Caro senhor Barata Cichetto:
Na verdade, eu já havia lido a primeira parte de seu ensaio,
abordando o tema, mas com foco na MPB. Confesso que não dei muita atenção por motivo
de gosto pessoal. Entretanto, esta nova postagem, que aborda o rock, me chamou
a atenção, dado que é meu gênero musical preferido.
Contudo, confesso que li sem dar muita atenção, visto que a maior
parte dos argumentos que você utiliza para nomear as onze pessoas mais
superestimadas do rock são a) errados; b) burros; c) reflexos do seu gosto
pessoal. Contudo, lendo pela segunda e com um pouco mais de calma, concluí que
alguém precisava desfazer o enorme desserviço que você prestou.
Assim, quero pedir licença e esclarecer seus erros ou desfazer frases
que você coloca como verdade absoluta (mesmo sendo baseadas no seu gosto
pessoal ou na sua falta de pesquisa), sobretudo em nome dos fãs mais novos, que
estão conhecendo o rock agora e poderiam ser influenciados pelo seu texto
imbecil; ou em nome de fãs destes artistas que possam ter se ofendido com suas
palavras.
Mas, antes de continuarmos, um aviso: eu não escrevi este texto
como fã. Sou fã de alguns artistas citados por você; não gosto de outros. Assino
este texto como jornalista, e meu objetivo é desfazer alguns pontos citados por
você;
Assim, respeitando a ordem do seu post original, vamos a alguns
comentários – e aos demais leitores, peço desculpas antecipadas pelo tamanho
desta postagem.
1 – John
Lennon
Lennon é considerado um dos maiores nomes – se não o maior – da história do
rock, justamente pelo legado que ele construiu com suas composições à época dos
Beatles, certamente o auge do seu trabalho. Tudo o que ele fez posteriormente ganhava
peso somente graças ao seu trabalho com os Beatles. Assim, para provar que ele é
superestimado, é preciso mostrar que suas composições à frente dos Beatles (ou seja,
toda a base da fama e respeito que ele conquistou) são, na verdade, ruins.
E você simplesmente ignora isso. Você fala de canções solos de
natal, do relacionamento dele com seus filhos, de casacos de pele, de sua
riqueza... E só. Você se mantém o tempo todo no campo da fofoca pessoal, sem a
coragem de mencionar o trabalho de Lennon durante os anos 60, sabendo que isso
vai derrubar todo o seu argumento.
Com tudo isso, você não consegue justificar a inclusão de Lennon
na lista. Aliás, tudo o que você consegue é mostrar que seus conhecimentos
sobre a história do rock como um todo estão bem além da sua compreensão. Criticar
a carreira de John Lennon sem sequer mencionar os Beatles demonstra muita falta
de conhecimento. Ou de coragem.
Ou de ambos.
2 – Yoko Ono
Não
conheço uma pessoa ou veículo de comunicação que valorize o trabalho da Yoko
Ono. Suas intervenções artísticas, com seus experimentalismos típicos da avant-garde da época – tanto nas artes
plásticas como musicais – nunca receberam atenção, salvo da imprensa
especializada (cujas publicações nunca romperam o meio artístico). A prova
disso é que, por parte do público, ela continua sendo vista apenas como “ex-mulher
de John Lennon”, já que sua carreira nunca decolou.
Na verdade, até hoje eu vi
apenas uma pessoa superestimando o trabalho de Yoko Ono: você. Com isso, você não
apenas empobrece seus argumentos como comete exatamente o erro do qual acusa as
“grandes massas burras”. Parabéns!
3 – Ritchie
Blackmore
Ritchie Blackmore é um sujeito difícil? Bastante. Dio teve problemas com ele?
Muitos. Mas se isso é suficiente para colocá-lo na lista de superestimados,
então Tony Iommi – com o qual Dio quase se pegou no tapa durante a mixagem do
CD ao vivo Live Evil, em 1982 – deveria estar na lista também. Se a regra vale para
um, deve valer para todos. Independente do seu gosto pessoal.
Aqui, entretanto, você demonstra um pouco mais de coragem ao
acusar o plágio de Black Night. Entretanto, seus conhecimentos sobre rock, que
já se mostraram pequenos, parecem encolher a cada parágrafo.
