No final do ano passado, eu devia ter postado um texto aqui
no blog. Eu imaginei o post inteirinho, bastava apenas me sentar e escrever. Mas
não postei. Na verdade, nem escrevi. Outros posts entraram na frente (primeiro,
o texto sobre o jawa que falou comigo no mercado; depois, a carta com a minharetrospectiva de 2012).
E o texto que eu iria postar ficou para depois, trancado junto
com os outros “textos somente imaginados” numa pequena sala que tenho no
cérebro.
Existem dezenas de textos lá dentro. Alguns foram pensados quase
inteiros, outros são apenas diálogos ou trechos mais curtos que imaginei, mas
que nunca viraram crônicas de verdade. Às vezes, vou até lá, pego um e jogo na
tela, para ver se finalmente ele decola e ganha sua liberdade. Alguns deles,
porém, estão trancados lá dentro há anos, sem nunca ver a luz do Sol.
E se você acha isso cruel da minha parte, nem pense em olhar
na sala seguinte. Na verdade, não é uma sala, mas sim um fosso com espetos
envenenados, onde eu atiro os textos que comecei e não consegui terminar.
Enfim, podemos deixar a história deste fosso para outro dia.
Hoje, quero falar do post que eu devia ter postado no final
do ano. Não escrevi, mas de uns dias para cá tenho pensado bastante sobre ele, por
motivos que falarei mais para frente. Assim, antes de continuarmos, quero
contar a vocês como seria este post.
Ele começaria contando que agendei a visita de um técnico da
TV a cabo para o dia seguinte. De acordo com a menina da Vivo, o cara chegaria aqui
entre as dez e o meio-dia.
Veja bem, estávamos em 29 de dezembro. E se a pessoa da TV a
cabo diz, num dia entre o Natal e o Ano Novo, que o técnico vai chegar no dia
seguinte entre as 10h00 e as 12h00, eu tive certeza de que ele chegaria aqui entre
as 16h00 e a metade de março. Assim, fui dormir tranquilo, sabendo que nada
aconteceria pela manhã.
Mas esta seria a introdução do post, apenas para situar o
leitor da situação. O post começaria de verdade com a campainha de casa tocando
às 08h00 da manhã, e eu descendo as escadas, ainda dormindo e sem saber ao
certo 1) quem poderia ser; 2) em que planeta estou; 3) qual o meu nome.
Uma ideia que tive, enquanto pensava sobre como escrever
este texto, foi colocar um trecho mostrando que por causa do sono, ao abrir a
porta eu atendi o cara da TV a cabo feito o Tropeço na abertura da Família
Addams, balbuciando um “Qui-Éééé?”.
Aliás, eu iria mais longe. Assim que pensei nesta situação,
concluí que seria divertido falar que, apesar de ter me comportado feito o
Tropeço, eu pareço muito mais com o Tio Chico (ou Funéreo, para os mais novos),
já que sou baixinho, gordinho e careca.
A partir daí, costuraria algumas piadas sobre o assunto, provavelmente
escalando Mefisto, o gato das trevas que mora aqui em casa, no papel de
mãozinha. E digo “provavelmente” porque deixei para pensar nas piadas somente
na hora que escrevesse. Na hora de escrever, poderia usar o gato, como poderia surgir
algo totalmente diferente.
Enfim, o técnico da TV a cabo entrou em casa. E eu passaria
uns dois parágrafos questionando que tipo de técnico de TV a cabo chega antes
do horário, ainda mais ao nascer do dia. Aliás (e isso eu pensei agora, aqui) eu
poderia brincar fazendo um paralelo com o fato do Gandalf chegar à Batalha do
Abismo de Helm ao nascer do Sol (mas, para isso, eu teria que ter colocado a
frase lá em cima, com a atendente me dizendo algo como “na primeira luz do dia
seguinte, abra a porta da casa e olhe para o Leste”, ou algo assim.)
Gostei da ideia. Eu seria um misto de Tropeço e Tio Chico, enquanto
o técnico seria uma espécie de Gandalf – e, com isso, as possibilidades de brincar
com meu tamanho (me colocando como um hobbit ao longo do texto), seriam enormes,
e aposto que apareceriam naturalmente enquanto eu escrevesse. Pena que não
escrevi.
Agora, algo que imaginei com detalhes foi a reprodução de algum
dos diálogos entre eu e o técnico. Adoro escrever diálogos e aposto que a
situação deste texto renderia alguma coisa legal. Vamos tentar aqui (lembre-se
que o cara estava trabalhando normalmente, enquanto eu dormia em pé ao seu lado).
Imagino que seria algo mais ou menos assim.
Técnico: Todos os
canais estão pegando bem?
Eu: Hum.
Técnico: Pelo que
vi, o sinal está fraco somente nestes canais aqui.
Eu: Hum.
Técnico: Faz
tempo que está assim?
Eu: Assim como?
Técnico: Com o
sinal fraco.
Eu: O que está
com o sinal fraco?
Técnico: Estes
canais.
Eu: Não sei. Eu
não me lembrava destas imagens. Isso aí é uma TV, certo?
Técnico: Sim.
Eu: Desculpe, mas
você é quem, mesmo? Um ladrão?
Técnico: O
técnico da TV a cabo.
Eu: Ah, sim. Olha,
aproveitando que você está aqui, eu acho que a TV não está pegando bem. Eu
lembro vagamente de termos falado isso aqui em casa um dia desses.
E um diálogo desses, convenhamos, ainda consegue ser
esticado em alguns pontos. Por exemplo, a parte em que eu pergunto se ele é um
ladrão pode gerar todo um diálogo novo, dentro do diálogo principal.
