Avenida Paulista, dia 1º de outubro, 7:30 da manhã. Esta foi a hora que cheguei para entrar na fila que começava a se formar na porta da Fnac, com o objetivo de comprar o ingresso do show do AC/DC. Saí de lá por volta das 11:00 da manhã (para quem não sabe, a loja abre apenas as 10:00), com o ingresso na mão.
Mas, mais que isso, saí de lá a um passo de fechar um ciclo na minha vida. Com o show do AC/DC, eu finalmente zero a lista de todas as bandas de rock que eu preciso ver ao vivo, antes de morrer.
Não estou falando aqui de shows que eu gostaria de ver. Existem toneladas de bandas e cantores que eu quero ver e ainda não tive oportunidade (Megadeth, Motorhead e o próprio Faith No More, que irá tocar em breve aqui, mas que eu abri mão em nome do AC/DC), ou de bandas que eu sempre quis ver e já consegui (Aerosmith, Whitesnake, Dio, Deep Purple).
Estou me referindo a uma seleta lista de shows que eu preciso ver. É outro patamar. Não são bandas que apenas admiro o som, mas sim que possuem enorme importância dentro da minha vida. São artistas e músicas que estão diretamente ligados à minha história. Afinal, suas músicas me acompanharam ao longo da vida inteira, em fases boas ou ruins (deles ou minhas).
Amigos foram e vieram, namoros começaram e terminaram. Apanhei muito, bati muito, conquistei uma coisa aqui, outra ali. Aprendi demais. Deixei de ser moleque e me tornei homem. Aprendi a ter responsabilidades em alguns aspectos – e, naqueles que eu (ainda) não aprendi, aprendi ao menos a me preocupar com isso.
Isso tudo não aconteceu da noite para o dia, mas sim lentamente, ao longo de anos. E estas canções sempre estiveram ao meu lado, nestes momentos.
Daí a importância de assistir a esses shows. Há muito tempo estes artistas deixaram de ser músicos que admiro e se tornaram amigos de anos. Existem bandas que eu preciso ir ao show não apenas por causa das músicas, mas para ver que aquelas pessoas – que me ensinaram tanto sobre a vida, especialmente em momentos onde eu precisava desesperadamente aprender algo – existem de verdade.
E, nestes shows, sou egoísta a ponto de achar que eles não estão tocando para uma platéia de dezenas de milhares de pessoas. Não, eles estão tocando para mim. Se você entendeu esta frase, você é parecido comigo. Se não entendeu isso de primeira, não tente: ela é absurdamente irracional – algumas verdades são.
Como qualquer leitor deste blog sabe, à frente desta lista está o Iron Maiden – não é coincidência que é a banda que eu mais vi ao vivo: (no longínquo) 1992, 2005 e 2008. Mas também há o Metallica (1994); Alice Cooper (2007), Judas Priest (2006) e Ozzy Osbourne (2008). Agora, com Kiss – no primeiro semestre deste ano – e AC/DC, eu fecho a lista.
Na verdade, o Guns estaria na lista também, mas infelizmente a banda acabou – ao menos, da forma que ela era importante para mim – então não conta.
Sim, todos eles têm os pés no heavy metal e no hard rock. Não adianta, estes são os MEUS gêneros musicais. Existem momentos nos quais me afasto deles, claro: há momentos da minha vida que eu mergulho, por exemplo, em Beethoven, e passo o dia inteiro escutando todas as nove sinfonias; às vezes, mergulho em blues e fico ouvindo Muddy Waters da hora em que acordo até ir dormir.
Mas, invariavelmente, eu sempre volto para o heavy metal.
É onde me sinto em casa. Não é questão de ser melhor ou pior que os outros gêneros, é pessoal. Agora mesmo estou numa fase Beatles, devido aos lançamentos das edições remasterizadas, e continuo achando A Day in the Life a música mais perfeita da história do rock. E, como acontece toda vez que eu estou numa fase Beatles, daqui a pouco eu descambo para o rock clássico em geral. Cream, Rolling Stones, Creedence, David Bowie... Pelas próximas semanas, só vou escutar isso. Eu me conheço.
