- Oi.
- Oi, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Tudo também.
- Desculpe, mas... Nós nos conhecemos?
- Não, acho que não.
- Quem é você?
- Eu não tenho nome. Ao menos, ainda. E você?
- Eu também não. Na verdade, nem sei como cheguei aqui.
- Eu também. Não lembro onde estava antes, mas, de repente, eu apareci aqui.
- Faz tempo?
- Não, foi quando a gente se encontrou lá em cima. Lá no “oi”.
- Que engraçado.
- Eu acho que sei onde estamos.
- Onde?
- Numa crônica do Rob Gordon.
- Quem?
- Rob Gordon. Ele faz isso às vezes. Ele não sabe o que escrever, então começa a digitar um diálogo ao acaso.
- Assim, sem planejamento? Sem pensar em nada?
- Sim. Ele apenas coloca duas pessoas conversando e vê o que sai disso. Eu já tinha ouvido falar que ele faz isso.
- Que bizarro. Como ele pode escrever um texto sem assunto?
- Parece que ele acha o assunto no meio do caminho. Ou descobre o assunto.
- Descobre?
- Sim, há quem diga que o assunto de uma crônica está nela desde a primeira linha. Basta o escritor descobrir.
- Qual será o nosso assunto?
- Não faço ideia.
- E por que diálogos?
- Não sei também. Talvez sejam mais leves. Ou talvez ele esteja precisando conversar com alguém, e invente uma conversa.
- Não é mais fácil mandar um e-mail para a pessoa que ele quer conversar?
- Às vezes nem é uma pessoa específica. Ele quer apenas conversar.
- Será que é isso?
- Bom, se o caso for conversar com uma pessoa específica, talvez seja melhor perguntarmos para a psicóloga dele. Ela deve saber quem é e o que ele quer dizer. Mas duvido que ela apareça por aqui. Ele guarda a psicóloga para outros textos, somente com ele e ela.
- Sim, ele jamais teria coragem de colocar eu, você ou qualquer outro personagem junto com a psicóloga dele. Nós sabemos muito sobre ele.
- Você sentiu isso?
- O quê?
- Um pequeno tremor. E um vento.
- Senti.
- Eu acho que sei o que foi isso.
- Diga.
- Ele estava escrevendo este texto para colocar no Chronicles. Mas, como começamos a falar dele, ele mudou de ideia e resolveu colocar no Champ.
- Sério?
- Sim. Nós deixamos oficialmente de ser ficção e nos tornamos parte do Rob Gordon. Eu sou uma parte, você é outra.
- Isso está ficando complexo demais. Bom, pelo menos o papo está fluindo.
- Sim, ele escreve diálogos de forma muita rápida. Sempre fez isso.
- Mas é meio pobrinho, né? Não tem uma descrição do cenário, nós não temos nomes...
- Mas a ideia é essa. Se nós somos parte dele, ele não quer que ninguém saiba quais partes somos. Não quer que ninguém que leia isso saiba também.
- E se nós formos outras pessoas da vida dele? Por exemplo, quem garante que eu não sou ele e você é alguém de quem ele sente saudade?
- E ele estaria escrevendo isso apenas para se sentir perto da pessoa?
- Exato.
- Talvez. Faz sentido. Mas duvido que ele admita isso aqui.
- Impressionante como ele escreve isso rápido mesmo. Não sei como isso vai ficar no blog, mas, no Word, já estamos na terceira página.
- Sim. Ele escreve diálogos absurdamente rápidos. Mas ele tem um truque.
- Qual?
- Não posso falar. Ele está olhando.
- Espera, o que é aquilo que apareceu lá em cima. Café?
- É o título. Ele não tinha pensado num título ainda.
- Mas porque Café? Não tem café aqui.
- Olha para trás de você. Para fora do monitor.
- O quê?
- Aquele copo ao lado do teclado. É café.
- Não estou vendo.
- Ali, à sua esquerda.
- ah, vi! Por isso chama Café?
- Sim, ele está escrevendo este diálogo enquanto toma café. Para começar o dia.
- Que absurdo. Eu demoraria horas para fazer isso, e ele faz enquanto toma café.
- Sim, como eu disse, ele tem um truque. Mas não posso dizer aqui. Ele me mataria, ou pior ainda, desistiria de publicar o texto.
- Será?
- Claro. Ele jamais contaria o truque dele para escrever diálogos tão rapidamente assim.
- Mas é engraçado isso... Essa necessidade de fazer diálogos que ele sente.
- Coisa dele. Ih... Acabou o café.
