24 de setembro de 2011

Passos Pequenos

As coisas haviam melhorado e depois pioraram.

Os últimos três ou quatro dias foram bem difíceis aqui.

Por isso que não respondi nem os comentários do post anterior. Todos eles – ou, ao menos, a grande maioria – tinham um otimista que, se no começo da semana fazia sentido, eu não conseguia mais enxergar nos últimos dias.

Assim, eu simplesmente não consegui responder a nenhuma mensagem. Queria dar uma satisfação sobre isso, pois eu disse que responderia a todas – o mesmo vale para os e-mails que recebi. Como de costume, li tudo, mas não me enxergava mais em nenhum comentário sobre eu ter melhorado, ou sobre meu tom estar mais leve. Muitos leitores mostravam felicidade por eu ter melhorado quando, no dia seguinte, eu piorei tudo de novo.

Acho que recaídas fazem parte do processo. Ao menos, me falaram isso.
Não deve ter ajudado muito o fato de eu ter mudado o horário do remédio. Explico: eu tomo o Lexapro pela manhã, mas tenho a liberdade de mudar para a noite caso sinta muito sono durante o dia. Como eu morria de sono todas as tardes – e acabava dormindo, o que me impedia de dormir à noite, mesmo com o Rivotril -, experimentei tomá-lo depois do jantar.

Não sei até onde isso influenciou, mas as crises voltaram, pela primeira vez desde que comecei a tomar os remédios. De repente, tudo se torna maior que você; tudo se torna culpa sua; tudo está contra você. E tudo o que você consegue fazer, como resposta, é ficar apático, torcendo para que passe. Mas não passa.

Porque os demônios estão sempre à espreita. A Ana chama de traumas – talvez ela esteja certa –, eu chamo de demônios. São os meus demônios, e, se eu não sei exatamente como eles são, faço uma grande ideia. Se eu baixar minha guarda, eles entram novamente na minha cabeça e começam a dançar, fazendo uma enorme bagunça lá dentro.

Isso acontece quando estou acordado, mas é pior quando durmo. Com a volta dos demônios, voltam os pesadelos, que fazem você acordar de manhã como se tivesse apanhado a noite inteira. E, quanto mais isso acontece, mais difícil é lutar contra. Você sabe que precisa lutar, mas falta força e ânimo. Falta propósito.

E, no momento em que surge uma fagulha, uma pequena faísca, a apatia explode em raiva ou em choro. Ou em ambos. Normalmente, em ambos.

Estes foram meus últimos três dias, com breves intervalos nos quais eu me levantava apenas para cair de novo. Agora eu consegui me levantar de verdade. Não como herói, com olhar valente e peito estufado, chamando todo mundo para o pau.

Apenas consegui me colocar de pé e estou olhando todos os demônios ao meu redor. Se no começo da semana eles pareciam ter se escondido, agora, enquanto escrevo isso sei que eles ainda estão aqui e ficarão por mais uns dias. E a prova disso é que o termômetro do meu PC marca 19 graus e eu escrevo isso no sofá, tremendo de frio e com o aquecedor ligado.

Mas, ao menos, estou de pé novamente. Hoje, isso conta muito.

E é justamente por isso que estou escrevendo aqui. Não fiz nada do que me propus – responder comentários e e-mails que não fossem profissionais; voltar a escrever – porque eu havia caído novamente. Mas, para mim, publicar aqui o que aconteceu e que estou de pé significa que esta última crise acabou. Ainda dói, ainda não consigo caminhar direito como achei que conseguiria no começo da semana, mas estou de pé.

Colocar isto no blog é um modo de externalizar, o que me ajuda a “oficializar” a coisa. E aí não me importa se estou escrevendo porque estou de pé, ou se fiquei de pé para escrever que estou de pé. O que importa é que estou de pé, depois de três ou quatro dias caído.

Não vou prometer nada, mas entre hoje e amanhã eu devo começar a responder os comentários e e-mails que recebi. Mas uma promessa que fiz para mim mesmo é que vou escrever um post no Champ, sobre outro assunto. Algo que me divirta escrevendo.

Será um post curto – eu tentei escrever coisas maiores esses dias, mas não passava do segundo parágrafo – e a Ana já sabe do que se trata (pois “externalizar” para ela é uma forma de me forçar a escrever).

Mas o meu pedido é que ele seja lido normalmente, como se fosse apenas mais um post no Champ. Quero, de verdade, que tudo isso que vocês sabem que estou passando seja deixado de lado enquanto leem outros posts. Então, não se sinta obrigado a gostar do post – mesmo porque ele não será grande coisa – ou a comentá-lo somente porque estou doente. Lembre-se que a minha grande vitória será escrevê-lo, independente da qualidade e do número de comentários.

