Eu adoro a frase “aqueles que não compreendem o passado estão fadados a repeti-lo”. E acho que isso é verdade. Se você passa por um determinado acontecimento diversas vezes na sua vida, é porque você não entendeu ainda o que está acontecendo. Ou seja, a culpa é exclusivamente sua.
Ou não.
A atendente do boteco aqui em frente à redação é um exemplo do “ou não”.
Aparentemente, ela não entende o passado, mas também não tem muita intimidade com a matemática. E, assim, ela é obrigada a atravessar mais de uma vez algumas situações, mas sempre me carregando a tiracolo.
Lembram-se deste post aqui? Pois bem, o que vou relatar agora aconteceu ontem.
Cheguei ao boteco e pedi dois boxes de Marlboro. Ela me deu os cigarros e disse, em alto e bom e som:
– Oito e cinqüenta.
Eu abri a carteira, puxei uma nota de R$ 10,00 e entreguei. Ela pegou a nota e falou alguma coisa incompreensível. Na dúvida, eu apenas sorri.
E ela me devolveu uma nota de R$ 2,00.
Calculei que ela deveria ter falado algo como “estou com pouco troco aqui, depois você me devolve 50 centavos”. Afinal, esta seria a única explicação para ela ter me voltado R$ 2,00. Num mundo normal, se eu lhe desse, então, cinquenta centavos, tudo estaria resolvido. Assim, abri a carteira e disse:
– Olhe, eu tenho duas moedas de 25 centavos aqui. Já fica certo.
– Ah, ok.
Ela pegou as moedas e analisou o que estava acontecendo. Talvez fossem muitos números para ela, mas ela assumiu, imediatamente, a expressão de “este programa executou uma operação ilegal e será fechado”. Puxou uma nota de R$ 1,00 e me devolveu.
– Agora eu te dou mais um real e fica certo.
– Como assim?
– Cinqüenta centavos que eu estava te devendo com mais estes cinqüenta centavos, dá um real. Pronto.
– Eu estava devendo cinqüenta centavos.
– Não, você me deu dez reais.
– Sim, e você me devolveu dois.
– E agora estou dando mais um real, por causa dos cinqüenta centavos.
Foi neste momento a China acordou. China é a dona do boteco. Eu a chamo assim por causa da II Guerra Mundial, quando falavam que a China era o urso adormecido. A diferença é que, de acordo com os historiadores, se a China acordasse, a guerra tomaria rumos totalmente diferentes. Agora, se a dona do boteco acordar um dia, ninguém vai perceber, porque ela vai continua imóvel. Aliás, é provável que ela apenas se espreguice e resmungue um "Guerra? Que guerra? Calma, acabei de acordar".
Não é exagero meu. Ela é praticamente uma medusa que se esqueceu dos próprios poderes e, ao se pentear uma manhã, olhou no espelho e virou pedra.
Ela estava ao lado da atendente, alheia a tudo o que acontecia, com seus tradicionais olhos perdidos e aparentemente presa em algum canto do seu mundinho. Mas, a confusão envolvendo centavos e reais pareceu tê-la incomodado e ela despertou momentaneamente do transe. Demonstrando uma perspicácia ímpar naquele boteco, ela disse
– Ele está certo, pega a nota de um real.
A atendente olhou para ela com cara de interrogação. Depois olhou para mim e para a nota de um real. Todas as fibras do seu ser gritavam que ela estava sendo enganada em algum momento, mas isso estava além da sua compreensão. Com olhos de “a conta não fecha”, suspirou e pegou a nota.
Eu virei as costas e saí do boteco. O urso voltou a adormecer. E, como a atendente não entendeu nada do que aconteceu, ela vai ter que passar por tudo isso de novo, e em breve.
Adivinhem com quem.
8 comentários:
Oi, Rob.
Ontem recebí a notícia de que passei pra Jornalismo. Foram dois anos tentando alcançar a tão sofrida vaga, disputada quase à sangue. Mas ontem passei.
E você com isso, não é mesmo? Não. Não é mesmo. Houve um tempo em que também fui blogueira, mas o meu blog era de humor. Talvez não era de um humor tão bom quanto eu gostaria que fosse, mas foi o meu blog e lá eu despejava tudo o que estava sentindo.
Certo dia, pensei em ampliar minhas visitas e fui parar na comunidade Blogger Brasil. Lá, você sabe, tem o seu blog como campeão. "Nossa, que interessante! Vou dar uma olhada!" E vim parar aqui. Lembro muito bem de ter lido, há quase 2 anos atrás, um texto em que você dizia que um leitor tinha lido todas as postagens do blog! E eu ví que esse leitor tinha um porquê pra fazê-lo.
Depois de tanto tempo com esse blog martelando na minha cabeça, que eu tentava de toda forma digitar o nome certo e observava, decepcionada: "O blog que você estava procurando não foi encontrado." E depois de um tempo, eu acabei por esquecer onde eu tinha te achado. Ontem eu passei pra Jornalismo e hoje eu te achei. E chorei lendo o texto do seu irmão e rí, lendo o post sobre o seu cachorrinho.
Ontem eu passei pra Jornalismo e tomara que eu consiga ser uma jornalista como você. =)
PS.: Sim, eu lí essa postagem também! Podia você dar umas aulinhas de soma pra menina, né?
Sabe o que mais me impressionou? Ela te deu uma NOTA de um real. Faz muito tempo que não vejo uma nota de um real!
Assim... na maioria das vezes eu penso em fases inicadas por "Não, ninguém é tão idiota a ponto de..", mas as pessoas costumam gostar de me fazer sempre estar errada e são tão idiotas a ponto de... !
Mas nada como ter que ensinar 1 físico a fazer as contas necessárias pra dividir a conta da cerveja do boteco.
Sem mais.
ÔÔÔ fase!!!!!!!!!! rsrsrsrsrsrs
Então... "Oito e cinqüenta"?
10 paus de cigarro?
Mano... larga logo essa merda que eu preferia ter você no meu velório (conforme o combinado) do que o contrário.
Encare isso como um carma. Você fez alguma coisa mesmo para irritar os deuses.
Uhahahah, Rob vc realmente deve incomodar os deuses!
Acho q já passei por coisas do genêro, principalmente quando dou moedas (coisa frequente)...
Precisa adivinhar? ;)
Postar um comentário