29 de novembro de 2011

Top 5 - #TerapiaHQ

Com tudo o que aconteceu este ano, o tempo voou.

Assim, de repente eu acordo um dia e percebo que estou começando a escrever o terceiro arco (ou capítulo, como queiram) de Terapia, a HQ que desenvolvo junto com os ilustres @yellowsubmarina e @mariocau. Terceiro arco. Ou seja, com uma página por semana, estamos falando de quase meio ano (cada arco tem 12 páginas, e entre cada arco há uma página solta). É muita coisa já publicada.

Com isso, achei que seria legar dar uma revisitada nas páginas já produzidas e comecei a reler toda a série, desde o início. Fiz isso umas três ou quatro vezes nas últimas semanas e tive a ideia de fazer um Top 5 com as minhas páginas preferidas, e dividir com vocês.

A tarefa não foi fácil. De todos os trabalhos que estou fazendo, esta série é, certamente, um dos que mais me enche de orgulho. Então, tive que pensar e repensar e deixar de páginas que adoro de fora, mas, ao final, consegui chegar a o meu Top 5 atual – “atual” porque eu sei que neste terceiro arco terão páginas que certamente entrarão na próxima vez que eu fizer esta lista.

Mas, sem mais enrolação, vamos logo ao Top 5 - Páginas Preferidas da HQ Terapia (na ordem de publicação), com alguns comentários sobre o roteiro, e todos extremamente pessoais e nada técnicos.


1. Página 06
Quando escrevi esta página, vi que estava começando a acertar o tom da coisa. Ao descrever os dois últimos quadrinhos, reparei que estava começando a pensar no espaço da página e na arte, brincando com isso – nas páginas anteriores, acho que tinha escrito “somente” diálogos.

Foi com esta página que eu percebi que estava escrevendo uma HQ de verdade, e não uma crônica que seria desenhada. Foi aqui que eu finalmente consegui, pela primeira vez, passar a ideia desejada brincando com a arte da página, e não usando somente texto. E gosto demais do contraste entre os dois últimos quadros, com a “confusão mental” desembocando no “vazio emocional” que o personagem central sente.


2. Página 14
Acho que esta é uma das páginas mais ricas que o Mario desenhou. O roteiro indicava apenas que o arco II abriria com o personagem chegando ao terapeuta e uma briga do menino com a namorada ao mesmo tempo – a ideia era trazermos elementos da vida dele pela visão do leitor, e não somente pelas conversas entre ele e o terapeuta.

A solução do Mario foi primorosa: a briga corta a página em dois, como perturbando personagem, e os traços distorcidos dos quadros ao redor apenas reforçam isso. Além disso, a página tem detalhes primorosos, como o garoto andando na direção contrária à indicada pela seta, e com a cara fechada ao lado do adesivo do “smile”. Mas a minha preferida é a integração dele com as bolhas de água no último quadro. Ah, a letra da música é um trecho de I Can’t Be Satisfied, de Muddy Waters, que você ouve aqui.


3. Página 17
Difícil começar a falar sobre esta página. Como conteúdo, ela é extremamente importante, pois começa a apresentar dicas sobre o personagem central e sobre sua criação – ou seja, a respeito da sua personalidade. A única especificação “técnica” do roteiro era que a página seria um flashback e que o porta-retratos era bastante importante, pois uma referência a ele ele iria aparecer na página seguinte.

Partindo disso, o Mário criou uma página totalmente “impressa” como os antigos gibis dos anos 60 e 70, nos quadros “pontilhados” – eu praticamente sinto o cheiro ruim da tinta sempre que olho essas imagens. Mas o grande charme, para mim, são justamente os porta-retratos, que ganham uma textura impressionante e acabam sendo o elemento central da página, especialmente em termos de narrativa, passando justamente a ideia que eu e a Marina havíamos pensado.


