29 de outubro de 2009

As Aventuras de Robgordix, o Gaulês

"Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum, e Petibonum...”.

Eu sempre fui louco por quadrinhos.

Não me lembro de ser gente e não estar com uma revista em quadrinhos ao meu lado. Comecei com Disney, Mônica e Luluzinha; pulei para super-heróis; e de lá para graphic novels mais elaboradas – mas nunca deixei o velho Tio Patinhas de lado. Hoje, leio qualquer quadrinho que cair na minha mão.

Na verdade, posso dizer que meu gosto pela leitura nasceu dos quadrinhos. Indo um pouco mais além: dificilmente, eu escreveria hoje se não gostasse tanto de ler; ou seja, dificilmente eu teria este blog se não tivesse me aventurado pelos quadrinhos quando criança.

Afinal, este amor pela leitura começou no final dos anos 70, com este que vos escreve sentado no chão da sala, rodeado de aventuras vividas por dois personagens: O Fantasma, de Lee Falk; e Asterix.

Isso porque, em casa, todo mundo adorava as histórias do Fantasma e, principalmente, do Asterix (incluindo aí minha mãe, para vocês morrerem de inveja da família que tenho). Eram os personagens preferidos do clã.

Assim, eu – tanto faz se por herança genética ou por gosto adquirido – ficava sentado no chão da sala, mesmo sem saber ler, observando os quadrinhos (ignorando aqueles balões brancos cheios de símbolos que eu não entendia) e tentando adivinhar o que estava acontecendo na história.

Mas, às vezes, não dava. Às vezes eu levantava e ia até meu pai. Mostravaa revista e perguntava:

– Por que eles estão brigando?

– Do que eles estão rindo?

– O que ele está falando nesse quadrinho?

Meu pai, pacientemente, não apenas me explicava o que estava acontecendo, como ainda me dava uma geral sobre a história como um todo: assim, eu voltava para o chão e olhava os desenhos ainda mais atentamente, desta vez levando em conta as informações que ele tinha me passado.

Ser pai não deve ser fácil, mas ser meu pai deve ter sido mais difícil ainda, já que, enquanto ele me explicava a história, eu ainda ficava, repetidamente, mergulhando o dedo no copo de whisky dele, e chupando.

E a recompensa que ele teve por isso? Ganhou mais um rival. Porque, quando eu era pequeno e ele aparecia com um Asterix novo, chegava a dar briga em casa, para ver quem iria ler primeiro. Assim, quando eu aprendi a ler, resolvi batalhar pelo meu espaço dentro de casa, e entrei na briga também. E até ganhei algumas vezes.

Então, não sei se posso dizer que aprendi a ler em casa (provavelmente não, mas quando comecei a ser alfabetizado na escola, eu já estava familiarizado com algumas palavras), mas posso dizer, com certeza, que aprendi a gostar de ler em casa.

E devo isso ao meu pai, já que todo Natal, entre as malditas roupas e os maravilhosos brinquedos, eu ganhava pelo menos um par de livros infantis. Ok, sejamos sinceros: quem comprava os livros era minha mãe, mas, como nos cartõezinhos estava escrito “de papai para Rob”, estes presentes contam como sendo dele.

De lá para cá, foram livros, livros e mais livros devorados. Não sei exatamente onde, quando ou como eu aprendi a escrever como eu escrevo hoje - independente da qualidade do meu texto – mas estes livros me ajudaram muito nisso.

E isso é algo que eu devo única exclusivamente ao meu pai e ao Asterix – sendo que este último completa 50 anos exatamente hoje, 29 de outubro de 2009. 50 anos! Hoje é dia de comer javali, de encher a cara de cerveja e vinho até gritar “ferpeitamente!” batendo na mesa e de socar romanos.

Hoje, é dia de temer apenas que o céu caia sobre nossas cabeças.

Sério, não cabe dizer aqui o que é Asterix: se você não conhece, vá atrás, pois é uma das histórias em quadrinhos mais deliciosamente engraçadas e inteligentes (sim, inteligentes, porque ali tem referências histórias em cima de referências histórias) já criadas. Cabe apenas dizer que Asterix faz parte da minha história. E não me refiro à formação cultural, mas sim a minha formação como pessoa.

Apenas como um exemplo divertido da importância que ele tem na minha vida, eu me decepciono toda vez que assisto a um épico ambientado em Roma e descubro que o Júlio César não é igual ao Júlio César do Asterix.

