Qualquer pessoa que tenha entrado neste blog algumas vezes
sabe que os posts pertencem a um mesmo universo. Seja na rua ou dentro de casa,
sejam narrativas ou diálogos, todas as postagens aqui giram em torno de um
centro. Caso você seja novo aqui, eu sou este centro. Muito prazer.
Basta acontecer algo diferente comigo que ganha espaço no
blog. Isso inclui desde a ligação do sujeito de telemarketing ao louco que veio
falar comigo na rua, passando pela confusão que aconteceu na fila da padaria,
com o quebra-pau que tive com o banco e, eventualmente, com minhas dúvidas e
questionamentos sobre algum outro assunto.
Assim, como sempre, estou escrevendo sobre algo diferente
que aconteceu comigo nestes dias: o fato de eu ter passado mais de dez dias sem
postar no blog. Não me recordo se isso já tinha acontecido antes – e caso eu
esteja errado, tenho certeza que foram pouquíssimas vezes. Este blog sempre
tenta manter a média de duas postagens por semana – e eu garanto para vocês que
material para isso não falta. Mas desta vez passamos dos dez dias sem nada novo
aqui.
Caso você esteja pensando em apostar nas manifestações e
protestos que abalaram o Brasil nos últimos dias, recolha suas fichas da mesa
enquanto é tempo. O motivo foi outro, bem menos politizado ou engajado e
certamente muito com muito menos glamour: trabalho. Nas últimas semanas, caíram
alguns trabalhos na minha mão – todos eles grandes, todos eles “para ontem”.
Assim, passei os últimos dias com um olho na tela e outro no
relógio, trabalhando horas a fio. Reunião. Texto que vai. Texto que volta.
Reunião. Texto do outro trabalho que por um motivo qualquer se tornou urgente. Reunião.
Texto que volta. Responde e-mails. Texto que vai. Texto aprovado. Reunião. Esta
foi minha rotina nos últimos dias.
Esta foi minha rotina nos últimos dias. Alguns dos trabalhos
eram de projetos novos, daí o motivo de tantas reuniões. Talvez se eu fosse um
redator “profissional” a vida teria sido menos complicada. Mas não consigo ser “profissional”,
no sentido de enviar o texto e pronto. Profissionalmente falando, sou mais
apaixonado que profissional. Assim, não quero apenas que o meu texto seja
aprovado e boa noite e boa sorte. Não funciono assim.
Sou exatamente o contrário. Quando eu vejo, estou envolvido
com reuniões de outras etapas da criação, contribuindo como eu posso, dando
ideias para coisas que acontecerão lá na frente, que não envolvem meu trabalho,
mas “olha, vai casar perfeitamente com este texto meu que você gostou”. Afinal,
como diz meu pai, “vestir a camisa é fácil, pois camisa é algo que você tira no
final dia; difícil mesmo é tatuar o nome no peito”.
Junte isso à minha obsessão doentia por entregar sempre antes do prazo, e pronto: tivemos dias bem apertados aqui.
Certo. Explicações dadas. Mas, agora, os leitores antigos
podem estar se perguntando por que alguns anos atrás, quando eu trabalhava de
12 a 15 horas por dia dentro de uma redação, o blog não ficava tanto tempo sem
ser atualizado?
E é exatamente isso que ando pensando esses dias.
E cheguei a duas explicações. Ambas sobre mim, e não sobre
volume de trabalho.
A primeira delas – e a mais importante – é o contexto que
vivo hoje. Claro que quando eu trabalhava numa redação, passava 80% do meu
tempo com a cara enfiada no computador, então era mais fácil interromper um
texto do trabalho, abrir o Word, escrever um texto para o blog em quinze
minutos, postar e voltar ao texto do trabalho.
Mas não é disso que estou falando. Estou falando da minha
vida como um todo. Mais importante: quando eu trabalhava em redação, morava
sozinho; assim, passava muito mais tempo no computador, escrevendo. Afinal,
escrever, para mim, sempre foi antes de tudo um hobby, disputando meu tempo com
filmes, séries, livros e videogame. E como escrever é meu passatempo favorito
há anos, quando eu estava em casa, passava cerca de 50% do meu tempo escrevendo.
Hoje a vida é diferente. Casado, e com um enteado, não fico
mais enterrado no PC por horas. Quer dizer, fico. Escrevendo para os outros ou
escrevendo para mim. Mas agora não moro mais sozinho, então nem sempre meus
momentos “fora do trabalho” são individuais. Agora, às vezes abro mão de escrever
um texto para ver um filme com a Esposa ou darmos uma volta, porque eu sei que um
texto para o meu blog pode, sim, ser escrito amanhã.
