Eu sei que já disse isso aqui antes, mas morro de medo da minha síndica Brick Top. E esse temor vem aumentando cada vez mais. Primeiro, porque eu tenho certeza de que ela joga as pessoas que não obedecem aos regulamentos do prédio para os porcos selvagens que ela cria na sauna. Segundo, porque, de uns dias para cá, sinto que estou sendo seguido, já que aonde quer que eu vá, dou de cara com ela e aquele sorriso de mafiosa russa que ela tem.
Outro dia, por exemplo, precisei pedir para alguém resolver um problema do hall do meu andar, cujo teto estava parecendo um set de Malditas Aranhas 2. Entrei na portaria e cumprimentei o zelador:
– Oi, tudo bem?
– Tudo, e com o senhor?
Antes que eu pudesse responder, ouvi atrás de mim:
– OLÁ.
Senti um arrepio na espinha. A temperatura da guarita caiu uns 15 graus. O cheiro de morte invadiu o ambiente. Olhei para trás e dei de cara com ela.
– É... Oi.
– POSSO AJUDAR?
– Não... Na verdade... É... Tem umas aranhas lá no hall do oitavo andar... Não são muitas, são umas 30, só. Aliás, elas não estão incomodando ninguém. Estava só comentando mesmo. Bom, o papo está bom, mas...
– ARANHAS?
– É. Aranhas. Desculpe.
– VOU PEDIR PARA QUE ELAS SEJAM MORTAS.
A temperatura caiu mais cinco graus quando ela disse a palavra “mortas”. Aproveitei que ela saiu da portaria para procurar o coitado do faxineiro e passar a ordem de execução, e saí correndo dali para rua.
E isso foi apenas um exemplo. Basta eu colocar o pé no prédio que dou de cara com ela. Mas essa semana foi pior. Desde o começo do mês eu entrava no elevador e dava de cara com a convocação para a reunião de condomínio. Eu, obviamente, nem olhava a data que iria acontecer, porque não iria mesmo. Primeiro, porque se eu quisesse estreitar os laços com os meus vizinhos, eu mandava tirar a porta do meu apartamento. Segundo, porque o que decidirem ali, para mim, está bom. Terceiro, porque tenho medo dela sim, então eu duvido que diria qualquer coisa que não fosse “sim. senhora” na reunião.
Quinta-feira à noite. Fui jantar com um amigo meu e voltei para casa pouco depois das 22:00. Entrei no prédio, carregando uma garrafa de Coca. Passei pela portaria e vi um movimento no salão de festas. Vale dizer que até então eu não sabia que meu prédio tinha um salão de festas. Curioso, estiquei o pescoço pela janela e dei uma espiada.
Algumas pessoas sentadas em cadeiras, com papéis nas mãos. Reconheci uns dois moradores. Todos olhavam para um determinado ponto do salão. Arrisquei olhar naquela direção e dei de cara, obviamente, com ela, falando alguma sobre as vagas da garagem. O problema é que ela estava falando com os outros condôminos, mas os seus olhos estavam apontados diretamente para os meus, como duas lanças de gelo.
Na mesma hora me escondi atrás de uma planta e fui correndo para o elevador. Tudo o que eu queria era sumir dali antes que ela viesse tirar satisfações comigo. Coloquei o pé no hall de entrada. O elevador estava no 14º andar. O último. Apertei o botão e fiquei esperando, sentindo o pânico crescer a cada segundo.
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Comecei a ouvir vozes. As pessoas estavam saindo do salão de festas. A reunião tinha acabado. Isso significava que ELA estava saindo do salão de festas. Comecei a apertar o botão com força. Eu sei que isso não funciona, mas o medo falou mais alto. Comecei a forçar a porta do elevador. Caso ela abrisse, eu me jogaria no fosso e acabaria logo com tudo. Pelo menos seria mais limpo.
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As vozes começaram a ficar mais altas. Comecei a me preparar para, a qualquer momento ouvir, atrás de mim, a frase “VOCÊ NÃO COMPARECEU À REUNIÃO DE CONDOMÍNIO” com o mesmo calor e afeto de uma lápide. Pelo volume dos sons, as pessoas estavam quase na porta do hall. E eu ali, indefeso, armado somente com a minha garrafa de Coca Zero. Merda de elevador!
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Parou! Parou no segundo andar! Filha da puta! Solta essa merda! Comecei a chacoalhar a porta do elevador
1.
T.
Abri a porta do elevador. Estava vazio. Ou seja, parou no segundo andar de sacanagem mesmo, só para me complicar. Entrei correndo, mas antes que eu conseguisse fechar a porta, ouvi alguém gritar do hall:
– Segure o elevador!
