2 de janeiro de 2009

A Lista de Schindler Gordon

Meu prédio está sofrendo com ataques de pernilongos. Em quase todas as noites da última semana fui obrigado a me levantar no meio da madrugada, acender a luz e ficar estraçalhando mosquitos, enquanto a Besta-Fera se escondia embaixo da cama, para não ser incomodado e continuar dormindo. Aí, no dia seguinte, tenho que ficar limpando as marcas de sangue das paredes – marcas nojentas da batalha da noite anterior. Em algumas manhãs, a impressão que tenho é que foi cometida uma chacina dentro do meu quarto. Para se ter uma idéia, se o Grissom entrasse aqui, ele teria que ligar para a central dez minutos depois e pedir para trazerem todo o Luminol que tivessem estocado.

E esta tem sido minha rotina nos últimos dias.

Entretanto, os pernilongos não têm incomodado apenas a mim, mas também aos outros moradores do prédio. E isso inclui minha síndica Brick Top. E incomodar minha síndica não é algo muito inteligente de se fazer. Talvez os mosquitos tenham achado que, por serem pequenos demais para serem jogados aos porcos selvagens que ela cria na sauna, estariam a salvo da ira dela.

Ledo engano.

Quarta-feira, último dia do ano. Estou entrando no prédio, no meio da tarde, e encontro minha síndica e mais três moradores conversando no hall de entrada. Antes mesmo de me aproximar deles, reparei que ela segurava um objeto de plástico branco nas mãos. Conforme fui me aproximando, vi que o negócio parecia uma raquete de tênis de brinquedo – mais ou menos como aquela raquete que as pessoas colocam o controle do Wii, para jogar tênis.

Passei rapidamente por eles, e fiquei esperando pelo elevador, que estava no 14º andar. Obviamente, foi inevitável ouvir trechos da conversa.

– ISSO AQUI NÃO FAZ SUJEIRA, disse minha síndica, com seu característico tom de voz gélido.

– Mas funciona mesmo?, perguntou um dos moradores.

– SIM. EU TESTEI ONTEM, NA MINHA CASA. OLHEM, ALI ESTÁ UM. VOU MOSTRAR A VOCÊS.

Não agüentei e virei para trás, tanto por curiosidade como por receio de que ela estivesse falando de mim. Felizmente, ela estava andando na direção contrária de onde eu estava, olhando para o alto. Após caminhar uns três metros, ela ergueu a raquete, como se fosse sacar uma bola imaginária e deu uma violenta raquetada no ar.

CRAC!

Demorei alguns momentos para perceber que ela não tinha quebrado nada com a raquete e sim que o barulho tinha saído do objeto. Ela olhou para os moradores com ar de satisfação e disse:

– VIRAM?

Eles não responderam. Percebendo que precisavam de uma demonstração mais eficiente, ela olhou para o chão, procurando por algo próximo aos seus pés. Subitamente, abaixou e pegou algo com as mãos.

– O MOSQUITO ESTÁ MORTO. FOI ELETROCUTADO.

Os três moradores sorriram e balançaram a cabeça uns para os outros. Foi aí que percebi que aquilo não era uma mini-reunião de condomínio, mas um conselho de guerra. Aparentemente, no jogo de War que o prédio vem travando com os moradores, minha síndica tirou, na hora do sorteio dos objetivos, a carta “Eliminar os exércitos voadores”.

Graças a Deus, meu elevador chegou e entrei correndo nele.

De lá para cá, não matei mais nenhum mosquito. Pelo contrário, mudei de lado e me tornei uma espécie de Oskar Schindler dos pernilongos. Estou oferecendo asilo a todos os mosquitos que aceitem ficar somente na minha varanda e não me picar. E ainda estou escrevendo uma carta para as autoridades, informando que crimes de guerra – que claramente ferem a Convenção de Genebra – vêm sendo cometidos no meu condomínio.

Espero que o seu Ano Novo tenha começado de forma menos violenta que o meu. E são os votos deste blog que você tenha um 2009 muito melhor que o dos mosquitos do meu prédio. Se bem que isso não parece ser muito difícil.


19 comentários:

MaxReinert disse...

Ceus!!!!!
Eletrocutados????
Requinte de crueldade!!!!

Meus pesames!

MaxReinert disse...

PS: adoro acabar com a farra dos "primeiros"!

Anônimo disse...

Eu tenho uma dessas! Essas raquetes tornaram-se um sucesso em minha cidade. Todos da vizinhança possuem uma.

Welker disse...

Do inferno eles vem e pro inferno vão voltar... pra quê Spawn quando se tem uma síndica com raquete de Wii elétrica?

Borealis disse...

GOSTEI MUITO DESSE POST...

G7 disse...