E, normalmente, o texto sai melhor ainda, por não conviver
com a pressão do “preciso terminar agora antes de ver o filme”. Talvez o nome
disso seja experiência.
Este é o primeiro motivo. O segundo motivo é matemático.
Antigamente, eu trabalhava em média 12 a 15 horas por dia, como disse. Hoje,
são poucos os dias que viro dez horas trabalhando. Mas o cansaço é o mesmo. Afinal,
antigamente, eu tinha 30, 31 anos. Hoje eu tenho 37.
Caso você esteja na casa dos vinte anos – e eu sei que
muitos leitores meus são dessa faixa etária –, talvez 30 e 37 soem iguais para
você. Não são. Na verdade, um é quase o dobro do outro. Isso porque com 30 anos
você ainda se sente na casa dos 20; mas, aos 37, você já está se começando a
acostumar com a ideia de estar nos 40 anos.
Sim, o cansaço chega mais rápido. Existem outros fatores
menores, claro. A depressão que enfrentei – e que será tema de um post em breve
- me obrigou a reorganizar todo meu cronograma de produção e, mais importante
ainda, me ensinou a respeitar meus limites.
Assim, nos momentos de muito trabalho, quando o cansaço
aperta e eu tenho a opção de deixar para amanhã, é exatamente isso o que faço. Afinal,
isso reflete não apenas num texto melhor como num Rob Gordon melhor. Talvez o
nome disso também seja experiência.
Mas a vontade de escrever continua a mesma. Os leitores
sabem disso talvez até melhor que eu – alguns vieram me questionar sobre o blog
não estar atualizado, mas em momento algum alguém me perguntou se eu tinha
abandonado o blog. Sabem que eu jamais farei isso. O motivo profissional existe
– este aqui é meu grande cartão de visitas – mas aqui, a razão é puramente
pessoal. Este blog é meu brinquedo preferido.
E, mesmo depois de dias sem postar, acredito cada vez mais
que este blog é para sempre. Afinal, 13 dias não são nada perto de uma vida inteira.
O nome disso não é experiência.
O nome disso é paixão.
7 comentários:
Engraçado q nunca me passou pela cabeça q vc tinha abandonado o blog.. Realmente achei q fosse por causa das manifestaçōes, haja visto vc ter comentado mto sobre elas no twitter.. Senti falta do blog, mas não tive medo de q ele sumisse, mais ou menos como quando quem a gente ama viaja e sente saudade, mas sabe q não vai ficar sem ela por causa dessa viagem..
Welcome, back. Ia te xingar pela ausência, mas o correto (e o que quero) é te parabenizar pela ausência. Mas não some, acho que você entendeu. Abraço (e obrigado por não falar das manifestações...o motivo de digitar seu endereço ali em cima era justamente pra fugir disso).
Caro Rob.
Acho que a primeira vez que li o seu blog foi há uns 5 anos atrás, e foi uma das melhores coisas que descobri na época, então com 21 anos. Textos convidativos, inteligentes e dinâmicos. Sempre de situações cotidianas ou de alguma fantasia da tua cabeça. Muita coisa se passou de lá para cá, eu também casei, moro com a esposa hoje em dia, e já não me sobre tanto tempo assim para ficar lendo blogs da maneira que eu gostaria.
Queria te dizer que é inevitável que o tempo passe, que as coisas mudem, mas que a imagem de um baixinho metaleiro com um Marlboro no bolso sempre irá me remeter aos seus grandes textos, e a pessoa sensível que és!
Grande abraço, Ricardo.
Pelos seus textos fantásticos, vale a pena esperar Rob ;)
Agora, bateu um remorso neste trecho :
"Junte isso à minha obsessão doentia por entregar sempre antes do prazo, e pronto: tivemos dias bem apertados aqui."
Peço perdão (de verdade) por nunca ter entregue um texto no prazo.
Beijo
Esse é o cara! E se é assim, bem-vindo aos quarenta! Se você estiver sempre por aí, prometemos estar sempre por aqui.
P.S.: Grande sacada esta do seu pai sobre vestir a camisa...
O fato de você sair com a Esposa pode mesmo deixar um texto melhor, principalmente pois coisas estranhas espreitam os seus caminhos.
Uma coisa é fato, a mudança de contexto que geralmente acontece - com qualquer um - nos obriga a mudar algumas rotinas, mesmo aquelas que são mais prazerosas.
E realmente não importa quanto tempo passe, quando se gosta de escrever, 13 dias (ou mais, dependendo do contexto) não são muita coisa.
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