Outro dia entrei no Facebook e dei de cara com um antigo
professor de faculdade. O site estava me sugerindo que eu o adicionasse como
amigo, já que conhecíamos não sei quantas pessoas em comum.
Normal. Acontece todos os dias.
Mas vamos guardar esta informação para mais tarde.
Na maior parte das vezes, eu me dei bem com meus
professores. Mas sou o primeiro a admitir: não fui o que se pode chamar de “aluno
dos sonhos”.
Isso vem desde os tempos de escola, quando eu normalmente
era um dos responsáveis pela bagunça na sala de aula (uma amostra disso você
encontra neste post aqui), e me salvava somente pelas notas boas – no colegial minhas notas caíram para
baixo do nível do mar, tomei duas bombas seguidas, mas isso é outra história.
Contudo, no meio do caminho, eu arrumei alguns inimigos
mortais. Um professor de Matemática praticamente se recusava a entrar na sala
se eu não estivesse sentado na primeira carteira; já um de Física se recusava a
entrar na sala se eu estivesse lá dentro (aliás, este professor é a vítima do item
3 no post citado acima).
Na faculdade, entretanto, meu relacionamento com alguns
professores foram mais amigáveis. Mais que mestres, muitos se tornaram amigos,
de bater papo e dar risadas fora da sala de aula – mantenho contato com alguns
deles por e-mail ou até mesmo por Twitter, algo do qual me orgulho bastante.
Agora vamos voltar ao professor em questão. Até hoje, quando
me encontro com alguns antigos colegas de faculdade – ocasiões em que
invariavelmente nos lembramos de nossas histórias daquela época – o nome deste
professor é sempre lembrado. Mas nunca de uma forma exatamente... Carinhosa.
Para ilustrar melhor, digamos que o Facebook sugerir que eu
o adicionasse como amigo foi o equivalente a ele sugerir que ao Homem-Aranha
adicionar o Duende Verde como amigo.
Porque eu posso ter arrumado poucos inimigos dentro das
salas de aula, mas confesso – com certo orgulho – que os poucos que arrumei
eram dignos de respeito. Eram bons no que faziam, mas o que eles
faziam não era nada agradável.
Mas poucos foram tão bons no que faziam quanto este sujeito.
Vale dizer que, na faculdade, eu e meus amigos tínhamos uma
espécie de acordo informal com os professores: ficávamos na classe somente o
suficiente para não tomar pau por faltas e, em troca, tirávamos dez em quase
tudo (a exceção que confirmava a regra era na aula de estatística: assistíamos a
todas as aulas, mas só tirávamos zero). E este acordo funcionou perfeitamente,
até o quinto semestre.
Até este professor chegar.
Era um sujeito jovem que lecionava Redação Publicitária. Metido
a descolado, pinta de galã. Sorria para todas as mulheres da sala, gostava de
tirar sarro. E ele tinha seu método de ensino: a cada duas ou três aulas, dava
pequenos trabalhos para serem feitos na sala de aula. Quando perguntávamos qual
o valor de cada trabalho destes, a explicação era sempre a mesma:
- No final do semestre, algum aluno pode precisar de meio
ponto, ou um ponto, para passar. Aí eu vou analisar quantos destes trabalhos ele
fez, e isso pode ajudá-lo com a nota.
Ok. Eu e meus amigos cumprimos nossa parte no trato: fizemos
todos. Todos, sem exceção. E, nas aulas em que não havia trabalho a ser feito,
não dávamos as caras na sala. Ficávamos sentados no saguão, conversando sobre
coisas mais importantes como futebol e cinema.
Na verdade, havia uma aula que não perdíamos por nada. Era a aula
de uma mulher que lecionava história do cinema. Como eu já era maluco por
cinema há anos, foi quase amor à primeira vista – o fato de ela ser uma das
professoras mais queridas da faculdade ajudou. Viramos amigos logo de cara, e,
em poucas semanas, eu me tornei quase um estagiário dela dentro da sala de
aula. Ela precisava de exemplos para ângulos de câmera, e eu lembrava o filme e
a cena; ela precisava de três filmes de um diretor, eu dava cinco. A aula dela
era o meu paraíso.
E, ao final do semestre, após a última aula dela, corri pelo
corredor e a alcancei antes que ela entrasse na sala dos professores.
- Você não precisa de um monitor?, perguntei meio sem graça.
- Eu nunca tive um monitor antes, mas já havia me decidido a
convidar você.