- Sério?
- Sim, olha o copo vazio ali.
- Ou seja...
- Melhor nos despedirmos.
- Será que ele não nos dá mais uns minutos de vida? E encerra o diálogo enquanto fuma?
- Não, ele está num lugar em que não pode fumar. Ele vai ter que se levantar. E duvido que ele deixe este texto para finalizar depois.
- Pior que ele quer fumar, olha como ele esta digitando mais rápido.
- Será que a pessoa para quem ele escreveu este texto vai ler?
- Não sei. Será que ele escreveu para alguma pessoa? Ou para ele mesmo, para ligar o cérebro?
- Boa pergunta. Aliás, será que nós vamos ser publicados?
- Tenho certeza. Se ele não fosse publicar, teríamos sido abandonados no momento em que começamos a falar dele, de saudade, da terapia. Ao invés disso, ele decidiu nos colocar no Champ. O tremor, lembra?
- Sim.
- O que foi isso?
- Ele abriu a janela do Blogger. Nós vamos ser postados.
- Ele está logando.
- Qual será a sensação de ser publicado?
- Não faço ideia. Nunca passei por isso antes.
- O QUE FOI ISSO?
- Entramos no blog. Ele estava copiando o texto para cá.
- Nem acredito que vou ser publicado.
- Parabéns, você merece. E eu também. Ele gostou do nosso diálogo.
- Mas o diálogo não é nosso. É dele.
- Até ele colocar no blog. No momento em que ele nos colocou aqui, nos tornamos pessoas reais, mesmo sem nome. Deixamos de existir na cabeça dele e ganhamos vida.
- Que demais esse negio de escrever, né?
- Negio?
- Ne-gó-cio. Desculpe, este pedaço ele já está digitando na janela do Blogger, e ele odeia isso. Ele prefere o Word.
- Agora ele colocou o título lá em cima e pegou o maço de cigarros.
- Sim, é a nossa deixa. Arrume seu cabelo que nós estamos indo para o ar.
- Será que as pessoas vão gostar de nós?
- Não faço ideia. Ele aparentemente gostou. É um começo.
- Antes de irmos, quero que saiba que adorei isso. Adorei conversar com você e adorei ser o passatempo dele durante o café.
- Eu também. Olhe, ele está colocando as tags. Chegou a hora.
- Vamos?
- Vamos.
- Boa sorte.
- Para você também.
16 comentários:
Café até aqui?
Você vai ser dono de cafeteria assim...
Eu AMEI esse diálogo. Primeiro, pq me identifiquei nesse mundo meio autista, sabe... A história da blusa azul e rosa, que elas conversam e tal... Segundo, pq eu tive que levantar e buscar um café pra começar o dia. É, essa coisa de ligar o cérebro é muito legal mesmo. Cada um tem o seu jeito, o seu tempo.
Adoro quando eu tenho um tempinho no dia pra ler o Champ E comentar.
Beijos
O seu cérebro funciona de maneiras jamais conhecidas, né?
:P
Surtadinho.
acabo de sofrer um surto de metalinguagem.
Ooow! Velocidade demais pra mim a essa hora da manhã, hahaha
Pessoal
Na hora que colei o texto, faltou o começo. Agora ele está inteiro. Desculpem pela confusão.
Rob
Quase fiz algo parecido quando estava tomando amaretto em casa, por esses dias.
Engraçado, quando não conhecemos a pessoa ficamos imaginando como serão suas expressões, o que se passa na cabeça ao escrever, mas assim que a conhecemos continuamos tendo os mesmos questionamentos, no entanto a imagens se formam com mais clareza a formam uma interessante conexão com o texto.
Metalinguagem em tempo real.
Genial!
Café, café, café café café.
E o segredo dos diálogos rápidos.
Cara, como você consegue tirar um diálogo do nada, hein? Muito legal!
Mas agora ensina também como desligar o cérebro depois de um longo dia de trabalho.
Bjs
Olha, Rob, vou dizer que às vezes não tenho muita paciência pra alguns de seus textos.
Mas esse foi GE-NI-AL.
Um gênio.
Desculpa, mas eu não consigo dizer mais nada.
O que seria de nós sem a formulinha da disposição? Muito divertido o texto!
Eu sei qual é o seu truque, Rob.
Mas não se preocupe, não vou contar pra ninguém.
Eu queria ter um bloqueio criativo assim.
QUE COISA MAIS LINDA!
Eu gostei deles. Tem como você dizer isso pra eles?
Postar um comentário