10 de dezembro de 2009

Quatro Homens e Um Segredo - Parte I

Quem me lembrou dessa história foi uma amiga que cresceu comigo, em Moema. Eu já tinha pensado em contá-la aqui, mas nunca tinha parado para escrever. Hoje, pensando sobre isso, achei que dava samba.

Aconteceu quando eu tinha uns dezesseis, dezessete anos – que foi o auge da minha fase lixo. Era cabeludo, só me vista de preto, e passava apenas uma pequena porcentagem do meu dia sóbrio.

Se por um lado minha mãe não devia viver muito feliz com isso, por outro, eu sei que muita gente ao meu redor era pior que eu. Não estou falando dos meus amigos mais próximos, mas alguns conhecidos do bairro tinham (muitos) problemas com (muitas) drogas, normalmente envolvendo (muitas) viaturas.

Eu, por outro lado, nunca cheguei a esse ponto. Nunca corri risco de ser preso ou de morrer.

Quer dizer, a não ser uma vez.

Era uma segunda-feira à noite, por volta das 23 horas. Como no dia seguinte eu ia à escola, já estava pronto para dormir. Na verdade, acho que estava lendo na cama, mas comecei a ouvir algumas batidas na janela do meu quarto, como se algo estivesse batendo na veneziana. Abri a janela e era um dos loucos que andava comigo – acompanhado de outras duas pessoas não muito normais – jogando pedras na minha janela, para me chamar.

– Desce aí!

Fui até o portão e cumprimentei os três. Eles brilhavam de excitação. Fiquei com receio de que era por eu estava apenas de shorts, mas felizmente, não era nada disso. na verdade, eles tinham grandes planos para aquela noite.

– Vamos roubar os ETs da Tabacow!

Tudo bem, admito que a frase é, no mínimo, estranha. Ou melhor dizendo, não faz sentido algum.

Mas vou explicar. Aqui em São Paulo, na Avenida Brasil, funcionava o escritório da Tabacow (tapetes, carpetes, alguém?), numa casa linda, com um enorme gramado na frente. Para promover a empresa, os gênios do departamento de marketing criaram uns grandes extraterrestres de carpete, que ficavam no gramado, olhando o movimento.

Claro que a coisa virou folclórica, e muita gente passava por ali apenas para ver os pequenos aliens oriundos do planeta Tabacow.

Claro que a coisa ganhou espaço na mídia, e até mesmo a Veja São Paulo deu uma nota a respeito disso, cumprimentando a empresa pela iniciativa criativa.

E claro que eu e meus amigos tínhamos que fazer merda.

Na verdade, já havíamos feito. Na véspera, outros membros da nossa turma haviam passado lá, de madrugada, e roubado um dos ETs. Não deve ter sido difícil: não tinha segurança e os ETs estavam dando sopa ali, provavelmente achando que havia vida inteligente naquele planeta, e que nada aconteceria com eles. Estavam errados. Em Moema, ao menos, não havia vida inteligente – nós havíamos vendido o pouco de inteligência que tínhamos para comprar mais cerveja, meses antes.

Enfim, lá estava eu, pronto para dormir, sendo convidado para participar de um delito. Ou melhor, de um delito ridículo. Sim, as pessoas mergulham no crime por causa de drogas, fortunas, sexo. Eu? Eu abandonaria a lei por causa de um ET feito de carpete. Ô fase. Não havia como ser mais ridículo.

Aliás, não apenas eu era ridículo. A idéia era ridícula, o objeto do roubo era ridículo, o plano (“a gente pega e sai correndo, ué”) era ridículo.

Ou seja, não tinha como ser melhor.

Evidente que dois minutos depois eu estava de tênis, bermuda e camiseta, andando na ponta dos pés na direção do portão.

Sim, na ponta dos pés. Minha mãe estava dormindo e é claro que eu não fui acordá-la, saí escondido de casa. Afinal, como explicar para a própria mãe que “olhe, estou indo roubar um alienígena feito de tapete, volto lá pelas 2. Tchau”. Não ia colar.

Assim, saí de casa escondido, fazendo o mínimo possível de barulho, e partimos, em dois carros, em direção à Avenida Brasil.

