Na verdade, toda vez que eu carregava o mp3, eu e meu PC passávamos por um processo semelhante à divisão de bens em um divórcio. O player tinha 4gb, o que não ajudava muito. Era mais ou menos assim:
Rob Gordon: Eu quero colocar a minha coletânea dos Beatles inteira.
PC: Nem pensar!
Rob Gordon: Mas a coletânea é minha. Eu fiz sozinho, demorou dias!
PC: Não importa. Você já está levando este best of do Bowie. Você não pode levar tudo.
Rob Gordon: Então você fica com o Bowie. Pode ficar com esta do Doors também.
PC: Mas a dos Beatles tem 100 músicas! Você ainda leva vantagem!
Rob Gordon: O que mais você quer?
PC: Não sei. John Lee Hooker. Que tal?
Rob Gordon: Nem a pau. Estou ouvindo o tempo inteiro.
PC: Você que sabe.
Rob Gordon: O John Lee Hooker fica.
PC: I read the news today, oh boy…
Rob Gordon: Não comece!
PC: ... about a lucky man who made the grade…
Rob Gordon: Ok! Ok! Leve o John Lee Hooker. Me dá os Beatles.
PC: Com John Lee Hooker, vem Robert Johnson também, certo?
Rob Gordon: Bom... Tudo bem.
PC: Então estamos combinados. Você fica com Beatles. Eu fico com David Bowie, John Lee Hooker e Robert Johnson.
Rob Gordon: Ok.
PC: E Esse Beethoven aqui?
Rob Gordon: O Beethoven é meu! O Beethoven é meu!
PC: Nem a pau!
Rob Gordon: Não encosta no Beethoven!
PC: Só sinfonias são nove! Vão ficar comigo!
Rob Gordon: Não, o Beethoven eu não admito.
PC: Então devolve os Beatles.
Rob Gordon: Não, olha... Deixa eu levar só uma sinfonia. A Nona.
PC: Não. Eu deixo você levar aquela do caminhão de gás.
Rob Gordon: O nome é Pour Elise.
PC: Isso. Pour Elise. Pode levar essa.
Rob Gordon: Mas eu quero a Nona.
PC: Esquece. Se você tiver alguma reclamação, fale com meu advogado.
E assim eu saía de casa, com discografias incompletas, coletâneas de coletâneas. Em alguns casos (como Shine on You Crazy Diamonds, do Pink Floyd), eu era obrigado a colocar apenas um trecho da música. Passava o dia inteiro ouvindo o refrão e imaginando o resto da música.
Agora, tudo isso acabou.
Com meu iPod de 160gb, consigo levar tudo o que quero no bolso. Discografias, coletâneas, discos ao vivo... E passo os dias brincando com meu iTunes, ordenando tudo por gênero e ano, caçando capas. Se o pessoal da Apple visse a forma que eu uso o software, provavelmente o departamento de marketing iria sugerir mudar o nome do programa de iTunes para iTOC.
E, claro, me divirto criando listas. Normalmente são listas comuns com nomes como Heavy Metal, Blues, e Beatles. Mas sei que, mais cedo ou mais tarde, minha demência vai exigir a criação de listas mais elaboradas, com nomes como “Manhã Chuvosa de Terça-Feira” e “Canções de Relaxamento Pós-Feijoada”. É apenas uma questão de tempo.
Mesmo porque minha demência já deu o ar da graça na primeira lista que criei.
O nome?
“Obsessões”.
(Se você for minha psicóloga, pare de ler agora, por favor. Aliás, você já deveria ter parado de ler no momento em que o PC falou comigo.)
Nesta lista eu não reúno as músicas que mais gosto. Eu vou além. O nome da lista é autoexplicativo: nela, estão apenas as músicas pelas quais eu sou absolutamente obcecado. Não é gosto pessoal. São músicas que me perturbam. São canções que me colocam em uma espécie de transe. Basta uma delas tocar para eu ficar hipnotizado, feito um cachorro olhando os frangos girando no forno na calçada da padaria.
Fico estático, olhando o aparelho de som com os olhos arregalados, sem conseguir respirar direito, incapaz de entender o que acontece ao meu redor. Quando eu coloco a lista inteira para tocar, então, metade das minhas funções vitais desaparece antes da quarta música. Sobra apenas a audição. E os olhos arregalados, que certamente me confere um ar totalmente imbecilizado.