Não podia ser melhor. Eu iria me tornar o monitor de uma das
professoras mais queridas da faculdade, sobre cinema. E num curso cujo trabalho
final era quase um evento na faculdade, com alunos de outros cursos disputando
lugar para assistir. E de quebra eu teria 20% de desconto na mensalidade.
Acho que foi a primeira vez na vida adulta que pensei “meus
pais vão ficar orgulhosos pra caralho de mim”.
Mas nem tive muito tempo para comemorar. Dias depois, as
médias finais de Redação Publicitária foram entregues. Eu e mais dois amigos tomamos
pau – não lembro agora as médias de cada um, mas as três notas giravam entre
4,5 e 4,8.
Eu nunca havia ficado de DP antes. Mas o problema não era a
DP em si, mas sim a norma que proibia qualquer aluno com DP ser monitor de
qualquer matéria. Fomos falar com o professor, mas ele se recusou a nos
atender. Discussão vai, discussão vem – não lembro ao certo como aconteceu – estávamos
nós três dentro da sala do diretor do curso, discutindo o caso com ele e com o
vice-diretor.
- Você disse que quem fizesse aqueles trabalhos durante a
aula seria ajudado na média final, em meio ponto ou mais.
- Sim.
- Nós fizemos todos!
- Eu sei disso, ele respondeu.
- Então cadê a porra do meio ponto aqui?, eu gritei.
O vice-diretor pediu calma, meus amigos me seguraram e o
professor respondeu.
- Vocês pegariam DP de qualquer maneira.
- Como assim?
- Eu não gosto do estilo de vocês. Acho vocês arrogantes.
- Oi?
- Sim. A nota final de vocês é essa. Você tirou 4,5. Você
tirou 4,7. E você tirou 4,8.
- Então esta DP é um problema pessoal?
- Vocês estão de DP.
Eu transpirava. O vice-diretor soltou um “calma, gente”.
Ninguém deu atenção e eu gritei mais alto.
- Responde o que perguntei, caralho! É pessoal, então?
- É. É pessoal. Vocês não pegaram DP por causa das notas,
mas por causa das suas atitudes.
Dei um murro na parede – dizem que, com isso, quase derrubei
um quadro, mas não vi – e soltei um palavrão, sugerindo um lugar onde ele pudesse
enfiar tanto a atitude como a DP. E enquanto me tiravam da sala, eu ainda consegui
gritar que:
- Eu vou fazer a sua DP, mas vai ter volta!
Mais calmo, fui falar com a professora de cinema.
- Eu não posso mais ser seu monitor. Eu estou de DP.
- Eu fiquei sabendo disso, vieram me falar. Foi um absurdo.
- Eu quero propor uma coisa para você. Eu quero ser seu
monitor de graça mesmo. Ninguém pode me impedir de ajudar você sem cobrar nada.
- Eu não posso pedir isso para você.
- Eu sei. É por isso que quem está pedindo sou eu.
Ela aceitou. E, ao longo de todo o sexto semestre, eu ficava
na faculdade de manhã até a noite três vezes por semana – duas delas por causa
da monitoria que eu optei em fazer de graça, e uma delas por causa da DP, que
eu peguei porque o professor não gostava de mim.
Agora, vocês conhecem um velho ditado klingon que diz que
vingança é um prato que deve ser servido frio?
Bem, era muito frio na minha faculdade.
(Continua aqui)
36 comentários:
Professor, quando marca um aluno que consegue ser mais esperto do que ele, costuma fuder a carreira acadêmica do aluno de todos os jeitos possíveis e imagináveis. E como é professor, inventa mais alguns jeito. Eu tou torcendo pra você ter lavado a alma na continuação desse post, porque esse aí merece pela arrogância, que pelo jeito era MUITO MAIOR do que a que vocês poderiam ter.
Hahahaha
Clasaasse! Adorei esse final. Ansioso pelo próximo capítulo!
Eu sempre fui o aluninho exemplar, tirava notas e me comportava, o perfeito nerdinho...
Mas com o tempo me ensinaram a pensar e questionar e não acreditar em td quer é sito pra mim.
E aí eu entrei na faculdade.
Aí eu realmente acho que me tornei um aluno de verdade.
Inclusive questionando professores, matando aula e buscando o que ra melhor pra mim e não o que eles acvhavam que era.
Deu nisso. 8- )
Se voce nao revelar o nome daquele medíocre filho da puta, eu o farei. Nome completo.
Essa raça deveria levar meia-hora de porrada por dia... trombei num desses aqui em LA. Faz trabalho e vc é alvo, vagabundeie o semestre todo, e ele vai se divertir com o que vc faz. pqp.