Antes de continuarmos, cabe descrever o grupo de soldados de elite: as tarefas eram muito bem divididas: os dois que dirigiriam os carros tinham como hábito, ficar disputando rachas pela cidade; eu e outro amigo, este de infância, seríamos os homens de frente, responsáveis pela abdução do alienígena. Isso porque eu sou rápido e ele era forte.

Era uma combinação de talentos escolhida a dedo, ideal para um golpe como esse.

Nada poderia dar errado. Ao menos, era o que eu achava.

(continua...)

21 comentários:

Unknown disse...

aiai...

(ansiosa pela segunda parte)

Ana disse...

Putz, lá vem vc com as suas sagas (curiosidade)

Bia disse...

Que raiva desse "continua"....

Varotto disse...

Tapetes Estabacow...

Otavio Cohen disse...

haha lá vem.

rob, seu delinquente juvenil.

Dragus disse...

Assino embaixo das palavras de Varotto.

Rafiki Papio disse...

Olha, escreva logo as outras partes. =D
Tirando a parte do não sóbrio, eu tb andava assim por essa idade, cabelo grade e de preto.

Bruno disse...

Hahahahah!

Eu e meus amigos saíamos num Passatão vermelho estourado e também tínhamos um esquema tático. Como o Possante costumava só pegar no tranco, era assim: o dono do carro dirigia dirigia (o único com carta), um amigo ficava sempre no carona, porque era o mais forte pra empurrar e eu ficava no banco atrás do carona, porque era o mais rápido pra correr atrás do carro e conseguia entrar sem ter que empurrar o banco. O outro era o responsável por executar as tarefas sujas. Um dia conto as peripécias, hahaha!

Abraço

Renata Schmitd disse...

já disse: o seu ô fase é tão vitalício, que deveria ter um upgrade para "ô era..."

Kel Sodré disse...

hahahahah

Lá vem [2]

Bel Lucyk disse...

ô curiosidade! =)

Leandro disse...

Acho que nunca fiquei tão curioso pra ler a continuação de uma saga quanto agora...

Layla Barlavento disse...

Por mais que eu me esforce. Nunca consigo chegar perto do que virá depois do continua...

May. disse...

rob, seu delinquente juvenil. (2)

Anônimo disse...

Rebeca e Jotacê:

Não entendi o comentário de vocês sobre o texto. Reli o texto inteiro, e não achei nenhuma referência ao Canadá. O mais longe que eu fui, nesta história, foi até a Avenida Brasil, aqui em São Paulo mesmo.

A não ser, claro, que a pochete que você ofereça de brinde seja feita de carpete. Mas, como você não especifica isso, posso presumir que o seu comentário também será dividido em partes, como meus posts?

Sem mais,

Rob.

PS - Vai Canadá meia hora de bunda e não volte mais com comentários assim.

Anônimo disse...

Cara, depois nego estressa comigo pq eu odeio spam como esse aí da dupla Rebecca e Jotacê. ODEIO isso, odeio. Que falta de educação. Odeio propagandas não solcitadas de promoções. Virou praga na internet isso. Humpf.
Tá certíssimo Rob!

Climão Tahiti disse...

HAHAHAHAHAAHAHHAAH

Mega-ultra-spam owned pelo Rob.

=)

Ana Savini disse...

Acho que vandalismo e ser sem noção era uma síndrome dos moradores entre 15 e 18 anos de Moema nos anos 90.
Na época eu namorava c/ o meu atual marido e ele morava em Moema. E toda a turma dele era cabeluda e usava camisetas pretas e de rock. E eles adoravam tirar rachas. e eles faziam muita merda.
*às vezes esse (continua...) dá uma certa raiva rsrsrsrs

May. disse...

"Aliás, não apenas eu era ridículo. A idéia era ridícula, o objeto do roubo era ridículo, o plano (“a gente pega e sai correndo, ué”) era ridículo.

Ou seja, não tinha como ser melhor."

Um dos meus amigos sempre diz "quanto mais pala, menos pala". Sábias palavras. Mas no final, sempre dá merda. E pra vir parar aqui no Champ, essa não foi excessão. =)

May. disse...

E outra coisa: repara no fim do spam. "Mostrem que a emoção realmente vale a pena. Beijos jogados no ar, sempre".

Não sei do que você reclama, Rebeca e Jotacê são poetas.

Gilmar Gomes disse...

axo uma tremenda palhaçada pessoas virem aqui fazer propaganda... aliás, visitem: www.thegilgomex.blogspot.com