Ou, claro, eu poderia mudar tudo. Ainda esticando a piada do
Gandalf, eu poderia ter escrito um diálogo repleto de citações do Senhor dos
Anéis, fazendo o técnico da TV a cabo me responder usando somente frases
originais do personagem (e se você acha que isso é difícil, talvez impossível, eu
fiz o mesmo com o Darth Vader no post em que vou até a Fnac atrás do Blu-ray deStar Wars).
Seria algo assim:
Eu: Posso ter
esperanças de que a TV vai funcionar hoje?
Técnico / Gandalf:
Nunca houve muita esperança.
Eu: Mesmo? É que eu
estou de férias, e tenho assistido bastante TV neste tempo...
Técnico / Gandalf:
Tudo o que temos que decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
Eu: Certo. Bem,
se você me deixar passar aqui para pegar o controle...
Técnico / Gandalf: YOU SHALL NOT... PASS!!!!!
Não sei se ficaria bom conforme ele crescesse, mas
certamente é algo que dá para ser feito.
Agora, o final deste texto é algo que não imaginei. E, infelizmente,
depois do que eu escrevi aqui, não sei como terminá-lo. Mas este não foi o
motivo de eu não tê-lo postado. Muitas vezes, começo a escrever um texto sem
ideia de como terminá-lo, e algo me ocorre no meio do caminho. Até agora, tem
funcionado bem – e tenho certeza de que isso aconteceria aqui.
Enfim, como não escrevi o texto, eu não imaginei seu final.
Como eu disse acima, coloquei outros textos na frente e pretendia escrevê-lo
agora, no começo do ano.
O problema é que eu não imaginava que seria castigado por
isso.
Pelo que constatei nos últimos dias, tudo não passou de um
plano dos céus. Tudo não passou de um um plano divino, desde a TV a cabo dar pau até o
técnico aparecer aqui no dia seguinte, logo cedo, e a TV funcionar perfeitamente depois disso. Foi uma armação celestial
para que eu pudesse contar esta história e mostrar que “Deus ajuda a quem cedo
madruga”.
Por algum motivo que desconheço, o Reino dos Céus precisa
promover esta ideia atualmente. E Deus me escolheu e criou todo o cenário para que eu
cumprisse estar tarefa, como uma espécie de profeta oficializando
o ensinamento de “Deus ajuda a quem cedo madruga”.
Mas, como não escrevi o post... Fui castigado.
Somente isso explicaria o fato de que uma cadeira que
deveria ser entregue até o dia 8 de janeiro chegou ontem. Exatamente as 07h30
da manhã. Ou seja, mais cedo ainda que o técnico da TV a cabo. Os céus se
abriram e jogaram um cara de uma transportadora com uma cadeira na frente da
casa, somente para me acordar. Novamente atendi a porta sem saber direito o que
estava acontecendo e quase dormi o resto da manhã no jardim mesmo.
Foi a forma que Deus encontrou de me dizer “Eu passei uma tarefa
para você, não Me desafie escrevendo outras coisas”. E isso vai continuar
acontecendo até eu cumprir os desígnios celestiais. Vou ser acordado todas as
manhãs, cada vez mais cedo, até cumprir a tarefa.
Então, é isso. Por favor, decorem: “Deus ajuda a quem cedo
madruga”. E, se alguém perguntar, diga
que foi neste blog que você viu essa mensagem. Algo me diz que esta é a única maneira
de impedir que, amanhã, a campainha toque às 6 da manhã para me acordar mais
uma vez.
E algo me diz que desta vez vai ser uma testemunha de Jeová
para me dar bronca, querendo saber se eu já levantei e comecei a escrever o evangelho do qual foi incumbido.
(Já curtiu a página do Champ no Facebook?)
(Já curtiu a página do Champ no Facebook?)
7 comentários:
Que aula de criatividade, cara, muito bom! E eu com dificuldade pra finalizar um comentário para o post... Tsc, tsc, tsc, tenho muito o que aprender mesmo.
Se o resultado da inexistência do texto mencionado foi um post tão foda, espero que muitos outros queiram ficar na Sala das Ideias, desde que você decida escrever sobre isso. : )
Hahaha O making of do nascimento de um texto... Muito bom cara, parabéns!!!
Hahaha... muito bom, Rob.
Mostra muito do seu processo criativo.
inspirador.
abraço
Bob Mussini
Fico feliz de ter conhecido seus textos. Por acaso inclusive.
É difícil encontrar pessoas com paciência e criatividade para darem à luz textos com um pezinho na genialidade.
Encontro muita gente escrevendo pra internet, mas poucos com esse jeitinho especial de contar uma história.
O Champ-Vinyl, junto com o http://www.canudoscoloridos.com/, agora é um dos blogs que vou lembrar pra sempre como um dos blogs que fez parte da minha formação em comunicação social. Obrigado, internet. Obrigado, Rob.
Posso só bater palmas de joelhos?
Juro que quero ser igual a você quando crescer. Ou melhor, ficar mais velha, porque eu já sou mais alta do que você e acho que não cresço mais...
Isso de ter um canto no seu cérebro pra guardar o que não foi escrito nunca funciona comigo, se eu penso em algo e não escrevo é capaz de se perder para sempre, mesmo eu sendo do tipo que escreve apenas os fragmentos das ideias.
Outro dia eu pensei em escrever algo dizendo que eu pulei/pularei a fase adulta, fui/vou da juventude direto pra velhice. Como velho poderei ser qualquer coisa, o velho bobo, o velho louco ou o velho sábio.
E mais uma coisa, gostei dessa espécie de making of que você fez nesse texto.
Meu amigo, simplesmente genial.
Estou um pouco atrasado com as leituras de Internet, por isso só vi o post agora, quase uma semana depois...
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