4 de janeiro de 2007

A Era (sem graça) do Gelo

Você se lembra de que é um homem morando sozinho quando abre a geladeira no meio da madrugada, e descobre somente meia garrafa de Coca Light* (provavelmente sem gás), e algo que lembra vagamente ser uma maçã, abandonada lá dentro, gradualmente evoluindo e ganhando consciência através dos séculos. Você olha para trás e descobre que o cachorro já se colocou entre você e o armário onde fica a ração, pronto para atacar a qualquer movimento brusco que você fizer naquela direção.

A fome aperta e você começa a fuçar os armários – sempre observado de perto pelo cachorro –, encontrando apenas uma caixa de bombons da Lacta meio amassada, contendo um bombom. Esse “um” não é artigo, é numeral. Estamos falando de uma unidade de bombom. E, claro, é justamente um daqueles que ninguém come (chocolate branco recheado com atum e granola, por exemplo) e que sempre sobra esquecido em algum canto. Você realmente tinha a esperança de que os deuses tinham guardado logo um Sonho de Valsa para você? Tá bom...

Por isso que eu invejo meu irmão. O cara entra na cozinha e sai de lá, quinze minutos depois, com uma omelete disso, um suflê daquilo. Eu não. Eu entro na cozinha e saio de lá dois minutos depois com fome. E prometendo para mim mesmo que “amanhã sem falta eu lavo essa merda de louça”. OK, para não dizer que sou um completo débil-mental na cozinha, eu coloco a modéstia de lado e me arrisco a dizer aqui que faço um dos melhores ovos com bacon registrados no hemisfério Sul. O problema é que comer ovos com bacon todos os dias poderia ser caracterizado, em uma semana, como tentativa (talvez bem-sucedida) de suicídio.

Em suma: cozinhar não é o meu forte, especialmente quando chego do trabalho as duas e pouco da manhã, varado de fome e de sono. Eu nem tento me meter a besta na cozinha, nessas ocasiões, porque sei que vai dar merda. Algo que já descobri é que você só aprende a cozinhar quando está sem fome. Tenho certeza de que o primeiro pré-histórico que pensou em jogar a carne do mamute no fogo para ver como ficava fez isso somente depois de comer metade da coxa crua mesmo, rosnando para quem olhasse para ele.

Com isso, minhas opções se resumem a duas: ir até a varanda e começar a atirar na rua garrafas com bilhetes como “Sou um jornalista preso no oitavo andar. Por favor, mandem comida!” ou me arrastar até o Pão de Açúcar que tem ao lado de casa. Obviamente, acabo escolhendo este último, já que atirar garrafas pela varanda no meio da madrugada deve ser divertido, mas não aumentaria muito a minha popularidade no prédio e dificilmente traria o retorno esperado. Prateleira de congelados, here I go again (Whitesnake mode: on).

Já dentro do Pão de Açúcar, me deparo com outro problema: a falta de visão comercial das empresas de alimentos congelados. Esse tipo de comida é ideal para as pessoas que moram sozinhas. Esse deve ser o foco dessa seção, inclusive, com divisões por gênero: masculino e feminino (no caso do Pão de Açúcar de Pinheiros, faz-se necessária uma terceira prateleira para público “misto”, devido à alta demanda local). As porcarias em porções dantescas ficam no masculino; as comidas saudáveis, levinhas e pequenas na feminina. Pronto, resolvido.

Mas do jeito que está não faz sentido algum. As pessoas devem achar que alguém que come comida congelada não tem paladar, então, começa o preconceito. Fica tudo misturado, generalizado e com um critério que faria as Lojas Americanas chorarem de inveja. Pensem comigo: um homem que come, sozinho, uma lasanha de calabresa, dificilmente consumiria o “creminho de brócolis”, que fica logo ao lado. Já uma mulher solteira que tem a ambição de transar num futuro próximo não deverá se interessar em comer, no meio da madrugada, aqueles 600g de feijoada congelada que estão acima do creme de milho.

Outro grande problema é a falta de variedade. É quase uma contradição falar sobre a aridez da seção de congelados, mas é a mais pura verdade. De todos os grupos alimentares, acho que só uns dois ou três são vendidos na seção de congelados. O resto fica disponível somente para a elite burguesa que sabe cozinhar. OK, eu admito que massas como pizzas e lasanha devam realmente ser mais fáceis de congelar, mas, a partir do momento em que surgiram a feijoada, o frango xadrez e o strogonoff congelados, o precedente foi aberto. Não há mais desculpas! Queremos picanha, lingüiça, filé com fritas, bife à parmeggiana, frango a passarinho (ovos com bacon não precisa, esse eu certamente faço melhor que vocês) e tudo aquilo que as pessoas afortunadas, que possuem família, comem.

