Me enchi de coragem, acendi um cigarro, e atravessei a rua com passos decididos. Estava na hora de mostrar ao mundo que eu controlo meu destino, e a Fnac não interfere com isso de forma alguma. As pessoas querem que eu seja maduro e responsável com meu dinheiro? Vou mostrar a elas o que é responsabilidade. Vou entrar na Fnac, andar pela loja inteira e sair de lá sem comprar nada. E eu faço isso a hora que quiser. Sou muito mais forte que isso.
Por outro lado, como eu sou eu, achei melhor deixar a carteira no trabalho.
Apaguei o cigarro, entrei e parei dois metros depois da porta. A Fnac parecia ter sobrevivido muito bem ao nosso rompimento. Pessoas de todos os tipos andavam para pela loja, conversando com os vendedores e escolhendo o que comprar. O perfume de produtos novos, prontos para serem adquiridos, invadiu minhas narinas e me deixou embriagado. TVs de plasma, computadores, CDs, DVDs, livros, aparelhos de som começaram a bailar na minha mente – usando uma enorme etiqueta de preço escrita “parcelamos em 10 vezes” como pista de dança. Aquilo era demais para mim. Meu coração estava disparado. Uma lágrima rolava pela minha face. Consegui apenas levantar os braços e gritar:
– Eu adoro o cheiro de comércio pela manhã!
O problema é que eu entrei na Fnac certo de pensando apenas em resistir a um determinado tipo de gasto. Existem dois tipos de produtos à venda: aqueles que você quer e aqueles que você só descobre que quer quando existe. Eu me preparei para não ser afetado pelo segundo tipo, mas ignorei o primeiro. E esse foi meu erro. Porque eu mal havia dado cinco passos dentro da loja, e vi um brilho estranho vindo da seção de videogames. Senti um aperto no estômago – eu sabia que o que quer que fosse aquele brilho, ele brilhava para mim – e fui até lá.
Parei atrás de um monitor de
E vi uma pilha de caixas do Wii Fit.
Eu não senti mais as pernas. Eu estou lendo sobre o Wii Fit desde o começo do ano e a certeza de que eu compraria o negócio no momento em que eu o encontrasse em alguma loja aumentava a cada dia. Mas, por outro lado, eu não contava com o fato de ele ser lançado no meio do meu ramadã financeiro. Entrei
– Sabe o que eu acabei de ver na Fnac?
– Você não vai comprar!
– Não, eu estou até sem cartão. Queria apenas dizer que eles já receberam o...
– Esquece!
– Mas eu liguei só para dizer que eles já têm o...
– Rob, chega! Esquece! Você não vai comprar nada!
– Mas será que...
– Não!
– Mesmo?
– Sim.
– Esse “Sim” que você disse foi para o “Mesmo?”, certo? Esse “Sim” não foi para o... Hum... Para o... Ah, para aquela outra coisa. Você sabe.
– Rob?
– Oi.
– Tchau.
E desligou. Olhei meu celular. Será que a Fnac aceitaria um aparelho Sony Ericsson como entrada no Wii Fit? Por que aí seria escambo, eu não estaria comprando nada. É isso! Achei uma brecha na lei!
Comecei a andar até o vendedor mais próximo, preparando meu discurso. Se ele aceitasse, eu levaria o Wii Fit e para casa, pegaria o carregador do celular e traria para eles. Mesmo porque, com um Wii Fit em casa, eu não precisaria de celular mesmo, porque eu não iria atender ninguém. Estava limpando o celular na calça, para torná-lo mais atraente aos olhos do vendedor, quando senti uma vibração na mão. Era uma mensagem de texto da Sra. Gordon.
“Comprou, morreu.”
Suspirei e guardei o celular no bolso. Por mais que eu quisesse sair da loja, meu cérebro queria olhar o Wii Fit mais de perto. Tentei ir embora, juro. Mas, antes que eu percebesse o que minhas pernas estavam fazendo, eu estava na frente da pilha de caixas de Wii Fit, admirando aquilo de perto. Sim, ao lado da pilha tinha uma etiqueta com três algarismos – e o primeiro deles era 5 – mas nem dei atenção. Eu não conseguia tirar os olhos do Wii Fit.
