grandes cineastas americanos de todos os tempos, Chaplin era inglês e começou sua carreira ainda criança, nos teatros de revista. Indo para a América, conseguiu uma chance no cinema e passou a estrelar (e, posteriormente, dirigir) centenas de curtas que o tornaram um dos maiores sucessos do momento. Porém, quando começou a assinar longas-metragens, mostrou que não era apenas um comediante, mas um cineasta maduro e com uma carreira totalmente engajada.

É difícil escolher o seu maior filme, especialmente porque, mesmo dentro das fronteiras da comédia, visitava outros mundos – sem nunca perder a graça. Há o romantismo de Luzes da Cidade, o nonsense de Em Busca do Ouro, o final lacrimoso de O Circo, a inocência de O Garoto... Isso, claro, para ficar apenas na sua fase muda. Mas em toda a filmografia de Chaplin, nenhum filme tem a mesma importância que Tempos Modernos.

Antes de mais nada, é ali que ele mergulha, realmente, no seu lado engajado – criticando a automatização das fábricas e o desemprego na América – que teria continuidade em seu trabalho seguinte, O Grande Ditador. E, segundo, porque é nesta produção que ele encerra a carreira cinematográfica de seu mais famoso personagem: O Vagabundo (ou Carlitos, como é conhecido no Brasil), que se afasta das telas após resistir uma década ao advento do cinema falado, ao qual Chaplin era radicalmente contra.

A verve política de Tempos Modernos é a mais fácil de ser identificada. À primeira vista, a obra surge como apenas “mais um filme” de Chaplin, com todos os elementos essenciais de sua obra, mas a política e a crise social estão presentes em praticamente todas os momentos, desde as (clássicas) cenas na fábrica, onde ele trabalha num ritmo sobre-humano – o que abre espaço para demonstrações da genialidade de Chaplin na pantomima – até em cenas menores, como aquela em que ele é perseguido pela polícia após ser confundido com o líder de uma manifestação comunista.

Com poucos minutos de cena, Chaplin já deixa clara qual a pirâmide social dos Estados Unidos na época: poucos e abastados empresários que tratam os empregados como gado (o que ele deixa claro visualmente); o proletariado, a grande maioria da população, todos desesperados por emprego; e entre essas duas camadas, o governo, sempre representado em seus filmes pela polícia, que está ali para vigiar de perto as camadas mais baixas. Nesse centro, temos os dois personagens que compõe o eixo da trama: o trabalhador vivido por Chaplin e a órfã interpretada por Paulette Godard. A trama do filme, girando em torno dos dois, aborda basicamente o que todo americano fazia na época: tentava sobreviver.

Mas o ponto forte do filme está em outra camada do roteiro: é a guerra de Chaplin contra o cinema falado, inventado dez anos antes e que, segundo ele, iria acabar com o caráter universal da Sétima Arte. Sua idéia original era a de fazer um filme falado – seria o primeiro de sua carreira – mas desistiu no meio do caminho, optando em fazer um filme “com som”, mas não falado. As únicas vozes ouvidas ao longo da produção são aquelas ouvidas através de aparatos eletrônicos, como o rádio na sala do diretor da prisão e os videofones usados pelo presidente da fábrica, por exemplo – a única exceção são os cantores no restaurante. Com isso, Chaplin critica a desumanização decorrente da tecnologia, como as próprias técnicas do cinema falado, mostrando que os filmes, com inclusão de falas, perdem em brilho e espontaneidade.

Após diversos momentos antológicos, como aquele que mostra Chaplin preso dentro das engrenagens de uma máquina, ou as aventuras ao lado da órfã dentro de uma loja de departamentos deserta, chega-se a cena-chave do filme, que anuncia não apenas o final da produção, mas também a morte do personagem que consagrou o cineasta. Ambos arrumaram emprego num bar e a função de Carlitos é a de cantor. Como ele não sabe a letra da música, Godard lhe escreve uma “cola” nos punhos de sua camisa, que, obviamente, ele perde assim que entra no palco. A solução improvisada: cantar a letra num idioma inexistente.


O texto está em francês. Mas, como trata-se de Chaplin, é genial em qualquer idioma

Pela primeira vez, Chaplin fala nas telas, escancarando a sua repudia com filmes falados em qualquer idioma. A belíssima cena final que mostra os dois personagens, de costas para a câmera, caminhando em direção ao horizonte, deixa claro que o cinema falado não acabou com Carlitos – como fez com outros ídolos do cinema mudo, a exemplo de Buster Keaton e Harold Lloyd – mas si que o Vagabundo retirava-se de cena por vontade própria. E suas últimas palavras na tela não poderiam ser mais otimistas: “Smile! C’mon!” (“Sorria! Vamos!”). E elas não são faladas, mas pode-se facilmente ler os lábios de Chaplin, antes de ele virar as costas e caminhar para a eternidade, mesmo com a chegada dos tais tempos modernos.

Às vezes, o silêncio diz muito. Esse era o caso de Chaplin.


5 Curiosidades sobre Tempos Modernos

1. O filme originalmente terminaria com Chaplin sofrendo um colapso nervoso e acordando no hospital, apenas para descobrir que a órfã arrumou um emprego de enfermeira. Chaplin, porém, resolveu por escrever um epílogo mais otimista.

2. O filme foi uma das razões para que o Comitê de Atividades Anti-Americanas acusasse Chaplin de comunismo, algo que ele sempre negou e que resultou em seu auto-exílio na Suíça.

3. Nas filmagens da cena em que Chaplin serve de cobaia para a máquina que irá alimentar os empregados da fábrica, era ele mesmo quem controlava o aparato, através de alavancas na parte inferior.

4. O estúdio francês Frace’s Tobi processou Chaplin, alegando que a cena da esteira na fábrica fora plagiada do filme A Nós a Liberdade, de René Clair. O estúdio encerrou o processo quando Clair declarou publicamente estar honrado com a homenagem, e que ele havia usado em sua carreira muito do que Chaplin fazia nas telas.