4. Página 18
E eis um porta-retratos novamente, completando a referência da página anterior - a que falei acima. E aqui entra outra sacada genial do Mario. É uma imagem única, e os quadros que deveriam ser o diálogo entre o menino e o terapeuta tornaram-se detalhes do móvel, que possui uma riqueza de detalhes impressionante.

E o grande charme é que a avó do garoto e sua namorada se contrapõem no centro da página, como havia acontecido na arte que mostra a briga entre os dois. Esta foi uma das páginas que eu mal sabia como comentar com o Mário, quando recebi a arte.


5. Página 27
Confesso que este Top 5 deveria ter entrado no ar semana passada, para comemorar o lançamento do Arco III. Mas, quando vi esta página desenhada, resolvi adiar os planos por uma semana, já que seria injusto deixá-la de fora. Ela fugiu um pouco da ideia inicial – que não posso ainda revelar qual era, já que estragaria alguma surpresa – mas toda a essência do que eu e a Marina queríamos está aí: um clima totalmente diferente do apresentado até o momento, numa situação absurdamente estranha: uma refeição no meio de um descampado, quase como uma cena de um filme do Buñuel.

E o preto e branco dela, para mim, é totalmente opressivo – mesmo com um cenário aberto e que sangra para fora da página, eu a enxergo como algo extremamente claustrofóbico.

E, sim, existem duas luas no céu.

***********

Sem fazer propaganda barata, este terceiro arco promete. Afinal, com uma página de abertura como essa... Bem, não posso revelar mais por enquanto.

Mas queria aproveitar para agradecer, não somente em meu nome, mas em nome do Mario e da Marina, todos os elogios que temos recebido e que estão superando nossas expectativas. Muito obrigado a todos, e não percam as próximas páginas, toda quarta-feira, no Petisco.

14 comentários:

Ana Savini disse...

#proud

Anônimo disse...

Rob, eu AMO Terapia. Vou te falar, adorava quadrinhos na infância - Turma da Mônica e Disney, principalmente - mas cresci e deixei de ler. Terapia despertou em mim a vontade de ler quadrinhos para adultos - coisa que já comecei a fazer, meio que timidamente, porque não tenho ideia de por onde começar.

(Se eu ficar viciada a culpa é sua, já vou avisando)

E, como todo fã de Terapia, sonho em vê-la na versão impress um dia - porque essa obra-prima que vc, o Cau e a Sumbarina (:P) criaram merece ser eternizada.

Varotto disse...

Sensacional.

Pena que com este esquema de uma página por semana, dá uma quebrada, e eu acabo não acompanhando.

Aí quando lembro, vou ler as páginas atrasadas.

Varotto disse...

Aproveitei o momento para ir me atualizar.

E vi que a coisa está ficando cada vez melhor. Vou parar de elogiar o seu texto um pouquinho, que está muito bom (desculpe, não resisti), para falar do desenhista.

Cara! Já estava bom desde o início, mas havia algumas páginas, nesta leva que eu ainda não tinha visto, que estão simplesmente de cair o queixo.

Sem o menor exagero, essa HQ tem nível para arrasar em qualquer lugar do mundo (se cuida Luan Santana!). Não sou exatamente um geek dos quadrinhos, mas duvido que não impressione mesmo o maior especialista.

As páginas 14 e 18, que você citou aqui, estão simplesmente fantásticas.

Uma hora dessas vocês vão precisar a começar a pensar a fazer uma versão em inglês para rodar o mundo.

Isso sem falar, é claro, em uma versão impressa. Coisa que vocês não têm o direito de nos negar.

Rob Gordon disse...

Ana:

(L)

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Lilian:

Fico bastante feliz que Terapia trouxe você de volta aos quadrinhos!

O que você está lendo de HQs adultas?

Se quiser, eu posso dar algumas dicas para você, fugindo do gênero super-heróis e zumbis, que não sei se é sua praia! Uma sugestão é a série Fábulas, que mostra todos os personagens de contos de fadas vivendo atualmente no mundo real. Outra, bem mais pesada, mas obrigatória, é Maus, sobre o Holocausto, mas "estrelada" por gatos e ratos.

