Foi agora, em uma Casa do Pão de Queijo aqui ao lado de
casa.
Estava tomando café com a Esposa, sentado numa mesa do
canto. Ao nosso lado, uma enorme janela separa a Casa do Pão de Queijo das
mesas ao lado da fora – é uma espécie de centro comercial, com vários restaurantes.
Enfim, estávamos no café, ao lado do vidro.
Foi quando ouvi uma pancada no vidro. Bem ao meu lado. Olhei e vi
um menino. Era negro e devia ter uns três anos. Levantei os olhos e vi a mãe
dele sentada numa mesa do lado de fora, observando tudo.
Ele bateu no vidro, e eu bati no vidro. Ele colocou a mão no
vidro, eu coloquei a mão no vidro. Ele tirou a mão do vidro, eu tirei a mão do
vidro. Ele colou o nariz no vidro. Eu colei o nariz no vidro. Ele fez careta.
Eu fiz careta. Ele tirou o nariz do vidro. Eu tirei o nariz do vidro.
Foi quando ele colocou a mão, aberta, no vidro. Eu coloquei
a mão também aberta, no vidro, exatamente sobre a mão dele.
Estávamos nós dois ali. Com as mãos quase encostadas, mas
sem tocarmos um no outro. O vidro nos separava.
Ele olhou para mim. Eu olhei para ele.
Eu respirei fundo e disse:
- I have
been... And always shall be… Your friend.
O menino sorriu. Nossas mãos continuavam quase coladas. Eu continuei:
- Live long... and prosper.
Ele abriu um sorriso e tirou a mão do vidro. E correu de
volta para a mãe. Mas ele não gritou “Khaaaaaaaaaan!”, nem se sentiu velho, nem
prestou homenagens ao camarada morto.
Aliás, ele não fez nada sequer parecido com isso. Apenas gargalhou
e abraçou a perna da mãe, que havia terminado seu café e estava se levantando. Foi
embora, seguir sua vida – que, aposto, será longa e próspera.
Eu também não caí morto ao lado de um reator. Apenas terminei
meu café.
E fiquei pensando. Você sabe que se tornou adulto ao deixar que
outra pessoa seja o Capitão Kirk quando brinca de Jornada nas Estrelas. Mas
isso não se trata de nenhuma fronteira final ou de uma terra desconhecida.
Pois, quando “brincar de Jornada nas Estrelas” é um dos pontos altos do seu
dia, você sabe que não é porque você se transformou em um adulto que você
precisa necessariamente deixar de ser criança.
Sorri.
E, em algum lugar do passado, a criança que eu fui – e que
sempre foi e sempre será minha amiga – sorriu junto comigo, vendo que sua missão
estava cumprida. E deu o comando:
- Senhor Sulu, nos leve para casa.
7 comentários:
Foi engraçado. E muito fofo. hahahaha <3
Que coisa fofa! =)
Eu já cumprimentei ao modo vulcano um amigo que estava com uma blusa azul com a insígnia da Frota Estelar e vivo olhando pro meu namorado e dizendo "beam me up, Scotty" (porque eu acho parecido com o Simon Pegg =P). Essas coisas deixam o dia leve, né?
Eu penso exatamente como vc, Rob...
A gente sempre mantém uma criança dentro e procura algo que a nutra, às vezes mandando coisas boas e felizes, às vezes rindo de uma bobeira que vemos outras crianças fazerem, às vezes usando algo de nossas memórias de mais jovens pra trazer algo bonito.
O que fazemos com esta criança interior é um mistério... O mesmo mistério que nos leva, sempre, rumo à Fronteira Final ;)
Vida longa e próspera!
Mr Sulu, second star to the right and straight on till morning!
é pra ganhar o dia...gostei do paralelo...parabéns.
Ponto alto da minha manhã foi esse seu texto, Rob. Lindo. <3
Que fofo, Rob!
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