31 de outubro de 2009

Marcha para Vitória - Parte I

Deveria ter sido um fim de semana perfeito. O casamento de dois amigos queridos em Vitória (que rendeu este texto de presente para eles) coincidiu justamente com um período mais tranqüilo na redação. Assim, deixei a Besta-Fera aos cuidados de um amigo, coloquei o terno na mala e fui.

Ou, ao menos, tentei. Afinal, como se trata de mim, a viagem foi cheia de problemas. Ou, melhor ainda, apenas um problema (que, em contato comigo, deu início a uma reação química intensa, que desencadeou uma série de outros problemas das mais variadas cores e tamanhos possíveis): o aeroporto de Vitória estava fechado devido ao mau tempo.

Na verdade, eu já deveria ter desconfiado de que algo daria errado aconteceria quando saí de casa e percebi que estava sem cinto. O problema de andar sem cinto não é a calça caindo, mas sim o fator multiplicador disso: todo problema que você tem cresce em até dez vezes quando suas calças estão caindo.

Aparentemente, uma espécie de Katrina cover estava se apresentando em Vitória. Eu, claro, não sabia de nada disso e entrei em Congonhas, na sexta de manhã, com minha passagem da Gol (comprada há mais de um mês).

Fui recebido com sorrisos pela atendente:

− Não existem vôos para Vitória saindo agora, senhor.

− Existem sim. A prova disso é que eu comprei uma passagem para Vitória semanas atrás. E o vôo sai daqui.

− Sinto muito, mas o aeroporto de Vitória está fechado devido ao mau tempo.
Suspirei. O grande defeito do mau tempo é que ninguém pode ser responsabilizado por ele.

− Bem, eu tenho um casamento em Vitória amanhã. A que horas você acha que os vôos para lá começam a decolar?

− Só na segunda-feira.

− Não, isso não vale. Eu perguntei “horas” e não “dias”. Vamos tentar de novo: a que horas você acha que os vôos para Vitória começam a decolar?

− Somente na segunda-feira.

− Mas hoje é sexta!

− Nossa expectativa é que o tempo melhore somente na segunda-feira.

− Quatro dias? Por acaso você é descendente direta de Noé? Nós estamos falando de uma chuva, não de um cataclisma.

−Senhor, a situação lá está bem feia. Nenhum avião consegue pousar ali. O senhor só conseguirá chegar lá na segunda-feira. E isso, com sorte.

Pensei em prosseguir com a teoria de Noé. Com sorte, a Profeta do Dilúvio estaria construindo uma arca para viajar até Vitória e salvar um casal de cada espécie. Com um pouco mais de sorte ainda, eu conseguiria transferir minha passagem para a Arca e chegaria ao Espírito Santo.

Entretanto, mudei de idéia quando lembrei que eu sou eu. Ou seja, capaz de eu conseguir lugar apenas junto dos macacos (“as outras jaulas estão lotadas, senhor, por causa do feriado”), e viajar centenas de quilômetros no canto da jaula, tentando me proteger, enquanto os macacos passavam o tempo jogando merda em mim.

− Então, me ajude aqui. Eu tenho um casamento. As pessoas não vão remarcar o casamento por minha causa. Ainda se eu fosse o noivo, ou a noiva, até daria para fazer algo. Mas nem padrinho eu sou.

− Sinto muito, senhor. O senhor só conseguirá pousar na segunda-feira.

− Eu não estou pedindo para você abrir o aeroporto de Vitória. Estou pedindo alternativas. Por exemplo, você não consegue me colocar num vôo para o Rio de Janeiro? Aí, de lá, eu pego um ônibus.

− Não há vôos para o Rio de Janeiro, senhor.

− Não vai dizer que é por causa da chuva, certo? Se for, eu pego uma capa, não tem problema.

− É por causa do feriado. Só há vôos para o Rio de Janeiro amanhã. Todos os outros estão lotados.

− Ok. Para onde você tem algum vôo que poderia me ajudar?

− Tenho um para Porto Seguro, às 15:30.

− Não, você não entendeu. Isso é depois do Espírito Santo. Eu quero ir de São Paulo para o Espírito Santo e você está me aconselhando ir até o Nordeste. Não faz sentido.

− Mas lá o aeroporto está aberto.

− Eu não quero apenas viajar no feriado. Porto Seguro deve ser muito bonito, todo mundo faz viagem de formatura para lá, mas eu preciso mesmo é ir para Vitória.

− Entendo senhor.

− Acredito que mais gente tem passado por esse problema com Vitória, certo?

− Sim, senhor.

− E o que elas estão fazendo? Que solução vocês estão dando?

− Nós estamos devolvendo o dinheiro dos clientes.

− Ou seja, não tem solução.

− Sinto muito, senhor. Mas o aeroporto de Vitória...

− Está fechado por causa da chuva. Sim, eu sei.

Devolvi minha passagem e recebi o comprovante do reembolso. Peguei o celular, liguei para o meu amigo-noivo:

− Estou indo de ônibus.

Olhei no relógio: meio-dia. Num mundo perfeito, eu chegaria a Vitória às 14:00. Mas, como o mundo está longe de ser perfeito (pior, ele é robgordoniano), eu chegaria, com sorte, às 7:00 do dia seguinte.