Mas, em algum momento, eu vou sentir falta do heavy metal e vou colocar um CD do Iron Maiden para tocar, ou um DVD do Metallica. E logo nos primeiros acordes me virá aquela sensação de colocar os pés na sala da sua casa, após ficar semanas viajando. Ali é o meu canto. as minhas músicas não são melhores ou piores que as outras músicas. São minhas.
Isso porque o heavy metal está na minha vida desde os 14 anos. Às vezes mais próximo, às vezes mais distante, mas sempre esteve ali. É o som que me dá paz, que me tranqüiliza. Isso pode parecer uma incongruência dado o peso da música – meu irmão até hoje não entende como uma pessoa conseguia colocar Master of Puppets, do Metallica, no som do quarto, para dormir – mas tem apenas uma explicação. É o tipo de som que me faz feliz.
E não aquela felicidade que se confunde com saudosismo. Eu não ouço Iron Maiden para me sentir com 14 anos. Claro que um pouco desta sensação sempre aparece, mas o processo é diferente. Eu era uma pessoa em 1989; hoje, vinte anos depois, sou outra, bastante diferente. Mas as músicas continuam fazendo sentindo para mim. Ou seja, elas caminham comigo.
Não faço idéia de como ou onde estarei vivendo em 2029. Provavelmente, já terei filhos – e, como brinco às vezes com a Sra. Gordon, eles, em alguns momentos da infância, vão ter morrido de vontade de colocar as mãos nos “cds de caveira do papai” – e eles terão a liberdade de ouvir a música que quiserem, desde que faça bem para eles.
Claro que eu detestaria ter um filho que adora sertanejo, mas, se ele gostar disso, o que eu posso fazer? A coisa mais pesada que meu pai sempre ouviu é Maria Bethânia, mas, entre um “abaixa esta merda!” aqui e outro ali, sempre tive a liberdade de escolher do que eu gosto. E pretendo fazer o mesmo.
Mas, da mesma forma que meu filho terá liberdade para escolher quais as suas músicas (o que pode gerar alguns “abaixa esta merda!” da minha parte, já que será o meu direito de pai), eu continuarei ouvindo as minhas músicas. Porque, como eu disse, não faço idéia da pessoa que serei em 2029.
Mas sei que minhas músicas (e meus livros e filmes) estarão lá comigo. E ainda estarão me ensinando muito.
23 comentários:
Cara, eu sei exatamente como é essa sensação. É uma coisa que muitas vezes eu chamo de orgásmica, por falta de uma palavra melhor. O metal me complementa de uma forma indescritível, de ouvir e pensar: Aqueles caras me entendem melhor que ninguém.
Minha única tristeza em relação a isso é ser novo demais pra ter visto Cliff Burton ao vivo.
Adorei esse post cara, me identifiquei em cada linha. Parabéns pelo ótimo blog... xD
"A coisa mais pesada que meu pai sempre ouviu é Maria Bethânia"
Hahahahaha, ri muito!
Bom show! ;-)
Isso ae cara! Rock está no sangue, passa de pai pra filho. Meu pai passou pra mim, só a minha mãe que não curte.
Ainda estou na correria atrás do meu ingresso do AC/DC e, como em todos os shows que eu fui, minha mãe tá enchendo o saco, falando que eu vou morrer pisoteado... uhauha
Mas se con seguirmos o ingresso em novembro to lá, eu e meu pai.
não faço idéia da pessoa que serei em 2009? Foi proposital? haha
Putz, Fernanda, que bobagem a minha. 2029. Já tá arrumado!
Valeu!!
Nossa, li o post o tempo todo concordando com a cabeça...