5. Chaplin compunha todas as músicas de seus filmes, e Tempos Modernos traz sua canção mais famosa: Smile. Posted by Picasa

Atentendo a pedidos - Parte II

Ok, duas pessoas já vieram no msn exigir - o termo não é exagero - que o post anterior tenha um Top 5. Eu argumentei que me recuso a escolher as cinco melhores do assunto abaixo, mas uma das respostas que obtive foi "problema seu, inventa qualquer coisa" (a outra foi um pouco menos amistosa, e levantava dúvida sobre minha opção sexual).

Sendo assim, atendendo a pedidos, coloco um Top 5 no caráter de "p.s." aqui. Já fiz isso uma vez - a contragosto - e, com esse precedente, criei um monstro. O povo agora acha que manda aqui - bom, e pelo jeito manda mesmo, porque estou fazendo o que eles falaram. Ô fase. (Mas não vou negar que foi divertido rever alguns posts antigos...)

Enfim, aproveitando o clima de retrospectiva Ano I (algo como Championship Vinyl Begins) e para não desvirtuar a estrutura championshipiana (além de me garantir um pouco de sossego no msn), seguem, então, os 5 posts mais acessados desse blog.

A maioria deles é antiga, afinal, é justamente esse fato que os coloca em vantagem sobre os posts mais novos, em relação ao número de acessos. Sim, posts novos, niguém disse que isso aqui seria justo! Só falta vocês também quererem começar a mandar aqui! E se serve de consolo para vocês, a fórmula de pontos corridos fez com que grandes favoritos como "Coisas da Vida", "Portês para Principiantes" e "...nos teus pés, ao pé da cama" não entrassem na lista. É a vida, meninos... Vocês tiveram sua vez. Bem, segue a lista. Ah e, eu sei que eles têm poucos comentários - meus leitores era mais tímidos no começo.

Agora, por favor... será que depois desse "best of obrigatório", vocês podem, por favor, deixar meu blog entrar em 2007?

Grato.

1. Geli-limão? - foi o primeiro grande hit desse blog. Tudo porque uma professora, amiga do meu irmão, utilizou-o como exemplo numa aula de atendimento, transformando o texto em "moda" na faculdade.

2. I Wanna be my Dog - provavelmente, acessos maciços do público feminino por causa da foto da besta-fera.

3. Romantismo 0 X 1 Enlarge Your Penis - outro dos meus primeiros textos escritos nesse blog. Confesso que foi um dos que mais me diverti escrevendo.

4. Folclore é? sei, sei... - poucas coisas vendem tanto na internet quanto putaria. Eu não iria ficar fora disso!

5. Assadeira - Um poema épico - Já esse aqui não foi muito divertido de escrever. Ou, pelo menos, de vivenciar.

7 de janeiro de 2007

Diga-me o que procuras... E eu te direi quem és

Bom, com a chegada de 2007, o Championship Vinyl entra no seu Ano 2. Claro que o blog só faz aniversário no meio do ano, mas, oficialmente, já estamos no segundo ano. Então, cabe aqui uma pequena retrospectiva . Não, não vou ficar comentando post a post, seria sacal demais – até mesmo para mim. Então, tive uma idéia melhor. Puxei o acesso de todas as pessoas que entraram no meu blog via Google, e o que elas caçavam no mais famoso site de busca que as trouxe aqui.

Algumas, obviamente, caem na mesmice, especialmente no quesito putaria. Um sujeito procurou “bunda gostosa” e veio parar aqui – o que mostra que o Google, funcionando ou não, tem um mau gosto filho da puta. Isso sem falar nos tradicionais “putaria em iate de milionário”, “peitudas de biquíni”, e por aí vai.

Muita gente procurou música e caiu aqui. Especialmente aqueles que procuravam a “caveira do Airon Meiden”. Há uma pessoa que entra aqui, pelo menos umas 5 vezes por semana, procurando “foto rock anos 60-beatles” (assim mesmo, com o tracinho). Olha, eu poderia ser camarada e postar uma foto do Fab Four para você agora, mas não vou, não. Faz assim: continua entrando no blog. Dependendo do seu desempenho neste primeiro semestre, se eu vejo que você está se esforçando mesmo, eu posto uma bem legal para você quando o blog fizer aniversário. Fechado?

Mas a grande maioria mesmo é de pessoas totalmente abandonadas por Deus e que pegaram algum desvio errado no curso da evolução - provavelmente psycho killers em formação. Olha, se as pessoas realmente procuram isso no Google – e procuram, porque eu vi o arquivo – parem o mundo que eu quero descer. Afinal, um ser que usa uma das maiores invenções da história (aquela que será lembrada como a grande revolução na área da comunicação desde a imprensa de Gutenberg, que diminuiu a distância entre as pessoas e acumula quantidades ilimitadas de informações e conhecimento) para procurar “Kléber Bambam pelado” é a prova viva de que tenho razão quando digo que a humanidade não deu certo.

E, pior, elas caem no meu blog atrás do Kléber bambam pelado. Ô fase....

Acham que estou exagerando? Bem, seguem abaixo algumas das pérolas que fizeram com que essas pessoas viessem para cá – com os devidos comentários abaixo, claro, porque eu não sou de perder piadas prontas. A maioria delas eu corrigi o português (quase ninguém usa acento no Google) para facilitar a leitura, mas algumas eu deixei como estavam, justamente para manter o charme.

Se você for uma das pessoas que caiu aqui procurando essas coisas que lerá abaixo, não se preocupe, eu não tenho como saber seu nome. E sinta-se honrado: mesmo de forma anônima, você já faz parte da história desse blog. Por bem ou por mal, como veremos abaixo, na seleção das que considero inesquecíveis.

