Estava no metrô, sentado na janela do último banco, do último vagão. Eu estava ouvindo música em fones de ouvido, sem conseguir escutar absolutamente nada do que acontecia ao meu redor.
À minha frente, diversos passageiros –cerca de vinte – seguiam com suas vidas, sentados e em pé, balançando junto com o trem. Aparentemente, eles não haviam percebido que eu estava ali. Ninguém me olhava.
Quando o metrô parou em uma estação, eu olhei pela janela e permaneci escutando minha música. E fiquei assim por alguns segundos, até olhar de volta para a minha frente, e perceber que eu estava sozinho no trem.
Ele continuava parado, com as portas abertas, como se esperando por algo, mas totalmente deserto. Todos os outros passageiros haviam desaparecido.
Eu estava sozinho.
Na mesma hora, entendi que eu estava sonhando. A única dúvida que tive era a respeito de onde eu estava. Tentei descobrir se eu estava na cama e sonhando que estava no metrô, ou se eu estava realmente no metrô e havia cochilado.
Sem conseguir encontrar resposta, decidi parar de pensar sobre isso e voltei a olhar pela janela, escutando minha música.
Foi quando senti tapas leves no joelho.
O tempo parecia passar mais devagar. A sensação que tenho é de ter demorado minutos para entender o que estava acontecendo.
Eu não estava mais só. Alguém estava tentando chamar minha atenção.
Olhei para frente e vi um homem de meia idade e vestindo uniforme do metrô em pé. Ele estava falando comigo, mas eu não conseguia ouvi-lo, por causa dos fones de ouvido. Sabendo que eu estava sonhando, tentei reconhecê-lo, ou ao menos lembrar se já havia visto aquela pessoa antes, mas não consegui. Seu rosto me era totalmente estranho.
E ele continuava falando comigo. Ou, ao menos, mexendo os lábios.
Resolvi ouvir o que ele tinha a me dizer. Tirei os fones de ouvido e imediatamente ele parou de falar. Permaneci o encarando por alguns instantes, e ele me devolveu o olhar, sem falar. Resolvi tomar a iniciativa:
– Você estava falando comigo?
– Sim, eu estou tentando te chamar já há algum tempo. Preciso que você desembarque, porque este trem vai ser recolhido.
Olhei novamente para a janela e vi todos os passageiros parados na plataforma, esperando que eu descesse do metrô. Era por isso que o trem estava vazio. Era por isso que o trem estava parado, com as portas abertas.
Eu não estava sonhando.
Eu estava apenas sendo imbecil.
Recoloquei os fones de ouvido e desci apressado do metrô. Caminhei alguns metros pela plataforma e esperei pelo próximo metrô bem distante dos meus antigos companheiros de vagão.
Afinal, algo me dizia que eu não seria exatamente popular entre eles naquele momento.
Ô fase.
Nota: Mesmo tendo vivido isso acordado, coloquei o título do texto como Sonhos de Kurosawa Gordon como uma pequena sacanagem – os mais atentos podem ter percebido que a palavra cortada desta vez foi “sonhos” e não “Kurosawa”.
Afinal, eu realmente achei, por alguns instantes, que estava sonhando – logo, nada me impede de fazer o mesmo com vocês.
Assim, ignorem isso na contagem desta série: o próximo sonho (sonho de verdade mesmo) a ser postado aqui terá novamente o número X.
9 comentários:
Sabe que outro dia me vi numa situação parecida? Peguei o metrô tarde da noite, torcendo pra que desse tempo de chegar onde precisava. Tinha mais umas 5 pessoas no vagão. Só. Uma estação antes da minha, desceu todo mundo.
To acostumada com a Barra Funda as 18h. Fiquei tão assustada que tirei foto! Haha
Tá precisando dormir, Rob, esse negócio de achar que está dormindo e não estar é complicado.
Já pensou que dormir mais em casa (ou na mesa do trabalho) pode resolver isso?
Talvez no sofá da casa de amigos tb ajude...
Dragus,
Comporte-se.
Rob.
Uns dizem que você precisa aumentar a dose de horas dormidas.
Eu digo que você precisa é aumentar a dose dos remédios.
Hahahahahahahaha rindo litros do comentário do Dragus.
Pessoas normais costumam dormir.
Pessoas normais sabem que pegaram o metro e que estão dentro dele.
Pessoas normais...
Enfim, não é o seu caso.
:P
Ai, meu Deus! Isso é tão eu hahaha
huhauhauaha
Não vejo pq não incluir na série sonhos. Afinal, vc estava sonhando. Acordado, mas estava. XD
Só vc mesmo...
Olá! Com licença. Eu procurava por Molly, mas ela está desaparecida na blogosfera. Ela move-se sem deixar rastros para que a encontremos. Consta que o perfil dela está desativado. Então resolvi procura-la entre os links dos sites dos quais ela participa. Foi assim que cheguei ao seu Sonhos (riscados) de Kurosawa Gordon X. Achei a viajem fantástica. Parabéns, Rob Gordon!
Sim! Sabe da Molly?
Convido para que leia e comente no http://jefhcardoso.blogspot.com/
“Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso.” (Jefhcardoso)
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