13 de junho de 2011

With a Big Help From My Friends

Quem acompanha este blog sabe que minha paixão por música vive de fases. Já escrevi sobre isso antes.

No centro de tudo está o heavy metal. Passei boa parte do meu tempo ouvindo Iron Maiden, Judas Priest, Black Sabbath, Metallica. Mas, às vezes, fujo das guitarras distorcidas e durante semanas, mergulho de forma quase obsessiva nas sinfonias de Beethoven, nas letras de Chico Buarque, na guitarra adocicada de Eric Clapton, nos lamentos de Robert Johnson. Mas sempre volto ao heavy metal, o estilo musical que faz com que eu me sinta em casa.

Mas, em todos os momentos da minha vida, não importa o que eu esteja ouvindo, os Beatles estão ao meu redor. Ou, melhor dizendo, ao meu lado.

Eles apareceram na minha vida há mais de vinte anos. Na verdade, acho que eles estão ao meu lado desde que nasci, mas fomos apresentados de verdade pouco antes de eu completar quinze anos, quando comprei meu primeiro cassete deles.

De lá para cá, passaram-se duas décadas e eles continuam ao meu lado, em todas as diferentes fases que vivi – nas boas e nas ruins. Em alguns momentos, apagava a luz do quarto à noite e prestava atenção no que eles tinham para me dizer até cair no sono; em outros, corria para começar a conversar com eles logo que meu dia começava.

O relacionamento que eu tenho com a banda – e especialmente com muitas de suas músicas – vai muito além de admiração, e cai no campo emocional, onde tudo é mais difícil (e menos necessário) de ser explicado.

Talvez (aliás, o correto seria “é provável que”) eu tenha passado mais horas da minha ouvindo Iron Maiden, outra grande e antiga paixão musical que tenho. Já assisti a três shows da banda, conheço a discografia de cor e salteado (incluindo aí ano de lançamento de cada disco e, em alguns casos, a ordem das músicas do álbum). É quase certo dizer que minha banda preferida é Iron, que também acompanha meus passos desde moleque.

Mas não estou falando aqui de gosto musical. John, Paul, George e Ringo não formam a melhor banda que eu ouvi na vida simplesmente porque faz anos que – ao contrário do que acontece com Iron Maiden – não consigo mais enxergar os Beatles como uma banda.

Qualidade musical? Qualquer coisa que eu fale aqui sobre isso seria redundante, pois tudo o que poderia ser afirmado sobre o talento ou a importância dos Beatles (seja como músicos ou como ícones culturais) já foi dito ou falado.

A questão aqui é a importância de Beatles dentro da minha vida.

Tenho toda a discografia deles no meu iPod. Já assisti diversas vezes aos DVDs do Anthology. Faz anos que saboreio com cuidado a biografia escrita pelo Bob Spitz. Não consigo ainda explicar o significado do show do Paul McCartney na minha vida, e – talvez seja coincidência – meu post de maior sucesso no Chronicles é justamente sobre isso.

Meu disco preferido deles muda a cada dia, da mesma forma que meu Beatle preferido. Sou apaixonado por dezenas de músicas (cujos significados mudam conforme eu amadureço) e praticamente obcecado por A Day in the Life, I Am the Walrus e Strawberry Fields Forever – e a cada vez que as escuto, tenho a sensação de que ainda não consigo compreendê-las totalmente, mesmo sabendo de cor a história por trás delas.

Mas existe algo mais importante que isso. Foi ouvindo o que eles me diziam que eu, ao longo dos anos, sorri e chorei, pensei e sonhei. Foi com eles que aprendi muito do que sei sobre amor, sobre paixão, saudade, sofrimento. Ouvindo Beatles me transformei no homem que sou hoje.

Porque Beatles para mim não é música. É um estilo de vida.

E aí chegamos a outro assunto: minha vida de forma geral.

De uns meses para cá, minha vida mudou radicalmente, tanto no campo pessoal quanto no profissional. Não é a primeira vez que isso acontece, e é bem provável que não seja a última.

Por um lado, foi assustador demais. Mudanças de percurso normalmente acontecem em meio às tempestades e, além disso, é difícil ver sua vida mudando totalmente de rumo quando você tem 35 anos e acredita que tudo já está encaminhado.

Contudo, em situações como essa sempre vem um aprendizado. E, como eu mergulhei em Beatles – eu sempre me afogo em Beatles em busca de respostas quando minha vida parece estar fora dos eixos – aprendi algo que eles estão tentando me ensinar desde que eu era adolescente:

Don't carry the world upon your shoulders.


Mais que um verso bonito de uma música cantada em estádios mundo afora, isto era algo que eu precisava ouvir. Ou, fazendo mais um paralelo com a letra, era uma frase que eu precisava deixar entrar no meu coração, para começar a me sentir melhor. Ou melhor ainda, para me entender melhor.

Mais uma vez, foram eles que me salvaram.

E foi em algum momento das últimas semanas que eu percebi que quando as coisas apertam, especialmente no lado emocional, são eles que correm para me socorrer – ou, ao menos, me confortar.

