15 de junho de 2007

School's Out Forever!

– Tenha um bom espetáculo, senhor.

Foi isso que ouvi do segurança na porta do Credicard Hall quando entreguei meu ingresso para o show do Alice Cooper. Olhei meio torto para ele e sorri sem graça. Precisava me chamar de senhor? A última coisa que eu gostaria de me lembrar, minutos antes de assistir a um show de rock, é que estou ficando velho. Mas o pior foi “espetáculo”. É o cúmulo da formalidade. Ninguém vai a um “espetáculo de rock”, as pessoas vão a “shows de rock”. Enfim, paciência. Agradeci ao segurança e entrei no Credicard Hall.

Eram poucos minutos depois das 21:00 e o lugar não estava vazio, mas estava longe de estar lotado como deveria. Tudo porque uma confusão com as datas em outros países da América Latina empurrou o show de São Paulo, que deveria acontecer no dia 3, para o dia dos namorados. Isso, mais o fato de divulgarem o show com a mesma grandiosidade utilizada para divulgar a inauguração de uma nova pastelaria no bairro (eu vi anúncios em alguns jornais e me falaram que teve algo em uma ou outra rádio, mas foi só isso) fez com que muita gente nem soubesse que Alice Cooper iria se apresentar no Brasil.

E isso porque estamos falando “apenas” de uma das maiores lendas da história do rock. Sim, o termo lenda cabe perfeitamente aqui, sem exageros. Na ativa desde o final dos anos 60, fazendo sucesso desde os anos 70, Alice Cooper é um dos pilares do hard rock e o inventor do horror rock, com shows performáticos, influenciando tanto artistas de ontem (Kiss, King Diamond) como de hoje (Marylin Manson).

Além disso, ele é um dos poucos roqueiros que realmente interpreta a música ao invés de simplesmente cantá-la, e é um letrista de mão cheia, passeando por qualquer assunto possível, do romance (You and Me) à rebeldia bem humorada (School’s Out) e da crítica social (Brutal Planet) ao terror (Welcome to My Nightmare), sempre com a mesma qualidade. Chegou, inclusive, a compor uma música (Gutter Cat vs. The Jets) baseada no filme Amor Sublime Amor, filme que o pessoal do The Killers nunca deve ter nem ouvido falar.

De quebra, o sujeito, mesmo com 59 anos, continua absolutamente em forma – física e vocalmente. Basta pegar seus DVDs mais recentes, como Brutally Live e Live at Montreaux parta ver que sua energia ao subir no palco o transforma num menino de 20 anos. Justamente por isso, todo mundo que estava no Credicard Hall – desde tios que conheceram Alice Cooper nos anos 70 até a molecada que optou por ouvir música boa ao invés das bobagens que tocam no rádio – tinham altas expectativas.

Eu? Digamos que as minhas expectativas eram as maiores possíveis, já que sempre fui fã do sujeito, e passei anos sonhando em poder assistir a um de seus shows.

E, pouco depois das 22:00, quando as luzes se apagaram e Alice Cooper entrou no palco (após assassinar sua imitação atrás da cortina), ele mostrou que o seu grande trunfo como artista não é a potência de sua voz ou as letras e arranjos de suas músicas. O que torna Alice Cooper um mito é a sua presença de palco.

Sim, se o dicionário fosse ilustrado, provavelmente teria uma foto dele ao lado do verbete “carisma”. Você simplesmente não consegue tirar os olhos dele, desde a primeira música (It’s Hot Tonight, que apenas os fãs mais apaixonados conhecem) até a primeira enxurrada de clássicos. E dá-lhe No More Mr. Nice Guy, Under my Wheels e I’m Eighteen, praticamente emendadas uma na outra.

Tudo isso com apenas 15 minutos de show. Ao final de I’m Eighteen, minha vontade era sair do Credicard Hall e comprar outro ingresso, provavelmente o que eu tinha pago já tinha sido gasto ali. Quatro músicas e a frase “Deus no céu e Alice Cooper num palco” não saía da minha cabeça.

E, sem dó nem piedade, ele continua sua apresentação, com as costumeiras trocas de roupas, e alternando sons novos (Woman of Mass Distraction), relativamente novos (Lost in America) e, obviamente mais clássicos (Muscle of Love, Halo of Flies e Desperado). Todas elas em versões muito mais pesadas que as de estúdio, também por causa da presença do baterista Eric Singer, um dos melhores que já passou pelo Kiss. Em estúdio, Alice Cooper é hard rock puro; já ao vivo, suas músicas têm um pé (em alguns casos, os dois pés) no heavy metal. E sem frescuras, sem arranjos magníficos e virtuosos, nada disso. As canções de Alice Cooper têm sobrando algo que falta no rock de hoje: culhões.

E, independente de todas essas qualidades, você simplesmente não consegue tirar os olhos do sujeito no palco. E ninguém imaginava que o show iria começar de verdade somente com somente quase uma hora depois que ele subisse no palco, quando começaram a tocar os primeiros acordes de Welcome to My Nightmare.