Sem exagero, se o prédio se incendiar, eu não vou reparar. Aliás, é capaz dos bombeiros derrubarem a porta do meu apartamento com um machado para me salvar, e eu ainda reclamar que:
- Não! Agora é a parte do sitting in an english garden waiting for the Sun! Todo mundo quieto!
E tem de tudo um pouco nesta lista. A maior parte é Beatles, mas existe Bowie, The Doors, Beach Boys, Rolling Stones. Tudo escolhido a dedo e sem dificuldade alguma, porque se existe algo que eu entendo, no mundo, são as minhas obsessões. Elas não são poucas – o que me faz pensar se eu não sou obcecado em ter obsessões – mas estas músicas sempre ocuparam um lugar de destaque.
E todas elas têm o mesmo efeito em mim.
Todas. Menos a maldita Everybody Hurts, do REM.
Ela é a exceção que confirma a regra. Enquanto as outras músicas me congelam, esta me corta. Esta música faz doer, inclusive (e especialmente) fisicamente. Sim, existem outras músicas que doem (a primeira vez que ouvi as versões de Ray Charles para Yesterday e Eleanor Rigby passei quatro dias no sofá, chorando e bebendo), mas esta é a que mais dói.
(Se você for minha psicóloga, pare de ler agora, por favor. Aliás, você já deveria ter parado de ler no momento em que o PC falou comigo.)
Nesta lista eu não reúno as músicas que mais gosto. Eu vou além. O nome da lista é autoexplicativo: nela, estão apenas as músicas pelas quais eu sou absolutamente obcecado. Não é gosto pessoal. São músicas que me perturbam. São canções que me colocam em uma espécie de transe. Basta uma delas tocar para eu ficar hipnotizado, feito um cachorro olhando os frangos girando no forno na calçada da padaria.
Fico estático, olhando o aparelho de som com os olhos arregalados, sem conseguir respirar direito, incapaz de entender o que acontece ao meu redor. Quando eu coloco a lista inteira para tocar, então, metade das minhas funções vitais desaparece antes da quarta música. Sobra apenas a audição. E os olhos arregalados, que certamente me confere um ar totalmente imbecilizado.
Sem exagero, se o prédio se incendiar, eu não vou reparar. Aliás, é capaz dos bombeiros derrubarem a porta do meu apartamento com um machado para me salvar, e eu ainda reclamar que:
- Não! Agora é a parte do sitting in an english garden waiting for the Sun! Todo mundo quieto!
E tem de tudo um pouco nesta lista. A maior parte é Beatles, mas existe Bowie, The Doors, Beach Boys, Rolling Stones. Tudo escolhido a dedo e sem dificuldade alguma, porque se existe algo que eu entendo, no mundo, são as minhas obsessões. Elas não são poucas – o que me faz pensar se eu não sou obcecado em ter obsessões – mas estas músicas sempre ocuparam um lugar de destaque.
E todas elas têm o mesmo efeito em mim.
Todas. Menos a maldita Everybody Hurts, do REM.
Ela é a exceção que confirma a regra. Enquanto as outras músicas me congelam, esta me corta. Esta música faz doer, inclusive (e especialmente) fisicamente. Sim, existem outras músicas que doem (a primeira vez que ouvi as versões de Ray Charles para Yesterday e Eleanor Rigby passei quatro dias no sofá, chorando e bebendo), mas esta é a que mais dói.
Everybody Hurts foi o mais perto que a humanidade chegou de fazer uma versão cantada de Sonata ao Luar, do Beethoven. Na verdade, acredito que o nome da música é um aviso, dizendo que qualquer pessoa irá se machucar ao ouvi-la. Ela deveria ser usada em guerras, como arma.
E quis o destino que o babaca aqui fosse obcecado por ela.
Então, quando eu espeto o iPod no aparelho de som e coloco a lista Obsessões para rolar, a casa se enche de Beatles e Bowie. Meu cérebro congela e se deixa levar pelas obsessões (a voz do Lennon, os backing vocals dos Beach Boys), mas um lado dele permanece atento, olhando ao redor feito um gato que, numa noite qualquer, descobriu que foi parar acidentalmente dentro do Canil Municipal.
É o meu instinto de sobrevivência. Pois ele sabe que se aquela lista está tocando, o inimigo está à espreita. Vigiando. Espreitando. Esperando eu virar as costas para começar a tocar. Eu posso ser atacado a qualquer minuto, logo depois do The Man Who Sold the World ou de God Only Knowns.