E, sim, eu sei que dá para congelar essas coisas! Duvido que o homem tenha evoluído a ponto de pisar na Lua sem saber como congelar um bife à parmeggiana. Congelaram o Walt Disney depois que ele morreu e querem que eu acredite que é impossível congelar uma lingüiça? Ah, me poupe.

E, pelo amor de Deus... O maldito arroz! Não adianta lançarem congelados como feijoada ou strogonoff e não lançar logo a merda do arroz congelado. Ninguém come feijoada sem arroz – seria o cúmulo do conceito “dançar com a irmã”. E, não, eu não vou fazer arroz em casa às duas da manhã. Se eu quisesse cozinhar a essa hora, eu não estaria no meio do supermercado, olhando a seção de congelados.

Uma dessas empresas lançou uma “bandeja pronta”, com prato principal e acompanhamentos. Fiquei todo animado, até que descobri que o negócio tem míseros 300 gramas? Porra, isso já beira o sarcasmo. Se eu andar pela rua pedindo vou conseguir mais comida que isso – e nem vou precisar pagar. Eu preciso de pelo menos umas duas bandejas dessas para, no mínimo, justificar o meu Marlboro pós-refeição. Vocês podem, por favor, lançar uma versão com o dobro disso? Melhor: com 750 gramas, para as pessoas poderem jantar em paz e comer o restinho da bandeja antes de dormir? (gula mode: on)

Termino, assim, meu desabafo. E já faço uma ressalva: por favor, evitem, nos comentários, sugerir a alimentação à base de Miojo, aquilo me dá uma azia filha da puta. Por outro lado, receitas (fáceis) de arroz branco serão muito bem-vindas.


* Nota do Editor: como já questionaram minha masculinidade pelo fato de eu beber Coca LIGHT, aviso que eu bebo isso por causa da porra do triglicéris.


5 Sonhos de Consumo que tenho quando olho a seção dos congelados (cupim não entra na lista, seria ambicioso demais).

1. Feijoada Completa (800g)– Contém também arroz, couve e torresmo
2. Picanha na Brasa (600g)– Mal-passada com arroz e fritas
3. Espaguete (600g)– Molho com carne moída, cebola, alho, massa de tomate e cubos de bacon. Compre e ganhe um pãozinho.
4. Strogonoff de Carne (600g)– Acompanha arroz branco. Compre e ganhe um saco de batata palha!
5. Frango a Passarinho Desossado (400g) - com alho. Compre e ganhe 2 latas de Bohemia!

14 comentários:

Amelie disse...

"Você realmente tinha a esperança de que os deuses tinham guardado logo um Sonho de Valsa para você? Tá bom..."

haha, ótimo post. Aliás, gostei do blog como um todo.

Um abraço!

R. S. Diniz disse...

Post longo, detalhado, cheio de reflexões...

Mas que prendeu a minha atenção do começo ao fim, além de ter me arrancado algumas risadas. Coisa rara.


Se quiser fazer parceria com o meu, dá um toque.

Abraço!

Anônimo disse...

Rob, aprenda de uma vez por todas a usar o microondas e a panela de pressão a seu favor. Dá pra fazer arroz em 15 minutos com panela de pressão e você esquenta a feijoada congelada no microondas.
Não tem forno de microondas, tampouco panela de pressão? Ah, faça-me o favor, né?

Anônimo disse...

você não tem nem ÁGUA em casa, Rob, é uma heresia pedir feijoada !

mas eu tenho uma receitinha de Strogonnof de brócolis aqui que vc adoraria, viu...

=]

Anônimo disse...

Amelie e Lanark, obrigado pelos elogios.

Quanto aos demais comentários, eu não quero saber se é fácil fazer arroz. Eu quero saber COMO fazer arroz.

E não é porque eu só encontro Coca e aquela coisa avermelhada na geladeira que eu não tenho água em casa. Há algumas torneiras ali. Não é potável, mas é água. Quanto ao strogonoff de brócolis, eu passo.

Mariliza Silva disse...

Caro Rob,
Vai aí uma receita de uma pessoa que acha que nasceu antes do arroz: eu!!!
Simplesmente não consigo imaginar minha vida sem arroz...exagero?!?! Nada disso.

