11 de dezembro de 2012

Palavra de Escritor


“É assim que se faz: você se senta de frente para um teclado e coloca uma palavra depois da outra, até que esteja pronto. É fácil assim, é difícil assim”.


Quando me perguntaram, algumas semanas atrás, o que alguém deveria fazer para se tornar um escritor, eu poderia ter respondido a frase acima. Seria elegante e, mais importante ainda, seria sincero. Mas não o fiz, e tenho um bom motivo para isso – além, claro, da frase não ser minha. No momento em que a pergunta foi jogada na mesa, tudo o que eu consegui pensar foi que eu não sei responder essa pergunta.

Eu não sei ao certo o que alguém deve fazer para se tornar um escritor. Tudo o que eu sei sobre escrever – que não é muito – aprendi fazendo. Aprendi testando, ousando, brincando, vendo, por meio dos leitores e do próprio texto, o que dava certo e o que não funcionava.

Escrever é sim, um conjunto de técnicas e truques. Escrever é algum talento e muito trabalho. Mas escrever é, antes de tudo, uma paixão.

Eu me lembro de quando comecei a escrever profissionalmente. Fazendo um pouco de esforço, consigo lembrar até a época e o tema do texto – um perfil sobre a Drew Barrymore, no início de 1999. Isso porque, formado em publicidade, acabei caindo no jornalismo. Trabalhei escrevendo sobre cinema e vídeo por mais de uma década.

De alguns meses para cá voltei à área em que me formei. É engraçado isso: formado em publicidade, aprendi a escrever de verdade trabalhando como jornalista, o que me fez criar o blog que, anos depois, me levaria de volta à publicidade. Assim, tenho feito também trabalhos de publicidade para agências. Muitos não são nem assinados – acredite: você já leu alguns textos meus na internet sem saber que eram meus.

Mas isso é escrever profissionalmente. Em outras palavras: isso é ser jornalista ou publicitário. Quando penso em “ser escritor”, estou automaticamente pensando em ficção, de forma geral. Ou, melhor ainda, em contar histórias.

Sei que sou apaixonado pela ideia de criar histórias desde criança. Talvez isso venha do meu amor pelo cinema. Mas, ainda criança, olhava aquele monte de nomes nos créditos e percebia que eram precisas dezenas, centenas de pessoas para fazer um filme – que, dentro da minha cabeça, sempre foi apenas uma forma de se contar uma história.

Mas escrever... Ah, escrever era algo totalmente diferente, ao menos na minha mente de criança. Você podia fazer tudo por conta própria. Sozinho, você podia criar pessoas, mundos, situações. Sozinho você podia voltar ou avançar no tempo, indo para o espaço ou para um reino de fantasia. Escrevendo, você podia ser não apenas o roteirista, mas também o diretor, o produtor, os atores, a equipe dos efeitos especiais.

Tudo usando somente as palavras.

E sem depender de mais ninguém, apenas de você mesmo. Quem escreve sabe disso: a tela em branco pode ser um adversário – e normalmente é – mas ela também é um mundo inteiro, pronto para ser construído.

Os anos se passaram e a minha paixão em inventar histórias sempre persistiu. Aliás, aumentou. Até o dia em que resolvi colocá-la em prática.

Hoje são mais de mil textos publicados na internet. Vejo blogs nascendo e morrendo a cada dia, e eu continuo aqui. Isso não me torna melhor ou pior que ninguém, talvez apenas mais apaixonado pela ideia de contar histórias.

Para mim, escrever é um estado de espírito.

Quando empaco definitivamente em um texto, meu humor azeda. Largo o computador de lado e vou procurar outra coisa para fazer. Contudo, não consigo ficar longe: minutos depois, estou ali, de volta. Escrevendo, reescrevendo, revisando. Existem textos que eu saí do computador quatro, cinco, seis vezes antes de terminá-lo. Mas sempre voltei.

Há quem chame de teimosia. Eu concordo, mas coloco também um pouco de saudade na equação. Saudade da história que não terminei, saudade dos personagens que estão esperando por mim, saudade dos diálogos que imaginei para eles e ainda não escrevi.

Por outro lado, quando termino um texto e posto no blog – ou envio para quem me pediu – a leveza que sinto perdura o resto do dia.

Claro, torço para que ele faça sucesso. Afinal, textos são como filhos: você faz o melhor que pode até que chega a hora inevitável de entregá-lo ao mundo, torcendo para que ele se saia bem. Mas a alegria que sinto por ter entregado mais uma história – seja para quem me contratou, seja para os leitores do blog – independe da repercussão do texto.

Essa sensação é única. É mais que uma alegria, e muito maior que a ideia de dever cumprido. É quase uma embriaguez. É uma paixão consumada.