O Deep Purple (bem como muitas outras bandas de rock da época) tem
inúmeros plágios em sua discografia. Isso é errado? Sim. Mas também é errado acusar
Ritchie Blackmore de plágio, e, no mesmo texto, apontar como “gênio” o mesmo
Jimmy Page que meteu a mão descaradamente em músicas inteiras do blues dos anos
50 – especialmente de Willie Dixon, o que rendeu um processo na justiça (perdido
pelo Led Zeppelin, que foi obrigado a creditar Dixon). Novamente, se a regra
vale para um, vale para todos. Novamente, independente do seu gosto pessoal.
Mas vamos voltar a Black Night: o riff original não é de Ritchie
Blackmore, muito menos dos americanos do Blues Magoos, como você menciona. Originalmente,
o riff está presente na versão de “
Summertime”, de Rick Nelson, gravada em
1962. Quatro anos depois, a banda The Liverpool’s Five meteu a mão e o utilizou
na música “
She’s Mine” e, logo em seguida, os Blues Magoos fizeram o mesmo em “
(We Ain't Got) Nothing Yet”. Em 1970, Blackmore usou o mesmo riff em
Black Night. Ah, em
tempo: o Deep Purple assumiu publicamente que o riff não havia sido composto
por eles.
Então, pesquise um pouco mais antes de pensar em publicar um novo texto.
4- David Coverdale
Numa lista com onze músicos superestimados, temos aqui o segundo
integrante do Deep Purple. Não seria mais fácil economizar verbetes e falar da
banda como um todo? Ah, não, porque aí ataques pessoais se tornariam mais
difíceis.
Aliás, seu argumento aqui parece ser extremamente pessoal, visto
que, colocando de forma simplificada, “David Coverdale não canta nada e está na
banda porque é bonito”.
Uma história: Coverdale e Glenn Hughes foram escolhidos para
integrar o Deep Purple somente porque Blackmore queria que a banda soasse com
um pouco mais de “groove”, fugindo do hard rock tradicional (que, a esta
altura, ganhava popularidade com Alice Cooper, Kiss e Aerosmith). Coverdale,
que sempre gostou da música negra norte-americana, em especial do blues (como
fica claro nos primeiros anos do Whitesnake) foi contratado por este motivo. Se
ele era bonito – e deve ser, já que você aponta isso o texto inteiro – e iria
atrair o público feminino, melhor ainda para a banda. Agora, achar ele bonito é
uma coisa; achar que ele não canta bem somente porque é bonito... Bem, aí é
caso de terapia.
Ah, uma correção: a popularização do hard rock nos anos 80 (quando
o som migra para “trilha sonora de cigarros”) não aconteceu com o Whitesnake,
uma banda inglesa, e sim com os grupos de hair metal norte-americanos de Los
Angeles. Novamente: pesquise um pouco mais, antes de publicar coisas que você
deve ter lido em fóruns da internet.
5 – Ian Gillan
E aqui temos o terceiro membro do Deep Purple. Sabe, acho que você
poderia economizar seu tempo – e o do resto do mundo – afirmando que não gosta
da banda. Mas, não, você precisa embasar seu gosto pessoal para mostrar que
entende de música mais que as outras pessoas.
Certo. Aqui, seu
principal argumento é que ele envelheceu e perdeu a voz. Sim, está correto – a prova
é que a banda não executa mais Child in Time ao vivo justamente por esse
motivo. Agora, com exceção de você, alguém superestima o Ian Gillan dos tempos
atuais? Até onde eu sei, ele é respeitadíssimo como vocalista justamente pelo trabalho
desenvolvido à frente do Deep Purple, o que lhe conferiu o apelido de “Silver
Voice”.
Assim, aqui você trilha o mesmo caminho que já havia feito com John
Lennon: você simplesmente ignora o auge da carreira do artista, para chamá-lo
de superestimado. Assim fica fácil. É o mesmo que eu falar que Pelé não é o
maior jogador da história analisando somente sua carreira no Cosmos.
E uma correção: Bananas não e um disco solo de Ian Gillan, como
você deixa a entender. É um disco do Deep Purple.
6 – Ozzy Osbourne
A primeira frase do seu texto é: “A não ser os fanáticos, todos os outros seres humanos sabem
que Ozzy é um péssimo cantor”.
