O menininho andava apressado nas ruas. Na verdade, ele não
tinha pressa, quem estava andando rápido era sua mãe. Mas, como ela o puxava pela
mão – talvez para chegar logo ao seu destino, talvez para escapar do frio – seus
passos eram atrapalhados, quase destrambelhados.
Assim, o menininho não conseguia olhar ao seu redor. Havia
muita coisa para ver: carros, ônibus, pessoas vestindo roupas de todas as cores
andando pelas calçadas, motos. Mas o menino mantinha os olhos na calçada, tentando
acompanhar a mãe e tomando cuidado para não tropeçar.
Foi quando o mágico apareceu.
O mágico podia ser uma pessoa como outra qualquer. Suas
roupas não eram diferentes, seu jeito não era diferente. Mas o menininho olhou
para o mágico porque se existe algo que menininhos sabem fazer é detectar
mágica ao seu redor. Adultos não conseguem fazer isso – e é por isso que é tão
chato ser adulto – mas menininhos e menininhas conseguem. Basta ter uma mágica
acontecendo por perto e seus olhos são sempre os primeiros a encontrá-la.
Por isso, o menininho desviou os olhos da calçada e fitou o
mágico, que saía de um prédio e parou na calçada. A mãe não deu atenção, mas o
menininho sim.
O menininho não soube se o mágico percebeu que estava sendo
vigiado, mas a mágica começou. O mágico começou a mexer a pena, fazendo uma
espécie de dança-de-uma-perna-só. A perna não brilhava, não emitia sons, apenas
se mexia. Mas o menininho sabia que era mágica. O cheiro de mágica estava no
ar.
O mágico fez o movimento por alguns segundos, sem olhar
diretamente para o menino. A mãe continuava andando apressada, reclamando do
horário e do frio e puxando o menininho pela mão. E o menininho arregalou os
olhos quando o mágico abaixou-se e tirou um maço de cigarros do pé.
E o menininho sorriu ao ver a mágica se completar. Não
contou para ninguém, pois sabe que mágica é uma coisa muito pessoal, mas
sorriu, ainda com os olhos arregalados, enquanto o mágico puxava um cigarro
mágico e um isqueiro mágico do maço mágico, e acendia. E quando soprou a
fumaça, olhou para o menininho e sorriu de volta para ele.
E o menininho continuou seu caminho, sendo arrastado pela
manhã num dia frio, deixando a mágica para trás – mas nos seus olhos a
expressão de que jamais esqueceria aquilo. Mesmo quando fosse adulto e não
fosse mais capaz de enxergar mágica, não esqueceria do dia que viu o mágico
tirar um maço de cigarros do pé.
E o mágico terminou seu cigarro e entrou de volta no prédio,
pensando em escrever no blog sobre o bolso furado de sua calça, e como o maço
de cigarros descia pela sua perna sempre que ele ia à calçada para fumar.
7 comentários:
Que ótimo...hahahaha
Baita criatividade a sua, maldito.
Sou o campeão de furar bolsos de calças, ainda vou entender isso ou, pelo menos, caso seja um dom, repassar aos meus filhos. Furo em bolsos de calça e botões de camisa/jaqueta que caem. E pode ser C&A ou Ricardo Almeida, certamente cairá.
Hahaha!!! piada em forma de crônica! sensacional!
Será que ele viu um mágico ou um palhaço?
Faz uns dois meses que aconteceu isso comigo no ônibus.
Ao invés de um menininho me achando um mágico, era uma moça, me achando sabe Deus o que...rsrs.
Os olhos dela arregalaram também... rsrs... Mas a cara dela era de quem não gostava nada daquilo, e virou a cara rápido... não queria saber o que era...
O bolso foi consertado depois da coisa se repetir em pé na rua.
Dependendo da imaginação do menininho, ele talvez tenha pensado em algo além da magia, sobre um maço de cigarros cair pelas calças. rs
Deus abençoe a capacidade das crianças em enxergar magia!
E que Ele continue abençoando a capacidade do escritor em transformar um evento qualquer em um verdadeiro show!
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