Bom, era um tom de voz humano. Não parecia ser a síndica. Segurei a porta e coloquei um olho (e nada mais que isso) para fora do elevador. Era uma mulher de uns 40 anos que eu nunca vi na vida.
– Eu vou subir também!
Abri a porta do elevador. Ela entrou e apertou o botão para o quinto andar. Eu apertei o 8 e encostei na parede. Qualquer movimento em falso, eu racharia a cabeça dela com a garrafa de Coca. Ela se virou para mim:
– Você não foi à reunião?
– Não eu sou jornalista trabalho até mais tarde gostaria muito de ter ido mas não consegui mas juro que não foi por culpa minha e prometo que na próxima eu vou de qualquer jeito porque sempre quis participar disso porque acho que é importante.
– Quê?
– É... Não. Não fui.
– Ah, não perdeu nada. Foi chata.
Ela está me testando. Só pode ser isso. Deve ser uma emissária da síndica. Os tentáculos dessa psicopata estão se alastrando pelo prédio! Se eu concordar com o que ela disse, o piso do elevador vai se abrir e eu vou ser jogado no fosso. Provavelmente, os porcos estão lá embaixo hoje. Ela continuou me olhando. Está me analisando, tenho certeza. Está observando minhas reações para descobrir a minha opinião sobre as reuniões. Maldita!
Comecei a entrar em pânico novamente. Não sei mais quanto tempo eu agüentaria essa situação. Mas, do pânico, veio a coragem. A vontade e o ímpeto de resolver isso de uma vez por todas. Tenho que ser homem e dizer, de uma vez por todas, que não vou à reunião de jeito nenhum. Tenho que segurar essa mulher pelo colarinho e dizer que “pode avisar sua chefe que essas reuniões são um saco, eu não vou mesmo e se ela quiser me jogar aos porcos, não estou nem aí. Morro, mas não abro mão das minhas convicções!”.
– Choveu bastante hoje à tarde, não?, foi tudo o que eu consegui dizer.
– Choveu. Ah, o meu andar. Boa noite.
– Boa noite.
E subi sozinho até o oitavo andar. Esperando, a qualquer minuto que o piso se abrisse, que o elevador fosse explodido ou que eu começasse a sentir cheiro de gás vindo da tubulação. Nada. Quando o elevador chegou ao oitavo andar, abri a porta com violência usando o pé, temendo que ela estivesse no hall me esperando com uma faca. Nada.
Entrei no apartamento correndo e tranquei a porta, aliviado. Besta-fera dormia e Jonas (se você é novo aqui, Jonas é o fantasma que subloca meu apartamento) estava deitado no sofá, vendo futebol. Á sua frente, uma caixa de bombons. Vazia.
– Você foi à reunião de condomínio?, ele perguntou.
– Óbvio que não. Eu estava trabalhando.
– Ah.
Não foi um “ah” qualquer. Foi um “ah, você tem medo dela, esqueci”. Ignorei o comentário e fui jantar. Enquanto esquentava a lasanha, pensei no (a) meu (inha) vizinho (a) Jasmim. Ele (a) se mudou semana passada do prédio. Seu apartamento está vazio. O interessante é que ninguém o (a) viu saindo do prédio. Nenhum dos porteiros. Ninguém. Seus móveis não estão ali, mas ninguém viu um caminhão de mudanças. Ninguém viu nada, ninguém sabe de nada. E os porcos ali, na sauna.
Eu sei que não chego mais perto da sauna de jeito algum – os barulhos que vêm lá de dentro são assustadores – e não coloco mais os pés na garagem do prédio. E, na próxima reunião de condomínio, vou pedir folga do trabalho e chegar umas 3 horas antes.
E vocês já sabem: se eu ficar muito tempo sem postar é porque deu merda. Mandem a polícia procurar pelos meus restos na sauna.
Em tempo, deixo vocês com uma pequena homenagem a minha síndica, numa tarefa quase impossível para mim: o Top 5 filmes modernos de máfia:
1. O Poderoso Chefão – a trilogia inteira. Obra-prima. Revejo (e releio o livro) pelo menos uma vez por ano. Sim, eu sei que o III é mais fraco, mas ainda assim, sou mais um Poderoso Chefão fraco que o melhor filme do Chuck Norris. Meu preferido? Difícil dizer, mas fico com o primeiro. Apesar de achar o II muito mais filme.
2. Era uma Vez na América – na verdade, ele só perde para o Chefão porque são três filmes contra um, é covardia. E também porque não é um filme para qualquer pessoa. Mas também é um daqueles obrigatórios, que todo vertebrado tem que ter em casa.
