31 de julho de 2011

Nasceu! [3]

Não sei ao certo como a ideia nasceu.

Pelo que me lembro, estava andando sozinho na rua. Mas claro que posso estar apenas imaginando isso, já que a maioria das ideias que eu tenho a respeito de assuntos para escrever (e como escrevê-los) nasce quando estou indo até uma livraria, na fila do cinema ou voltando do supermercado.

Independente disso, entretanto, eu sei o que fez a ideia brotar em mim. Se existe algo que sempre me intrigou como escritor é a minha capacidade de escrever alguns textos numa velocidade espantosa, com a mente funcionando mais rápido do que os dedos sobre o teclado. Estou certo de que isso não acontece somente comigo, mas com todos que escrevem. Basta apenas encontrar o tema certo, no momento certo, e a crônica se faz praticamente sozinha.

Já pensei muito sobre isso e a única conclusão a que cheguei é que os textos – ao menos, alguns deles – estão vivos dentro de nós, simplesmente esperando para sair.

Como eu disse, não sei se eu estava na rua ou em casa, mas certamente foi quando eu cheguei a esta conclusão que veio a ideia de escrever uma crônica por hora durante um dia inteiro. 24 Horas, 24 Crônicas. Mais do que desafiar a mim mesmo, estava provocando os textos a finalmente assumirem que eles existem antes de serem escritos.

Algumas pessoas vieram me falar que passar 24 horas escrevendo era loucura, mas não dei atenção – passei anos fazendo isso trabalhando com jornalismo. Não é algo fácil, mas não é impossível. O meu problema não seria a falta de sono, mas sim a falta de temas. A solução foi convocar os leitores do Twitter para me ajudarem.

Sendo assim, a cada hora eles sugeriam temas e eu escolhia um dos assuntos propostos – justamente aquele que me cutucasse no ombro, cochichando que estava pronto para ser escrito – e eu teria sessenta minutos para transformar a ideia em um texto. Era como se eu estivesse pescando crônicas (e, em poucos casos, adaptei um pouco a ideia original, mas sempre pedindo “licença” ao autor do tema).

Tudo começou por volta das 22 horas de uma sexta-feira. Talvez o primeiro texto tenha sido um dos mais difíceis, escrito com o nervosismo do prazo e com o medo de não ficar bom. As pessoas gostaram e fomos para o segundo tema. Quando eu percebi, já estava no meio da madrugada com seis ou sete escritos. Todos sobre assuntos diferentes e, na medida do possível, em estilos diferentes.

Alguns momentos foram muito difíceis. Graças ao cansaço por passar uma noite em claro escrevendo, desmoronei em lágrimas na frente do computador ao escrever um texto cujo tema me tocou particularmente. Contudo, alguns textos depois, minha vida foi salva por um texto mais leve que me fez gargalhar enquanto escrevia. Se existe algo que aprendi com tudo isso é que uma gargalhada sincera equivale a uma noite de sono. Ou chega bem perto.

Mas a grande descoberta de tudo isso foi a sensação de escrever junto com os leitores. Em determinado momento, o projeto todo se desvirtuou. Não envolvia mais prazos apertados e temas escolhidos à queima-roupa, mas sim escrever praticamente na frente dos leitores, que viam os textos sendo produzidos em tempo real.

Mais que as mensagens de incentivo para que eu vencesse o cansaço, mais que os diversos parabéns que recebi pela coragem de colocar isso em prática, a proximidade com os leitores foi o que me tocou. Um escritor e dezenas de leitores passando horas brincando com temas, criando personagens, diálogos e mundos inteiros, lado a lado. Escrevi 24 textos em 24 horas, mas, caso eu fosse tentar escrever algo sobre esta sensação, demoraria dias.

Justamente por isso que o momento mais difícil do projeto inteiro foi o final. Eu mal conseguia andar, por ter passado a maior parte das 24 horas com as pernas cruzadas, e não conseguia enxergar direito nada que não fossem letras e teclas na minha frente, mas não conseguia desgrudar do computador. As 24 horas já haviam se tornado 25 e eu precisava continuar escrevendo, precisava voltar para o computador, precisava escrever mais uma única crônica – com isso, fica fácil entender o último texto, no qual eu converso com meu blog sobre a necessidade de escrever mais um texto- e o fiz, colocando uma carta de agradecimento aos leitores antes de desligar o computador.

Em outras palavras, as crônicas venceram. Eu exigi que elas mostrassem a mim que são vivas, mas elas foram além e praticamente me transformaram em um enorme texto. Eu não conseguia mais sair da frente do computador porque eu não conseguiria mais ficar sem escrever. Mas fui praticamente obrigado a me deitar na cama e apaguei. Dormi catorze horas seguidas e acordei ainda preso nisso. Precisei esperar dois ou três dias para voltar ao normal.

E, quando voltei a mim, percebi que eu havia escrito um livro em um único dia. A ideia era tentadora demais para ser abandonada. Pelo contrário, ela poderia crescer, já que eu tinha um manancial de temas não utilizados, e prontos para se tornarem textos.

Vasculhando todos os temas que me foram propostos, mas não escritos, selecionei alguns e me coloquei a escrever. Desta vez, sozinho, em silêncio e sem prazos – mas alguns novamente foram escritos em menos de dez minutos, o que considerei como mais uma provocação das crônicas.

