11 de maio de 2009

Virada... Cultural? - Parte Final

(leia a parte II aqui)

Conformados em não poder assistir aos filmes, ficamos na porta do cinema, decidindo o que fazer (sempre é bom lembrar: tudo isso, ao som do Ovelha, que continuava seu maior espetáculo da Terra em cima do seu carro). Nossas opções eram: 1) voltar para casa, ou 2) arriscar dar uma volta pelas imediações para, ao menos, tomar um café e não perder a viagem.

Enquanto pesávamos os prós e os contras de cada um, vi, com o canto do olho (sim, quando isso aconteceu, eu ainda tinha dois olhos) alguém se aproximando de mim pela minha direita. Olho para o lado e vejo, encostado num pilar e a cerca de meio metro deste que vos escreve, aquele mesmo sujeito de cerca de 50 anos que ameaçou falar conosco dentro do saguão (você leu a parte 2 do post, certo?), desta vez acompanhado de um amigo.

Em sua confortável cadeira com forro de veludo vinho, o Destino inclinou-se para frente, com o objetivo de prestar mais atenção no que iria acontecer. Seus olhos faiscavam de ansiedade.

– Temcadolatrodocinequefissada!, disse o sujeito diretamente para mim, com uma voz que, numa prova de masculinidade, tiraria no máximo 2.

Como não entendi absolutamente nada – e achei que poderia ser algo importante, o sujeito poderia estar perdido – fiz a cagada homérica de perguntar “o quê?”.

Ele repetiu, desta vez mais alto e pausadamente, o que fez a nota de masculinidade cair de 2 para 0,5.

– Tem cada rola dentro do cinema que eu fiquei PAS-SA-DA!!!!

Falou isso e ficou parado ali, me olhando e sorrindo.

Ok. Quem me conhece sabe que eu tenho o péssimo hábito de ter resposta para tudo, mas desta vez confesso que fiquei sem ação. Mas admito que diversos pensamentos passaram pela minha cabeça. Sendo assim, abrirei uma exceção e colocarei, no meio do post, o Top 5 respostas Que eu Quase Dei:

1. “Só por curiosidade, o que fez com que eu, careca, gordinho, baixinho e mal barbeado, me tornasse alvo de todo esse desejo e volúpia?”- Mas mudei de idéia, porque ele poderia achar que eu estivesse apenas bancando o difícil.

2. “Por que você não aproveita a Virada Cultural para virar homem?” - Mas mudei de idéia, porque ia dar pau (no sentido de briga, bem entendido)

3. “Você sabe que, nos filmes de zumbi que estão passando aí dentro, quando os mortos vivos comem suas vítimas, isso não tem conotação sexual, certo?” - Mas mudei de idéia, era complexo demais

4. “Você realmente consegue copular com alguém como resultado de uma abordagem dessas?” – Mas mudei de idéia, porque ele poderia achar que eu estava disposto a lhe dar a chance de uma nova abordagem.

5. “Isso é uma brincadeira sua, certo? Você, na verdade, faz parte do show do Ovelha, certo”? – Mas mudei de idéia, porque seria perda de tempo. Era óbvio que ele não estava brincando.

Na verdade, alguns destes pensamentos não chegaram nem a se concretizar no meu cérebro. Eles apenas colocaram a cabeça para fora das janelas para ver o que estava acontecendo e, assim que perceberam que eu estava na Virada Cultural, voltaram rapidamente para casa, trancaram as portas e não atenderam mais o telefone pelo resto da noite.

Mas, sendo sincero, pensei mesmo em arrumar confusão. É a mesma questão do banheiro da Fnac: você é gay e quer me cantar? Me cante de forma limpa, e não dessa forma. Eu vou falar “não” de forma educada e pronto: você segue o seu caminho e eu sigo o meu. As pessoas podem ter educação independente da sua opção sexual. Eu nunca me aproximei de alguma garota na fila do cinema soltando pérolas como “tem cada peitão nessa fila que eu to ficando louco!”.

Mas mudei de idéia sobre partir para a confusão porque se existe algo que passa longe de ser prudente é brigar com alguém no centro de São Paulo em plena madrugada – é o tipo de situação que será resolvida segundos após alguém no meio da multidão gritar “olha a faca!”. E, como não sou que estaria com a faca, achei melhor ficar quieto.

Respirei fundo, me acalmei e, olhei para o alto, pensando: “Porque é sempre comigo?” – aliás, esta frase tem se tornado uma espécie de slogan da minha vida. Assim (sentindo um pouco de medo, admito) a única coisa que consegui elaborar como resposta foi:

– Meu Deus do céu.

E me afastei um pouco, tomando cuidado para não tropeçar no meu irmão e no meu amigo, que estavam deitados na porta do cinema gargalhando. Fiquei totalmente sem ação. Tudo o que consegui fazer foi ligar o 5 anos de idade mode: on e virar a cabeça para o lado contrário, fechando os olhos com força e rezando para que aquela criatura desaparecesse.