Certo, então ele não é superestimado,
a não ser pelos fanáticos. E por você.
Próximo?
7 – Yes
Novamente, o gosto pessoal. E ele fica claro em uma frase: “Uma banda tecnicamente perfeita,
fantástica... Mas extremamente, potencialmente, absolutamente... Chata.” Sabe...
Se a banda é “tecnicamente perfeita, fantástica”, ela não é superestimada. Pelo
contrário, ela é ótima – e você é o primeiro a admitir isso.
Chega a ser curioso você admitir isso
e, logo depois, confessar nunca ter comprado um álbum do grupo. Realmente,
mostra um preparo e um profissionalismo invejáveis para se escrever um texto.
Já considerou dar aulas em alguma
faculdade de jornalismo?
8 – Elvis Presley
Li certa vez, que não existe uma lista de rock que esteja completa
sem a presença de Elvis. Aparentemente, você também ouviu isso e decidiu que colocá-lo
na lista seria uma ótima estratégia de marketing para chamar ainda mais a
atenção.
Na verdade, beira a recalque. Aparentemente, todos os seus
argumentos se referem ao fato de que ele se tornou maior que Johnny Cash. Pelo
que constatei, você considera Cash o verdadeiro “Rei do Rock”, o grande
injustiçado da história, o homem que merecia ser Elvis.
De todos os seus argumentos, este é, de longe, um dos mais
pobres. É o mesmo que falar que o time que ganhou do meu não é tudo isso. É pobre
e, também, infantil.
E, como se trata de um texto seu, é claro que também está errado.
Sugiro que reescreva seu texto, trocando “Johnny Cash” por “Carl
Perkins”. O argumento vai continuar pobre e infantil, mas, ao menos, o texto estará
um pouco mais correto no que diz respeito à história do rock.
E isso, para um texto assinado por você, já está de bom
tamanho.
9 – Kiss
Vou começar desfazendo sua historinha, que é um dos maiores
boatos da história do rock.
Reza a lenda que o Kiss havia copiado a maquiagem do Secos
& Molhados por conta de uma viagem da banda brasileira ao México. Bem, esta
viagem aconteceu em março de 1974, sendo que o primeiro álbum do Kiss foi
lançado em 18 de fevereiro de 1974. E, para não ficar qualquer dúvida, o Kiss começa
a usar maquiagem já em 1972, quando se apresentavam com o nome de Wicked Lester
– a influência deles para isso foi o New York Dolls.
E o momento em que você abre seu argumento com um boato, mostra
o quanto você pesquisou. Posso fazer uma sugestão? Que tal um texto falando
sobre como Paul McCartney é um músico superestimado porque ele morreu num
acidente de moto, sendo substituído por um sósia?
10 – Robert Plant
Novamente, o gosto pessoal.
Como você já havia citado ao falar sobre Yes, você não gosta
de músicos que cantam usando falsete. É um direito seu. Mas, daí a falar que “é
ruim porque não gosto”, demonstra mais uma vez sua imaturidade ao falar de
música – e desta vez é música como um todo, visto que esta técnica não é típica
das bandas progressivas, mas do barroco.
Fora que aqui você ainda consegue novamente apresentar
problemas com o fato de a pessoa ser bonita. Sério, você deveria conversar com
alguém sobre isso. De verdade.
Vou dar duas dicas: quer ouvir Led Zeppelin sem Robert
Plant? Compre os discos do Yardbirds. Todo o embrião da sonoridade do Led está
ali, e os vocais não são em falsete. E, por fim: você tem problemas com
vocalistas bonitos e que usam falsete? Compre os CDs do Motörhead.
11 – Roger Waters
Mais uma vez, você aparenta ter problemas em separar a
pessoa do artista.
Sim, Roger Waters é uma das pessoas mais megalomaníacas do
meio musical. Egocêntrico, egoísta e todos os outros “egos” que você quiser.
Isso não diminui em nada o valor de suas composições. Continuam geniais. Assim,
se você quiser falar que ele é superestimado, fale sobre a música, ao invés de argumentar
usando meia dúzia de histórias de bastidores, simplesmente para mostrar que as
conhece.
