Hoje, este blog volta de férias.
Depois de quase um ano sem final de semana, eu precisava de
uns dias longe de textos para arejar. Não consegui, já que para descansar
comecei a brincar com o cenário de um novo conto. Mas foram dias mais leves, em
que fiz coisas que pessoas normais fazem, como dormir, ver seriados, mergulhar
em livros e quadrinhos...
E ir até a Cobasi.
A Cobasi – para quem não sabe, são aquelas pet shops maiores
que alguns vilarejos da Europa – é um dos maiores mistérios da minha vida.
Teoricamente, eu adoro o lugar. Minha parte preferida de cada visita é sempre
ver os passarinhos, que acho legal, e escolher novos peixes para o aquário (o
que não seria difícil de apontar, já que as outras partes das minhas visitas
são normalmente carregar um saco de 10 quilos de ração e galões de desinfetante).
Basicamente, eu adoro ir até a Cobasi... Até colocar os pés
na Cobasi.
Isso porque eu realmente não entendo o hábito das pessoas em
levarem seus animais para a loja. Eu realmente não consigo compreender porque é
preciso levar o cachorro para comprar ração, já que ele não vai escolher o
sabor, a marca, nada disso. Vamos ser sinceros? O cachorro não precisa estar
lá. Para mim, não faz sentido algum.
Eu não concordo com essa humanização dos animais. Aliás, não
é que não concordo, eu não entendo. Sim, eu falo com meus animais como se eles
fossem pessoas, mas apenas quando sei que estou sozinho com eles. Tratar os
animais como humanos é como fazer sexo: quem gosta, tem mais que fazer, mesmo.
Mas é sempre importante lembrar que ninguém é obrigado a ver você fazendo isso.
Lembro quando eu morava em Pinheiros. Muitas vezes,
passeando com o Besta-Fera, alguém vinha falar comigo na rua sobre ele.
– Como ele é lindo!
– Obrigado.
– É menino ou menina?
– É um cachorro.
Aí ficava aquele clima estranho, e a pessoa tentava
consertar.
– Mas qual o sexo?
– Ah. É macho.
Mas o pior era quando ele começava a querer brincar com as
pessoas, que respondiam apontando para mim e falando com ele que “se comporta!
seu pai está olhando e vai ficar bravo!” e eu respondia que “na verdade, eu sou
o dono dele, ele não é meu filho, é um cachorro”. Aí ficava aquele clima chato,
e íamos cada um para o seu lado: a pessoa achando que sou grosso, e eu achando
que ela é esquizofrênica.
Partindo desse princípio, a Cobasi é a capital mundial da
esquizofrenia no trato com animais. Já experimentei algumas cenas dantescas lá
dentro, como quando fui cercado por dois cachorros, um em cada ponta do corredor.
Os respectivos donos liam em voz alta os sabores dos
biscoitos, para que cada cão pudesse decidir qual ele gostaria naquele dia. Mas
os animais estavam mais interessados em um latir para o outro, provavelmente
combinando de escaparem ao mesmo tempo e destroçarem naquele baixinho careca ridículo
que estava se esticando para pegar algo na prateleira mais alta.
Falta bom senso. Já vi mulheres abaixadas com dois sacos na
mão, perguntando se “você prefere o de frango ou o de carne?” para um poodle
que mal conseguia disfarçar seu constrangimento com aquilo, já vi gente dando bronca
em cães dizendo que “eu disse que não podia fazer xixi aqui na Cobasi!”, e o
cachorro olhando com desprezo, provavelmente pensando que se qualquer animal se
candidatasse a espécie dominante do planeta ganharia no primeiro turno.
Uma vez eu quase fui falar com a pessoa. Ela estava parada
com um cachorro na parte de passarinhos, dizendo para o animal que “olha os
passarinhos, como são bonitinhos!”. E o cachorro ali, se esgoelando para pegar
um canário, e centenas de pássaros prestes a ter um ataque cardíaco dentro da
gaiola. Quase fui chamar o segurança, mas o cara se tocou que, por causa dos
latidos do cachorro ninguém conseguia nem pensar num raio de vinte metros e foi
embora, levando o cachorro para ver os peixes, algo que provavelmente o cachorro
nem entendeu.
Sabe, eu entendo se a pessoa vai com o cachorro na Cobasi
para ele ser consultado no veterinário, e aproveita para fazer compras. Mas
levar o cachorro somente para a loja? Não tem uma área para os cães brincarem,
não tem uma praça de alimentação servindo ração... Não tem nada para cachorros
ali dentro. É uma loja! Se eu sair para comprar adubo para as plantas da Esposa
eu não vou carregar o vaso nas costas. Eu não preciso da ajuda dele na escolha,
no processo de compra, na hora de pagar.
E, toda vez que eu vou embora da Cobasi, olho a placa e vejo o slogan “o shopping do seu animal” e fico me perguntando sobre quem ele está falando. E me convenço cada vez mais que o slogan, esse sim, é para o cachorro, e fala sobre aquele animal bípede que ele tem em casa.
E, toda vez que eu vou embora da Cobasi, olho a placa e vejo o slogan “o shopping do seu animal” e fico me perguntando sobre quem ele está falando. E me convenço cada vez mais que o slogan, esse sim, é para o cachorro, e fala sobre aquele animal bípede que ele tem em casa.
3 comentários:
Cara, estou COMPLETAMENTE de acordo com você! E sou totalmente contra aquela frase "cachorro também é gente".
Mesmo no caso de cachorros que falam e escrevem, como o Besta-Fera.
Ri muito do texto! Tenho um pouco dessa esquizofrenia, mas tem gente que realmente perde a noçao! Sempre divertido passar por aqui, Rob! bjo
Morri de rir. Texto genial. Estive na Cobasi ontem e minha acompanhante (que é de uma cidade pequena, onde não existe esse tipo de loja) chocou-se ao ver no caixa panetones para cachorros e roupinhas de Papai Noel para os bichinhos. Já eu me choquei com os cães fazendo xixi nos lindos vasos de flores que a Cobasi também vende (e fiquei pensando na morte da planta depois de ser comprada por algum incauto). E vi a coleção daquelas placas amarelas com os dizeres "cuidado - piso molhado" espalhadas pelo chão da loja em cada xixi recém-feito, à espera de que um funcionário viesse limpar. Tenho três cães, mas nunca os levei para escolher a ração.
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