Escrever, como toda paixão, é algo generoso e egoísta ao mesmo tempo. Escrever é generoso, pois entrega uma história ao mundo; escrever é egoísta, pois todo escritor passa o tempo inteiro correndo atrás dessa sensação – pois, não se deixe enganar, essa sensação é viciante. E não há dinheiro, fama ou elogios que cheguem perto dela.

Assim, se eu pudesse dar um conselho para quem escreve, seria esse: se você sente esta sensação de leveza ao terminar um texto, como se o mundo inteiro fosse seu, como se tudo o que você viveu e aprendeu em sua vida tivesse culminado naquele texto... Bem, você está no caminho certo.

Pois você escreve com paixão.

E, mais importante ainda: talvez você tenha descoberto que não existe outro modo de escrever.

Afinal, como Neil Gaiman (autor da frase que abre este texto), disse certa vez: “amanhã pode ser um inferno, mas hoje foi um bom dia para escrever. E, num bom dia para escrever, nada mais importa”.

A quem escreve: obrigado por compartilhar sua paixão conosco.

A quem lê: obrigado por fazer com que essa paixão deixe de ser platônica.

21 comentários:

Brunín Assis disse...

Tem um parágrafo do Stephen King que também traz essa ideia: "Eu continuaria fazendo o que faço se você não estivesse aí? Sim, continuara. Porque fico feliz quando as palavras se juntam, o quadro se forma e as pessoas imaginárias fazem coisas que me encantam. Mas é melhor com você, Fiel Leitor. É sempre melhor com você".

Tirando que aqui ele fala diretamente para o leitor, é essa mesma ideia de que escrever é algo generoso e viciante. Você está contando uma história para alguém e, ao mesmo tempo, aquilo está te fazendo bem.

Não posso me considerar um escritor ainda, mas uma das melhores sensações do mundo é quando eu coloco o ponto final em uma crônica ou conto. É quando você sente que a história esvai e fica aquele sentimento de dever cumprido. Porque algumas histórias pegam a gente de tal forma que é impossível não se sentir aliviado/contente quando as finalizamos.

E não há nada mais desafiador que uma página em branco. E nada mais excitante também.

Pk Ninguém disse...

Escrever é um prazer sem igual, colocar no "papel" aquilo que está fervilhando em nossas mentes, dar "vida" a pessoas e lugares que muitas vezes só existem para nós. Pouco importa se vão ler ou se vão gostar, quem escreve faz isso primeiro para si, se agrada a outros tanto melhor.

Polly disse...

Obrigada por colocar aqui o que é escrever... Para mim é exatamente isso: me sentar na frente de um PC (e nas vezes que estou sem poder acessá-lo, com um caderno e caneta na mão) e deixar tudo que vejo na minha mente, ser jorrado na tela (ou folha) em branco... Como você bem disse é desafiador como poucas coisas na vida, mas é excitante também.. Eu me surpreendo muitas vezes quando eu penso: Ah isso aqui será apenas umas três páginas no word, e quando eu vejo já se foram mais de dez e eu nem vi o tempo passar.. E claro que depois vem todo o processo de ler, reler, reescrever, duvidar... Mas no final o prazer que vc sente ao ver as palavras lá, é inexplicável.. E não, eu não sou escritora, escrevo apenas fanfictions e alguns contos que geralmente não mostro a ninguém, mas o prazer que essas pequenas coisas me dá, não tem comparação..
Obrigada pelo texto.

Giovana disse...

Nada melhor para quem tem fome de leitura que pessoas que tem paixão por escrever...

Evelyn Postali disse...

É realmente muito bacana o que escreveu. Concordo plenamente! Obrigada por compartilhar!

Nelson disse...

Eu amo literatura. Tenho vários livros, e leio vorazmente qualquer coisa. Eu até tenho um blog, e vira e mexe eu tento escrever algo, mas eu apanho demais das palavras. Me falta o foco pra desenvolver o assunto que quero, e pra ser sincero as vezes me faltam as palavras que expressem o que eu sinto. Por isso, escrevo só ocasiões raras, e escrevo pra mim. Admiro demais quem consegue escrever bem do jeito que você escreve.

A minha arte é a música. Com ela eu sinto essa leveza que você sente.

Fagner Franco disse...

Excelente, Rob. Tenho muito prazer em escrever, então, posso ter uma ideia do que sente(bem pequena, porque estou longe de ser um escritor medíocre). É um sentimento gostoso de escrever, você sozinho, como se desenhasse um texto, ajustando aqui e ali, mudando parágrafos de lugar, lendo, relendo. É demais. Pra você, um dos melhores blogueiros que conheço (fácil), deve ser ainda mais especial. Nós que agradecemos sua teimosia;)

Sil disse...

Escrever é bom quando fazemos com amor e com prazer.

E é gratificante poder ler alguém com talento para nos prender em um texto, em uma história como você faz.