Como eu disse, estou de pé. Quero apenas fazer algo enquanto estou assim, pois é algo que eu devo para mim.

Como já disseram aqui, “passos pequenos”.

A todos que ficaram preocupados, desculpem pelo sumiço destes dias.

29 comentários:

K.P. disse...

A gente continua aqui, Rob. ;)

IsabelVeronica disse...

Rob, eu entendo o cair e levantar como parte de todo processo de cura, até você conseguir chegar ao equilíbrio. Por isto que todos nós falamos que tem que um dia de cada vez.

E, pra mim, todas as vezes que você se levanta é como um renascimento. O seu renascimento.

É bom também você escrever sobre outras coisas. Acredito que vá te fazer muito bem.

De qualquer forma, e acima de tudo, nós vamos estar sempre te apoiando. Sempre!

Beijos!

Nelson disse...

Cair faz parte, e aprender a se levantar de novo é grande parte do processo.
Infelizmente, nossos demônios voltam a atormentar de vez em quando (ou de vez em sempre), e isso também faz parte, e isso vale até pra quem não tem depressão.

Sair de depressão não é rápido porque não basta tomar o remédio e ser feliz. A gente tem que aprender a se controlar, racionalizar e se levantar de novo, e isso nenhum remédio faz: só a nossa força mesmo. Como qualquer coisa na vida, é necessário treinamento e experiência, e infelizmente nós só aprendemos errando e caindo.

E não se culpe pelas crises voltarem: é assim mesmo. Com o tempo, você aprende a controlar e se levantar de novo, até que um dia você vai se levantar tão rápido que nem vai perceber que caiu.

grande abraço, Rob.

Natalia Máximo disse...

Infelizmente, ninguém disse que ia ser fácil. Mas você é forte, e está mostrando isso a cada dia que passa. Acho que o otimismo que demonstramos nos últimos comentários - e continuaremos mostrando - é uma forma de te fazer enxergar que estamos aqui, pro que der e vier.
Vocês têm muita fibra de colocar as coisas aqui. Respeito e admiro muito os dois, e podem contar comigo, de verdade.
Tô esperando ansiosamente pelo texto, Rob. Vai ser melhor do que você está esperando, você vai ver!

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

We'll "be there for you, when the rain start to fall"

Not only when the sun shines.

P.

@Neneia disse...

Oi Rob,
Tô aqui, sempre acompanhando. Como o Nelson disse, só tomar remédio não resolve tudo, mas dá um 'adianto'. Além disso, leva tempo pra fazer o ajuste fino da medicação.

O processo é esse levanta-cai mesmo, e citando o Nelson novamente, não é só quem tem depressão que é atormentado pelos demônios. Todos são. O que muda é como sentimos e lidamos com eles.

Tudo tem seu tempo, a recuperação tb, vamos que vamos!

Abraços

Anônimo disse...

Fazia muito tempo que não entrava nos seus blogs. Fiquei sabendo do que está acontecendo hoje. Sei que não nos falamos há muito tempo, mas por mais de uma década você me acompanhou como um anjo sempre pronto a abrir suas asas e me acolher. Eu não sou de muitas palavras, mas quero dizer que tenho um carinho imenso por você e que estarei mandando muita energia boa pra que vc possa voltar a ter paz e alegria na sua vida.
E saiba que estou aqui para o que você precisar, uma parte do meu melhor carinho sempre será teu.
Se cuida, muita força pra vc, muitas bençãos pra Ana - pq o gesto dela é o maior carinho que se pode dedicar a alguém. E saiba que vc é maior que isso tudo,e que isso também passará.
Bjos,
Kátia

Rob Gordon disse...

Kika:

Eu sei. E isso me dá uma força enorme para continuar. De verdade.

Beijos e mais uma vez, obrigado.

Rob

Rob Gordon disse...

Isabel:

Tenho certeza de que faz parte do processo sim. Mas, infelizmente, dói ainda. Tudo é muito frágil e um tombo, por menor que seja, ainda atrapalha bastante.

Mas gostei do que você disse sobre cada vez que eu me levanto ser um renascimento. Gostei bastante disso, e creio que é sim uma das formas de enxergar esta situação, sabendo (e torcendo) para a cada renascimento, um pouco dos demônios fique para trás, que é onde eles devem estar.

Beijos e mais uma vez, obrigado.

Rob

Rob Gordon disse...