"cristo@aol.com"
Olha, talvez seja esse e-mail mesmo, mas duvido que Ele responda. Em todo o caso, aconselho a não mandar arquivos de powerpoints com imagens de anjinho ou fotos de baixaria. Se Ele não gostar, sua vida vai virar um inferno. Literalmente.

"Sozinho no intervalo"
Cara, uma dica. Sai do Google, desliga o computador e vai embora da sala de computação da escola. Está vendo as outras crianças comendo e brincando? Dá um pulo ali, se oferece para pegar no gol... Tenta se enturmar um pouco mais. Vai dar certo, você vai ver.

"Pilha de Limão – quem inventou?"
Você está de sacanagem, né? Limão?

"Tatuagens de crussifixo" (sic, obviamente)
Olha... eu não tenho nada com a sua vida, mas vou dar uma dica: você pode até encontrar no Google algum tatuador que desenhe “crussifixos”, mas eu faria essa tatuagem em outro lugar, especialmente se você quiser que a tattoo tenha o nome de alguém. Não ficaria bem uma tatuagem escrita "Deuz hé Pái!" Tatuagem não sai, você sabe, né?

"Blog com homenagens a diretora pelo fim do terceiro colegial"
Será que você não pode ser um pouco mais específico? Sim, eu sei que são poucas pessoas que vão homenagear a diretora na formatura – na minha escola, nosso sonho era jogar um balde de tinta nela no meio do baile – mas, mesmo assim, seria interessante você citar o nome da escola, ou da diretora para facilitar a sua busca. Você tem idéia do número de alunos que se formam no terceiro colegial por ano? A não ser que... Sim, deve ser isso! Você é o paraninfo da turma, a formatura é amanhã, você não escreveu discurso nenhum e entrou no Google para ver se achava um pronto. É isso, né? Temos um novo recorde aqui: o cara vai colar na própria formatura!

"Aspectos positivos e negativos da banda RBD"
Ah, tem positivos também? Duvido que o Google encontre algum. E aposto que ele riu da sua cara quando você procurou isso.

"Baterista do Slipknot segurando moeda na parede"
O que me leva a pensar... Essa é a grande qualidade da banda?

"Vídeos de touros copulando"
Deus do céu... As pessoas se excitam com cada coisa. Bom, esse é o preço que se paga pela diversidade humana. Azar do touro.

"Kléber Bambam pelado"
Como eu disse acima, a diversidade humana é algo fascinante (Spock mode: on). Se bem que, se eu fosse obrigado a escolher, acho que ainda ficaria com o touro.

"Índia fresta do moulin"
Olha, você deveria aproveitar que caiu aqui e ter dado uma olhada nos links. Lá está o Blog do Moulin. Talvez você devesse se informar direto com ele – o cara é meu amigo, mas não somos tão íntimos a ponto de eu saber algo sobre a fresta dele. E com essa índia, aí... Putz, Moulin, resolve isso aí!

"Jaime"
É... Não sei como começar a tentar te ajudar. Você pode descrever esse Jaime, para ver se eu conheço? O que ele faz, onde costuma andar? Um sobrenome ajudaria um bocado.

"Quero saber onde vai passar o filme O Segredo dos Animais por volta das 5:30"
Cara, o Google não funciona assim. Ele é um mecanismo de busca, não um oráculo. Não adianta perguntar as coisas para ele. Ou você realmente achou que a frase “Na Globo, corre que está começando!” iria aparecer na tela, em letras garrafais?

"Sergio Mallandro personagens 2006 come gato"
Bom, aí é problema do gato, não vou me meter.

"As mulheres mais fudidas do mundo"
Olha, de acordo com um amigo meu, é a Dona Olímpia. Ela mora numa favela no Rio, tem mais ou menos 19 filhos, e aparece todo dia 24 de dezembro, na matéria do Jornal Nacional sobre o natal (sim, todo ano a matéria é com ela). Essa reportagem sempre começa mostrando a pobre coitada saindo do barraco às 5 da manhã, com dois latões, para ir pegar água no riacho que fica a 4 km de onde ela mora, para começar a preparar a ceia que ela fará com duas cestas básicas (mundo-cão mode: one). Eu não conheço uma mulher mais fudida que ela.

"Loja de brinquedos que tenha o boneco do Huck"
Pelo amor de Deus... Fala para mim que você digitou errado, que o certo era Hulk. Não é Huck mesmo, né? Não pode ser... Ninguém lançaria um boneco desse cara... Tem que ser Hulk.

"+Zumbi +Mortos"
Você não está sendo meio redundante?

"Vinho blog prova setembro"
Hã?

"A interpretação de Tom Cruise como advogado no filme Questão de Honra"
Uma bosta. Para mais informações, leia este post aqui.

"Joga bundinha pra cá, joga bundinha pra lá"
Por favor! Isso aqui é um blog de família. Contenha-se.

"Musicas da Cangue (sic) do Lobisomem!"
Cangue? Lobisomem? Deus... Alguém conhece isso? Alguém me ajuda?

"Quero ver filmagens de leões atacando pessoas"
Isso aí! Rottweiller não está mais com nada. Tudo bunda-mole! Vamos inaugurar uma nova tendência aqui no Championship Vinyl! O lance agora é leão!

"Ian Gillan foda"
Eu acho também. Especialmente na trinca In Rock / Fireball / Machine Head. E você? Er… Quer dizer…Você não estava procurando fotos disso, estava?

"Como faço para melhorar o leção sexul?" (sic!!!!)
Mais um que acha que o Google é oráculo. E, neste caso, poliglota. “Leção sexul”? Olha, o que eu entendi é que você quer melhorar suas “relações sexuais”. É isso? Veja bem, comer as letras não vai ajudar muito – e acredito que, pela sua busca, não são exatamente as letras que você quer comer, certo? Minha dica é: aprenda a escrever, a falar corretamente... Você vai ver como seu círculo de amizades vai melhorar bastante desse jeito, com pessoas mais bonitas, mais articuladas... Consequentemente, suas “leções sexuis” vão melhorar um bocado também.

