18 de janeiro de 2010

Meeting Eric Franco & Gabi Bianco

Com certeza existem pessoas que lêem o Champ e acham que é tudo invenção da minha parte, que nada do que escrevo aconteceu comigo de verdade. E, sendo sincero, este era um dos meus maiores problemas quando o blog começou a ficar conhecido – cheguei a fazer um ou outro texto sobre isso –, até que tomei a decisão de não me importar mais. Quem quiser acreditar que é verdade, acredite; quem não quiser, não acredite.

Mas, mesmo depois de ter parado de me importar com isso, ainda é extremamente recompensador ver algumas coisas que falo no blog ganharem vida na frente de outras pessoas. Ver aquela pessoa ou aquele acontecimento se tornando real na frente de alguém que lê o blog dá uma sensação boa, como a se aquilo tivesse sido criado por mim. Não sei explicar ao certo, parece que as pessoas estão vendo uma peça de teatro que eu escrevi.

Sábado, por exemplo, fui almoçar com o Eric Franco e a Gabi Bianco, casal que conheci no Twitter, meses atrás. Faço aqui um mea culpa: os dois – principalmente a Gabi – já haviam me chamado para almoçar inúmeras vezes, e eu nunca podia, por causa do trabalho. Vale um adendo aqui: não é que eu não podia almoçar com eles; nestes dias, eu não podia almoçar, ponto.

As coisas começaram a parecer mais fáceis quando descobrimos que eu e o Eric trabalhamos no mesmo quarteirão. Assim, ensaiamos vários almoços para o começo de janeiro, mas todos em vão. E, finalmente, ontem, pleno sábado, nos encontramos no restaurante onde sempre almoço durante a semana.

Fui o primeiro a chegar e fiquei esperando na porta. Logo, eles chegaram de carro: a Gabi dirigindo e o Eric ao lado.

Assim que eles foram estacionar, o carro que estava atrás deles, com dois velhinhos, diminuiu a velocidade. E o carro atrás dos velhinhos, com dois armários afro-brasileiros (politicamente correto mode: on) ouvindo algo que deveria ser Racionais, sem conseguir parar a tempo, bateu na traseira do veículo dos velhinhos.

Ou seja, a Gabi ainda não havia estacionado o carro e eu já havia provocado um acidente de trânsito.

A rua inteira ouviu o barulho da batida, mas ninguém mais ouviu a frase “estamos de olho em você e seus amigos”, porque ela foi dita pelos deuses do azar, e somente para mim. Resmunguei discretamente (e bem discretamente, afinal não queria que o Eric ou a Gabi achassem que eu estava falando sozinho) um “por favor, eles são legais, eu quero só almoçar com eles” e fui encontrá-los.

Felizmente, o resto do almoço transcorreu sem (maiores) problemas.

O Eric, em alguns pontos, é bastante parecido comigo. Se uma gota dos comentários que ele faz – sobre qualquer assunto – respingar na mesa, é capaz de abrir um buraco na toalha, de tanta acidez. Já a Gabi é daquelas que é divertida por natureza: o jeito que ela conta as histórias é engraçado, por alguma característica indefinível. As histórias que ela conta seriam engraçadas de qualquer jeito, mas, na mão da Gabi, se tornam inesquecíveis.

Ou seja, se o garçom passasse pela mesa e oferece um pouco de sarcasmo para acompanhar o almoço, nós teríamos respondido:

– Não, obrigado, isso temos de sobra.

Assim, o prato principal do almoço foram gargalhadas, daquelas de desopilar o fígado.

Passamos cerca de uma hora conversando sobre muitas coisas: de telemarketing ao passado da Gabi no Pão de Açúcar (se você a conhecer um dia, peça a ela fazer o sorriso demoníaco), de livros (especialmente a fórmula por trás das biografias de astros de rock, decifrada pelo Eric) à minha síndica.

E entre os assuntos, aquele boteco (que já falei algumas vezes aqui) onde você precisa entrar armado e tomar um dos clientes como refém para conseguir ser atendido, e do qual o Eric também é freqüentador.

E, claro, como estávamos no “meu” restaurante, evidente que um post ganharia vida. Assim que terminei de comer, o garçom (aquele mesmo do bolo prestígio) se aproximou de mim.

– Hoje tem torta de maracujá.

