Às vezes, eu gostaria que a história do rock tivesse um
começo determinado.
Poderia ser uma data, um evento, um disco. Seria um ponto de
partida para tudo. Isso me ajudaria bastante, especialmente quando eu fizesse
as minhas coletâneas. Ah, sim, porque eu faço coletâneas de tudo o que vocês
podem imaginar – e o meu projeto de vida neste sentido é a Coletânea
Definitiva, com toda a história do rock traçada e alinhada em ordem cronológica.
Infelizmente, para isso é preciso um ponto de partida. E o
rock tem dezenas de pontos de partida. O mais comum é, claro, Elvis, o famoso “garoto
branco que fazia música negra”. Assim, podemos pegar a gravação de (That’s) All
Right Mama como o marco zero de tudo.
Funciona? Funciona.
Mas não é exato. Afinal, antes de julho de 1954, data da primeira
gravação de Elvis, o rock já existia, graças a pessoas como os bluesmen T-Bone
Walker e Muddy Waters, que já haviam eletrificado suas guitarras; e Ray Charles
e Fats Domino, autores de pérolas como Mess Around e Blueberry Hill.
O começo da história do rock é quase um paradoxo: quanto
mais você procura por ele, mas difícil será encontrá-lo.
Agora, não é segredo para ninguém que, nos anos 60, o rock
ganhou o status de arte. Certo, Mick Jagger pode cantar que “it’s only rock and
roll”, mas este verso não faz jus à verdade, por mais famoso que ele seja. A
partir da segunda metade da década de 60 surgiram discos e álbuns que não devem
nada às outras formas de arte, seja pela experimentação, pelo caráter
vanguardista, pelo teor social.
As provas disso são muitas. Em poucos anos, o mundo viu o
surgimento de bandas como Pink Floyd, David Bowie, Jimi Hendrix, Deep Purple,
Led Zeppelin, The Doors; e o nascimento de discos do calibre de Pet Sounds, Disraeli
Gears, The Velvet Underground, Let it Bleed, Tommy, Black Sabbath... Ficando somente em bandas e discos, sem falarmos
de músicas individuais, os exemplos são muitos.
Pois mais importante que saber quando foi o nascimento do rock,
é entender que nos anos 60 ele deixou de ser “criança”. Deixou de ser apenas um
estilo musical e virou arte. E, de repente, descobriu-se que a música barulhenta
que os jovens ouviam era mais que isso. Era muito mais. Era quase uma força da
natureza com a capacidade de retratar a sociedade, alterar costumes, lançar
modas... Com o poder de mudar o mundo.
E o fez. Tanto que o mundo nunca mais foi o mesmo.
E, por trás de tudo isso, existe outro “marco zero”: o
encontro entre Bob Dylan e os Beatles num quarto de hotel, em Nova York.
Em uma tarde, tudo mudou.
Até o momento, Beatles e Dylan haviam trilhado caminhos diferentes.
Enquanto os ingleses faziam o rock explodir novamente, o norte-americano começava
a reinar absoluto no mundo folk. Enquanto Dylan cantava uma América realista, os
Beatles falavam de amores inocentes. De um lado do Atlântico, guitarras; do
outro, um violão. Admiravam-se mutuamente, à distância.
Em uma simples tarde, tudo mudou. Numa conversa com perfume
de maconha, Dylan incentivou s Beatles – especialmente John Lennon – a tentarem
compor letras mais intimistas, menos inocentes, mais realistas; e, encantado
com o som do quarteto, Dylan decidiu ligar sua guitarra num amplificador,
mergulhando de vez no mundo do rock.
Em uma simples tarde, os Beatles mudaram. Em uma simples tarde,
Dylan mudou.
Em uma simples tarde, tudo mudou. Like a Rolling Stone. In My Life. Highway 61
Revisited. A Day in the Life. Just Like a Woman. Yesterday. Ballad of a Thin
Man. Norwegian Wood. Maggie’s Farm. You’ve Got to Hide Your Love Away.
Em uma simples tarde, o mundo mudou. E todos os discos e
bandas que citei lá em cima começaram a tomar forma.
Isso aconteceu exatamente há 48 anos, no dia 28 de agosto de
1964. Assim, hoje pode ser considerado o aniversário do rock moderno, ou, ao
menos do rock como conhecemos hoje. Pois tudo o que ouvimos hoje está de alguma
forma ligado a Beatles e Dylan, bem como suas carreiras, depois de 28 de agosto
de 1964, estariam ligadas de alguma forma ao que aconteceu nesta tarde, naquele
quarto de hotel.
28 de agosto.
Um dos dias mais importantes da minha vida.
E não estou falando de rock. Estou falando do aniversário da
minha esposa.
Pois ela faz comigo o que aquela simples tarde fez com o rock.