"Lambendo seus pés vídeos"
Meus pés? Os meus pés? Vídeos? Hum... Abre o jogo, você é o cara do “joga bundinha pra cá, joga bundinha pra lá”, né? Cara, você não vai conseguir nada aqui, esquece.

"Guitarrista do The Police corinthiano"
Olha, você com certeza foi sacaneado. Quem te falou isso mentiu. Acho bem difícil o cara ser corinthiano. Primeiro, porque ele é inglês. Mas, ok, não é impossível, admito. Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, lembre-se do seguinte: se ele fosse realmente corinthiano, jamais tocaria num grupo chamado The Police! Seria um erro de conceito. Já procurou no The Killers? No Velvet Revolver? Acho que em bandas com nomes assim você pode dar mais sorte...

"Alexandre Frota onde se encontra"
Olha, O Google é um site de busca, não é um GPS. Ele não vai responder “Encontra-se na esquina da Augusta com a Paulista tomando sorvete”. Em todo o caso, aqui neste blog, ele definitivamente não está.

"Fotos de Kurt Cobain autopisia eu quero as da autopisia" (sic!! sic!!! SIC!!!!!!!!!)
Deixa eu ver se entendi. Você é um daqueles fãs que acham que foi a drogada da mulher dele que o matou e está investigando o caso por conta própria, certo? Entrou no Google, procurou “fotos de Kurt Cobain autopisia (sic)” e só achou fotos dele vivo, se emputeceu e começou a brigar com esse Google folgado que não faz nada do que você pede (“fotos de Kurt Cobain autopisia eu quero as da autopisia”)? Foi isso? Olha, esse Google é foda mesmo, só pisa na bola. Tem que tratar na porrada. Sugiro que você procure assim: “Ou me dá as da autopisia ou cancelo minha conta aí, seu babaca!”. Se não funcionar, fecha o Explorer. Isso vai ferir os sentimentos delee na próxima vez ele será mais educado.

"Lamber os pés do Colin Farrell"
É você de novo, né? Cara, me esquece. E não adianta mudar o seu target, você não vai se dar bem aqui.

Agora, me digam... Estou exagerando?

Se você é leitor freqüente do blog, aviso que desta vez, excepionalmente, não teremos o tradicional Top 5. Afinal, escolher as cinco melhores entre as acima seria uma injustiça. Todas são memoráveis. Mas fiquem à vontade para escolher as melhores nos comentários.

E, assim, começamos o ano... 2007 promete! (leia o próximo post dessa série aqui)

4 de janeiro de 2007

A Era (sem graça) do Gelo

Você se lembra de que é um homem morando sozinho quando abre a geladeira no meio da madrugada, e descobre somente meia garrafa de Coca Light* (provavelmente sem gás), e algo que lembra vagamente ser uma maçã, abandonada lá dentro, gradualmente evoluindo e ganhando consciência através dos séculos. Você olha para trás e descobre que o cachorro já se colocou entre você e o armário onde fica a ração, pronto para atacar a qualquer movimento brusco que você fizer naquela direção.

A fome aperta e você começa a fuçar os armários – sempre observado de perto pelo cachorro –, encontrando apenas uma caixa de bombons da Lacta meio amassada, contendo um bombom. Esse “um” não é artigo, é numeral. Estamos falando de uma unidade de bombom. E, claro, é justamente um daqueles que ninguém come (chocolate branco recheado com atum e granola, por exemplo) e que sempre sobra esquecido em algum canto. Você realmente tinha a esperança de que os deuses tinham guardado logo um Sonho de Valsa para você? Tá bom...

Por isso que eu invejo meu irmão. O cara entra na cozinha e sai de lá, quinze minutos depois, com uma omelete disso, um suflê daquilo. Eu não. Eu entro na cozinha e saio de lá dois minutos depois com fome. E prometendo para mim mesmo que “amanhã sem falta eu lavo essa merda de louça”. OK, para não dizer que sou um completo débil-mental na cozinha, eu coloco a modéstia de lado e me arrisco a dizer aqui que faço um dos melhores ovos com bacon registrados no hemisfério Sul. O problema é que comer ovos com bacon todos os dias poderia ser caracterizado, em uma semana, como tentativa (talvez bem-sucedida) de suicídio.

Em suma: cozinhar não é o meu forte, especialmente quando chego do trabalho as duas e pouco da manhã, varado de fome e de sono. Eu nem tento me meter a besta na cozinha, nessas ocasiões, porque sei que vai dar merda. Algo que já descobri é que você só aprende a cozinhar quando está sem fome. Tenho certeza de que o primeiro pré-histórico que pensou em jogar a carne do mamute no fogo para ver como ficava fez isso somente depois de comer metade da coxa crua mesmo, rosnando para quem olhasse para ele.

Com isso, minhas opções se resumem a duas: ir até a varanda e começar a atirar na rua garrafas com bilhetes como “Sou um jornalista preso no oitavo andar. Por favor, mandem comida!” ou me arrastar até o Pão de Açúcar que tem ao lado de casa. Obviamente, acabo escolhendo este último, já que atirar garrafas pela varanda no meio da madrugada deve ser divertido, mas não aumentaria muito a minha popularidade no prédio e dificilmente traria o retorno esperado. Prateleira de congelados, here I go again (Whitesnake mode: on).

Já dentro do Pão de Açúcar, me deparo com outro problema: a falta de visão comercial das empresas de alimentos congelados. Esse tipo de comida é ideal para as pessoas que moram sozinhas. Esse deve ser o foco dessa seção, inclusive, com divisões por gênero: masculino e feminino (no caso do Pão de Açúcar de Pinheiros, faz-se necessária uma terceira prateleira para público “misto”, devido à alta demanda local). As porcarias em porções dantescas ficam no masculino; as comidas saudáveis, levinhas e pequenas na feminina. Pronto, resolvido.