E, claro, qualquer graphic novel do Will Eisner (saiu uma edição nova de Nova York - A Grande Cidade, que contém também a maravilhosa "O Edifício") é obrigatória!

Qualquer coisa, só gritar aqui!

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Varotto:

Muita gente reclama da proposta de uma página por semana, mas vale a pena conhecer as outras histórias do Petisco, que são publicadas nos outros dias. Dá uma vasculhada lá!

Quanto à arte do Mario Cau... Ele realmente está inspirado. O que eu acho mais impressionante é que ele consegue mudar de estilo, de uma página para outra, sem perder a continuidade. Quanto à versão em inglês, é algo que já conversamos entre nós. Já a versão impressa também é uma vontade enorme da nossa parte. Vamos ver como as coisas acontecem!

Valeu!

Rob

gilgomex disse...

Essa pagina 18 é demais. Não vou fazer outros coments, pois eu não li. Você sabe como sou fanatico por gibis, mas eu tenho um problema com a leitura (talvez por esse problema eu naum compre mais gibis mensais), eu so começo a ler alguma coisa depois que terminei de ler tudo que esta acumulado... E tenho Sandman, Fabulas. Y, Preacher, Capitao America, Cavaleiro das Trevas (finalmente comprei o meu) entre outros. Mas vou ler Terapia antes de começar Batman Ano Um.

Anônimo disse...

Oi Rob!

Então, estou lendo agora Retalhos, do Craig Thompson. E comprei os dois primeiros volumes de Borgia, com arte do Milo Manara.

Vou anotar as suas dicas. Estou com vontade de ler coisas que fujam mesmo dos super-heróis e zumbis (nada contra, só acho que no primeiro caso são muitos arcos pra eu acompanhar, por exemplo). Não sei se disse besteira, mas creio que vc entendeu, rs.

E quanto ao traço do Cau, não comentei mesmo, my bad. Está cada vez mais lindo e surpreendente. Tou fã dele!

Bjs

Rob Gordon disse...

Gomex:

Valeu pelo comentário. E, uma coisa: ler Terapia antes de Batman Ano Um é a maior honra possível!

Valeu!

Rob

Rob Gordon disse...

Lilian:

A arte do Mario está matadora, né? Fico cada vez mais impressionado!

Quanto ao que você está lendo... Retalhos é MUITO bom. Eu tenho uma crônica inspirada em um dos quadros, neste endereço aqui: http://champ-chronicles.blogspot.com/2011/07/rejuvenescimento.html
Batman - Cavaleiro das Trevas e Batman - Ano Um (que o Gomex falou acima) são quase obrigatórias.

E esqueci de falar de outras séries que gosto muito: Sin City, do Frank Miller (pesada, violenta, suja) e A Liga dos Cavalheiros Extraordinários, que reúne os principais heróis da literatura clássica (se viu o filme, apague-o da memória).

E, claro, Watchmen, a Bíblia.

Beijos

Rob

Brunín Assis disse...

O Terapia tá simplesmente fodarástico. Tenho o mesmo problema do Varotto, então tive que me atualizar antes de comentar aqui.

O que eu mais curto no terapia são os recursos narrativos usados. A forma como o texto é inserido nas páginas, os detalhes em cada uma delas, como cada um tem sua identidade sem fugir do todo. E como você mesmo disse, a arte do Mario tá matadora. Ele merece todos os aplausos por ela.

Minhas páginas preferidas? A sequência 4 e 5 e a sequência 17 e 18 =]

Anônimo disse...

Ah, eu preciso (re)ler essa sua crônica então. Agora, com outros olhos. =)(E estou AMANDO Retalhos, pelo menos até agora.)

Valeu pelas dicas, mesmo! Vou salvar aqui pra procurar pelas livrarias da vida. Depois te conto o que achei.

Bjs!

Rob Gordon disse...

Lilian:

Vamos nos falando sim, tenho mais um monte de indicações para você!

Beijos!

Rob