Nelson:

Cair faz parte, mesmo para quem não tem depressão. Mas, como eu disse acima, na depressão isso assusta mais - você tem medo de colocar tudo a perder, de voltar para o começo. Eu voltei alguns passos estes dias, mas agora estou caminhando de novo.

E uma das armas é, como você disse - e a Ana fala o tempo todo - é enfrentar os demônios. Os remédios são apenas uma das frentes de batalha, mas a maior e mais importante é travada dentro da minha cabeça, tentando entender algumas situações e acontecimentos como eles realmente devem ser entendidos.

Mas, aos poucos, vamos conseguindo. Aos poucos, vamos caminhando.

Abraços enomes, cara.

Rob

Rob Gordon disse...

Natália;

Este otimismo de vocês foi importante demais para que eu me levantasse novamente - mas só percebi isso depois de me levantar; enquanto estava caído, não conseguia mais entendê-lo. Agora eu sei o quanto foi importante.

Muito obrigado por ter mencionado a fibra. Realmente, não é fácil sentar aqui e colocar tudo isso na mesa, mas me faz bem. E hoje, "me fazer bem" é tudo o que importa. E eu ou a Ana nunca tivemos a menor dúvida de que você sempre pudemos contar com você.

Beijão e, mais uma vez, obrigado.

Rob

Rob Gordon disse...

Pedro:

Obrigado, cara. Obrigado de verdade.

Ainda vamos rir disso no Degas.

Abraços

Rob

Rob Gordon disse...

@Neneia

Obrigado pelo apoio e por ressaltar as palavras do Nelson. E muito obrigado pelo trecho "o que muda é como sentimos e lidamos com eles (os demônios)" do seu comentário.

Achei esta frase muito especial, vou guardar para mim. Obrigado pelo presente.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Kátia:

Obrigado pela visita e pela preocupação. Como grande amiga que você sempre foi, tenha a certeza de que seu carinho será muito importante e muito bem recebido aqui. Muito obrigado pelo apoio, de verdade e pelas palavras que você disse sobre a Ana.

Beijos

Rob

Fernanda Fefis disse...

Rob, meu querido, o importante não é contabilizarmos os dias ruins.. e sim os dias bons! Sempre quando uma pessoa está doente a recuperação é lenta.. e as vezes dolorida (as recaídas)... Temos que dar passos pequenos, como vc disse, um dia por vez..
Parabéns por ficar de pé hoje! Que a sua recuperação seja a melhor possível! Torço muito por vc! Um grande abraço!
Fernanda Roberti

Rob Gordon disse...

Fernanda Fefis:

Concordo com você. Mas os dias ruins ainda se misturam aos dias bons, atrapalhando a conta - tem períodos em que tudo é uma enorme mancha cinza. Mas, sim, o "estar de pé" de agora é bastante importante. Dando passos pequenos aqui e cuidando para não escorregar novamente.

Obrigado, de verdade, pela torcida!

Beijos

Rob

Anônimo disse...

Rob, não tenho muito o que dizer, mas é triste estar aqui longe e não poder fazer mais. Mas sinta-se sempre abraçado, porque continuo torcendo por vc.

E acho que toda doença sendo tratada tem seus altos e baixos. Se segure aí.

Elise disse...

Rob, continuo aqui mandando força e energia positiva pra você. Cair e levantar é normal em qualquer etapa da vida, quer estejamos saudáveis ou não: eu vi, hoje, o meu priminho de um ano conseguindo se equilibrar pra ficar de pé e andar. Ele caiu algumas vezes, mas depois saiu andando com aqueles passinhos pequenos de criança que descobriu que consegue ficar firme...

Acho que com as crises é a mesma coisa, haverão tropeços e quedas, mas sempre haverá, também, o equilíbrio que vai te manter em pé. Eu lembro que nas minhas piores crises eu sempre pensava que ia morrer daquele jeito, mas depois, de alguma forma, eu levantava e saía andando, e me sentia mais forte por ter conseguido enfrentar mais uma crise.

No fim, o importante é isso: as crises são inevitáveis, mas elas vão passar. E por incrível que pareça elas nos fortalecem. Como já disseram aí em cima, vai chegar uma hora que você nem vai perceber que levantou porque não deu tempo de notar que caiu. Tenha isso em mente, e siga sempre em frente!

=)

Kel Sodré disse...

Ei, Rob Gordon, deixa eu te falar uma coisa aqui entre nós. Eu sei que o comentário está atrasado e que a crise já passou, mas quero registrar aqui para que você possa vir dar uma olhada sempre que quiser ou que achar que precisa.