Deu certo.

Neste momento, o Destino, claramente satisfeito, desligou a TV e foi dormir, com a sensação de trabalho cumprido estampada na sua cara. Foi para o quarto, colocou um CD do Frank Sinatra – algo que só fazia quando estava particularmente feliz – e adormeceu.

Quando olhei de volta, ele (a) não estava mais lá. Sendo assim, me encolhi num canto – obviamente, de costas para a parede – e acabei sentando ao lado de duas namoradas lésbicas de aproximadamente doze anos, certo de que elas não ofereciam perigo para mim – já que, a primeira vista, nós três gostávamos da mesma coisa. Elas continuaram se beijando e eu fique ali, sentado, esperando pacientemente meu irmão e meu amigo acabarem de gargalhar. Quando eles se recuperaram (coisa de cinco minutos depois) decidimos ir embora para procurar um café.

Não encontramos.

Na verdade, nós mal conseguíamos andar no centro. Tudo bem, são shows de graça e a população tem que aproveitar. Mas isso não justifica certas coisas que presenciei na minha jornada em busca de um simples café, por aquelas terras estranhas. Aparentemente, entre os momentos que chegamos e saimos do cinema, o centro de São Paulo havia se tornado uma terra sem lei. Desviávamos de poças de vômito e de casais sentados no meio da rua e já em estágios avançados de preliminares. Como efeito de ilustação, imagine Sodoma e Gomorra, mas sem os anjos com espada de fogo punindo as pessoas.

E, em determinado momento, caímos num local tão lotado, onde era não conseguíamos andar para frente nem dar meia-volta. Como já disse antes, tenho trauma disso desde o fatídico show do Metallica, em 1994, e comecei a entrar em pânico. Logo, descobrimos o motivo da algazarra: uma vinte pessoas – cada uma delas, aparentemente, com o mesmo teor alcoólico de uma garrafa de tequila – estavam em cima de alguns ônibus estacionados, dançando & destruindo os ônibus. Foi neste momento que meu irmão falou uma frase que nunca mais esquecerei:

– Para dar cultura à população, é preciso, antes de mais nada, ter uma população que queira receber cultura.

Triste. Bastante triste. Demoramos uns 15 minutos para sair dali, devido aos alpinistas de transportes coletivos – mas claro que no meio disso, começou um empurra-empurra porque alguém gritou que a polícia estava chegando. Saímos dali e conseguimos escapar para o show do Reginaldo Rossi, que contava com uma platéia bem mais civilizada. Mas, como eu e Reginaldo Rossi não formamos par (silvio santos mode: on), fomos embora dali rapidinho.

Sem filmes de zumbi, sem café, fomos para casa. Mas isso se tornou uma outra odisséia que por si só já renderia outro post. Como a estação República estava fechada, tivemos que pegar um ônibus do centro de São Paulo para o centro de São Paulo; um metrô do centro de São Paulo para o centro de São Paulo; e finalmente, um metrô do centro de São Paulo para Pinheiros.

Mas claro que, como sou eu, a noite ainda teria que ter um desfecho interessante, graças a uma hippiezinha de uns 16 anos que, no mesmo vagão que eu e meu irmão (meu amigo mora perto do centro e foi a pé para casa), enchia o saco das pessoas por dois motivos: 1) tentava (em vão) tocar uma flauta de bambu – provavelmente, feita por ela mesma, pois hippies adoram essas coisas; e 2), sua aparência, já que ela claramente não tomava banho desde o carnaval.

Quatro da manhã, descemos nas Clínicas e fomos embora para casa. A hippiezinha, claro, desceu ali também e foi enchendo o saco com a flauta (e com o cheiro) até a saída da estação.

Não vejo a hora de chegar ano que vem e, com ele, a próxima Virada Cultural: vou alugar todos os filmes do Romero e ficar em casa assistindo.


Epílogo: No dia seguinte, por volta das 14:00, saí de casa em direção as Clínicas para encontrar a Sra. Gordon. Quando chego à estação, dou de cara com a hippiezinha suja, que estava ali também, esperando pelo metrô. Detalhe: ela estava com outra flauta – maior e mais barulhenta – mas com a mesma roupa, o mesmo cabelo desgrenhado e os mesmos pés sujos (fiz questão de reparar nisso). Ou seja, ela PASSOU em casa para pegar a outra flauta. Não tomou banho porque não quis.

18 comentários:

Thiago Dalleck disse...

hauhauhauhau
Eu estava quase desistindo de fazer um post sobre a Virada Cultural, mas sua saga me motivou: também nunca tinha ido, não gostei, odiei tudo e todos, muito lotado, muitos gays (porra, eu sempre atraio esses seres x.x) e show do Reginaldo Rossi, eu também fui pra lá.

