3 de fevereiro de 2010

Sobre Meninos e Nerds

Dia desses estava com a Sra. Gordon numa Livraria Cultura e comecei a folhear um livro de Jornada nas Estrelas. Li a contracapa e soltei:

– Este livro de Star Trek deve ser legal.

– Sobre o que é?

– É uma coletânea de histórias dentro do Universo Espelho.

– Dentro do quê?

– Do Universo Espelho.

– Você fala como se isso fosse a coisa mais comum do mundo.

Dei risada, mas saí da livraria pensando sobre isso.

E, sim, para mim, o Universo espelho é a coisa mais normal do mundo.

Ele faz parte da minha vida desde que, ainda criança, assisti ao episódio Mirror, Mirror, da Série Clássica. Assim como outras séries e filmes. Cresci assistindo (e brincando de) Star Trek, Star Wars, 007, Indiana Jones. Quadrinhos? Aos 14 anos comecei a ler histórias de super-heróis e nunca mais parei.

Eu sempre fui nerd. E, como tenho 34 anos, estou falando de ser nerd numa época na qual ser nerd não era cool. Ser nerd era nerd mesmo. Não existiam séries de TV vangloriando os nerds, nem revistas voltadas ao público nerd, e a frase “nerd is the new sexy” não poderia estar mais longe da realidade.

Claro que algumas coisas jogavam a meu favor. Eu não era um sujeito desengonçado com óculos fundo de garrafa – sim, estereótipos já existiam naquela época –, gostava de jogar bola (e não apenas jogava, mas jogava com trombadinhas), gostava da minha cerveja, do meu cigarro, de aprontar na rua, de ir a festas e bares com meus amigos.

Mas nunca abandonei meu lado nerd. Ele faz parte da minha formação, e se reflete em toda a minha adulta. Até mesmo em coisas que, à primeira vista, não são nerds. Heavy metal, por exemplo. Quer coisa mais nerd que músicas que falam sobre história, demônios, guerras? E nem vou falar sobre o Blind Guardian e suas muitas músicas que homenageiam o universo de Tolkien, porque seria clichê demais e também porque está longe de figurar entre as minhas bandas favoritas.

E confesso que eu rompo com alguns clichês de nerd. Ao menos, dos nerds atuais. Não domino programação de computadores – toda a parte “por trás” do blog é meu primo quem cuida – e nem fico devorando revistas sobre gadgets eletrônicos (adoro, mas não é meu assunto preferido).

Por outro lado, eu sou nerd a ponto de transformar assuntos não-nerds em nerdices. Sei diálogos inteiros de O Poderoso Chefão e tenho mais facilidade me lembrar dos campeões de todas as Copas do Mundo do que para lembrar meu CEP.

Na verdade, eu sou um misto de nerd e criança.

Eu brinco o tempo todo, especialmente quando estou andando sozinho na rua. Os diálogos de O Poderoso Chefão que recito (“Someday, and that day may never come, I call you upon to do a service to me. Butta... Until that day, accept this justice as a gift of my daughter’s wedding day”), falo imitando a voz e os trejeitos do Marlon Brando; os de Star Wars (“The Force is with you, Young Skywalker. But you are not a Jedi yet”), reproduzindo a voz e a respiração do Vader.

Falo sozinho. Repito diálogos inteiros de filmes, baixinho, no meio da rua. São frases que me jogam diretamente de volta à infância, quando eu não era um jornalista que sonhava em fechar a revista no prazo e em pagar o aluguel; mas sim uma criança que sonhava em encontrar um templo perdido, em livrar a galáxia da tirania, em salvar a princesa e ser aclamado como herói.

Se o mundo precisa de fantasia, eu preciso mais que o mundo. É por isso que eu sempre tive um pé no mundo real e o outro num mundo de fantasia.

Talvez seja por isso que eu tenho um blog.

E se você tem um blog e cria obras de ficção – que não necessariamente precisam se passar “há muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distante”, mas podem ser na padaria da esquina ou no elevador do seu prédio – talvez seja por isso que você cria e escreve o tempo todo.

Porque a realidade é chata demais, às vezes.

Outro dia, o Tyler levantou no Twitter a questão “vocês se consideram blogueiros ou escritores?”. Eu respondi que me considero escritor, sem nem precisar pensar. Sempre deixei isso claro aqui – se sou bom escritor ou não, não importa. Entre blogueiro e escritor, sou escritor. O blog é apenas uma ferramenta de publicação, para mim.