Mas do jeito que está não faz sentido algum. As pessoas devem achar que alguém que come comida congelada não tem paladar, então, começa o preconceito. Fica tudo misturado, generalizado e com um critério que faria as Lojas Americanas chorarem de inveja. Pensem comigo: um homem que come, sozinho, uma lasanha de calabresa, dificilmente consumiria o “creminho de brócolis”, que fica logo ao lado. Já uma mulher solteira que tem a ambição de transar num futuro próximo não deverá se interessar em comer, no meio da madrugada, aqueles 600g de feijoada congelada que estão acima do creme de milho.

Outro grande problema é a falta de variedade. É quase uma contradição falar sobre a aridez da seção de congelados, mas é a mais pura verdade. De todos os grupos alimentares, acho que só uns dois ou três são vendidos na seção de congelados. O resto fica disponível somente para a elite burguesa que sabe cozinhar. OK, eu admito que massas como pizzas e lasanha devam realmente ser mais fáceis de congelar, mas, a partir do momento em que surgiram a feijoada, o frango xadrez e o strogonoff congelados, o precedente foi aberto. Não há mais desculpas! Queremos picanha, lingüiça, filé com fritas, bife à parmeggiana, frango a passarinho (ovos com bacon não precisa, esse eu certamente faço melhor que vocês) e tudo aquilo que as pessoas afortunadas, que possuem família, comem.

E, sim, eu sei que dá para congelar essas coisas! Duvido que o homem tenha evoluído a ponto de pisar na Lua sem saber como congelar um bife à parmeggiana. Congelaram o Walt Disney depois que ele morreu e querem que eu acredite que é impossível congelar uma lingüiça? Ah, me poupe.

E, pelo amor de Deus... O maldito arroz! Não adianta lançarem congelados como feijoada ou strogonoff e não lançar logo a merda do arroz congelado. Ninguém come feijoada sem arroz – seria o cúmulo do conceito “dançar com a irmã”. E, não, eu não vou fazer arroz em casa às duas da manhã. Se eu quisesse cozinhar a essa hora, eu não estaria no meio do supermercado, olhando a seção de congelados.

Uma dessas empresas lançou uma “bandeja pronta”, com prato principal e acompanhamentos. Fiquei todo animado, até que descobri que o negócio tem míseros 300 gramas? Porra, isso já beira o sarcasmo. Se eu andar pela rua pedindo vou conseguir mais comida que isso – e nem vou precisar pagar. Eu preciso de pelo menos umas duas bandejas dessas para, no mínimo, justificar o meu Marlboro pós-refeição. Vocês podem, por favor, lançar uma versão com o dobro disso? Melhor: com 750 gramas, para as pessoas poderem jantar em paz e comer o restinho da bandeja antes de dormir? (gula mode: on)

Termino, assim, meu desabafo. E já faço uma ressalva: por favor, evitem, nos comentários, sugerir a alimentação à base de Miojo, aquilo me dá uma azia filha da puta. Por outro lado, receitas (fáceis) de arroz branco serão muito bem-vindas.


* Nota do Editor: como já questionaram minha masculinidade pelo fato de eu beber Coca LIGHT, aviso que eu bebo isso por causa da porra do triglicéris.


5 Sonhos de Consumo que tenho quando olho a seção dos congelados (cupim não entra na lista, seria ambicioso demais).

1. Feijoada Completa (800g)– Contém também arroz, couve e torresmo
2. Picanha na Brasa (600g)– Mal-passada com arroz e fritas
3. Espaguete (600g)– Molho com carne moída, cebola, alho, massa de tomate e cubos de bacon. Compre e ganhe um pãozinho.
4. Strogonoff de Carne (600g)– Acompanha arroz branco. Compre e ganhe um saco de batata palha!
5. Frango a Passarinho Desossado (400g) - com alho. Compre e ganhe 2 latas de Bohemia!

2 de janeiro de 2007

Top 5 2006 - Séries

Seriados de TV não obedecem a nenhuma cronologia específica, a não ser a minha. Isso porque eu só assisto a séries em DVD – acho que assistir a três ou quatro episódios de uma vez dá um panorama muito melhor do seriado. Ou seja, dependendo da boa vontade das distribuidoras em colocar novas séries ou temporadas nas lojas. Mesmo assim, foram o ponto forte do ano, compensando a safra ruim de filmes que tivemos, mostrando que, realmente, a vida inteligente nos Estados Unidos está, hoje, na TV.

















5 - Monk
É, na minha opinião, o segundo grande personagem da TV atual, perdendo apenas para o primeiro dessa lista. As histórias do detetive que sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo e que resolve os mais diversos casos apenas com o raciocínio matam a saudade de qualquer fã de Sherlock Holmes que já tenha lido todos os livros do detetive do apartamento 221B, da Baker Street.


















4 - Lost
Para mim, é o Matrix da TV. Ninguém entende direito, mas todo mundo assiste. Confesso que a primeira temporada foi melhor que a segunda, mas mesmo assim esta última ainda manteve um bom nível, com diversas tramas paralelas que acabam se costurando ao longo dos episódios e personagens de todos os tipos, para todos os gostos. Está começando a virar moda falar mal da série, mas duvido que esse povo (normalmente, são as viúvas de Arquivo X) não está se coçando de curiosidade de saber o que, realmente, tem por trás daquela ilha.



















3 - 24 Horas
Não adianta, Jack Bauer é sempre Jack Bauer. Sim, os roteiros têm alguns furos, nem todos os personagens são verossímeis, mas apesar (ou justamente por causa) disso, a série não dá tempo para você pensar a respeito. Aliás, ela não dá tempo nem de você respirar direito. Se você fuma, não se esqueça de levar um maço inteiro para a frente da TV.



















