28 de setembro de 2011

Rock in Life

Eu gostaria muito me lembrar de verdade do primeiro Rock in Rio.

Mas não me lembro. Talvez eu saiba mais sobre o festival de 1985 do que a respeito de muitos shows que eu fui pessoalmente, mas tudo o que sei foi porque aprendi depois, lendo e estudando.

Sei, por exemplo, que o Iron Maiden desviou totalmente a rota da turnê World Slavery Tour – que renderia o magnífico álbum Live After Death – para tocar na capital carioca, vindo dos Estados Unidos para o Brasil e voltando para os Estados Unidos, dando início a um verdadeiro caso de amor com o público brasileiro.

Mas falo de Iron Maiden por ser a banda de heavy metal que mais gosto. Havia outras, muitas outras, que vi pessoalmente anos depois. E acredito que devo isso ao Rock in Rio. Será que eu, no Brasil, teria a oportunidade de assistir a Ozzy Osbourne, AC/DC e Whitesnake ao vivo, caso estes grupos não tivessem tocado, anos antes no primeiro festival? Duvido.

Mesmo a respeito de bandas que nunca fui a um concerto, sei do caráter mítico do festival. Como por exemplo o Queen, cujos integrantes sempre apontaram sua performance como uma das maiores da história da banda; o Scorpions, que usou imagens de sua visita ao Rio no videoclipe de Still Loving You (“Time... We Need Time...”) feito para promover o álbum World Wide Live.

Mas eu me recordo muito da segunda edição do festival. Meu casamento com o heavy metal ainda era um namoro recente, mas, como todo relacionamento novo, a paixão era imensa. Assim, eu me recordo de devorar tudo o que consegui sobre as bandas deste estilo – e me lembro da dor no coração que senti ao não poder assistir aos shows pessoalmente.

Mas vi tudo pela TV. Tudo.

Vi um Sepultura que ainda gravava o álbum Arise subir ao palco; vi um Judas Priest promovendo “somente” o álbum Painkiller, que marcaria a despedida de Rob Halford da banda por anos e anos; vi um Megadeth tocando com garra as canções do seu então disco mais recente, Rust in Peace, hoje um clássico.

Mas, me recordo especialmente de ficar hipnotizado com o show do Faith no More, banda que sempre adorei e que pisava no país pela primeira vez, promovendo o disco The Real Thing, que considero um dos últimos grandes álbuns da história. Aliás, em algumas semanas eu assistirei a um show do Faith No More (junto com Megadeth, veja que coincidência) pela primeira vez. Será que eles teriam tocado tantas vezes no Brasil sem o Rock in Rio II? Duvido.

Mas não preciso sequer pensar para me recordar do show do Guns N’ Roses. Mais que um show, foi um evento, não apenas pela popularidade da banda – que estava em seu auge, antes de Axl Rose virar uma prima dona e desmantelar o conjunto – mas também porque foi nessa ocasião que o grupo apresentou, pela primeira vez, as músicas dos dois discos duplos (sim, duplos, pois estou falando de LPs) Use Your Illusion I e Use Your Illusion II.

Até hoje me recordo que a banda entrou ao palco ao som de Pretty Tied Up – era a primeira vez que o mundo ouvia a canção, e eu estava assistindo ao vivo pela TV. Me recordo do solo de guitarra de Slash, no qual ele executa passagens do tema de O Poderoso Chefão, e dos principais hits, como Sweet Child O’Mine, Patience e Paradise City, que fizeram Axl Rose perder totalmente a voz.

E me lembro claramente de, dias depois, ir ao centro comprar discos na lendária Woodstock e dar de cara com a jaqueta que Axl usou no show (de couro, branca, com o logo da banda nas costas) pendurada e sendo vendida por uma verdadeira fortuna. Lembro-me de esticar o braço e tocar na jaqueta. Justamente por isso que não consegui disfarçar o sorriso, ano passado, ao ler uma biografia importada da banda e descobrir que Axl deu um escândalo nos bastidores ao descobrir que a jaqueta havia sido roubada. E eu toquei na jaqueta.