De repente, eu não sou mais um Rob Gordon em transe, mas sim um animal africano que, de forma patética, decidiu beber água sabendo que existe um leão por perto. E basta eu abaixar a guarda (leia-se: aproveitar o silêncio do intervalo entre uma música e outra para conseguir me mover novamente e voltar ao sofá) para ela pular do aparelho de som na minha direção.
Sem aviso. Sem piedade.
Nos primeiros acordes, eu começo a me sentir com o estômago embrulhado. É o medo. E a maldita Everybody Hurts é capaz de farejar o medo. O cheiro do meu medo a perturba, fazendo com que o Michael Stipe comece a cantar “When the day is long, and the night... The night is yours alone...”
Como qualquer zebra perseguida por um leão, eu tento escapar. Corro na direção do aparelho de som, tentando desligá-lo antes que seja tarde demais. As primeiras frases já machucaram, mas, se conseguir escapar agora, ainda poderei me refugiar em uma caverna e ficar lambendo minhas feridas.
Mas esta música não tem apenas o poder de machucar. No universo das músicas tristes, Everybody Hurts é uma espécie de mutante com superpoderes. Ela também altera as leis da Física. Enquanto ela toca, o mundo se acelera e eu me torno um homem em câmera lenta.
Até eu conseguir me aproximar do aparelho de som, já se passou mais de um minuto de música. É mais ou menos como no Matrix, mas eu sou um cara qualquer e a porra do iPod é o Neo. Eu mal consigo me mover direito, enquanto o player tem a velocidade de um raio e parece estar sempre longe de mim ou desferindo 36 golpes por segundo na minha cara.
Tento esticar o braço na direção do iPod, mas em vão. Porque, no “everybooooody hurts”... a dor se torna insuportável. A esta altura, todos os meus neurônios se tornaram crianças e estão reunidos num cinema assistindo repetidamente a cena em que o E.T. morre. Minha pele queima, meus órgãos estão prestes a explodir. Meus olhos estão saltando das órbitas, querendo chorar de desgosto pela vida.
E, no “sometimes.... sometimes everything is wroooong”, eu caio. Havia conseguido resistir até o momento, preso nas cordas, encurralado, mas o “everything is wroooong” é um gancho bem colocado que fura minhas defesas e me acerta em cheio. Na boca.
Caio de boca no chão, beijando a lona.
Os narradores esportivos não conseguem disfarçar sua excitação, gritando “Caiu! Golpe espetacular de Everybody Hurts! Rob Gordon Caiu!”. O público, sedento de sangue, se levanta agitado para ver de perto. Apostadores, sabendo que a música era franca favorita no combate, sorriem pensando nos dólares que ganharão com o resultado.
E fico deitado ali até o final da música, me contorcendo de dor. Quando a música se torna apenas instrumental, consigo reunir forças e esticar o braço, mas nunca alcanço o fio que liga o som à tomada.
E ele começa a cantar novamente. É como um gato torturando sua presa. Tudo o que posso fazer é me contorcer no chão e pedir por uma morte rápida.
If you're on your own in this life
The days and nights are long
- EU FAÇO O QUE VOCÊ QUISER! POR FAVOR!
If you're on your own in this life
The days and nights are long
- EU ASSINO O QUE VOCÊ QUISER! FATHER, PLEAAAAASE!
Mas não há nenhum Darth Vader arrependido para me salvar – e se houvesse, ele estaria sentado num canto, chorando baixinho se perguntando se era preciso mesmo ter explodido Alderaan. Não. Estou sozinho, entregue ao ódio do Imperador Palpatine das músicas tristes.
Logo, tudo se torna escuro e minha mente, cansada da dor e da solidão da música, entrega-se à inconsciência. Eu sempre apago antes que a música termine.
Acordo horas depois, machucado, com as roupas manchadas de sangue e o rosto inchado de socos e lágrimas. Até hoje eu não faço ideia de como a música termina. Nunca passei dos quatro minutos. Tentando ignorar a dor, arrasto-me até o sofá e deito. Tudo dói.
E quis o destino que o babaca aqui fosse obcecado por ela.