Logo mais farei o meu post e vou tentar equilibrar com o mesmo número de desgraças dessa renomada saga! =D

Otavio Cohen disse...

uahauh
vários pontos ALTOS nesse post ahehhe. lesbicas de 12 anos, hippie que não toma banho porque não quer, tipo o sapo q não lava o pá, teve parte séria, parte engraçada, teve destino, teve "why is it happening to me" (david after dentist mode: on)...
já houve posts melhores, mas esse sintetiza mto vc, rob ahah. infelizmente.

Viada Cultur(ale) disse...

Quando um show do Reginaldo Rossi é um lugar aonde podemos nos sentir melhor, percebemos o tamanho do inferno pelo qual passamos.

Anônimo disse...

A parte da hippie foi um tanto quanto imaginativa....
-
Há momentos na vida que nosso top 5 melhores respostas nem devem ser ditas, já que a outra parte merece o indiferente silêncio.

Sir Lucas disse...

Acho que só eu me dei bem na virada. :D


Passei a madrugada no HSBC, assitindo filminho, comendo macarrão e com bebidinhas a vontade.

Depois, piniquei pra casa e dormi feito um anjo! ;D

MaxReinert disse...

Huahuahuahuaha......

"Quando um show do Reginaldo Rossi é um lugar aonde podemos nos sentir melhor, percebemos o tamanho do inferno pelo qual passamos." [2]

PS: Os gays da maior idade te amam!

Kakah disse...

Fiquei com nojinho de hippies quando vi uma guria no metrô Vila Madalena com pêlos embaixo do braço. Enroladinhos. Eca.

Virada cultural foi um belo FAIL CULTURAL.

Beijo

Sil disse...

Bem feito, quem mandou ir na Virada?
Ano que vem, ignore a tentação por melhor que ela pareça, não se esqueça que os estagiários do inferno estão querendo agradar o chefe ^_^
Melhoras para o olho, beijo
Sil

Leandro disse...

“Porque é sempre comigo?” foi a melhor de todas!!!

Sabe que isso traz um pouco de conforto? E' bom saber que eu não sou o único com um para-raio-de-loucos (e afins)

Varotto disse...

Apesar de que citar Raul Seixas é a maior coisa de hippiezinha-de-pé-sujo-tocadora-de-flauta, o cara tinha uma frase sobre a necessidade de cultura como forma do povo se levantar ante o sistema, que eu sempre achei muito legal:

"Há que se ter cultura para cuspir na estrutura"

De resto, aceite essa sua madrugada como mais um jornada para o cerne da humanidade como ela é. Uma pesquisa socio-antropológica, se quiser pensar assim.

Ou pode botar a culpa da destruição e degradação na gripe suína. Dizem que aqueles que morrem desse mal, voltam para nos aterrorizar como espíritos de porco (humor negro sem graça mode: on).

Gilmar Gomes disse...

certo, certo... um velhinho que "atoron perigon" é phoda...

fiquei imaginando o Dr. Destino, aquele inimigo do Quarteto Fantástico em sua casa assistindo TV...

e é incrível como rir faz as pessoas rirem (Tiririca é mestre nisso), pois na hora que li que seu irmão tava rindo no chão, também comecei a rir imaginando mihares de cenas como essa que já vi em filmes, desenhos animados e séries (e num gibi da LJI, que não lembro mais)...

PS (propaganda safada): visitem www.thegilgomex.blogspot.com

Thiago Apenas disse...

Passo a passo paar ler os posts do Champ:
1º procurar os comentários do Gomex.
2º Rir dos comentários do gomex.
3º Ler o post.
4º Comentar o post.
5º Lembrar que o blog é do Rob e não do Gomex.

Anônimo disse...

Eu vou mt pra samba, e tal... e realmente, tem viado que não se toca. Nada contra, até pq, sendo sambista, não tem como eu ser preconceituoso. Mas alguns precisam parar que todos têm a msm opção sexual que eles.

Gilmar Gomes disse...

thiago apenas... quero lhe fazer um questionamento deveras necessário para meu entendimento como ser humano pensador (teoricamente) e utilizador das ferramentas internéticas:

"Pq vc não tá me fólouando no tuíter, caralho???"

E novamente agradeço as milhares de visitas que não venho recebendod essa semana lá no blog... Vlw, amigos.

Dragus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thiago Apenas disse...

Gomex
Já corrigi minha falha, estou fólouando(no melhor sentido que essa palavra possa ter).
Espero que o Rob não reclame de fazermos um chat aqui nos comentários. :D

Dragus disse...

Infelizmente o povo não sabe ser povo.

Não é apenas aí que o "de graça sai desgraça", no RJ qualquer evento público significa as mesmas coisas.

E eu odeio muvuca, ainda mais de graça.

Talvez por isso saia muito pouco... =p

Ps: Você atrai pessoas do sexo igual/oposto como eu atraio bêbados aleatórios.

Flavita disse...

Ou mai gódi.

E se vc me conhece bem vc sabe do que eu estou falando.