Pensei em perguntar a ele a) “quantas vezes você me viu pedir uma sobremesa que não envolvesse chocolate?”; b) “quantas fatias de torta você ainda precisa vender para cumprir sua meta?”; ou c) “porque você não vai brincar com as outras crianças e deixa os adultos comerem em paz?”, mas mudei de idéia e soltei apenas um “ok, depois eu vejo o que peço”, usando o melhor tom “aham, garçom, senta lá” que consegui.

Mas o ponto alto do almoço – além da companhia, claro – foi quando o assunto caiu no coelho da Faria Lima.

Esta semana eu estava indo à terapia quando, andando pela Faria Lima, vi duas pessoas, próximas a um ponto de ônibus, tentando capturar alguma coisa no meio de umas árvores que tem por ali. Imaginei que estivessem atrás de um trombadinha-das-selvas, mas, quando olhei com atenção, vi que eles estavam correndo atrás de um coelho.

Um coelho. No meio da Faria Lima, a poucos metros do Largo da Batata.

Meu lado escritor automaticamente ordenou que eu corresse até ali para olhar de perto e colocar no blog. Por outro, meu instinto de sobrevivência imediatamente deu um soco na cara do instinto de escritor, se aproximou de mim e disse:

– Rob, pare para pensar um pouco. Estamos falando de um coelho na Faria Lima. Um coelho! No meio da Faria Lima! É evidente que você está vendo coisas. Se você se aproximar dali e descobrir do que isso se trata, você vai querer comentar isso com as pessoas, certo?

– Certo, respondi.

– E você se lembra para onde estamos indo?

– Para a terapia.

– Isso. Você consegue imaginar o que pode acontecer se você entrar na terapia e falar “acabei de ver um coelho na Faria Lima”?

– Não sei. Eu vou ser internado?

– No mínimo. Vai por mim, vamos embora. É melhor.

– Mas você está vendo o coelho, também, não está?

– Rob?

– Oi.

– Esqueça o coelho e vamos embora.

Assim, deixei o coelho para trás, e, até ontem achei que eu realmente tinha sofrido uma alucinação.

Qual não foi minha surpresa quando o Eric começou a contar uma história parecida?

Juntamos os pauzinhos e descobrimos que ele passou por ali pouco antes (ou pouco depois) de mim, e também viu o coelho. Quase pulei da mesa e dei um abraço nele, chorando e gritando que “eu sabia que não estava louco!”, mas me comportei. Afinal, como era somente a primeira vez que eu me encontrava com eles, e já tinha causado um acidente de trânsito, achei melhor ficar quieto.

Mas, no final do almoço, as coisas ficaram um pouco pesadas.

Aparentemente – e eu não sabia disso – o Eric e Gabi usam substâncias ilegais. São totalmente viciados. Eu comecei a perceber que eles começaram a falar baixinho entre eles, usando frases como “vamos até lá comprar, estou na maior fissura”, “a gente leva ele também, ele tem pinta de quem usa” e “não estou agüentando mais, vamos”.

Pagamos a conta e fomos. Quer dizer, eu não sabia onde estávamos indo, mas fomos.

Andamos um pouco pelo bairro, entramos numa viela escondida e em uma casa mais escondida ainda.

Era um lugar chamado Casa do Brigadeiro. É uma casinha estilo casa da avó, com todos os doces que você puder imaginar. E a Gabi, orgulhosa de apresentar aquele tesouro a mais uma pessoa – sabe-se lá quantas almas este casal não destruiu com aquela doceria até hoje – soltou um:

– Aqui tem bolo mousse.

Era tudo o que eu precisava ouvir. Encerramos o almoço ali, naquela espécie de filial da Fantástica Fábrica de Chocolate, com um dos melhores bolos mousse da história contemporânea.

E eu me conheço, tenho certeza de que daqui a alguns anos, estarei buscando ajuda em grupos de apoio (depois de ter vendido tudo o que tenho para comprar mais bolo mousse), pesando mais de 100 kg e dizendo coisas como:

– Oi, meu nome é Rob Gordon e faz três dias que não vou à Casa do Brigadeiro.

Obrigado, Eric. Obrigado, Gabi. Vocês destruíram mais uma vida.

P.S. – O prazer foi meu!

16 comentários:

Varotto disse...