Anos e anos se passaram, e eu comecei a assistir a shows pessoalmente.

Contudo, na segunda metade dos anos 90, minha paixão pela música deu lugar a novos amores, sobretudo o cinema – que também me acompanhava desde criança mas começou a tomar ares de profissão e os livros.

E, como se soubesse disso, o Rock in Rio deixou de acontecer.

Foi preciso um novo milênio para que eu voltasse para o rock e, por coincidência – ou não? – o Rock in Rio voltou.

Do Rock in Rio III eu também me lembro muito bem. E confesso que senti uma pitada de orgulho ao ver que a minha banda de heavy metal agora era o grande nome do evento. Mais importante que isso, o Iron Maiden vivia um momento especial, com o retorno de Bruce Dickinson ao posto de vocalista, numa apresentação que rendeu um CD e um DVD magníficos.

Outros nomes me saltam à memória. O Sepultura mostrou que existia vida numa era pós-Max Cavalera, e fazendo o caminho inverso, Rob Halford mostrando que sua voz potente não dependia dos músicos do Judas Priest – e o momento em que a plateia inteira canta Breaking the Law mais alto que ele, fazendo o inglês chorar no palco (algo que ele se orgulha até hoje) comprova isso.

Me lembro também da nova apresentação do Guns N’ Roses, numa fase negra da banda, que já parecia uma banda cover de luxo. Mesmo assim, assisti, pelo carinho que sempre tive a respeito do Guns, banda que me abriu os caminhos do rock, no final dos anos 80. E também me recordo de uma apresentação lendária do R.E.M., que colocou o grupo de vez no panteão do rock contemporâneo.

Isso faz dez anos. E eu me recordo de tudo.

Em todo o meu relacionamento com a música, o Rock in Rio sempre esteve presente, caminhando paralelamente ao meu gosto musical. Hoje, bandas que gosto, em especial Motörhead, Metallica – e, claro, Guns N’ Roses – estão se apresentando no Rock in Rio IV.

E, como um velho amigo, resolveu comemorar seu retorno ao Brasil nesta sua quarta edição me enviando um presente. Afinal, durante décadas eu pude assistir, mesmo que pela TV, a alguns dos maiores shows da história graças ao Rock in Rio.

E, a partir de agora, eu vou poder ouvir estas mesmas bandas graças ao Rock in Rio e a Philips, como se as bandas estivessem tocando na minha sala, somente para mim.

(aumente a foto para ler a carta)


Nada mais justo que eu escrevesse este texto como agradecimento.

Obrigado, pelo presente e pelas memórias.

Obrigado, velho amigo.

19 comentários:

Fábio Megale disse...

[comentário que já deveria ter sido enviado há séculos]

Assim como o Rock in Rio, é bom ter você de volta, Rob.

Natalia Máximo disse...

Que bonito texto, Rob. Não conheço praticamente nada das bandas que você citou (ok, ok, eu deixo você me dar uma aula sobre elas, juntamente com a sessão Star Wars hahaha), mas a importância do RiR pra colocar o Brasil na rota de artistas internacionais é incontestável. Hoje, 30 anos depois da primeira edição do festival, eu só posso agradecer (:
E o fone é bonitão também, hein? Espero que seja tão potente quanto a cara que ele tem!


* E o Queen, meu Deus. A apresentação do Queen no RiR 85 me faz querer morrer por ter nascido só 5 anos depois...

Elise disse...