Então, quando eu espeto o iPod no aparelho de som e coloco a lista Obsessões para rolar, a casa se enche de Beatles e Bowie. Meu cérebro congela e se deixa levar pelas obsessões (a voz do Lennon, os backing vocals dos Beach Boys), mas um lado dele permanece atento, olhando ao redor feito um gato que, numa noite qualquer, descobriu que foi parar acidentalmente dentro do Canil Municipal.
É o meu instinto de sobrevivência. Pois ele sabe que se aquela lista está tocando, o inimigo está à espreita. Vigiando. Espreitando. Esperando eu virar as costas para começar a tocar. Eu posso ser atacado a qualquer minuto, logo depois do The Man Who Sold the World ou de God Only Knowns.
De repente, eu não sou mais um Rob Gordon em transe, mas sim um animal africano que, de forma patética, decidiu beber água sabendo que existe um leão por perto. E basta eu abaixar a guarda (leia-se: aproveitar o silêncio do intervalo entre uma música e outra para conseguir me mover novamente e voltar ao sofá) para ela pular do aparelho de som na minha direção.
Sem aviso. Sem piedade.
Nos primeiros acordes, eu começo a me sentir com o estômago embrulhado. É o medo. E a maldita Everybody Hurts é capaz de farejar o medo. O cheiro do meu medo a perturba, fazendo com que o Michael Stipe comece a cantar “When the day is long, and the night... The night is yours alone...”
Como qualquer zebra perseguida por um leão, eu tento escapar. Corro na direção do aparelho de som, tentando desligá-lo antes que seja tarde demais. As primeiras frases já machucaram, mas, se conseguir escapar agora, ainda poderei me refugiar em uma caverna e ficar lambendo minhas feridas.
Mas esta música não tem apenas o poder de machucar. No universo das músicas tristes, Everybody Hurts é uma espécie de mutante com superpoderes. Ela também altera as leis da Física. Enquanto ela toca, o mundo se acelera e eu me torno um homem em câmera lenta.
Até eu conseguir me aproximar do aparelho de som, já se passou mais de um minuto de música. É mais ou menos como no Matrix, mas eu sou um cara qualquer e a porra do iPod é o Neo. Eu mal consigo me mover direito, enquanto o player tem a velocidade de um raio e parece estar sempre longe de mim ou desferindo 36 golpes por segundo na minha cara.
Tento esticar o braço na direção do iPod, mas em vão. Porque, no “everybooooody hurts”... a dor se torna insuportável. A esta altura, todos os meus neurônios se tornaram crianças e estão reunidos num cinema assistindo repetidamente a cena em que o E.T. morre. Minha pele queima, meus órgãos estão prestes a explodir. Meus olhos estão saltando das órbitas, querendo chorar de desgosto pela vida.
E, no “sometimes.... sometimes everything is wroooong”, eu caio. Havia conseguido resistir até o momento, preso nas cordas, encurralado, mas o “everything is wroooong” é um gancho bem colocado que fura minhas defesas e me acerta em cheio. Na boca.
Caio de boca no chão, beijando a lona.
Os narradores esportivos não conseguem disfarçar sua excitação, gritando “Caiu! Golpe espetacular de Everybody Hurts! Rob Gordon Caiu!”. O público, sedento de sangue, se levanta agitado para ver de perto. Apostadores, sabendo que a música era franca favorita no combate, sorriem pensando nos dólares que ganharão com o resultado.
E fico deitado ali até o final da música, me contorcendo de dor. Quando a música se torna apenas instrumental, consigo reunir forças e esticar o braço, mas nunca alcanço o fio que liga o som à tomada.
E ele começa a cantar novamente. É como um gato torturando sua presa. Tudo o que posso fazer é me contorcer no chão e pedir por uma morte rápida.
If you're on your own in this life
The days and nights are long
- EU FAÇO O QUE VOCÊ QUISER! POR FAVOR!
If you're on your own in this life
The days and nights are long
- EU ASSINO O QUE VOCÊ QUISER! FATHER, PLEAAAAASE!
Mas não há nenhum Darth Vader arrependido para me salvar – e se houvesse, ele estaria sentado num canto, chorando baixinho se perguntando se era preciso mesmo ter explodido Alderaan. Não. Estou sozinho, entregue ao ódio do Imperador Palpatine das músicas tristes.
Logo, tudo se torna escuro e minha mente, cansada da dor e da solidão da música, entrega-se à inconsciência. Eu sempre apago antes que a música termine.