Desta vez, eu precisava agradecer. Assim, semanas atrás, a decisão: no momento em que eu colocasse a mão no meu Fundo de Garantia, iria realizar um sonho que me acompanha desde moleque. Sempre tive esta imagem na cabeça, mas confesso que ela não era a minha prioridade (a “prioridade” em questão está guardada aqui para outro momento).

Semanas atrás, veio a certeza de que era o momento desta imagem. Por tudo o que eles significam para mim, por tudo o que eles fizeram por mim. E também para simbolizar algo que descobri.

Eu não sei onde estarei amanhã. Não sei quem estará ao meu lado ou o que estarei fazendo da vida. Novas mudanças sempre podem acontecer. Mas não importa o que acontecer, a partir de agora eles estarão sempre comigo.

Este texto (contando este parágrafo) tem exatamente 1000 palavras. Como dizem que uma imagem vale mais que 1000 palavras, segue a foto.

Keep walking.


22 comentários:

Tyler Bazz disse...

Ficou muito, muito legal!

@buchecha disse...

É isso.

Ana Savini disse...

So fucking beautiful. *.*

Renata disse...

Eu sabia que o check in no foursquare renderia uma bela crônica...
Mais fácil - e sem dúvida mais belo - carregar estes 4 nas espáduas que o mundo nos ombros.

Just keep walking!

Natalia Máximo disse...

Ia falar "que coincidência, estou ouvindo Beatles enquanto leio esse texto", mas não faria sentido, já que estou sempre os ouvindo.

Ficou foda! Depois me passa os contatos do estúdio que você fez? Estou louca pra fazer a minha, que também é dos Beatles =D

Ana Savini disse...

Eu dou o contato, é o meu tatuador. =D

Rob Gordon disse...

Nat

Eu não conhecia um tatuador de confiança, e a Ana me "emprestou" o dela. Achei o cara demais - além de absurdamente talentoso, é gente finíssima!

Beijos

Bia Nascimento disse...

Simplesmente foda. E muito linda!!
Espero ter coragem de fazer a minha logo mais.

Sil disse...

Ficou perfeita.

Que as mudanças venham sempre para melhor em sua vida, porque você merece o melhor.

Beijos

Marina disse...

Ficou massaaaaa!!!

Thayz Figueirêdo disse...

perfeita =)

Varotto disse...

Cara... Muito a dizer.

Mas seria tanto, que eu guardo quase tudo e solto só um pouquinho.

Em relação aos quatro, não sei exatamente quando comecei a chafurdar na obra, mas talvez a lembrança mais antiga que eu tenha, seja um LP com uma coletânea, de uma tia, que acabou pousando lá em casa. E como eu sou viciado em música praticamente desde que comecei a andar, acabei escutando bastante, desde cedo.

Engraçado que, como eu era menos eclético musicalmente, quando mais novo, em determinado momento, pensei se eu fosse um adolescente nos anos 60, eu teria implicância com aquela coisa de iê-iê-iê pré-Revolver. Pensava que quem via aquilo, nunca poderia suspeitar o que os caras quardavam para mais tarde. Hoje, não que eu seja maluco por essa primeira fase, mas a entendo como parte de um caminho que levaria a, hoje, nós sabemos onde.

Ano passado fui à Escócia e Irlanda, a trabalho, e na volta, fiz uma escala de três dias em Londres. Sabendo disso, havia pedido a um amigo meu que trabalha na EMI Brasil, que falasse com um amigo em Abbey Road, para me deixar fazer uma visita aos estúdios. Acabou que não rolou, o que foi uma pena porque, se eu tivesse de escolher uma só coisa para fazer em Londres, seria essa.

Mas, mesmo assim, fui até lá. Só para deixar claro, sou absolutamente contra tietagens e acho que os artistas são seres humanos como quaisquer outros. Mas fiquei uns vinte minutos sentado em frente aos estúdios viajando. Olhando para aquele muro baixo, para a rua, para a faixa de pedestres (diferente do que a de 40 anos atrás), e pensando quantas vezes na minha vida eu já tinha visto aquilo na capa do canto de cisne dos Beatles. Via músicos entrando pela porta, e pensando quantas vezes caras que fizeram a diferença na minha vida (e fizeram minha vida diferente), passaram por aquela mesma rua, aqueles mesmos muro, aquela mesma porta.

Quase fui lá tentar enrolar os caras para dar uma voltinha lá dentro, mas amarelei e só fiquei na porta, onde tirei algumas fotos.

Sensação estranha. Mas, enfim, uma hora tive de levantar e ir embora. Pensando...

Fagner Franco disse...

Bem louco, hein? E surpreendente, por sinal, este final. Fui apresentado meio tarde aos Beatles, mas como você devem ter aparecido desde pequeno, mas pegar pra ouvir por minha conta, investir tempo, foi pós-adolescência. Agora, no lugar do mundo sobre os ombros, carrega os Beatles. Bela troca, hein? Vou ver se coloco a Sofia no lugar do mundo sobre meus ombros pra ver se funciona também :)

Camila disse...