Resumindo: meus filhos (ou, melhor dizendo, neste caso, os netos do meu pai) vão ler Asterix desde antes de aprender a ler, no chão da minha sala. Afinal, tradições precisam ser mantidas.

Assim, como presente pelos 50 anos do guerreiro gaulês, deixo com vocês a “foto” mais sensacional do planeta:

(Clique para aumentar. Vale a pena.)

E, antes de terminar o post, o Top 5 Meus Álbuns Preferidos de Asterix:

1. O Combate dos Chefes – É o MEU álbum. Já li centenas de vezes, e gargalho em todas elas.

2. Asterix Legionário – foi o primeiro álbum que eu me lembro de ter lido (lido, mesmo, e não apenas olhado os quadrinhos). Lembro que meu pai comprou no aeroporto, voltando de alguma viagem.

3. Asterix entre os Bretões – “Posso ter um pingo de leite na minha quente água?”

4. Asterix e a Cizânia – É o álbum que conta com Tulius Detritus, o homem que “quando foi jogado no Coliseu fez com que os leões começassem a se devorar”.

5. Asterix e o Adivinho – O nome do adivinho: Prolix! Quer coisa mais genial que essa?


Nota:
Chatotorix foi amarrado e amordaçado, impedido de cantar enquanto você lia este texto.


(Este post é dedicado a meu pai, que deve ter chorado enquanto lia.
Ou começou a chorar agora.)

19 comentários:

Tyler Bazz disse...

Ahhhh mas tava óbvio!

Fui lendo aqui e pensando: escreveu pra fazer o pai chorar.

Hally disse...

Poxa vida... quem fez eu me apaixonar pelos quadrinhos foi minha mãe. Ela é, claramente, fã do Tio Patinhas. Com meu irmão mais velho, aprendi a valorizar os quadrinhos de super-heróis, principalmente x-men (Wolverine, acredite ou não, foi a primeira coisa que li, do começo ao fim. Pena eu não lembrar o número da edição).

Dali veio a paixão pela leitura, não importa onde ela venha, seja num livro, ou na internet mesmo, amo ler.

Belíssimo Post. E Senhor Gordon Pai, parabéns pelo filho talentosíssimo!

Climão Tahiti disse...

O Combate dos Chefes é o MEU album também.

A parte dos Druidas enlouquecidos por causa do Obelix me faz gargalhar aqui na Cyber só de lembrar.

O primeiro album de Asterix que li foi Asterix Entre Os Belgas.

Gosto muito desse. =)

Dianna disse...

Caramba, essa me fez chorar.

Minha história com a leitura é parecida. Meu pai colecionava gibis do Fantasma e do Asterix, também, e sempre brigava comigo quando eu pegava neles sozinha, do alto dos meus 2 anos, por medo que eu rasgasse. De tanto eu encher o saco, ele começou a ler pra mim. Minha mãe gostava da Turma da Mônica e minha avó, da Luluzinha. Elas deixavam eu pegar à vontade.

De tanto eu torrar todo mundo pra me explicar o que dizia naqueles balõezinhos brancos, meu pai me pegou pela mão e me ensinou a ler. Eu tinha uns 3 anos, acho. Hoje em dia, leio até bula de remédio quando estou entediada, só pela curiosidade, e fui fazer uma faculdade que requer que eu leia muito, tanto teoria quanto literatura.

Desnecessário dizer que amo minha área. E que, por mais que ele discorde da minha escolha, a culpa é do meu pai. Sou grata a ele. =)

Fazem anos que não pego num álbum do Asterix. Acho que preciso corrigir isso.

Bruno disse...

Meu primeiro foi Asterix e as Mil e Uma Noites. Presente do meu pai, claro :)

MaxReinert disse...

Eu também fui/sou/era apaixonado pelo Asterix dos quadrinhos... nem sei dizer como eles chegaram às minhas mãos pela primeira vez, mas acredito que tenha sido através dos meus irmãos mais velhos.

Aquelas revistas grandes, tão coloridas e com um humor tão peculiar que eu facilmente ma apaixonei à primeira vista.

(velho)

Bons tempos, bons tempos...

(/velho)

Gilmar Gomes disse...

"eu ainda ficava, repetidamente, mergulhando o dedo no copo de whisky dele, e chupando."

É... Nunca prestou.

Cara, eu tb comecei a ler com quadrinhos... Como diria o Tas, "deve ser alguma coisa na água que eles bebem"...