Depois do show do ac/dc, acho q ja posso morrer feliz...
"Thunder! Aha-aha-ha-ah-ah-ah-ah"
Cara... sinceramente?
Obrigado por me fazer gostar de Rock, quer dizer, eu já gostava, mas não dessa forma de hoje, hoje eu sou viciado.
Eu não consegui comprar o ingresso pro show do AC/DC, to na expectativa de alguem desistir, mas isso não vem ao caso, o que vem é que se não fosse pelo Champ e pelo que você escreve nele, hoje, eu diria a meu amigo que comprou o ingresso o seguinte:
- Cara... você é um animal... não acredito que você gastou 150 conto num ingresso do show do AC/DC, lá em São Paulo ainda!! puta que pariu... vai ser imbecil assim lá longe...
Depois do Champ e do Rob, hoje eu digo:
-Cara, eu vou dar um jeito, nem que eu tenha que roubar alguém, eu vou conseguir esse ingresso!! Você não vai sozinho nem fudendo!!!!
Metallica foi meu divisor de águas.Depois que escutei o Black Album minha vida nunca mais foi a mesma.
Viva ao Metal!Que seja eterno!
é confortante saber que mais alguém gostava de ouvir Metallica pra dormir :-) eu ja' estava preocupado hehehe
Olha so', eu vi o AC/DC esse ano e se os caras repetirem a performance deles eu garanto que você não vai se arrepender!!
Abraços!
E eu achava que era o único ser humano que botava o Master of Puppets pra ajudar a dormir...
Pronto, apareceu mais um.
Pois é... Como eu já te disse minha paixão mesmo é por música e portanto, embora o rock e suas vertentes me falem mais alto, meu gosto não é tão especializado assim.
Mas eu entendo perfeitamente o que você quer dizer. É como aquela história do David Gilmour no restaurante, que você me contou. É como se nós e esses caras nos conhecessemos intimamente há tempos.
Parabéns pela conquista do ingresso prometido.
Minha mãe também não me entende, não coloco Metallica, mas coloco Black Sabbath com muita freqüência.
É cara... gostar de "coisas boas" tem a vantagem de que sempre serão boas, independente de gosto! Agora que eu tenho um bebê fico pensando nisso! Não gosto quase nada de Caetano Veloso, mas tenho um carinho especial por algumas musicas, pois me lembro bem de ouvi-las quando pequeno. Espero que no mínimo a Laís tenha lembranças desse tipo.... ou que venha me mostrar o último cd (ou seja lá que mídia for) da banda XYZ. E eu vou fazer cara feia ao olhar pra eles, mas que ao ouvir vou saber que "tem coisa nesse som", assim como metalica, iron, black sabbath......
PS: espero que ainda apareçam bandas com "coisa"! (saudosista desesperançoso mode: on)
Que bonito!!!
Eu colocava o Master of Puppets pra dormir... rs
me identifiquei, pronto! muito do que vc diz aqui nesse post, é exatamente como me sinto em relação ao rock, à musica e aos shows. ultimamente, faz tempo que nao consigo ir a show algum (poooobre), mas vou tentar ir no AC/DC, pq vale MUITO a pena.
mas fiquei com vontade de fazer uma listinha comparativa à sua, dos shows que PRECISO ou precisava ver antes de morrer:
- AC/DC (já vi, tentarei ver de novo)
- Deep Purple (já vi, 2x, inclusive, uma delas foi um ensaio geral, e foi praticamente só PRA MIM mesmo)
- Metallica (já vi, PRECISO ver de novo)
- Aerosmith (idem)
- Kiss (idem)
- Iron (idem)
- Whitesnake (já vi, será que verei de novo?)
- Guns n´Roses (eu viiiiiii!!!!! lálálálá)
- Van Halen (esse eu roubaria alguem pra ir, como alguem comentou aí em cima)
cara, houve uma epoca MUITO boa de shows por aqui né? e eu fui praticamente em tudo, era bom demais, nao custava os culhões do buda jovem e eu tinha pique pra ir. agora tá dificil né? mas com certeza, seguirei tentando...
