Existem vários porquinhos. Existe o porquinho que comeu
rosbife. Existe o porquinho que ficou em casa. Existe o porquinho que gritou
alguma coisa. Mas o mais famoso entre eles é o primeiro: o porquinho que foi ao mercado.
E essa é a sua história.
E essa é a sua história.
Este porquinho foi ao mercado...
Junto com sua Esposa, porque eles precisavam compra ração para
os cachorros. No meio do caminho, o porquinho sugeriu que já deveriam
aproveitar e decidir o que iriam jantar. Conversaram alguns instantes e
decidiram comer hambúrguer. O porquinho ficou feliz porque adora comer
hambúrguer em casa, já que a Esposa faz maionese caseira e ele come com batatas
– o que fica ainda mais gostoso que o sanduíche. Entraram no mercado, pegaram tudo
o que precisaram para o hambúrguer e foram ao caixa. Só então o porquinho
percebeu que tinha esquecido a carteira. Assim, saiu do mercado correndo e
voltou para casa.
Este porquinho foi ao mercado...
Agora com a carteira no bolso. E correndo. Você já viu um porquinho
correndo? É deprimente. Esse porquinho corria muito quando era mais jovem, mas
agora ele não sabe mais correr. Aliás, existe um motivo para o poema não ter um
verso com “esse porquinho foi correndo até tal lugar”, porque ninguém quer ver
um porquinho correndo pelas ruas com a barriga tremendo e jogando o bundão –
porque todo porquinho tem bundão, e não qualquer bundão, é um bundão suficiente
para dançar em uma banda de axé – para um lado e para o outro, reclamando de
dor nas pernas e fazendo o final do percurso meio torto porque está começando a
sentir dor no baço.
Mas, enfim, o porquinho voltou ao mercado a tempo de pagar
suas compras com a caixa alienígena que fez comentários sobre a bolacha Toddy
que o porquinho comprou – porque porquinhos sempre compram algo doce no mercado
– e sobre o hambúrguer, dizendo que quando faz hambúrguer em casa coloca babata
palha dentro do pão (algo que o porquinho ainda esbaforido resmungou que “não,
aqui no planeta Terra a gente não faz isso”). E voltaram para casa, apenas para
abrir a porta e o porquinho dar um tapa na própria testa gritando “esquecemos a
ração dos cachorros!”. Mas, ainda cansado de ter que correr porque esquecer a
carteira, o porquinho pediu ao enteado que fosse comprar a ração. Problema
resolvido... Até que meia hora depois – já com a ração em casa – o porquinho deu
outro tapa na testa e gritou “esqueci a merda da batata!”.
Esse porquinho foi ao mercado...
Reclamando da vida e com vontade de chutar tudo o que
encontrasse pela rua. Sua Esposa havia falado que “nós comemos sem batata mesmo”,
mas o porquinho foi resmungando que ele gosta mais da batata com maionese que
do hambúrguer, que na verdade quando tem hambúrguer em casa ele usa isso como
desculpa para se entupir de batata com maionese e jurou que compraria um saco
de batata do tamanho de uma pequena cidade para nunca mais ter que sair e comprar
batatas novamente.
Entrou no mercado, percebendo que todos os funcionários o
olharam com cara de “ih, o porquinho esqueceu algo” e foi até outro caixa para
fugir da menina alienígena. Resmungou para a menina do caixa que não precisa do
CPF, eu só quero ir embora e ficar em casa e voltou com o saco de batata na
mão, sem sacola nem nada, maldizendo a vida. Algumas pessoas que passaram pelo
seu caminho devem ter pensado que o porquinho era louco, pois ele não era um
porquinho carregando um saco de batatas, ele era um porquinho que carregava um
saco de batatas, olhando diretamente para o saco e fazendo ameaças como “se
vocês não ficarem no mínimo maravilhosas eu vou esmigalhar todas vocês com uma
pá, e depois tacar fogo em cada uma de vocês”.
Assim, o porquinho entrou em
casa e voltou ao computador... Até que sua Esposa apareceu na sala e perguntou
se ele se incomodaria em comer o hambúrguer sem ketchup e ele perguntou como
assim e ela explicou que lembra que eu comentei essa semana que o ketchup tinha
acabado, então, nós esquecemos de comprar e o porquinho se levantou e
calmamente foi até a janela e olhou para o céu e ergueu um punho gritando
coisas como se vocês fossem machos, desceriam aqui e me pegariam pessoalmente
ao invés de fazer essas coisas. Sem dizer para a esposa que “eu não fui trinta
e cinco vezes até aquela bosta de mercado para comer hambúrguer sem ketchup” (ao invés disso,
ele disse apenas “vou lá comprar essa merda”) pegou a carteira e saiu de casa.
Esse porquinho foi ao mercado...
Se perguntando por que a vida é assim. E pensando também nos
outros porquinhos, que provavelmente estavam coçando o saco e esperando a sua
vez de fazer alguma coisa, já que o poema não saía da primeira linha. Toda a
saga dos porquinhos se resumia ao porquinho que foi ao mercado e depois
precisou voltar ao mercado e chegou em casa e percebeu que precisava ir ao
mercado, eternamente preso dentro disso como se o seu pedaço do poema tivesse
se transformado em um filme do Luis Buñuel.
Entrou no mercado pronto para
chutar qualquer pessoa que ousasse passar pela sua frente, foi até a prateleira
de ketchup e pegou o primeiro que encontrou – lendo com cuidado o rótulo inteiro
para se certificar de que se tratava de ketchup mesmo, assim ele não chegaria
em casa apenas para descobrir que precisava voltar ao mercado porque ao invés
de comprar ketchup comprou sem querer um pote de terra – e foi até o caixa
pagar, escolhendo um terceiro caixa que ainda não tinha visto o porquinho por ali
nas outras vezes. Antes de pagar, resmungou que “não, pode enfiar o CPF no cu” para
a funcionária e fingiu que não viu a caixa alienígena olhando para ele de
longe, com um sorrisinho no canto da boca e um ar de “quem é o retardado agora?”
e voltou para casa.
E ficou sentado na cadeira olhando para o relógio por
quinze minutos até ser dez horas em ponto. O porquinho então suspirou. Agora
o mercado estava fechado. A maldição havia se rompido, e ele podia começar a
reconstruir sua vida.
Essa é a história do porquinho que foi ao mercado.
Os outros porquinhos ainda estão rindo dele.
4 comentários:
Mas eu pensei que você fosse são paulino!
"barriga tremendo e jogando o bundão – porque todo porquinho tem bundão, e não qualquer bundão, é um bundão suficiente para dançar em uma banda de axé – para um lado e para o outro" Ai eu imaginei um bundão fazendo "dump" pra cá e "doimp" pra lá conforme você corria e cai na risada, hhahahahahahahahahahaahahahaha gasp, hahahahahahahaahahaha....
Ah... comentei logada com o e-mail de outra pessoa... desculpe... não correspondo a este login - fotinho adolescente. Meu nome mesmo é Ana.
Ahh, porquinho, meu porquinho mercadista...
Você não gostaria de estar agora (ao menos só um porquinho) no lugar do porquinho que grita?
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