Que sorte a nossa que você escreve com essa paixão toda.

Beijos.

Sil

Frank Slade disse...

Bem, antes de mais nada, é imperioso deixar aqui o meu agradecimento. Agradeço a você, Rob, por esse canto de amor que você divide conosco.
Você é um cara genial, escreve como pouquíssimos por aí. E ter acesso a esse blog é como se o baú de tesouros fosse quem tivesse um mapa que o trouxesse até nós, é como se a Arca da Aliança procurasse Indiana Jones. Todos os dias, eu chego na empresa, dou log in no meu computador, abro o outlook, abro a internet e o primeiro endereço que digito, todo santo dia, é o champ. Mesmo, na maioria das vezes, sabendo que não vai ter nada, - eu assino o feed do blog - eu entro aqui, talvez na esperança de o feed ter se enganado.
Eu também escrevo umas linhas uma vez ou outra, tenho até um blog, onde falo sobre besteiras. Essa observação tem o único fim de ser o meio da seguinte conclusão, eu fui influenciado por você. Sempre gostei de escrever, desde moleque eu sempre escrevi uns textos e saía mostrando pra toda família todo empolgado, escrevia tanto que meu indicador direito tinha até calo, por que escrevia no papel mesmo, com lápis, e sempre senti isso de ter amor por um texto. Quando comecei a ler o champ, há uns 4, 5 anos, eu senti um prazer gigantesco de ler seus textos, tanto é que das primeiras vezes que li o blog, eu lia o máximo de textos que meus olhos conseguiam ler a noite, até que um dia eu li todos. E sinto falta do Jonas, do Besta-Fera, das queimaduras de lasanha, do bombado transcedental do pão de açúcar, da síndica que jogava seus inimigos aos porcos, do boteco cantina de mos easley, da sua vizinha que tentou suicidar, de tudo cara. TUDO. É impressionante como essas histórias me marcaram e é por todas elas, por todas essas lembranças de lugares que eu nunca estive fisicamente, que eu te agradeço.
Obrigado por dividir conosco essa sua paixão, por que ler é bom, mas ler algo escrito com amor é melhor ainda.
Abraço!!!

Frank Slade disse...

A propósito, o pseudônimo e o título do meu blog também são influenciados por você. Da mesma forma que você escolheu Rob Gordon por ele ser um viciado em listas e em música e Championship Vinyl por ser a loja que ele possui naquele filme, eu escolhi Frank Slade, por adorar perfumes femininos e ser um dos melhores personagens do Al Pacino e Such a Weekend, por causa da história do filme.
Abraço!!!!

Elise disse...

Eu escrevo muito pouco, agora, muito menos do que eu escrevia e infinitamente menos do que eu gostaria. Sei que é fácil e difícil ao mesmo tempo. E é por isso, também, que eu te admiro, Rob.

=)

Rob Gordon disse...

Brunín Assis:

Adorei essa frase do SK, não conhecia. Muito obrigado, cara. Não só por me apresentar a ela, como por dividir a sua sensação ao escrever no resto do comentário.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

PK Ninguém:

Exato. A primeira necessidade é escrever. Ser lido é consequência.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Polly:

Eu que agradeço, pelo comentário! Muito obrigado mesmo.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Giovana:

Junta a fome com a vontade de escrever. :)

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Emptyspaces11:

Eu que agradeço pela leitura. Sempre.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Nelson:

Então, a música é o seu lar. E é tão importante para você quanto a escrita para mim, não tenho a menor dúvida disso.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Fagner:

"É um sentimento gostoso de escrever, você sozinho, como se desenhasse um texto, ajustando aqui e ali, mudando parágrafos de lugar, lendo, relendo." Adorei isso, cara.

Muito obrigado pelos elogios, de verdade.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Sil:

A sorte é minha por contar com gente tão boa e inteligente aí do outro lado, me lendo. Isso faz muita diferença em cada texto.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Frank Slade:

Sabe, quando eu escrevi este texto, achei que faltava algo nele. E só dias depois eu percebi o que era. Vou tentar colocar aqui.

Quando você escreve, você quer ser lido. Isso acontece com todo mundo que escreve. Mas existe algo melhor: quando você escreve, independente de quantas pessoas leiam, basta uma pessoa se inspirar com seu texto para começar a escrever e tudo valeu a pena. Mesmo que ninguém tenha lido... Se uma única pessoa começou a escrever por sua causa, o texto valeu a pena. Tudo valeu a pena.

E você fez este texto valer muito a pena com seu comentário. Muito obrigado pelos elogios - dizer que não gosto deles seria hipocrisia, assim só me resta agradecer.

Mas, mais importante: obrigado por escrever e por dividir tudo isso aqui comigo. Muito obrigado mesmo.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Elise:

Muito, muito obrigado!

Beijos!

Rob