Mas, antes de escritor, sou criança. Basta ver como eu brinco com a realidade aqui no blog (lembram do post do Toddynho, certo? Tem esse aqui, bem antigo, que pouca gente leu e também é altamente nerd).

A palavra chave é essa: criança. Porque, para ser escritor, você precisa saber sonhar. E, para sonhar, você (ou, ao menos, uma boa parte sua) precisa ser criança. E, querem a verdade? Acho delicioso entrar no elevador do meu prédio, voltando para casa, apertar o botão do oitavo andar e, enquanto as portas se fecham, dizer, baixinho: “Bridge”.

Sim, eu faço isso. E, às vezes, quando chamo meu cachorro, eu não o chamo pelo nome, mas sim com a frase “Ensign Besta-Fera, report to the bridge!” E, acreditem, vocês não sabem nem metade das coisas que passam pela minha cabeça e que eu faço quando estou sozinho. E adoro todas elas.

Porque a coisa mais deliciosa do mundo é você ser uma criança de 34 anos. Não, minto. A coisa mais deliciosa do mundo é você ser uma criança de 34 anos e ter um blog para brincar. Isso, claro, porque eu ainda moro sozinho. Deixem eu casar para vocês verem o que eu vou aprontar, ensinando meus filhos a se levantarem e o caçula gritar “captain on the brigde” sempre que a Sra. Gordon entrar na sala (e eu levanto junto, claro).

Porque, daqui a uns anos, eu vou estar casado e com filhos. E, pagando contas, trabalhando, cuidando de quem está ao meu redor, tentando crescer em todos os aspectos possíveis, tem uma coisa que faço questão: ter a mesma idade que eles, para sempre. Por isso que, toda vez que eu desligar o computador e for para casa, o caminho que irei seguir é: "segunda estrela à direita e direto até o amanhecer".

Assim, deixo aqui uma pequena homenagem a alguns dos meus amigos de infância:



Afinal, muito do que eu sei sobre sonhar, aprendi com algumas dessas pessoas do vídeo acima. E toda vez que eu assisto a este vídeo eu choro. E aí não é nerdice, é porque alguns dos meus melhores amigos de infância estão aí, nestas cenas. Ao lado dos meus pais e do meu irmão, são pessoas com quem aprendi muito sobre vida, amor, sonhos e coragem e honra.

O mínimo que eu devia a eles, então, é um post. Afinal, eles sempre foram, e sempre serão meus amigos (referência mode: on). E, claro, um Top 5 Coisas que Aprendi vendo Jornada nas Estrelas e que Levarei para o Resto da Vida:

1. Quando sua lógica falhar, confie num palpite.
2. Inimigos são invisíveis. Assim como os Klingons, eles possuem camuflagem.
3. Mesmo quando estamos em nosso mundo, às vezes somos alienígenas.
4. Humanos são altamente ilógicos.
5. Nunca acredite num cenário sem possibilidade de vitória.

26 comentários:

Anônimo disse...

Olha gordon se isso te conforta eu tenho 32 anos e com 21 anos aprendir a andar de patins e coleciono hot wheels desde de 2004 e coleciono miniautras de carros gibi da monica e a minha pessoa tem o mundo do cavaleiros do zodiaco na estante da casa imagina e o paraiso para uma criança, fora o play2, psp, espadas chinesas, dvd do cavaleiros, jogos de tabuleiros hehehe

Tyler Bazz disse...

Minha referências da infância, com quem eu aprendi coisas, são mais normais: Pernalonga, Pica Pau, Tom & Jerry, Pantera Cor-de-Rosa...

Não sou nerd, mas sou criança até hoje.

Ana Savini disse...

Nerd!!!
\o_ | \o/ | :D

Dani Cavalheiro disse...

Cresci assistindo Star Wars. E até hoje eu (21) e meu irmão (24) lutamos com "sabres de luz" com os controles da tv e do dvd (com direito a imitar o barulho), falamos imitando o mestre Yoda ou nos chamamos pelos nomes dos personagens (eu nunca fui a princesa, sempre fui o Obi-Wan, vai saber por que? E ele, Mestre Yoda). Aprendi muito sobre a vida, o universo e tudo mais (^^) com estes filmes, e como você vou levar tudo isso pra sempre.

É delicioso ainda ser criança. Meus filhos com certeza vão se divertir muito!