Assim, coloquei a mala nas costas, levantei as calças e saí em direção à rodoviária. Mal sabia eu que a viagem estava, literalmente, só começando.

(continua aqui)

23 comentários:

Natalia Máximo disse...

Ai, Meu Deus! As sagas sempre me deixam apreensiva!

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

Essa saga promeeete

Varotto disse...

Cara, que azar! (redundância mode: on)

Vim para Natal na sexta e o aeroporto estava meio confuso por conta dessa coisa de Vitória (no seu caso, Derrota).

Eu já devia saber que era tudo sua culpa...

Tyler Bazz disse...

Como diria o inventor do Lego, vamos por partes:

- "O grande defeito do mau tempo é que ninguém pode ser responsabilizado por ele."

COMO ASSIM, PORRA???? Vai me dizer que São Pedro TAMBÉM não existe???????

- Você foi DE ÔNIBUS! Quero LOGO a continuação disso, sério....

- Aos leitores: o Rob, sempre atento, esqueceu de linkar o "texto-presente". Faço-o:

http://champ-chronicles.blogspot.com/2009/08/caes-e-amendoim-japoneses.html

Tyler Bazz disse...

É esse o texto, certo, Rob?

Charlie Dalton disse...

Estou esperando pelo resto, assim como o resto dos leitores. (Acho que esse é a primeira saga que leio aqui.)
----------------------------
Guri, não sou de ficar colocando link de blog meu, mas essa história que contei lá tá muito robgordoniana. Quero MUITO que você veja. Já tentei te mostrar pelo Twitter, mas talvez vc não tenha visto. Bom, aí está o link.

http://observoeescrevo.blogspot.com/2009/10/transito-9102009.html

Matheus Carvalho disse...

damn... quando a história entrou no ápice da apreensão você coloca aquele maldito (continua...)...

shit...

Anônimo disse...

"O grande defeito do mau tempo é que ninguém pode ser responsabilizado por ele."

Merecia entrar para o grande livro das citação de Rob Gordon :P

Jullia A. disse...

assim não vale rob.
Continuuua!
A pior parte de sagas é a espera.
pf

May. disse...

Ônibus já dão trabalho pras pessoas que não tem problemas com a sorte, com você deve ser o caos. Espero ansiosamente a continuação =)

Hally disse...

Ai ai, sinto que essa saga terá mais de três partes...

"Assim, coloquei a mala nas costas, levantei as calças e saí em direção à rodoviária."

Mijei! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Ain, quero a próxima parte!! XD

Crisolda disse...

Adoro sua persistencia, vc sabe que vai dar merda, mas não desiste!!! hehehe

Unknown disse...

Adoroo essas sagas! Fico esperando anciosamente pela continuação...

Carol disse...

o amigo é o Otávio do outro post? Ou é o Otávio?

Renata Schmitd disse...

meninos e meninas. eu sou a noiva. agora esposa. e só tenho uma coisa a dizer: pode sentar que lá vem história.

(obrigada cu. mesmo.)

Renata Schmitd disse...

e o amigo-noivo, agora esposo, é o Otávio.

Gilmar Gomes disse...

coidiloco...

eu curto as sagas... apesar das sagas serem longas (trocadilho vergonhoso que só poderia ser meu)...

nunca viajei de avião... não é medo nem nada específico... apenas quando sobra dinheiro suficiente para isso, eu não tenho tempo, e quando sobra tempo... adivinhem... estou numa época bem fodida de grana... fazer o que, né???

e o que parecia perdido foi reencontrado... meu blog ainda existe e tem post novo (Rob adora propagandas de blogs...) no www.thegilgomex.blogspot.com

Unknown disse...

A menina da Gol sabe das coisas...hehehe

Eu trabalho no check in da GOL no Galeão e só hoje alguns voos começaram a ir pra Vitória :)

Qse uma semana de transtornos.

Só que aqui no RJ, a gente disponibilizou ônibus para os passageiros como alternativa.

Abraço!

Otavio Cohen disse...

pq vc n pegou uma bicicleta. ia ser mais rapido, aposto.

Anônimo disse...

Tyler:

O texto é esse mesmo. Valeu pelo link. Eu escrevi esse texto ainda em Vitória, no notebook do noivo, antes da cerimônia. Na pressa, esqueci de linkar. Valeu!

Charlie:

Eu recebi sua DM pelo twitter, mas não consigo lê-la ou apagá-la. Agora, com o link aqui, lerei sem falta. Aguarde pelo comentário.

Aos demais:

Como já foi dito, aqui, isso terá mais que três partes. Tem muita coisa pra contar. Acabei de colocar os pés em SP - ainda não estou em casa, estou na minha mãe. Logo mais eu atualizo.

Rob

Perci Carvalho disse...

tá.

ja vi que tem três partes.
vou aguardar a terceira parte. ¬¬

de novo

Perci Carvalho disse...

poôtaquêparêêêoooo


agora li seu comentario de que terá mais de três partes

grrrr


aguardo a "parte final"
¬¬

Climão Tahiti disse...

Lendo a primeira parte, partindo para a segunda...

*passar o final de semana inteiro sem internet é um saco.*