Atualizando:

Degas cai na rede, seguido pela Casa do Brigadeiro.

P.S.: sem acidentes rodoviários...

Bel Lucyk disse...

Rob, eu ando sofrendo sem poder comer chocolate...
Hei, eu sei que essas coisas podem acontecer. Isso, de coelhos em lugares improváveis. E não é alucinação. Sei disso porque ontem estava indo pra casa da minha mãe e tivemos que parar o carro no meio da rua porque uma preguiça estava atravessando a rua! Uma preguiça!!!!!

Bia disse...

Melhor mesmo não seguir o coelho... (Alice? Matrix?).

E, falando em animais exóticos em lugares estranhos, uma vez me deparei com um jabuti na Av. Sapopemba. Deve ter fugido de algum lugar (estava mesmo com cara de fugitivo). Agora, peloamordedeus, como alguém deixa um jabuti fugir?

Gabi disse...

Faltou falar sobre meus planos de capturar, resgatar e salvar o coelho! \o/

Foi um prazer te conhecer e te viciar na Casa do Brigadeiro - que tem site, ó: http://www.brigadeirodoceria.com.br/

Beijos

Gabi, viciando amiguinhos em doces desde 1977.

Tuíla disse...

No meu bairro, os ônibus param para as vacas atravessarem a rua.

E eu não moro na Índia, juro.

Pulo no Escuro disse...

Realmente, um coelho na Faria Lima não faz o menor sentido.
Nunca imaginei coelhos quando comprava a Faria Lima no Banco Imobiliário, isso me fez mudar profundamente a minha idéia de investimentos lucrativos.
Quer dizer... quem se hospedaria num hotem em uma rua com coelhos...

huahauhuahauhauha
desculpa.

Rafiki Papio disse...

Maravilhoso esse post, o que eu gosto daqui é justamente que você compartilha suas coisas conosco. Sendo alucinações ou não.

Post Scriptum: Eu acredito em você.

Carlos Cruz disse...

Creio que voces estão kits.

Voce causou um desastre automobilistico apenas com um olhar, e ela destruiu seu futuro brilhante gastando dinheiro com doces.

Me parece Justo.

:D

Sil disse...

Vou processar você e a Gabi.
Já entrei no site, surtei e peguei o endereço da tal casa.
Vocês dois vão me pagar por cada quilo que eu ganhar nessa brincadeira.
Se você fosse conferir de perto a história do coelho tenho certeza de que daria um post impagável.
Beijo
Sil

disse...

O coelho ganhou do porco dos Jardins.

Perci Carvalho disse...

1. não tenho noção de onde e como seja a "Faria Lima" ... mas sempre tento comparar com algo daqui de BH mesmo, pra tornar mais real... rs

2. e éu me pego pensando, quando será que terá um post entitulado "Meeting Perci Carvalho"....

3. QUERO CHOCOLATE. mas tudo que tenho são balas de uva. minha tia disse que eu to engordando (fato) e tirou todo o chcolate de casa ontem e eu descobri isso hoje.

Unknown disse...

Rob, você a cada post se torna mais inusitado!
Detalhe: Estou no interior de Minas, precisamente no Pontal do Triângulo Mineiro, acabei de acessar o site que a Gabi passou e estou prestes a sofrer um surto...
... Irei deixar uma carta, culpando você por tudo!:o

Dani Cavalheiro disse...

Eu conheci o seu blog pelo da Gabi. Ela realmente me parece ser uma pessoa muito divertida.

Você deveria ter dado um soco no instinto de sobreviência pra ter ido registrar a história do coelho pra gente! Daria um ótimo post.

P.S.: Eu acredito em você. E no Harvey Dent...

Tyler Bazz disse...

Um coelho? Na Faria Lima? E o esquizofrênico sou EU????

Ok, Rob, ok.


Vc tá fazendo contatos.. o Degas Cai na Rede vai se desenhando...

E esses dois aí parecem tão legais! Fiquei com vontade de ter amigos assim... (tomara que meus amigos não leiam isso uahhuahuahuahua)

Bruna disse...

Siiimm!!! A casa do brigadeiro!! Ambiente muito bonito, e doces maravilhosos!... maldita hora que vc foi me lembrar disso, Rob!!!! ¬¬

Jo-jo disse...

Aaaaaaah se todo merchan fosse assim!!!!