Se deixar como arroz frio no pratinho de sobremesa, em frente a tv com colherzinha pra durar mais tempo.
Mas vamos ao que interessa!
Nao tem erro.
Procure ter uma panelinha pequena em casa, óleo, ALHO (esmagado na hora) sal OU (não se assuste) CALDO DE GALINHA DE CUBO (pra não fazer merchand..). O arroz, de preferência parbolizado, que nem precisa passar pelo processo de lavar e secar que é um porre.
Junte isto tudo, frite bem o arroz ante de colocar água e terá um prato único, que nem precisa de acompanhamento. Vai precisar mesmo é de uma esteira depois de uma semana.rsrsrs Mas eu adoro, acalenta minhas noites quando estou só! Tipo, FUI EU QUE FIZ!!!

BRINCADEIRAS A PARTE,

PARABENS PELO SEU BLOG, ADOREI SEU DIALOGO..EH SIM, PORQUE PARA MIM ERA COMO SE EU TIVESSE TE OUVINDO NA MINHA FRENTE.

ADOREI E VOLTAREI SEMPRE QUE PUDER!!!

PRAZER E ESPERO SUA VISITINHA NO MEU BLOG.

MARILIZA

Anônimo disse...

estimado Gordon, você deve ser muito amigo do Abílio Diniz.

3 sugestões:

1 - contrate uma empregada que cozinhe e peça para ela fazer os seus pratos

2 - ache uma dessas cozinheiras que fazem congelados, e peça do seu jeito

3 - a melhor de todas, peça para a dona marlene gordon fazer isso para você

quando eu era moleque, comprávamos de uma tia que fazia até beirute congelado. era um tesão.

ou então case de uma vez!

gostaria de ver um texto seu sobre essa porra que inventaram nos sites, o verificador de palavras. acho que é a coisa mais imbecil e pentelha do mundo.

Gustavo

Anônimo disse...

Rob, o Gustavo tá certo. Dona Marlene Gordon (adorei) se sentirá orgulhosa de cozinhar pra você.

Anônimo disse...

Compartilho da sua falta de habilidade para fazer arroz e nem pense em seguir o conselho do Gustavo Sette e incomodar a sua mãe com esse assunto, então lá vai a lição dos deuses:
arroz de saquinho - Uncle Ben's é muito caro, mas o Pão de Açucar de Pinheiros tem outras marcas.
recipiente de arroz para microondas - vá até uma loja de 1,99 na Teodoro e compre uma.
- tempero completo Arisco ou similar - também disponível no PdA

Misture um de cada e ponha 23m no microondas.

Boa sorte e bjs,

PS: só não gostei do comentário da feijoada e a perspectiva de fazer sexo num futuro próximo.... Doeu!

Natalia Máximo disse...

Não sei se ainda adianta sugerir, mas tem um jeito de fazer arroz imbatível. Compre uma panela para fazer arroz. Minha mãe comprou uma aqui pra casa e minha vida mudou depois disso. Você coloca óleo, tempero, a medida que você quer de arroz, o dobro de água e liga a panela. 15 minutos depois, ela desliga e seu arroz está pronto e ótimo!

Unknown disse...

Você pode encontrar tudo pronto (até arroz e feijão congelado), gostoso e caseiro aqui: www.mercadogurme.com.br

Anônimo disse...

tenho duas sugestões:

1)compre arroz de saquinho Uncle Bens; até uma criança de 05 anos consegue fazer

2)pdá 10 real a mais pra sua faxineira e pede pra ela deixar umas duas xicaras de arroz pronto, congele uma parte e vá descongelando depois. não é uma delícia, mas pra mim funciona há anos.

Anônimo disse...

tenho duas sugestões:

1)compre arroz de saquinho Uncle Bens; até uma criança de 05 anos consegue fazer

2)pdá 10 real a mais pra sua faxineira e pede pra ela deixar umas duas xicaras de arroz pronto, congele uma parte e vá descongelando depois. não é uma delícia, mas pra mim funciona há anos.

stop disse...

Olha, não sei se você já conhece, mas eu, todas as vezes que tenho que cozinhar, faço baked potatos.
Você já disse que sabe fritar bacon. Bacon + margarina + Sal, e voìla!

Demora de 5 à 15 minutos no microondas. Não precisa fazer nada além de enfiar as batatas lá.

O @brogui ensina como fazer: http://www.youtube.com/watch?v=W-DJakOtLY8