E você é extremamente contraditório, ao apontar que ele “criou
um álbum totalmente genial, The Wall”. Ou seja, você reconhece a genialidade da
pessoa quando lhe convém, mas, logo em seguida, aponta que as pessoas que assistem
aos shows atuais deste compositor genial como “uma massa de carne moída que
paga fortunas pelas suas apresentações”.
Mais uma vez, me cheira a recalque. Aparentemente, você é fã
do Pink Floyd e não suportou a separação do grupo, precisando escolher um
culpado para a sua frustração infantil. Mais ou menos como o fã de Pantera que,
sem suportar o final da banda, elegeu Dimebag Darrell como grande vilão do
rompimento, assassinando o guitarrista durante o show com três tiros na cabeça.
A única diferença entre você e este sujeito e que ele tinha uma arma e você tem
um texto burro.
Com tudo isto colocado em pratos limpos, gostaria de encerrar
comentando a abertura do seu texto.
Ela é prepotente. Ela é prepotente como todo o seu texto.
Ela é prepotente no momento em que você comenta que o texto
não alcançou a polêmica que você imaginava porque “existe mais gente com
percepção clara da realidade e com bom gosto”, ou que “tem muito mais gente
alienada e massificada que sequer dispõe a ler algo que ‘fala mal’ de seus
ídolos”. Em momento algum, você considera a hipótese de que talvez seu texto
tenha sido uma bosta.
Talvez você seja prepotente a ponto de superestimar seu
próprio texto. Talvez você seja prepotente a ponto de superestimar a você mesmo.
Deixe-me explicar uma coisa a você. Saber
diferenciar os conceitos de “o que é bom” e “o que eu gosto” é a maior prova de
maturidade no que diz respeito a gostar de música. E seus argumentos (basicamente,
o “é ruim porque eu não gosto” é imaturo, como superestima a sua própria
opinião que se mostra falha e tacanha em todo o texto).
E você ainda tem o destempero de dizer que não quer causar
polêmica, alegando que “Não causo
polêmicas, sou a própria”. Desculpe, isso é argumento de um menino imberbe que,
ao invés de acrescentar algo, pretende chamar a atenção com opiniões que fogem
do lugar comum.
Não, senhor Barata Cichetto,
você não é a polêmica.
Você é a desinformação. Você é a opinião sem conteúdo. Você é o
gosto pessoal travestido de cagação de regra, como se gosto pessoal fosse algo
justificável. Você é o texto raso e ofensivo, escrito para chamar a atenção. Você
é muitas coisas. Mas você não é a polêmica. E pensar o contrário seria
superestimar você.
Sinto muito.
Sem mais,
Rob Gordon.
**********
Update: Hoje (06/09) pela manhã, vi que o senhor Barata Cichetto
havia comentado o post, com dois comentários idênticos – provavelmente a cópia
foi um acidente. Alguns leitores leram suas mensagens e responderam diretamente
a eles, nos comentários do texto.
Para minha surpresa, algumas horas depois – antes que eu pudesse
responder aos comentários – vi que suas duas mensagens haviam sido apagadas
pelo autor, por motivos que desconheço.
Assim, tomo a liberdade de postar abaixo o conteúdo do comentário
original, que está arquivado em meu e-mail. Segue:
“Cheguei ao seu texto através de um
alerta do Google. Claro que não vou me dar ao trabalho de responder a você, Sr.
JORNALISTA. Apenas digo o seguinte: "E, como se trata de um texto seu, é
claro que também está errado." E acho que quem tem que se informar melhor
é você. Passar bem.. Mal!”
Estou publicando
este comentário por alguns motivos, que seguem abaixo:
Caso ele tenha se arrependido do que escreveu, deveria ter pensado
antes de publicar. O mesmo vale para o seu texto original.
Além disso, em respeito aos (muitos) leitores que acompanham as
discussões nos comentários, não deixarei todas as repostas enviadas ao senhor Barata
Cichetto sem sentido. Assim, com a reprodução de sua mensagem (e os comentários
apagados que permanecerão ali, num caso inédito no blog), os leitores sabem
quais comentários são respostas a ele, enviadas por leitores que leram o
comentário antes que ele fosse apagado.
Por fim: assim que possível responderei a todos os comentários dos leitores, como sempre. E na ordem em que eles foram postados, como sempre. E isto incluirá o comentário apagado.