2 – C. S. I.
Essa praticamente nem conta, já é paixão antiga. Numa série onde os crimes são extremamente inteligentes e as resoluções são mais ainda, o que chama a atenção é a regularidade dos roteiros: é muito difícil (se é que é possível) você acabar de assistir a um episódio, virar para o lado e dizer: “Ah, esse foi fraco”.



















1 - House
Sem dúvida, a minha série de 2006. É uma pena que apenas a primeira temporada foi lançada em DVD aqui no Brasil. House, que narra a história de um médico totalmente mal-humorado (e, melhor, apaixonado por rock dos anos 70) especialista em diagnosticar casos “indiagnosticáveis” (neologismo: mode on), tem, talvez, aquele que seja o melhor personagem da TV atual, muito valorizado pela interpretação fabulosa de Hugh Laurie.

Top 5 2006 - Livros

Se eu mal tive tempo de ir ao cinema este ano, que direi, então, dos livros? Muitos deles choramingam de saudade toda vez que entro no meu quarto, esperando por uma chance de serem apreciados e eu, sempre atrasado para alguma coisa, vou empurrando a fila. Mas, sim, li algumas coisas muito boas esse ano, sobretudo romances históricos, que se tornaram minha paixão literária de uns três anos para cá.

Ressalto que não necessariamente precisa ser lançado esse ano – alguns são de 2005, mas só coloquei as mãos nesse ano que passou.





















5 - O Último Reino
Sinceramente? Ainda nem abri, pois ganhei de natal, mas qualquer livro de qualquer trilogia assinada por Bernard Cornwell (veja abaixo) entra na minha lista dos cinco melhores do ano. Esta aqui (As Crônicas Saxãs) narra a história de Uhtred, menino envolvido na guerra entre ingleses e dinamarqueses.






















4 - O Tigre de Sharpe / O Triunfo de Sharpe
É a primeira série escrita por Bernard Cornwell, o sujeito que me ensinou a gostar de romances históricos, com a trilogia sobre o Rei Arthur. Cada um dos livros narra as aventuras de Richard Sharpe, soldado do exército inglês (esqueça qualquer requinte de nobreza no personagem) nas viradas dos séculos 18 para 19.






















3 - Imperador – Os Portões de Roma
O que me chamou a atenção foi a recomendação “assinada” por Bernard Cornwell na capa. Afinal, se ele gostou, não tem como eu não gostar. E, realmente, o livro é muito bom. Não é um Cornwell, mas é uma grata surpresa. Da mesma forma que a série Ramsés, humaniza totalmente o personagem de César, tornando-o mais crível a cada página virada.





















2 - Outono Asteca
Essa eu já havia começado a ler ano passado, mas como a série ainda perdurou ao longo do meu 2006, ela entra aqui fácil, fácil. Este livro, o terceiro da série, já mostra uma América totalmente colonizada pelos espanhóis, dando uma guinada enorme na história, mostrando as aventuras do filho do herói dos dois primeiros, mas sem jamais perder a riqueza de detalhes.






















1 - Ayla – A Filha das Cavernas
Imagine um sujeito que adora romances históricos colocando as mãos num livro que narra as aventuras de uma das primeiras cro-magnon da história. Além disso, é bem escrito, sem grandes enrolações e com personagens muito, muito bem construídos. Foi o meu livro do ano, sem dúvida. – e os outros dois volumes já estão na minha fila.

Top 5 2006 - Quadrinhos

Uma das listas mais difíceis de fazer, já que a chamada Nona Arte vive uma de suas piores fases, ao menos nas revistas de linha. Personagens extremamente musculosos e mulheres peitudas ocupam quase os quadrinhos inteiros, sem deixar espaço para boas histórias, salvo uma ou outra exceção. A solução foi apelar aos clássicos na maior parte da lista, e agradecer aos céus por editoras como a Ópera Graphica terem feito um puta trabalho em 2006 – pode esperar o álbum de luxo dos Sobrinhos do Capitão na lista dos melhores do próximo ano.






















5 - Ultra
Série em dois volumes que mescla a o mundo dos super-heróis com o clima de Sex and the City. Aqui, a personagem principal é uma super-heroína que, sem o uniforme, sofre com os mesmos problemas de qualquer outra mulher – especialmente com o sexo oposto e suas inevitáveis idiotices (mea culpa mode: on). Talvez uma das histórias mais humanas que eu tenha lido nos últimos anos.





















4 - Príncipe Valente – Nos Tempos do Rei Arthur
Tive uma grata surpresa ao colocar as mãos no primeiro volume das aventuras do Príncipe Valente, onde cada quadrinho é simplesmente uma obra prima. A história é genial, repleta de lutas grandiosas e intrigas que se mostram atuais mesmo hoje – o problema é você conseguir tirar os olhos da arte de um quadrinho para saber o que acontece depois.





















3 - Recruta Zero – Ano Um
Não, eu não ganho comissão da Ópera Graphica, mas o ano realmente foi deles. Esse aqui é um álbum nos mesmos moldes do líder dessa lista, mostrando o primeiro ano completo das tiras do personagem – inclusive sua origem como aluno universitário. O personagem ainda é mostrado de forma embrionária, mas sua essência – preguiçoso e atrapalhado, cínico – está ali.






















2 - Fábulas
Uma das revistas atuais mais fantásticas que eu já li. Mostra todos os personagens dos contos de fadas exilados no nosso mundo, vivendo incógnitos e sempre às voltas com intrigas, sexo e corrupção. Quer uma amostra? O Príncipe Encantado é um cara que sobrevive aplicando golpes do baú e Cachinhos Dourados é uma revolucionária fanática que não hesita em pegar em armas. Simplesmente genial – já existem três livros publicados no Brasil e cada um deles deixa vontade de ler mais.






