E ela faz comigo o que o rock faz com o mundo.
Ela fez minha vida amadurecer, transformando-a em arte. Ela
faz minha vida ganhar força e som, inteligência e paixão, delicadeza e
sensibilidade. E tudo isso mantendo a graça, a diversão e a dança. Às vezes ela
é um refrão contagiante, às vezes é um solo delicado.
Ela é minha banda preferida, meu disco de cabeceira, a
melodia que assovio. Ela é o show do qual não me esqueço, a letra que sei de
cor, o encarte mais bonito. Ela é a minha coletânea, a minha camiseta de banda,
o ingresso que guardo com carinho. Ela é meu heavy metal, meu blues, meu rock
clássico. Ela é a minha lista de músicas preferidas, a minha história de
bastidores, e todos os shows que eu ainda quero ver.
Ela é a trilha sonora da minha vida. O meu rock.
Assim, nada mais justo que o rock e o amor celebrem seus aniversários
no mesmo dia. Afinal, eles se confundem e se misturam o tempo inteiro.
Ao menos, na minha vida.
26 comentários:
Depois de um texto desses, só posso desejar à Ana que tenha um dia sossegado, porque um feliz aniversário é certo que terá... =)
[e vc, hein, Rob, fazendo a gente ter ataques de ternurinha em público...]
Inacreditável o quão conveniente é o aniversário da Ana ser justo nesse dia tão importante para a história da música. Parabéns pelo texto, Rob, e parabéns, Ana, pelo seu aniversário! Felicidades!
É tudo tão lindo que você me deixou sem palavras, Luv.
Mas acho que você saber que fiquei emocionada e que foi o melhor presente que eu ganhei já diz tudo.
Amo você demais.
Beijos
<3
Que lindo,Rob !! Parabéns a Dona Esposa,muitas felicidades a ela e aos dois,sempre!
puta presente. :)
Ownnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
bixinha!!!
Que coisa linda esses virginianos, hein? E concordo com a Elise, um feliz aniversário é certeza que você está tendo!
Ah! A surpresa. Sempre a surpresa final.
Ana parabéns pela data e pelo seu presente.
Que lindo Rob! Isso é que é presente de aniversário... Felicidades, Ana!
Aaaaaw Rob!
Que lindo, que lindo! Fantástica sua comparação! Perfeito!
Parabéns para aquela que faz seu mundo brilhar muito! VIVAAAAAA!!!!!
CARAIO, que lindo! hahaha
Parabéns (atrasado, eu sei, mas já havia desejado twitteristicamente), Ana. Parabéns mesmo. Muitas, muitas felicidades do lado desse rapaz aí!
Volteeei! :) E que bom ser recepcionada com um texto tão, mas tão, mas tão... ótimo. Por metade dele eu ficava repetindo meio sem querer dentro da cabeça "mas isso NÃO é um texto sobre rock???". haha Mas aí, claro, vi que não. É um texto sobre amor. Sobre dois amores de Rob. Né, Rob?
Acrescento que o dia 28 de agosto também é aniversário de uma amiga queriiida até não poder mais. E concluo que é um bom dia pra se nascer. Nascem gentes e coisas muito especiais no dia 28 de agosto. :)
Parabéns (com atraso, mas com carinho), Ana!!! Uma vida de rock pra você(s)! :)
Obrigada a todos os parabéns e felicidades. E sim, foi um aniversário bem feliz. :)
Elise:
Desculpe pelo ataque de ternurinha. Mas foi por uma boa causa.
Beijos!
Rob
Adônis:
Engraçado. O que você chama de "inacreditável", eu chamo de "faz muito sentido". Coisas que só uma Ana Savini faz por você.
Abraços!
Rob
Ana:
Você merece um texto para cada música dos Beatles. Mesmo.
Te amo.
Beijos!
Rob
Juliana Canoura:
Obrigado!
Beijos!
Rob
R.:
Né? Ela merece. :)
Beijos!
Rob
Max:
O senhor me respeite na frente da minha mulher. :)
Abração!
Rob
Hally:
Virginianos são foda. :)
Beijos!
Rob
Varotto:
Sem surpresa, não teria graça. :)
Abraços!
Rob
Fê:
Obrigado!
Beijos!
Rob
Mary Farah:
Obrigado! E a comparação não é mérito meu. Culpa dos Beatles, do Dylan e da Ana, que combinaram tudo.
Beijos!
Rob
Fagner:
Valeu, cara!
Abraços!
Rob
Kel:
Na próxima vez, confie em mim. Quando eu falo que não é um texto sobre rock, é porque não é um texto sobre rock. :)
E, sim, pessoas e coisas especiais nascem no dia 28 de agosto. Sorte a nossa. :)
Beijos!
Rob
Ana:
<3
Beijos!
Rob
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