Minha mãe me diz que eu vi o show do Queen no RiR I porque ela viu pela TV e eu estava no lugar mais confortável no mundo, já que eu nasci quatro meses depois do festival. Claro que eu não me lembro, haha, e tampouco me lembro do RiR II, porque eu tinha seis anos e a "banda" que eu mais gostava era o Balão Mágico, rs...
Mas eu me lembro do RiR III, eu estava na casa do meu pai e havia um único grupo que eu queria ver: o Guns n' Roses. Na época eu tinha 16 anos e estava encantada com o Guns. Lembro da decepção que eu tive quando o Axl entrou no palco, eu me perguntava "ué, cadê? Esse aí não é o Axl nem aqui e nem em L.A.!"... Acabei vendo, também, o Iron Maiden - de quem eu só conhecia Fear of the Dark e Wasting Love, como boa iniciante no assunto que eu era - e daí por diante eu não consigo imaginar a minha vida sem o rock n'roll. E já se passaram dez anos, hehe...

Fone bonitão, hein? Os produtos da Philips costumam ser muito bons, tá aqui o meu mp4 "velho de guerra" que não me deixa mentir! Parabéns pelo presente e pelo reconhecimento do Champ, achei essa carta o máximo! =)

Anônimo disse...

"Assim como o Rock in Rio, é bom ter você de volta, Rob. " [2]

Eu tb me lembro muito pouco do RIR I. Lembro da minha mãe falando que ela não gostava de rock, mas que eu podia gostar, se quisesse (rs) e que ela adorava o Freddie Mercury mas detestava rock. Go figure. Ironia ou não, Queen é minha banda favorita.

(E posso dizer que eu adoro o modo como você faz mesmo os publieditoriais serem absolutamente sinceros?)

Helga disse...

Hmmmmm que chique este fone de ouvido!
Cuidado com os tímpanos, hein?
beijão

Rob Gordon disse...

Fábio:

Não estou 100%... Mas estou voltando. Obrigado, de verdade, pela mensagem!

Abraços

Rob

Rob Gordon disse...

Natália:

Obrigado! Foi gostoso relembrar essas coisas aqui, especialmente o Rock in Rio II, que foi muito, muito importante pra mim! E ficarei feliz em dar esta aula pra vc junto com Star Wars! (E o fone é demais, provavelmente o melhor que tive até hoje)

Beijos e obrigado por tudo, sempre!

Rob

Rob Gordon disse...

Elise:

Realmente, você assistiu ao show do melhor lugar do mundo! Eu também tive esta decepção com o show do Guns no Rock in Rio III, mas o carinho e a nostalgia falaram mais alto! Afinal, assim como você, não consigo imaginar mais minha vida sem o rock. E o fone é demais!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Lilian

Realmente estou tentando voltar, e vocês tem ajudado muito nisso!

Quanto aos publieditoriais... Não sei, acho que o mínimo que eu posso fazer com eles, sempre, é dar um texto sincero como retorno, e não somente um "olha o que eu ganhei, valeu!". Muita gente reclama que o relacionamento entre blogueiros e empresas poderia ser melhor... Como blogueiro, tento fazer minha parte dessa forma, aproveitando e dando de presente algo para vocês, leitores, que sempre serão a prioridade.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Matheus:

Vá atrás do show do Iron no Rock in Rio III (hoje você já acha o DVD a preço bem baixo e a qualidade é ótima - vale pelo momento em que um fça invade o palco (acho que no meio de The Number of the Beast) somente para encostar no Steve Harris. O show deles em 1985 também é muito bom - ficou famoso porque o Bruce Dickinson corta a cabeça no início da apresentação e passa boa parte sangrando no palco.

E, se conseguir gravações piratas dos shows do Guns no Rock in Rio II e do REM no Rock in Rio III, vale muito a pena conferir também!

Abraços

Rob

Rob Gordon disse...

Helga:

Os tímpanos estão ótimos aqui... Testei o fone com heavy metal, mas devo usar enquanto escrevo, então será basicamente blues e música clássica, que é o que estou ouvindo muito atualmente!

Mas obrigado pela preocupação!

Beijos

Rob

Kel Sodré disse...

Até fazendo publi você é bom, né, Robigórdu?