Esse seu post eu tive que ler, digerir, dar um tempo e, daí, escrever um comentário. Eu entendo perfeitamente o significado de "E, nestes shows, sou egoísta a ponto de achar que eles não estão tocando para uma platéia de dezenas de milhares de pessoas. Não, eles estão tocando para mim. "
No meu caso, a coisa acontece mais com o rock clássico do que com o heavy metal. Para você morrer de inveja: fui no show do Faith No More em 1991 (detalhe: eu tinha 14 anos) e fui no show do AC/DC em 1996. Fora Roger Waters, que era um grande sonho desde 1993, apesar de não ser o Pink Floyd, Deep Purple, Sisters of Mercy, Ramones, entre tantos outros que fui e que foram inesquecíveis. Para mim, estar em um show de uma banda que eu curta muito é o máximo de adrenalina que eu posso chegar. E olha que já tive meus momentos de alpinista quando era mais nova. Sou daquelas pessoas que realmente fica arrepiada só de ver um vídeo no You Tube de um show que está por vir, ou dos meus olhos se encherem de lágrimas como aconteceu ouvindo Perfect Strangers no show do Deep Purple. No meu caso, a minha lista de shows que eu precisaria ver antes de morrer é totalmente impossível já que a maioria dos Beatles morreu, o Jim Morrison também e o Bowie provavelmente não irá mais pisar em um palco(esse eu tenho um pingo de esperança de um milagre).
E, sim, estarei no show do Faith No More 18 (!) anos depois e, sim, estarei no show do AC/DC 12 anos depois. Com os ingressos na mão e morrendo de ansiedade!
Já que escrevi super pouco no comentário acima, vou fazer um adendo super importante que eu esqueci! Conheci meu marido no Hollywood Rock de 1992! No dia as bandas principais eram Red Hot Chili Peppers e Alice in Chains. Ainda fui no dia seguinte nos shows do Nirvana e L7. Foi animal, apesar do show do nirvana ter sido péssimo!
"É o tipo de som que me faz feliz."
Amém.
Ai que invejinha. Eu não consegui ingresso. Mas dá nada. Ainda me sinto muito bem colocando um CD deles pra ouvir.
Entendo perfeitamente aquilo de sentir como se a banda estivesse tocando só pra mim. Faz parte da vida da gente, querendo ou não, há sempre uma música que nos lembra momentos, sejam eles felizes ou não. E AC/DC foi a maior descoberta que fiz sozinha, sem nenhuma influência de irmão, primos ou amigos, na adolescência. Me orgulho de ter ido atrás sozinha deste som e de ter acertado em cheio. Pra mim é a melhor banda do mundo inteiro.
Outra banda que eu gostaria muito de ver ao vivo, como você, é o Guns de antigamente, formação clássica, com músicas mais clássicas ainda, pena que isso não existe mais. E acho sinceramente que nunca existira de novo.
O que posso desejar a ti é que seja o melhor show da tua vida, que curta o som de Malcolm, Angus, Brian, Cliff e Phil como se sim, eles realmente tivessem tocando só pra você naquela noite.
Encerro este comentário com a frase clássica: "For those about to rock, I salute you!"
Faith No More, nossa, o Angel Dust é um pedaço de mim, tem que estar comigo a todo momento.
Led Zeppelin tbm faz parte das clássicas, metallica, noooossa
! Alice in Chains? 10 a Zero no nirvana, que por sinal eu nem gosto...
Sei como é isso, não importa o que aconteça, ou quanto tempo passe, a música deles vai sempre fazer parte de nós ...
(ah, morrendo de inveja da sua oportunidade de ir nos shows, além de morar longe, só tenho 16 anos, pena :\)
Postar um comentário