Acordo horas depois, machucado, com as roupas manchadas de sangue e o rosto inchado de socos e lágrimas. Até hoje eu não faço ideia de como a música termina. Nunca passei dos quatro minutos. Tentando ignorar a dor, arrasto-me até o sofá e deito. Tudo dói.
E fico horas deitado ali, prostrado, tentando me recuperar. Tentando ignorar a dor.
E ouvindo Yellow Submarine o resto do dia.
E ouvindo Yellow Submarine o resto do dia.
Assista por sua conta e risco. Cuidado: a música morde.
(Favor não alimentar a canção)
20 comentários:
Claro que vc podia tirar a porra da música da lista, do iPod, do PC, e se arriscar a ouvir num rádio qualquer, num restaurante, em hora de almoço.
Mas aí não ia ter um post desse \o/
A música faz chorar o mais feliz dos homens.
Sei que o post é engraçadinho, mas eu te conheço um pouquinho Rob. "no, no, no, you're not alone" ;)
Tyler:
Aí não seria uma obsessão.
Otávio:
:)
Rob
Puta que pariu você hein Rob Gordon???? hahahahaha
Fico meses sem vir aqui e quando volto, é pra esse tapa na cara? tipo, me psicografou???
essa musica é foda uber master mega plus pra caralho de oliveira bastante.... não dá pra passar ileso.... e vc, como sempre,
traduziu perfeitamente.
bah! =P
achei que tinha clicado no link do vídeo sem perceber mas a música estava tocando na minha cabeça mesmo, essa bandida. vai se alastrar ali por horas!
ótima definição da relação física com a música. e eu entendo. têm dias em que eu não quero ouvir AQUELA música, fico com o dedo no botão do iPod pra passar pra frente antes de começar, pq se eu ouvir o comecinho já era!
PS: acho que sofro de iToc tb!
É, meu amigo doente... Isso acontece mesmo com a música. Alguns são mais sensíveis que outros.
Por exemplo, eu acho que se todo mundo escutasse "Wouldn't it be nice" dos Beach Boys, provavelmente não haveriam brigas e nem guerras. Essa música tem o poder de alegrar até gorila com dor de dente. Ou "What's going on", de Marvin Gaye, que tem mais ou menos o mesmo efeito em mim.
Não me lembro de nenhuma que me cause a mesma reação de tristeza que você relatou. Mas algumas, e isso é o mais básico, tem o poder de literalmente nos transportar no tempo, desde a primeira nota. E não falo no sentido figurado não. Um tempo atrás eu deitei na sala escutando o LP "Songs from the Big Chair" (Tears for Fears). Apesar de serem músicas que eu escuto com frequência, a conjuntura de fatores, a capa do LP na minha mão, me fizeram, de verdade voltar a meados dos anos 80.
Infelizmente, essa sensação de escutar uma música que não ouvia há muito tempo, é cada vez mais rara para mim. Minha coleção é tão boçalmente grande, que eu tenho praticamente todas as músicas de que posso me lembrar. Então esse prazer me é roubado, pois quase não há músicas de minha história que eu não tenha à mão para escutar.
Para dar uma idéia, só com o que eu tenho digitalizado, teria de ter mais de dois iPods destes seus para levar sempre comigo. Fora o que ainda não digitalizei. Apesar de nem toda essa coleção incluir músicas indispensáveis, meu iPod velhinho de 60Gb, já anda lotado.
Pronto. Me perdi...
Poderia passar dias falando deste assunto, então: chega!
Varotto:
Eu sabia que você iria comentar este texto antes que ele chegasse a 10 comentários. E sabia que o seu comentário seria quase do tamanho do texto.
Valeu, cara!
Rob
Como alguém pode escrever deliciosamente bem assim?!
Envolvente até para alguém como eu, que não é tão sensível assim a música.
Essa música morde mesmo. Ontem cliquei por acidente no link dela ao vivo do Youtube, depois de ouvir Drive - masoquista, eu? - e fiquei meio emocionalmente retardada. Ver o vídeo ao vivo não ajudou em nada...
Depois disso meu masoquismo quis ir além e colocou Andrea Doria, do Legião Urbana, pra tocar. Esta é uma música que me faz PARAR. Tenho meio que uma história com ela (lembro-me de, certa vez, tocá-la no violão, dentro de um carro, completamente destruída por dentro... é.) e toda vez que a ouço minhas ondas cerebrais se transformam em partículas e se colocam automaticamente em 0ºK.