Eu sou uma otimista inveterada. Além disso, sofro de entusiasmo. Pequenas vitórias, para mim, são sempre vitórias e, como tal, já são grandes. E me deixam muito animada!! Fiquei brava com você quando li que você não se identificava com os comentários otimistas do post anterior. Por mais que - imagino eu - esses pensamentos não sejam lá tão controláveis, queria que você refletisse sobre uma opinião que tenho aqui. Raciocina comigo: você está em uma guerra contra a síndrome do pânico e contra a depressão, certo? E, como toda guerra, esta também é composta de batalhas, certo? Umas você ganha - são os dias bons. Outras, você perde - dias ruins. Mas quem disse que as batalhas ganhas são anuladas pelas perdidas? De jeito nenhum! As batalhas ganhas ficam lá, compondo um saldo positivo para a guerra! Cada dia bom é uma - grande - vitória e você deveria se sentir orgulhoso de ter todas essas batalhas ganhas em vez de se sentir derrotado por ter perdido uma ou outra. Perder batalhas acontece. Com todo mundo, tendo ou não depressão. Mas temos que manter o foco nas nossas vitórias. Mesmo estando em um dia ruim, o dia bom esteve lá e isso foi um mérito seu! Por isso, vou continuar mantendo o meu otimismo todos os dias, certa de que, mesmo que você esteja em um dia ruim, não importa. A nossa - porque agora, ela já virou nossa: sua e de todo mundo que está na torcida por você - guerra está sendo vencida a cada dia bom.

Ah! E no caso de uma queda, vem cá, se apoia nos nossos ombros e vamos caminhando devagarzinho, reunindo forças para a batalha do dia seguinte.

Um abraço forte.

Rob Gordon disse...

Lilian

Vou me segurar, sim - ou, ao menos, tentar com todas as forças - contando com a ajuda dos amigos, e, claro, com a maior força de vontade que eu conseguir.

Obrigado, mais uma vez.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Elise:

Gostei da sua comparação. Realmente, estou quase como uma criança (re)aprendendo a andar e, neste processo, os tombos serão inevitáveis. Por isso que o melhor mesmo é andar sobre um tapete ou, melhor ainda, de mãos dadas, sobretudo nestes primeiros passos até pegar "ritmo". E, mais que deixar, torcer para os remédios fazerem efeito.

E, também como você disse, me fortalecer o máximo possível a cada crise.

Muito obrigado pelas palavras, de verdade.

Beijos

Rob

Rob Gordon disse...

Kel:

Desculpe por você ter ficado brava. Quando eu disse que não me identificava mais com os comentários otimistas, foi algo "de momento". E as aspas são porque o momento durou três ou quatro dias e, numa daquelas traições do cérebro (estou cheio delas atualmente), eu simplesmente não me enxergava mais nas mensagens que vocês me enviaram, por ter mergulhado em outra crise forte, num momento em que eu não esperava mais que isso fosse acontecer. Mesmo assim, desculpe mais uma vez.

E talvez este tenha sido o meu erro. Desde que comecei a me medicar, esta foi a primeira grande recaída que tive, e isso me assustou a ponto de me empurrar ainda mais para baixo durante este período.

Como você disse, são batalhas. Algumas se ganham, outras se perdem, mas eu preciso ter a consciência de que elas formam uma enorme guerra, e as derrotas não anulam as vitórias. Preciso ter em mente que dias ruins ainda virão e estar preparado para eles.

Muito obrigado, de verdade, pela bronca e pelo apoio.

Beijos

Rob

Kel Sodré disse...

Não há pelo que se desculpar. Há que se levantar a cabeça e seguir em frente, com a coragem de sempre. ;-)

Rob Gordon disse...

Obrigado, Kel!

Beijão!

Rob

Dragus disse...

Se me sobrar algo no 13º repetimos o Degas só para termos certeza que vai rir disso tudo daqui a alguns anos.

O que mais faço é rir de mim mesmo. =)

#tamojunto

Rob Gordon disse...

Dragus:

Vamos repetir sim. E rir disso tudo - se Deus quiser, não em alguns anos, mas em alguns meses.

Abraços, cara!

Rob

Hanna disse...

É bom te ver/ter de pé.

Estou torcendo por você, Rob.
Continue "externalizando" que continuaremos lendo :D

Força! o/

Obs.: Obrigada pelas risadas de tantos outros textos. Você merece todo o apoio.

:*

Rob Gordon disse...

Hanna

Eu que agradeço. Pelas risadas e por ler, também, os desabafos.

Beijos e obrigado mesmo.

Rob

Varotto disse...

Como diria o velho Johnny: keep walking...