Esta é a deixa para que o show assuma totalmente seu lado teatral, que consagrou Alice através das décadas. Num medley aproveitando principalmente músicas do álbum Welcome to My Nightmare (além da faixa título, tocam Only Women Bleed, Cold Ethyl e (a apavorante) Steven), Cooper encena no palco a história de um homem que após assassinar um bebê é jogado num manicômio e, posteriormente, à morte por enforcamento. E isso com os trechos de músicas emendados um no outro, sem descanso.

Curiosamente, as representações de Alice Cooper que eu conheço de alguns DVDs ganham um tom divertido, até mesmo escrachado. Ao vivo, não. Ali, na sua frente, a coisa toda ganha contornos assustadores, que fariam os roteiristas de qualquer filme da série Sexta-Feira 13 decidir mudar de ramo. Terror (no melhor sentido que essa palavra pode assumir) puro. A névoa no palco, o jogo de luzes, os carrascos, Cooper cantando preso numa camisa-de-força e o final, com a forca indo embora do palco – após o cantor ser executado na frente de todos – e a banda cantando I Love the Dead.

Se você está lendo isso sem ver o show, pode parecer cafonice, mas acredite: é (muito) mais assustador que você imagina.

Mas claro que ele retorna à vida e volta ao palco, destruindo tudo com o hino School’s Out (que toca em 10 de 10 filmes americanos que mostram o último dia de aula) e encerrando o show. Encerrando? Nada. Ele ainda volta ao palco para o bis, com Billion Dollar Babies, Poison (o seu último grande hit a explodir em rádios) e encerra a noite com a deliciosa Elected, na qual pessoas entram no palco com placas pedindo votos a Cooper, enquanto ele faz promessas de campanha e apresenta os integrantes da banda, deixando, obviamente, seu nome para o final:

– And the next president of Brazil... Alice Cooper!!!

Ou seja, chupa Lula mode: on. Afinal, quando as luzes se acenderam, minha vontade era ir à urna mais próxima e votar quantas vezes fosse preciso no sujeito. E, indo embora do Credicard Hall, ainda em transe pelo que eu havia visto, lembrei do segurança que me recebeu na entrada e percebi que ele tinha razão.

Eu não havia acabado de assistir a um show. Eu havia assistido a um espetáculo.

"Para uma época com problemas, vote num homem com problemas"

E encerro aqui com 5 Músicas que Alice Cooper PODERIA ter tocado:
1. You and Me – nem adianta eu explicar, é por motivos pessoais.
2. Brutal Planet – De todas as suas canções de 2000 para cá, é a minha preferida.
3. How You Gonna See Me Now – que come Mama I’m Coming Home, do Ozzy, com farinha
4. Hey Stoopid! – Afinal, é a música mais famosa do primeiro disco dele que eu comprei
5. Gutter Cat vs.The Jets – Se é impressionante em estúdio, imagine o estrago que ela não faria ao vivo.

9 comentários:

Anônimo disse...

E juro que pretendo cantar School's Out ainda esse ano. Se meus amiguinhos revolucionários permitirem.

E juro que ainda vejo um show desse com alguém especial, e enforco de verdade o Cooper se ele não cantar You & Me. Esse show não deu, tava com meu namorado...

:)

Rob, já que você me pediu opinião (e isso é raro vindo de você, 'gracinha'), dou com alegria: quando eu acho que não tem mais como vc melhorar, vc me surpreende. Gosto MUITO dos teus textos mais 'técnicos'.

Anônimo disse...

Até q enfim! =)
desde terça feira eu entro aqui tds os dias imaginando "será q ele foi no Alice Cooper???"
nossa... q puta show q eu perdi... nao acredito!!!
a confusão com as datas me impediram de ir... =(
isso q dá estudar no interior ¬¬

Anônimo disse...

Eu não sabia que o show da Gretchen tinha sido tão bom... :-D

Climão Tahiti disse...

E vejo realmente que a mídia quer matar o Rock.

Só soube que ele tocou no Brasil lendo SEU blog. Não havia lido menção qualquer em qualquer lugar, e olha que sou viciado em passear por blogs e por orkuts...

Q merda, mais um que perco tocar =/

Climão Tahiti disse...

Ah, esqueci de perguntar: levou carolinas pra comer no show?

Wagner disse...

putz, Alice Cooper é fodástico! Sempre lembro dele no filme Wayne World (Que traduziram para o péssimo "Quanto Mais Idiota, Melhor").

O cara realmente é uma lenda viva! Fique chateado por não ter grana suficiente para ir ao show dele...

Mariliza Silva disse...

Querido amigo blogueiro

O endereço do meu blog mudou: Favor atualizá-lo. Só o nome mudou, mas eu continuo a mesma!rsrsrs

http://tempodesaturno.blogspot.com

Beijão e depois volto para te curtir mais
Mariliza

P.S.: ESPECIAL PARA O CHAMPS - NÃO CONSIGO ENTRAR AQUI SÓ PRA DEIXAR UMA MALA DIRETA, SEM TE DEIXAR UM GRANDE ABRAÇO DE SUA ETERNA FÃ!

Unknown disse...

Muito bom isso aqui! Ou melhor: "Está um espetáculo isso, meu senhor!"
Caso queira visitar meu blog: www.manualdocanalha.weblogger.com.br

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog, pelo bom gosto e pela criatividade.Gostaria de convidá-lo a trocar links comigo, também adoro cinema, música e afins...qualquer coisa é só dar um toque.

grande abraço.