1 - O Fantasma – Sempre aos Domingos
O fantasma sempre teve grande importância para mim, justamente porque aprendi a ler com suas revistas e os álbuns do Asterix no colo do meu pai. E essa edição, lançada pela Ópera Graphica, é o sonho de qualquer fã: tamanho gigante, capa dura, com sete histórias publicadas entre 1939 e 1942. Faça um favor a você mesmo e compre agora mesmo. E compre dois: um para ler e outro para guardar.

Top 5 2006 - Música

Assim como cinema, esse ano não teve nada de muito grandioso. As famosas bandas que começam com The (Strokes, Killers) lançaram discos, a crítica aplaudiu, usou o clichê de que iriam salvar o rock e já colocou de lado. Quanto aos shows, não fui ao do U2 que entra na lista dos shows mais desorganizados da história. Já o do Rolling Stones eu fui, mas, com os milhões de pessoas que compareceram, o lugar mais próximo ao palco que eu consegui chegar foi justamente o da sala da minha casa. E não fui no Megadeth nem no Live’n’ Louder, que teve David Lee Roth (mas não teve Saxon), e poderiam ter mudado a relação final.

Mas algumas boas coisas se salvaram no ano.



















5 - Wolfmother
Dando um pé na bunda em todas as bandinhas com The, o trio australiano lançou seu CD de estréia misturando influências como Led Zeppelin, Black Sabbath e Jehtro Tull, mostrando que rock se faz, antes de mais nada, com culhão. Estou torcendo para manterem o nível no segundo disco.


















4 - A Matter of Life and Death
Um CD novo do Iron Maiden é algo que entra em qualquer retrospectiva minha. A Matter of Life and Death, então, nem precisaria se esforçar para isso. É, talvez, o melhor disco da banda desde Seventh Son of a Seventh Son, com som trabalhado, com toques progressivos e letras inspiradas. Como todo bom disco, melhora a cada vez que você escuta.























3 - Show do Deep Purple
Só não entra numa posição mais alta na lista porque eu já tinha visto Deep Purple em 2005. Mas o show dos velhinhos mostra que a banda ainda manda muito bem. Smoke on the Water, Perfect Strangers, Space Truckin’, When a Blind Man Cries... Deveria estar na cartilha de qualquer pessoa que quer entender o que é rock.


















2 - Show do Chico Buarque
Sim, faltou um monte de clássicos. Sim, faltou Construção (que tem que ser citada separadamente dos clássicos). Mas é o Chico, ali, na sua frente, cantando. Curiosamente, o cara consegue ser uma das dez pessoas mais tímidas do mundo, mas, em cima do palco, consegue ser a definição de carisma.. De quebra, fui justamente no dia da gravação do DVD – que certamente comprarei esse ano.












1 - Show do Dio
Ao contrário do Deep Purple, eu nunca havia visto Dio ao vivo. Ou seja, estamos falando de músicas do Black Sabbath, do Rainbow... Enfim, algumas das coisas mais importantes na minha vida tornaram-se realidade somente a partir dessa noite. Ah sim, o Andreas Kisser subiu ao palco no final do show para dar uma palhinha exclusiva no show de São Paulo: The Mob Rules (chupa Rio de Janeiro: mode on)

Top 5 2006 - Cinema

2006 foi o ano das decepções no cinema. Primeiro, as decepções com os grandes filmes: Superman – O Retorno, Piratas do Caribe – O Baú da Morte e X-Men – O Confronto Final são filmes que poderiam ter sido muito, muito melhores. E, segundo a decepção comigo mesmo: a falta de tempo me impediu de assistir preciosidades como Babel, O Céu de Suely, Volver, Pequena Miss Sunshine e Obrigado por Fumar, que possivelmente poderiam ter alterado a lista. Mas A Conquista da Honra, do Clint, não é culpa minha: o filme foi adiado para fevereiro.

Enfim, vamos à lista.
















5 - A Dama na Água
Obviamente, ninguém gostou. Afinal, é Shyamalan, e ninguém vai com a cara dele, desde que ele deixou claro de que não vai fazer O Sexto Sentido 2, pelo menos, não tão cedo. Eu adorei. Me senti uma criança de nove anos saindo do cinema depois dessa fábula. Sim, o filme tem um ou outro personagem fraco e umas duas cenas que não fazem jus ao conjunto final – mas, até aí, desde quando uma criança de nove anos se importa com isso?

















4 - 007 – Cassino Royale
Confesso que estava com medo, mas adorei o filme. Que me desculpem os puristas, mas Daniel Craig é um puta James Bond – antes que comecem a dizer que ele era loiro, lembrem-se que o Roger Moore não era exatamente moreno, e que, tirando 007 – O Espião que me Amava, todos seus filmes ficam entre as categorias “assistível” e “bosta”. Só não está algumas posições na lista acima porque a música tema é fraca demais – o que é um pecado mortal num filme de Bond.

















3 - V de Vingança
A melhor adaptação de uma HQ de Alan Moore, que, normalmente, trata-se de algo inadaptável. Obviamente, ele destestou, mas, sinceramente, suas opiniões tem uma qualidade inversa a de seu trabalho. O filme atualiza a história sem nunca deixar de ser fiel à trama (tanto no roteiro como na arte) e aos seus personagens. Se você não assistiu, assista – e de preferência, leia o quadrinho também.



















2 - Vôo United 93
Tudo bem que o terrorista que pilota o avião é a cara do Zidane: isso não impede que seja o filme mais tenso dos últimos anos. Escreva o que digo: o estilo de Paul Greengrass – câmera na mão, trilha sonora discreta –, que transforma o filme em semi-documentário vai fazer escola nos próximos anos. Mas tome cuidado: ao sair do cinema, você tem vontade de arrebentar o primeiro muçulmano que cruzar seu caminho.

