Pensar que eu já era viva mas que não tinha nem 1 ano de idade - logo, não pude ir - quando aconteceu o Rock in Rio I dá uma certa angustiazinha, principalmente por saber que show do Queen agora só em DVD... Maaas, por outro lado, com apenas 14 anos eu fui ao Rock in Rio III, acompanhada da minha mãe!! Fala se ela não é a melhor mãe do mundo (apesar de comparar mãe ser café com leite)?

Claudia Iarossi disse...

Que moral hein?
Você merece muito mais!!!

Beijos

Rob Gordon disse...

Kel

Como eu disse acima, é o mínimo que posso fazer, sempre pensando em vocês e na empresa: um texto decente.

Mas, realmente, comparar mãe é café com leite, mas isso poucas mães fariam! Quais shows você viu no III?

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Claudia:

Obrigado! Mas devo isso a vocês também, que estão sendo prestigiando aqui!

Beijos!

Rob

Varotto disse...

Cara! O primeiro RiR é um dos grandes traumas da minha vida.

Eu já tinha 12 para 13 anos e já era musicólatra de carteirinha. Mas, apesar de ter acompanhado tudo de perto (até hoje tenho o guia oficial do festival e o LP), EU NÃO FUI.

Acho que era ainda muito jovem para encarar a empreitada. Não era nem o caso de eu querer ir e mesu pais não deixarem. Acho que eu mesmo tinha a noção de que era muita areia para meu modesto caminhãzinho. E o pior é que noano seguinte, já do alto de meus 14 anos, fui ao meu primeiro show sozinho, com direito a voltar andando quilômetros de madrugada para casa, porque não conseguia ônibus.

Como me arrependo de não ter ido. Mas confesso que, apesar da vontade de ter assistido aos shows, o que mais me dói é que eu queria ter feito parte daquilo, como movimento. Não acompanhando de casa como eu fiz, mas podendo dizer, como diziam os adesivos e camisas: EU FUI.

Bom, podia ser pior. A Ana, sendo cerca de um ano e meia mais velha do que eu, já tinha uns quinze, tinha vários amigos indo de carro, e meu sogro que era bombeiro e, na época estava envolvido com a fiscalização do espetáculo, tinha ingressos livres para todos os dias. Porém, minha sogra assustada com aquelas besteiradas de Nostradamus, não deixou as filhas irem. Sabe como é, tipo: "quando a águia se levantar e a primeira estrela da manhã passar por detrás do monte, etc." e todo mundo: "Nossa! Ele está dizendo que vai haver uma grande mortandade em um encontro de jovens no Rio de Janeiro, em 1985, na quarta feira às 7:46!"

Camarada, vou te dizer: se isso tivesse acontecido comigo, acho que eu me arrependeria disso todos os dias de meu caminho para a cova.

No segundo Rock in Rio, eu já estava na faculdade e fui a vários dias. Quando aconteceu o terceiro, eu há estava numa fase de saco cheio de ir a shows. E esse ano, já tinha até ingresso comprado, mas acabou coincidindo com as férias da família e eu tive de deixar passar.

Enfim, meus parábens pelo reconhecimento e vida longa a seu novo brinquedinho (não é fone de ouvido não! É rédifone!)

Charlie Dalton disse...

Você tem a cara do rock. O pessoal do Rock in Rio fez bem em te presentear.

Cara, fiquei besta! Seu blog foi muito além da Teodoro Sampaio, meu caro. Ele chegou ao maior festival de música DO MUNDO!! Parabéns, guri. Fico feliz de verdade. Você e o Champ Vinyl merecem. :)

Rob Gordon disse...

Varotto

Como sempre digo, sua história com música daria um puta de um livro. Mas, como estou com esses fones novos, vou esperar pela versão audiobook. :)

Abraços, cara.

Rob

Rob Gordon disse...

Charlie

Obrigado pelos elogios, cara! Mas se meu blog foi além da Teodoro, isso se deve a um conjunto de fatores - e vocês, leitores, são um dos elementos mais importantes disso.

Muito obrigado!

Abraços!

Rob