E que a força esteja com você!

Besos

Anônimo disse...

Lembra quando a gente colecionava figurinhas com album e tudo....escondido...porque nós éramos malvados...da gangue da caveira e tudo mais....e compravamos as figurinhas do album da Marvel???

Gilmar Gomes disse...

graças aos céus... nós éramos os nerds na época em que o máximo de nerdice que se via eram filmes ferrando com nerds...

Felipe Lima disse...

Apesar de não ser muito fã de Star Trek (heresia mode: on), adorei o post. Também sou como vc, recitando diálogos de filmes e, de vez em quando, vivendo num mundo fantasioso. Ainda vejo desenhos animados e tudo mais, sem preconceitos. Isso faz muito bem pra nossa mente. Faz com que cresçamos menos cínicos. O mundo "adulto" é um tanto cruel, mas não devemos usá-lo como pretexto para nos tornamos seres humanos menos sonhadores.


Ah, achei curioso vc ter linkado o antigo post "Perseguição - Variações sobre um mesmo tema" o qual eu nem lembrava ter lido. E quando vou olhar só tinham dois comentários (um absurdo, por sinal), um deles meu.

P.S.: Este post me fez lembrar do filme Ponte para Terabítia

Anônimo disse...

Você trocou de senhora Gordon?

K

Renata Schmitd disse...

trocar de sra gordon? vc tem é 30s pra trocar o comentário... shuahsauhsauhsaushaush

Simone Miletic disse...

quem se identificou levanta a mão?
\o/ \o/

que o mundo seja das crianças nerd!

Varotto disse...

AAhh!!! Não dá para ver o vídeo aqui no trabalho!

Varotto disse...

Cara! Não me lembro de ter lido esse texto da perseguição, embora ache que já frequentava o Champ na época.

Sensacional!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Adorei o post, identificação total!
Estou roubando uma frase: "Nunca acredite num cenário sem possibilidades de vitória"... isso é tudo o que eu precisava no momento.

Rafiki Papio disse...

Gostei muito desse post. Somos nerds de épocas diferentes, mas ainda assim eu te compreendo.

Alexandre Greghi disse...

Rock Stamp??? Alguém????
heheh

MaxReinert disse...

Hehehehehe...nerd sim!
Todos somos um pouco!

Ou será que não?

Doutor? Doutor? Dout...

Kel Sodré disse...

Queria taaaaanto que você conhecesse meu pai...

Isadora disse...

Eu não vou nem me dignar a comentar o comentário de 'K'. 'R' Já respondeu por mim.

Anyway, vocês podem identificar Rob Gordon a qualquer hora, no Metrô Clínicas, falando "sbrubles on the bridge" (eu não lembro tudo, caramba!) toda vez que a gente entra pela entrada do hospital. É facinho de identificar ;)

LLCeR aka Salazar disse...

Adorei seu post. Realmente passo pelas mesmas situações. Estando cercado por pessoas "normais", isso é inevitável. Continue assim, cultive seu lado criança, você só tem a ganhar. Todos como nós deveriam trabalham em empregos que mantivessem nosso lado criança vívido. Eu tenho essa sorte tb. E como diria um grande amigo nosso "Make it so". E lá fomos nós pelo Alpha Quadrant.

Anônimo disse...

Isa,

"Captain Picard to conference room. Captain Picard to conference room."

Anônimo disse...

Ooops, Isadora, foi péssimo. Fiz uma confusão enorme com nomes e apelidos. Senhora Gordon, minhas desculpas.

K

Anônimo disse...

Captain Picard é o pai da Guinevere......!!!!!!!!!

Isabella disse...

Ô Meu Deus, coisa mais linda este texto...

E eu que tinha uma ideia toda torta do seu irmão... Comecei a ler meio apreensiva, hahaha... Ele é um anjo, Rob Gordon!

Que lindo tudo isto...

Felicidades a vcs... Todos!

Renata Schmitd disse...

como diriam meus cães, nada como uma boa marcação de território. vida longa e próspera ao casal gordon.

Pri disse...

Me identifiquei muito com esse texto... eu e meu namorado somos bem nerds, apesar de que ele aparenta bem mais, sempre nos divertimos como crianças com esse tipo de coisa! Fica tão mais legal nosso relacionamento quando fazemos coisas "infantis"... fica tudo mais divertido!
E é isso ai... ser Nerd é o q há!