Essas injustiças me deixam muito puto. Espero ansiosamente pela volta.
Eu tenho um desses professores bem fdps. Mas ele não dá aula, não explica matéria: ele apenas entra na sala, passa um exercicio na lousa e vai mexer no celular.
Depois dá provas cobrando coisa que ele nunca deu. Vontade de sentar a vara naquele professor baitola lol
Ansiosa pelo continuação do capitulo. :D
Porra! Sacanagem dividir essa história e deixar a gente esperando pela continuação!
ah cara, professor quando marca aluno...
(não que eu marque, mas entendo)
agora, vc se vingou beeeeeem gostoso, né?
Já dá pra cobrar/pedir a continuação? rs
Aaaahhh, sacanagem! :-D
Comentei ontem mas deu pau. Esse texto me fez lembrar de uma reprovação que eu tive por causa de um fdp e do inferno que é estatistica que só foi pior do que técnica I... hahahha.
E eu ainda sinto saudades daquele tempo... rs
Nossa, é muita coincidência. Eu tive problemas na faculdade também sim. Alguns por nota, alguns por frequência, mas o pior de todos eles foi com um professor igual a esse. E mais espantoso: acho que era da mesma matéria (pq eu não me lembro mais do nome certinho, mas era algo de redação publicitária mesmo). E pro meu azar, eu tive 3 semestres com esse puto, mas briguei de sair da sala e ir pra reitoria no ultimo dia do 1º semestre de aula com ele... já viu que m* que foi os dois semestres seguintes, né?! Foi a Segunda Guerra Mundial durante as aulas de terças e quintas por um ano inteiro.
Fala a verdade agora pra mim: o nome dele era Bernardo Santana???
Professor que marca aluno é um CU!
Tem uma fulana tentando me pegar desde o ano passado na Rio Branco. Deixa ela...rsrs
uma das poucas vezes que vc se fudeu e eu não ri. :P esperando pela vingança
Rob, estou louca pela continuação...
G7 conta o nome dele para nós...
Rob, se for o Bernardo Santana você confirma?? hehehe
essa vingança eu quero ler...
kd a continuação? :)
TAM-TAM-TAM-TAAAAAM
(Trilha sonora só pq eu fico ansiosa com continuações, desde Arquivo X).
Elise:
E você acertou em cheio: a arrogância ali era o ponto alto, mas do pior tipo, disfarçada por uma "simpatia forçada".
Mas lavei a alma sim, dá uma olhada no psot seguinte.
Beijos!
Rob
Mario:
Cara, você resumiu tudo com a frase "aluno de verdade". Acho que no momento que - novamente, como você disse - consegue escolher o que é melhor para você e discordando dos professores se precisar, é quando você começa a crescer de verdade.
Abraços!
Rob
G7:
Be my guest. :)
Abraços
Rob
Aos demais leitores, lhes apresento mais um aluno de DP de Redação Publicitária.
SOS Hollywood:
E o pior é que eles se proliferam como gremlins.
Abraços!
Rob
Pedro:
E a volta já tá no ar, checa lá depois!
Abraços!
Rob
Pamella Botelho:
Olhe, já tive alguns piores, mas este que você falou merece se ferrar também.
Beijos!
Rob
Varotto:
Já está no ar!
Abraços!
Rob
Michelle:
Eu fui marcado muitas vezes por professores. Este foi um dos poucos que eu consegui me vingar.
Beijos!
Rob
Na Braga:
Já está no ar!
Beijos!
Rob
Silvia:
Calma, calma. Já está no ar. :)
Beijos!
Rob
Alan (FFC)
Cara, estatística é indiscutivelmente uma das maiores criações do Demônio.
Abraços!
Rob
Fê:
Bernardo Santana? Hum... Não. :)
Beijos!
Rob
Bia:
Fica esperta. Professor, quando cisma de pegar, encontra qualquer brecha possível.
Beijos!
Rob
R:
E a vingança saiu! Já tá no ar!
Beijos!
Rob
Dani:
A continuação já to ar! Nunca vi esse Bernardo Santana na vida. :)
Beijos!
Rob
Gomex:
Já está no ar!
Abraços!
Rob
Bia:
Tá aqui: http://www.champ-vinyl.blogspot.com.br/2012/05/ao-mestre-chupa-com-carinho-parte-final.html :)
Beijos!
Rob
Dani Cavalheiro:
Pode segurar a ansiedade! A continuação já está no ar! Espero que curta!
Beijos!
Rob
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