Que legal, Rob! A tatuagem ficou ótima!

MaxReinert disse...

Quando eu tomei uma decisão de que mais do que uma fase, eu queria ter certeza de que minha vida ia mudar, eu fiz uma tatuagem (a primeira)... Mais do que uma questão estética, ela simboliza (ainda que talvez essa lógica só seja entendida por mim mesmo) a finalização de um ciclo e o início de outro... Isso aconteceu ali, pelos 34 anos... Para mim foi/está sendo uma nova vida. Mais madura e muito mais interessante. Espero que para você esse "rito de passagem" tenha a mesma eficácia!!!! rs

Ps: Sim, ficou linda!

Amelie disse...

Linda!

Nelson disse...

Eu descubro Beatles de pouco a pouco. Não é algo que eu costumo ouvir, mas tem épocas que eu preciso escutar algo deles. As músicas deles só parecem fazer sentido em algum momento específico da minha vida, e elas aparecem por si só. No momento, é "While My Guitar Gently Weeps".

Como todo baixista que leve a sério a profissão, já estudei bastante Paul McCartney, mas meu Beatle predileto nunca deixou de ser John Lennon.

E que belíssima tatuagem!

Anônimo disse...

Se eu te disser que me encontrei em várias palavras deste texto e me arrepiei relembrando algumas canções do FabFour, sinceramente parabéns, os Beatles para todo sempre fazem parte do meu dia-a-dia, ao colocar o pé na rua, ao acordar e ver o sol, o meu favorito e o Harrison que no fim do começo do fim dos Beatles, ele começou a mostrar o seu lado de criar magníficas canções que já me fizeram chorar e me emocionar

Elissa disse...

Me identifiquei muuuuito com o teu post! AMO Beatles, minha paixão por eles ja tem alguns muitos anos também.. apesar de eu só ter 27! Mas me sinto da mesma maneira... tenho fases diferentes de ouvir estilos de músicas totalmente nada a ver, mas Beatles sempre esteve lá... sempre presente! Moro nos EUA e aqui por ser bem mais acessível, comprei todos os DVDs que eu achei! Obviamente tenho o Anthology, que já assisti um bilhaão de vezes!
Fui a NY ha uns anos atrás, caminhei horrores no Central Park até achar o Strawberry Fields Memorial... Visitei o Dakota Building, aonde o John morava e foi assassinado... Bem emocionante.
O engraçado é que eu tenho uma tatuagem na cabeça que eu quero fazer, mais ou menos o estilo da tua... queria fazer Lucy in the Sky With Diamonds! Aquela imagem que aparece no Yellow Submarine! Agora me pilhei muito de fazer vendo a tua!
É.. e A Day In The Life é uma das tops pra mim também...
Bacana ver alguém tão fã de Beatles assim!

Kel Sodré disse...

Senta, vou te contar um caso.

Estava eu no ônibus 5 estrelas indo de Mendoza pra Buenos Aires e, visto que a viagem é de 13 horas, peguei emprestado o iPhone do namorado e conectei na internet wi-fi do ônibus (é, meu caro, os hermanos estão muito na nossa frente). Aí, no twitter, vi o check-in no 4square e depois, o tuíte de "pronto". Aí danou-se. MORRI de curiosidade o restante da viagem todo pra ver como tinha ficado! Só hoje cheguei de viagem de verdade e entrei no Champ seca de vontade. Até li um ou outro (trecho de) post, mas estava mesmo vasculhando à procura deste.

Isso posto, confesso: não li o post. Estava mesmo interessada em matar a minha curiosidade. Mas vou ler (você sabe que eu vou).

E, just for the record, ficou muito mais legal do que eu tinha imaginado nas minhas especulações. Ficou "nóoooooo, que legaaaaaaall!!".

Kel Sodré disse...

Aí que já comentei sobre a tatuagem, né. Agora falta comentar sobre o post.

Ter visto esse post em dois momentos diferentes foi uma experiência bem legal. Da primeira vez, matei a minha curiosidade e vi logo a tatuagem. Aí depois, com tranquilidade, li o texto e pude prestar full attention nele (tô bicha com esse negócio de colocar Inglês no meio das frases...). Rob, seu maldito, você foi sensacional desta vez! Não gosto de ficar rasgando seda pros outros, mas abro aqui uma exceção. Que sacada mais - não quero usar a palavra "genial" porque ela já está muito batida, tudo é genial hoje em dia, mas está me faltando opção... - criativa e inteligente essa das 1000 palavras do texto! Você usou o clichê e, ao mesmo tempo conseguiu fugir dele, trabalhou o clichê de uma forma muito bacana! Gostei muito. Muito mesmo. E, aliás, eu li o texto todo pensando "gente, mas esse texto não tá acrescentando muita coisa..." e, de fato, quando cheguei ao final minha sensação foi toda preenchida pela foto. Não precisava mesmo ter escrito nada, a foto já diz tudo que é preciso.

Tá de parabéns, seo Rob Gordon! Tá de parabéns!!!

G7 disse...

Caralho!