Quando eu terminei de escrever o post A Varanda Sistina, vi que o texto estava enorme. Na verdade, eu havia percebido isso antes mesmo de terminar o texto. Ou seja, estava com um problema nas mãos, já que eu não estava com vontade de dividir o post em duas partes.
Assim, li, reli e tentei enxugar o texto o máximo possível, para evitar que ele ficasse quase do tamanho de um conto - cá entre nós, um sujeito com a bunda de fora na minha varanda não mereceria tanto assim. Não consegui. A saída, então, foi cortar um trecho inteiro do texto e acabei escolhendo o meu diálogo com o pintor, logo que ele entra no apartamento.
Fiz com dor no coração, já que foi um dos trechos que mais me fez rir enquanto escrevia – sim, eu dou risada sozinho em alguns posts. Mas admito que, mesmo tendo adorado escrever isso, não era tão importante assim para a história. Entretanto, alguns amigos leram o texto original e me ameaçaram de morte caso eu não publicasse isso - um deles chegou a me pedir o diálogo, alegando que transformaria isso num post inteiro.
Sendo assim, resolvi publicar esse trecho agora, como "material extra" aqui no blog. Apenas como referência, vale dizer que este trecho acontece no momento em que o pintor entra no apartamento. Além disso, os leitores mais atentos perceberão que alguns trechos (como o que cita o Jonas, entraram na edição final). Sem mais delongas, vamos ao trecho:
"Dia seguinte, o interfone toca e o porteiro balbucia algo que nem ele entenderia. Calculei que deveria ser o pintor – afinal, ele não interfonaria para dizer que um ladrão está subindo – e deixei a porta aberta. Minutos depois, toca a campainha. Atendo a porta e é um rapaz de cerca de vinte anos, com pincéis, latas de tintas e tudo aquilo que você pode imaginar na mão de um pintor.
– Bom dia, ele disse, em português claro e sem sotaque. Quase chorei de alívio.
– Bom dia.
– O serviço vai demorar cerca de duas horas, tudo bem?
– Tudo. Você quer um café?
Ele nem respondeu. Apenas olhou para a Besta-Fera, que corria ensandecido ao redor dele.
– Ela morde?
– Ele. Não, não morde.
– E qual o nome dela?
– Dele. Besta-fera.
Jonas, o fantasma que mora comigo e não gosta de muita agitação em casa, calçou um par de chinelos e, falando que ia tomar um pouco de Sol na rua, atravessou a parede e foi embora.
O pintor ficou brincando com a Besta-Fera alguns minutos e foi para a varanda. Cabe dizer aqui que, quando aluguei o apartamento, havia uma tela de arame esticada e amarrada na grade da varanda – provavelmente, o morador anterior tinha algum bicho também. Resolvi manter a tela porque 1) semanas depois que mudei, comprei a Besta-fera, e 2) para uma pessoa que quase se incinera com uma lasanha da Sadia, todo cuidado é pouco.
– Esta tela é para ela não cair?
– Ele! Sim, esta tela é para ele não cair.
– Mas eu vou ter que tirar, para pintar.
– Sim, eu já imaginava isso. Pode tirar, depois dou um jeito de colocar.
Óbvio que eu já sabia que teria que contratar uma empresa para colocar uma rede de nylon no lugar, porque, se eu tentasse esticar aquilo, as chances de eu de ter o fígado perfurado pelo arame ou cortar uma artéria seriam enormes.
– Nem precisa colocar mais, ela não passa pela grade.
– Ele! O cachorro é ele! O cachorro é ele e eu sou ele. Só a grade que você veio pintar é que é ela.
– Ah é, ele. Mas ele não cai.
– Será?
– Minha cunhada tem uma cadela igual a ela, ela não passa ali.
Então é isso. Como o único cachorro dessa raça que ele viu é uma cadela, ele deve achar que a Besta-fera também é fêmea. Aposto que ele está pensando que “é que eles são iguaizinhos, então essa deve ser mulher também”.
– Bom, Ok. Depois eu vejo isso. Você não quer um café mesmo?
– Não, obrigado."
14 comentários:
PRIMEIRA!!!!!
Olha, contando com o teatro grego, seus dialogos figuram entre os 10 os melhores da história da dramaturgia.
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haha. coitada da sua cacho... ops. coitado. dele. pq é ele. um cachorro. mas não se pode culpar o homem. eu sei o que eu nome do cão significa, mas pô, os 2 substantivos são femininos. hahaha
to brincando.
Deus te deu uma solução pros seus problemas.
Veja, quando tiver que dar um novo banho em Besta-Fera, simplesmente chame esse rapaz para fazê-lo.
Como pra ele não existe diferença entre piriquito e perereca, vai ser completamente normal banhar seu amigo.
Isso se ele concordar. =p
Jonas, o fantasma que mora comigo e não gosta de muita agitação em casa, calçou um par de chinelos e, falando que ia tomar um pouco de Sol na rua, atravessou a parede e foi embora.
Mas, quem é esse tal de Jonas?
Borealis:
http://champ-vinyl.blogspot.com/2007/03/quem-acompanha-esse-blog-sabe-que-eu.html
oloco. sai pra lá, capeta!
Primeiro ele chama o bicho de "cadela", depois ele vira a bunda pra ele e o assusta...
É, digamos que o mundo está perdido.
dialogo meio moótono auhsduha
Era pedir demais... um pintor sem sotaque realmente deve ter confusões com gêneros, ou senão não seria um pintor... Barbaridade! O Besta-Fera deve ter se sentido mal, cuide para que ele não fique com traumas. Primeiro ser chamado de ela, depois ter de ver a bunda do pintor, é demais para esta pobre criatura!
Bem fez o jonas! Hahahahahahahaha
ah sim... essa é a versão do diretor...
Tá muito fresco vc eim! Fazendo director's cut!
Sorte a tua que o pintor não imaginou que quem tem A cadela é sempre A cunhada... ou vai que imaginou e mandou um cofrinho pra vc como sinal de acasalamento! huaauhuhaauhahu
(saco ... agora que tenho a conta no blogger n da mais pra por nick... tava pensando em Dono da cade(a)le. Bom... melhor sem o nick mesmo!)
"“é que eles são iguaizinhos, então essa deve ser mulher também”."
Cães hermafroditas, uma realidade.
Ou o antigo morador tinha crianças.
Crianças, assim como cachorros, passam pelas grades das varandas ;P
Eu também confundo machos com fêmeas(de animais, claro) mas como você corrigiu o sujeito um monte de vezes, a conclusão é de que ele é retardado mesmo.
Você reclama do pintor chamar seu cão de "ela", mas você, sem perceber, faz algo parecido: chama ele de "a Besta-Fera", mas o cachorro é macho, então o correto seria chamá-lo de "o Besta-Fera". Sim, "besta-fera" é substantivo feminino, mas o que vale é o gênero do animal, não do nome dele, senão "O Fera" (X-Men) seria "A Fera".
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