3. Os Bons Companheiros – O Poderoso Chefão do Scorsese. Lembro que na primeira vez que assisti ao filme, quando Ray Liotta fala, logo no comecinho: “As far as i can remember, I always want to be a gangster”, eu respondi em voz alta: “porra, eu também!”. Foi amor à primeira vista. E até hoje tenho medo do Joe Pesci no filme.
4. O Pagamento Final – Sei que não é exatamente sobre máfia (é mais sobre tráfico), mas tem Pacino. E Pacino consegue deixar até mesmo Aristogatas com cara de filme de máfia.
5. Os Intocáveis – O que é o De Niro, gordo feito uma porca, fazendo Al Capone? O que é aquela cena do taco de baseball? O que é aquela cena da escadaria? De Palma, você está devendo um filmaço como esse há anos.
20 comentários:
Hilário!!!!
A parte que eu mais ri foi imaginar o Pacino cantarolando em Aristogatas. Nem lembrava que esse filme existia.
Não sei como 'Máfia no Divã' ficou fora do top, mas vou deixar passar... AUHAuhAUHauhAUHUHaA
E "Não são muitas, são umas 30, só." foi demaaaaais..
Entreguei essa semana lá na faculdade a minha requisição de estágio.. sobre o Poderoso Chefão \o/
o/
Eu imagino essa mulher na casa dos 60, baixinha, magra e com as sobrancelhas mais arqueadas que as do Jader Barbalho.
Ah. Mora sozinha? Tem 3 filhos, todos homens e já adultos, que às vezes aparecem aí no prédio, com um olhar de pavor? É amiga de outra mulher da mesma idade, que também mora no prédio, mas que, ao contrário dela, é uma songa-monga?
Mora no 71? (Hehe ignore essa!)
Comecei a ler o blog nos posts anteriores do supermercado e gostei muito!
Minha síndica também é assassina e sempre encontro com ela pelo prédio também!
Tenho uma teoria de que os síndicos de prédios são as pessoas mais vagabundas do mundo!
Abraço!
Ainda bem que não moro mais emprédio,os sinicos davam medo mesmo
bjs
Oi, Rob!
Muito divertida a sua história!
Depois que terminei de lê-la, imaginei a síndica fritanto as aracnídeas do teto do hall do seu andar e salpicando-as sobre um lustroso iaquissôba, o qual ela comeu ruminantemente pensando: "Não foi dessa vez que o peguei... Ainda!". :oD
Voltarei aqui em breve.
Abraços!
João Eduardo
MEDO. Se eu fosse você, contratava uns seguranças ou exterminava os porcos enquanto ela está no supermercado fazendo as compras do mês!
Nossa, consegui imaginar alguém pior que minha professora de ciências da oitava série. Puts, aquela mulher me dava medo!!
Engraçado que eu não me contento só com as tuas postagens, eu sempre tenho que ler os comentários também... Vai ter "comentaristas" tão bons assim lá no Pão de Açucar!
rsrs
ninguém poderia escolher 5 filmes mais representativos eheh..
Curti bastante, mas...
Vc jantou 2 vezes???
Eu tinha uma síndica dessas no meu prédio de infância. Imagina uma criança? Fugia dela feito uma louca! Ainda bem que saí de lá antes que ela concretizasse o seu plano de acabar com a raça de todos os condôminos. Porque eu tenho certeza de que o plano dela era esse!
Bjs!
GENIAL!!!! hauahauaahauahuaa
aristogatas é MUITO legal
:)
"todo mundo quer a vida que um gato tem"
O síndico do meu prédio é um banana.
Seria legal ter uma mafiosa russa por lá para colocar uns vizinhos babacas nos eixos.
Eu nem fico em casa mesmo, não faria diferença ^_^
Mas, por via das dúvidas, recomendo que você evite ficar sozinho na presença dela por alguns meses.
Beijão
Sil
Cara. seu blog é muito bom. me recomendaram ele ontem (enqto eu tava no shopping almoçando um mc Donalds). ow...mto bom mesmo...fico até com vergonha do meu blog existir..rsrs
Abraço!
Pô!Mó mancada o elevador ter parado no segundo andar!
(Belo ponto do post para eu ter comentado,não?Hahaha...mas é que elevadores são essencialmente sacanas.Não que a sua síndica não seja...mas creio que isso já está mais do que esclarecido).
Parabéns pelo blog!
Vi no perfil da comunidade do Blogger Brasil.
Boa semana!
o/
Cara, tu é bom :)
Parabéns, voltando a velha forma nos posts.
Fala o bairro onde você mora, para eu nunca passar por aí. Deu medo..
E poderoso chefão é foda.. tenho duas edições (ganhadas) e já li várias vezes. Apesar de dizerem que os filmes são bons, nunca assisti com medo de estragar a visão que eu tenho da história.
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