1 - Os Infiltrados
Após aquela bobagem que foi O Aviador, Martin Scorsese (e não Scorcese, como muita gente teima) volta à boa forma justamente num filme sobre o crime organizado, onde ele é mestre. Reuniu um elenco acima da média, e, com uma trama baseada num fime asiático, arquitetou um dos grandes filmes do ano, com um roteiro repleto de reviravoltas que não se perde nunca, mostrando que, cinema, para ser bom, não precisa ser indie. Talvez seja a última chance da Academia lhe entregar o Oscar de Melhor Diretor. Assisti duas vezes e afirmo: ele melhora ainda mais na segunda. Filmaço.

Adeus Ano Velho

Todo final de ano é a mesma coisa. Qualquer site, jornal, revista ou emissora de TV que se preze apresenta a sua retrospectiva, lembrando os principais acontecimentos dos últimos doze meses. E, obviamente, esses últimos dias não têm sido diferentes. Você acessa a Internet e qualquer site que você entre traz chamadas como “confira os acontecimentos que marcaram o ano” ou “Restrospectiva 2006 – Veja aqui”. Não entrei no IG, mas lá com certeza deve ter duas retrospectivas: uma sobre 2006 e outra sobre a Ivete Sangalo em 2006.

E, nas bancas, a coisa é pior ainda. Enquanto revistas como a Veja e a Isto É trazem suas retrospectivas, as publicações “lado B” escolhem as mais mal-vestidas, as mais bem-vestidas, as celebridades do ano, as pessoas mais sensuais do ano. Uma delas chegou a estampar na capa a seguinte chamada: “Relembre aqui o fenômeno RBD”. Na boa, é o cúmulo da falta de assunto.

Isso retrata apenas algo que eu já vinha pensando desde o começo de dezembro. 2006 é um ano que, daqui a milênios, vai merecer no máximo uma notinha de rodapé no Livro de Ouro da História do Mundo. Eu sei, eu sei, tivemos eleições, incontáveis escândalos no governo, copa do mundo, ataques do PCC e o acidente do avião da Gol. Admito: tivemos o julgamento da Richtofen e as mortes de Pinochet e Saddam – que nada me tira da cabeça que morreu no dia 30 de dezembro justamente a pedido da imprensa mundial, para engordar um pouco mais as retrospectivas –, mas basta uma rápida visita a internet para verificar que tenho razão. Já encontrei duas retrospectivas citando que 2006 marcou os dez anos das mortes de Renato Russo e dos Mamonas Assassinas. Ou seja, dois dos principais fatos do ano aconteceram em 1996, para você ver o nível da coisa.

O Terra, inclusive, chegou a fazer uma “megaenquete” para você, débil-mental de plantão, eleger os fatos mais marcantes de 2006. Lá, a escolha do “acontecimento do ano” (onde você pode escolher entre os ataques do PCC em São Paulo, a reeleição do presidente Lula, a queda do boeing da Gol e a eliminação da seleção brasileira na Copa) tem exatamente o mesmo peso que “o maior flagra sem calcinha do ano” (onde concorrem Adriane Galisteu, Britney Spears, Christina Aguilera e Juliana Paes).

Sinceramente, você acha que esse ano será lembrado como aquele em que a Coréia do Norte atingiu o status de ameaça mundial, que Fidel Castro se afastou do governo cubano, que Collor revitalizou sua carreira política chegando ao Senado, e que os Republicanos sofreram uma derrota maciça nas eleições americanas? Ou você acha que será lembrado como o ano em que nos despedimos de Raul Cortez, Glenn Ford, Jack Palance, Robert Altman, James Brown, Syd Barrett e Phillipe Noiret (apenas para citar alguns)?

Não, não... 2006 entrará para a história como o ano em que a ex-senhora Gordo transou numa praia da Espanha (e no YouTube), que Tom Cruise quase comeu a placenta do seu bebê, que Gretchen revitalizou sua carreira de forma “ousada” (eufemismo mode: on), Hebe Camargo assumiu que deseja copular com Roberto Carlos, em que Susana Vieira casou e foi chifrada já na festa de casamento, e que a cada semana uma famosa qualquer era vista sem calcinha numa boate.

Duvida? Espere uns dez anos, e você verá que eu tenho razão.

2006 foi o Ano Internacional do Ô Fase.

Ou não. Ainda tivemos algumas coisas boas, que conseguiram se salvar ao longo do ano (e, não, não estou falando da criação desse blog), como veremos a seguir, na série de cinco posts Top 5 de 2006. Vamos, então, ao meu “ano velho”, começando no post a seguir – lembrando que todas as listas são extremamente pessoais, e refletem não apenas o que eu gosto, mas o momento em que eu vivia. Ou seja, você pode discordar de tudo, mas, em última instância, “foda-se, é o meu blog, então fica a minha lista”.

Após isso, voltaremos a programação normal

E, claro, feliz ano novo e tudo aquilo que todo mundo já deve ter desejado a você.

Apenas para não perder o hábito e justificar tudo o que eu disse acima, 5 personalidades que são a cara de 2006 (Susana Vieira não concorre).

1. Paris Hilton – Chegou ao cúmulo de lançar um CD. Ou seja, podemos esperar para esse ano seu primeiro livro. Paulo Coelho que se cuide.
2. Tom Cruise – Na verdade, ele encheu mais o saco do que a Paris Hilton, mas, como não poderia deixar de ser, ele tinha que ser engolido por alguém.
3. Angelina Jolie – Ok, ela é bonita. Ok, ela é politicamente correta. Mas essa mulher já deu no saco com esse lance de adotar uma criança por semana, sempre de um país com uma renda menor que o Jardim Irene, e fazendo campanha contra as minas terrestres.
4. Daniela Cicarelli – A ex-senhora Gordo dominou as manchetes por semanas após ter sido flagrada perpetuando a espécie numa praia da Espanha, o que, sinceramente, foi a melhor coisa de sua carreira.
5. RBD – Nada demonstra de forma mais precisa a “riqueza” cultural que vivemos.