O pior de tudo é saber que, apesar de doer, elas PRECISAM estar lá, tanto a do REM quanto a do Legião. Porque às vezes o entorpecimento é tanto que elas são necessárias pra que alguma possa ser sentida - mesmo que essa alguma coisa seja dor.
(p.s.: saber que não é só aqui no meu bairro que Pour Elise é identificada como "a música do gás" deixa esta Elise em particular mais triste...)
Amei o post.
Sua conversa com o PC foi o auge, eu não abriria mão da Nona de jeito nenhum.
Eu amo Everybody Hurts, tenho ela em toda coletânea que faço, até na de bolero e na de músicas infantis, o que faz meu marido odiar a música na mesma proporção.
E sim, ela dói, mas é linda demais, não dá para viver sem.
Beijos
PS -Espero que a sua psicóloga não leia os comentários.
Caramba Rob!
Fiquei atônita lendo o texto... quase me senti tão desesperada quanto você.
R.
Você sabe que eu poderia ter enchido páginas, mas como não saberia parar cometi estes paragrafos confusos e rapidinhos.
Às vezes eu sonho com um mundo em que eu possa ficar falando das coisas que eu gosto, música e filmes, principalmente, o dia inteiro sem precisar me preocupar com mais nada.
Mas como ainda não saiu aquela bolada da mega-sena, vou continuando com essa coisa maldita, chamada trabalho, a me atrapalhar os planos.
Lembrei de umas músicas aqui que me fazem até sentir cheiros, que eu associei a elas por um motivo ou outro (sinestesia mode: ON). Às vezes, essa sensação (o cheiro, ou o transporte no tempo) vem por apenas uma fração de segundo e depois desaparece. Muito complicado esse tal de cérebro.
Por falar em música, alguém já assistiu ao filme "August Rush" (que tem o nome babaca de "O Som do Coração", em português)? Ele aborda esse tipo de relação com a música. Vocês podem até achar a história muito conto de fadas, mas é muito tocante.
E, falando em amor à música, não dá para deixar de citar um dos filmes "sessão da tarde" mais legais de todos os tempos: "Detroit City Rockers", em que um grupo de adolescentes, em fins dos anos 70, se virarm para conseguir ir a um show do Kiss em Detroit. E também "Air Heads", em que uma banda, meio que acidentalmente, toma uma rádio como refém para que eles toquem sua fita demo. Muuito legal!
Cacete! Me perdi de novo...
Rob, eu passei um dia inteiro olhando o meu reader que, acusatoria e incessantemente me mostrava que tinha texto seu ali, prontinho pra ser lido, e eu nada. Evitando. Disfarçando. Pelo título do texto. Pela música fodida de linda. Pelo que eu sabia que me esperava quando começasse a ler. Pelo dom da sua escrita que eu amaldiçôo nos meus momentos tristes e dou graças nos momentos engraçados e leves.
Mas tive que me render, né?
E, como tantos outros aí em cima, chorei, lembrei, senti também.
Obrigada, mais uma vez.
Essa música já tinha um efeito muito forte em mim, agora vou pensar em tudo isso toda vez que a ouvir.
porra, ouvir essa música no dia em que se é demitido do trabalho NÃO é legal, viu sr Rob?
Realmente, a gente tem que se segurar para não cometer um suicídio. REM no seu melhor.
O ET não morre no filme. Ele volta para casa. Quem morre é a mãe do Bambi.
Hang on.
É pra chorar mesmo.
Não tenho nenhuma música que faça eu me sentir ASSIM, ms Under the Bridge é a que chega mais perto.
Nao sei nem o que dizer, to aqui feito boba chorando, escutando uma musica q até hj de manha eu nao conhecia, amei, ja ouvi umas 30 vezes, e nao sei como fazer pra parar.
Nao conheço muito esses tipos de musicas, nao por nao gostar, mas por falta de oportunidade mesmo, pois é, cresci vendo meu pai escutando Tiao carreiro e Pardinho, é eu sei, nem td mundo tem sorte na vida. Por isso vc poderia dar uma ajudinha né?, sei la um top dez dos grandes classicos do rock, de preferencia essas q fazem chorar, hahaha, ficaria muito grata.
Amo teu blog
Desculpa pela falta de acentos...teclado dazoropa.
Bjinhos
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