é, estimado schindler, 2009 promete.

P! disse...

Que beleziiinha, agora tem post relacionados!
Pernilongos merecem morte pior.

Talita disse...

Borealis é sua síndica.

Tyler Bazz disse...

Será que você não poderia sair ganhando algo em uma aliança com a síndica contra os pernilongos???

Anônimo disse...

parabens pelo blog, e achei em uma comu do orkut e vim ver o que tinhad e interessante.

a descrição do teu perfil me fez rir
:D

ótimo 2009 pra vc

Layla Barlavento disse...

A primeira vez que ouvi falar dessas raquetes foi através de uma holandesa. Achei o maior absurdo! Depois que me mudei pra um lugar ao lado de um rio e cheio de lixo, entendi o porque da existência deles. Cara fiquei dias em dormir até achar o repelente específico! Ou você não sabe que existem pernilongos (como vcs chamam, na minha terra é morissoca) resistentes a determinados tipos de venenos?

O Lerdo disse...

Meu irmão de 5 anos já usou um negócio desses... no meu pai. Olha, ver o moleque se mijando de rir enquanto corria, e o velho imóvel pra não cometer um infanticídio foi uma cena realmente muito engraçada de se ver xD

Barlavento disse...

Eu tenho uns amigos que estão querendo organizar um Campeonato com essas raquetes, no melhor estilo Wii!!! Com direito a premiação por categoria: Melhor saque, Jogada mais bonita... enfim, se sua síndica entrar no Campeonato eu vou torcer por ela!

Otavio Cohen disse...

apareceram com uma raquete dessas lá em casa ontem ehehhe

tal qual não foi minha surpresa ao saber que não se jogava tenis com os bichos e sim esperava calmamente que eles passassem pelas duas camadas de telas eletrificadas e fechassem curto ehhe

Anônimo disse...

O meu pai tem um desses, mas eu tambem acho cruel matar os mosquitos com isso, uma solucao melhor que o meu namorado encontrou foi comprar aqueles raid que ficam ligados na tomada, o mosquito simplesmente nao entra no quarto, eh soh ligar uns 15 minutos antes de anoitecer e deixar ligado a noite inteira.

Laila disse...

"Não agüentei e virei para trás, tanto por curiosidade como por receio de que ela estivesse falando de mim."

Eu gargalhei quando li essa, embora na hora de colar aqui ela tenha parecido completamente inofensiva.

Eu soube da existência dessas raquetes mirabolantes pela tv, mas quando comecei ver as pessoas usarem descobri o lado mau que todo mundo esconde. A cara de sat5isfação das pessoas ao torturar/matar os mosquitos é impagável.

Anônimo disse...

Essas raquetes são muito sádicas. Meu pai outro dia usou para eletrocutar um besouro!! Vc tinha que ver o sorrisinho de satisfação no canto da boca dele. Foi macabro, o pobre do besouro já estava frito depois de uma 30 descargas elétricas, mas meu pai, paranoicamente, ficava dizendo: - Ele se mexeu, vc viu?!
E lá ia mais uma eletrocutada no inofensivo inseto.
Acho que as pessoas estão vivenco o que os psicólogos chamam de transferência. Compram a raquete não para matar mosquitos. Elas querem matar o chefe bossal, a mulher que enche o saco, o filho que chora o dia inteiro, a síndica mala, o técnico de futebol burro, só que não podem. Então, só nos resta eletrocutar os pobres pernilongos (no caso de meu pai, besouros). Trata-se de uma descarga emocional viabializada por meio de uma descarga elétrica. Muito interessante o comportamento do ser humano!

Anônimo disse...

Essas raquetes são muito sádicas. Meu pai outro dia usou para eletrocutar um besouro!! Vc tinha que ver o sorrisinho de satisfação no canto da boca dele. Foi macabro, o pobre do besouro já estava frito depois de uma 30 descargas elétricas, mas meu pai, paranoicamente, ficava dizendo: - Ele se mexeu, vc viu?!
E lá ia mais uma eletrocutada no inofensivo inseto.
Acho que as pessoas estão vivenco o que os psicólogos chamam de transferência. Compram a raquete não para matar mosquitos. Elas querem matar o chefe bossal, a mulher que enche o saco, o filho que chora o dia inteiro, a síndica mala, o técnico de futebol burro, só que não podem. Então, só nos resta eletrocutar os pobres pernilongos (no caso de meu pai, besouros). Trata-se de uma descarga emocional viabializada por meio de uma descarga elétrica. Muito interessante o comportamento do ser humano!

Lari Bohnenberger disse...

Ahahahahahahhahahahahaahahahahahahahahahahahahaahahahahaaahahahahahahahahahahahahahahahah!
Pobres mosquitinhos!