No nosso caso, é com certeza algo nas páginas que lemos...

Falando em páginas, se você continuar escrevendo neste ritmo, seu livro vai ter mais páginas que a Bíblia...

May. disse...

É, eu nunca li Asterix, acho que é uma das decepções do meu pai. Porque eu comecei a ler mais cedo que o normal por causa de quadrinhos, mas no meu caso, eram da turma da Mônica. E eu fui absolutamente apaixonada por esses quadrinhos, de tal maneira que eu não tinha olhos pros outros.
Agora que eu já cresci um pouco, acho que já consigo ler os demais sem me sentir traidora da turma da Mônica. Vou ler e volto nesse post pra comentar de novo. =)

Bel Lucyk disse...

Aaaaah! Lá em casa tbém crescemos lendo histórias em quadrinhos do Asterix. Meu pai também é super fã e me divirto demais!
Parabéns ao nosso querido gaulês!

Natalia Máximo disse...

Meu Deus, Asterix é vida! Também lia muito quando era criança, e praticamente aprendi a ler com os quadrinhos dele e da Turma da Mônica, que eu tenho uma paixão gigantesca até hoje!

Katrina disse...

Cara, eu nunca fui fã do asterix. Sempre gostei mais de ler o Recruta Zero

Mikhail Bregovic disse...

Comigo foi muito parecido. Meu pai colecionava não só Asterix, mas Calvin and Hobbes, Tintin, Príncipe Valente, Lucky Luck, Mafalda, Pato Donald... Sem contar com os nacionais, como os trabalhos do Laerte e do Angeli (claro que eu não entendia nada do Laerte e do Angeli, era muito "sujo" pros meus 5 aninhos, mas eu gostava).
Foi com Asterix que eu aprendi a gostar de ler, foi Asterix que me deixou apaixonado pela História, foi com Asterix que eu tive minhas primeiras noções de francês (70% dos Asterix lá de casa eram em francês, assim como 100% das Mafaldas eram em castelhano). Foram tantas as coisas que aprendemos brincando e nem percebemos.

Parabéns Asterix por ser o que é.
Parabéns Rob-Pai pelo filho talentossímo [quase 2].
Parabéns Rob Gordon por nos causar essa sensação única com seus textos.

Agora com licença que eu vou lá dar uma checada na coleção e ler pelo menos um, se der tempo.

Fagner Franco disse...

Quer emocionar a gente, rapaz? Até onde te conheço como blogueiro (não muito, vai, sou novo aqui), não esperava isso. Um bom sinal, claro.
Bela história. Também sou fã de quadrinhos, mas não tenho uma família assim. É maravilhosa, mas tem outra "pegada".rs

Camila disse...

Ah, não morro de inveja pela sua familia, pq a minha é bem semelhante rs.
Parabéns Rob pai, parabens Rob Gordon(afinal seu blog é show!) e parabens Asterix, por povoar nossas leituras...até hoje.^^

Unknown disse...

Parabéns Rob Pai!!

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

não tenho nem o que comentar...

só por curiosidade, você quis dizer "referências histórias" mesmo, ou seria "referências históriCas"??

Anônimo disse...

Vale um plágio?

"Meu Deus, Asterix é vida!"

Lembro de pegar encadernações de Asterix - com aquela tradicional capa dura feia de encadernações à la anos 70 - na biblioteca Hans Christian Andersen, no Tatuapé e devorar as páginas já no caminha prá casa.
Depois ainda lia de novo desesperado no dia anterior a data de devolução.
Se não fosse ele e a Mafalda, talvez não lesse nem placa de rua hoje.

Karina disse...

Eu também sempre tive o Asterix e companhia presentes na minha infância e a minha família também era, em peso, fã dos gauleses. Pra você ter uma idéia, tivemos até um cachorro chamado Ideiafix (outro nome genial, vá lá). Mas a rainha da minha casa sempre foi a existencial Mafalda. A minha mãe tem até hoje a coleção completa em espanhol, inportada da Argentinha, quando ela (minha mãe) ainda estava na faculdade.

Lari Bohnenberger disse...

Minha história com a leitura também se inicia nos quadrinhos, embora hoje em dia eu tenha deixado esta antiga paixão da infância de lado.

Mas tu era uma criança alcoólatra... uísque? Eu lembro que gostava de beber a espuma da cerveja que o meu pai servia no copo, mas colocar o dedo no uísque foi demais!

Bjs!