Com o passar do tempo, tudo isso se transformou neste livro que, agora, você tem em mãos. Em respeito à cronologia de como tudo aconteceu, ele está dividido em duas partes: a primeira, com os textos produzidos dentro da maratona, exatamente na ordem em que foram publicados. Claro que eles foram revisados – algo impossível de ser feito com esmero na correria da noite em claro – e tiveram alguns trechos reescritos, mas sua essência é a mesma. Nenhuma história foi alterada, mesmo que eu ficasse tentado a modificar alguma coisa.

Já a segunda parte são os temas que chamaram a minha atenção, mas que foram deixados de lado por qualquer outro motivo e que agora ganharam uma nova chance. Estes textos não possuem ordem alguma, a não ser dois deles (Paisagens Noturnas e Espelho) uma vez que o segundo foi pensado como continuação direta do primeiro. E vale lembrar que um dos temas (O Marketing e o Maestro) é sugestão minha. Afinal, depois de colecionar ideias dos outros, fiquei com um pouco de inveja dos leitores e decidi que eu queria brincar de propor temas também.

E, ao final de tudo, coloco uma lista relacionando cada crônica a seu tema original, para que os leitores, especialmente aqueles que não assistiram ao projeto em tempo real, entendam qual foi o tema escolhido e como ele se transformou em um texto. Meu conselho é que deixem sempre para verificar o tema ao final, pois, muitas vezes, a antecipação do assunto pode acabar com a surpresa do texto em si.

Pois poucas coisas são mais gostosas que ser surpreendido ao ler uma crônica. Afinal, ao produzir cada um destes textos, descobri que nada é mais gostoso que estar do outro lado e ser surpreendido enquanto se escreve. E eu me surpreendi muito com algumas delas, vendo personagens tomarem decisões e situações se desenrolarem de forma totalmente diferente do que imaginei ao escolher os temas.

Espero que vocês também se surpreendam.

Rob

********************

Este é o texto de abertura do meu novo livro, 24 Horas, 48 Crônicas, que começou a ser vendido hoje (em versão impressa e ebook) no Clube dos Autores. Para conhecer, clique aqui!

Poderia falar muito mais sobre isso, mas creio que o texto em si resume muito bem o que sinto a respeito disso, e qualquer outra linha seria repetitiva. Apenas gostaria de deixar aqui no blog um muito obrigado a todos vocês - sempre reiterando que conto demais com a colaboração de todos na divulgação do livro - e apresentar-lhes a capa do livro:


14 comentários:

Beatrice disse...

Que linda essa sua relação de amor com a escrita, Rob! É instigante e deliciosa para quem está aqui do outro lado vendo os resultados disso nos textos.É muito gostoso ver alguém fazendo o que sabe e com tanto prazer! Parabéns pelo projeto, parabéns pelo livro!

Sucesso pra você!

Renata Schmitd disse...

o ebook ja vai pro kindle! a versão impressa eu pego autografada depois :)

Fabi disse...

Que capa linda! : )

Climão Tahiti disse...

Tá comprado.

Um dia pego os autógrafos necessários. =)

Michele disse...

já comprei as duas versões!
agora, eu ainda quero meus autógrafos, hein?

Anônimo disse...

Vc podia, ate pra "estimular" os que deram as sugestoes, relaciona-las!

Rob Gordon disse...

Anônimo:

Farei isso em breve!

Abraços

K.P. disse...

As crônicas estavam prontinhas pra saltar de dentro de você, porque nós estávamos prontinhos para apreciá-las, Rob! Eu, pelo menos, estava pronta - mesmo sem saber - pra chorar, rir e viver cada uma delas.
Minha próxima ida a sampa vai ter que incluir um autógrafo. ;)
Obrigada, Rob. E parabéns!

Varotto disse...

Como eu já havia dito, após suas 14 horas de sono, a idéia é muito boa. mas tenho que confessar que fiquei surpreso com a rapidez com que a coisa foi para o papel.

Acho que tinha de se assim, afinal, se a primeira metade foi escrita em 24 horas, era questão de honra que a coisa saisse rápido.

Meu autógrafo eu pego no final do mês...

Parabéns!

Nell Felix disse...

Já comprei a minha edição, agora é só esperar.

Natalia Máximo disse...

Que coisa linda, minha gente. Já vou comprar o meu agora. Parabéns de novo, Rob!

Arthurius Maximus disse...

Eu sabia... o projeto merecia mesmo ser unido em um livro. Parabéns, camarada!

Anônimo disse...

Rob, acho que tava meio óbvio que ia dar em livro, né? Acho até que seria injusto se não virasse.

Posso ficar metida? Estou muito contente por ter ajudado um tiquinho, ainda que fosse com um tema, pra isso. Foi muito bom participar e acompanhar tudo, de verdade.

Tomara que venda um montão. :P

Abs!

IsabelVeronica disse...

Nossa, fiquei impressionada com a rapidez com que toda aquela deliciosa loucura virou um livro e, melhor, com o dobro de crônicas.

Rob, parabéns pelo seu novo livro, por toda esta sua dedicação e por estes textos maravilhosos.

E obrigada pelo carinho que você tem pela gente.