Fiquei ali feito um dos macacos do começo de 2001, na cena em que o monólito aparece pela primeira vez. Eu tocava de leve na caixa e rapidamente tirava a mão, com medo de me machucar. Dei uma olhada para os lados e, como ninguém estava olhando, dei uma cheirada de leve na caixa. O perfume daquele papelão louco para ser aberto com uma tesoura na minha sala começou a me deixar maluco.
Tentei fazer um acordo com meu cérebro, dizendo que se ele me colocasse em uma espécie de transe e só fizesse eu voltar a mim na calçada, com o Wii Fit dentro uma sacola, eu não ficaria bravo com ele. Mas ele estava ocupado lendo as especificações técnicas do aparelho e não ouviu. Comecei a fazer contas. Se eu deixar de almoçar por ano, eu recupero esse dinheiro fácil. E, se alguém perguntar a razão disso, eu digo que a balança do Wii Fit disse que estou gordo. Merda, porque não acontece uma guerra civil no país? Assim, eu viveria daqueles mantimentos que a Cruz Vermelha entrega para os refugiados e poderia comprar meu Wii Fit. Merda de país.
Meus pensamentos foram interrompidos por um movimento ao meu lado. Era um dos vendedores da Fnac que se aproximou da pilha. Fiquei com medo de alguém estar comprando aquilo. Porque eu me conheço, se eu visse que alguém estava levando um Wii Fit para o filho, eu sairia da loja na mesma hora e esperaria a pessoa na calçada, com uma meia na cabeça, pronto para pegar aquilo e sair correndo pela Pedroso de Moraes. Mas não era nada disso, ele apenas colocou outra etiqueta em cima da pilha. Olhei de relance e li apenas:
EXCLUSIVAMENTE HOJE
COMPRE O WII FIT E GANHE...
Dei um berro histérico. Aquilo era demais. Eu nem li o resto, porque aquele era meu limite. Um brinde é tudo o que eu preciso para entregar a alma. Mesmo se o brinde do Wii Fit fosse um apontador de lápis, eu não iria resistir. Empurrei o vendedor e saí correndo, sem nem mesmo olhar a direção que eu seguia.
Eu precisava ficar apenas longe daquele maldito Wii Fit. Quase atropelei uma velhinha e desci correndo as escadas rolantes.
Na ânsia de escapar do Wii Fit, acabei parando no coração da seção de CDs e DVDs. E eu sabia que dificilmente sairia vivo dali.
(continua...)
16 comentários:
Senti um aperto no s2 qdo li que o vendedor se aproximou....
O sentimento de saber q um "desejo" vai ser comprado por outra pessoa eh indiscritivel.
Mas realmente a dor d naum poder possui-lo c ainda stiver ali, eh mto maior
=P
|o|
– Eu adoro o cheiro de comércio pela manhã!
A guerra civil nem começou e já tá fazendo referências ao Apocalypse Now? Imagina quando as tropas norte-americanas invadirem o território nacional...
(pelo menos há uma chance de a Angelina JOlie vir para o Brasil adotar uma criança *_*)
(comentário nada a ver com o post, mas to só esperando o andamento da saga...)
Boa saga, mas Wii Fit? Vai me dar pesadelos imaginando você com uma roupa coladinha fazendo aeróbica que nem aquelas mulheres dos anos 80. Com uma faixa na testa e caneleiras.
Opa, beleza?!?!
Já acompanho o blog há muito tempo, mas só agora vim postar aqui...
Gosto do estilo que tu coloca nos teus posts, e tal...
Fiz um blog um dia desses, e te adicionei lá.
Nem precisa fazer o mesmo, só passei pra informar e dizer que o blog tá muito massa!!!
Abraço, e sucesso!!
Este blog é uma bosta, eu odeio o texto, o autor, as situações, e odeio ter que continuar esperando por um final de uma saga que tem me feito rir muito de novo...
Eu estou meio perdido sobre comentários, não sei mais o que escrever...
Foda-se!
Espero a próxima parte para amanhã e tenho um recado:
"Não escreveu, morreu!"
"(continua...)" ô ódio!!
eu, do alto da minha inocencia cheguei a acreditar que ele soh partiria o post em dois. afff. naum comento nada sobre o post. hunf!
Desconfio que a próxima parte será uma postagem póstuma. =/
# Perci Carvalho disse...
"(continua...)" ô ódio!
eu, do alto da minha inocencia cheguei a acreditar que ele soh partiria o post em dois. afff. naum comento nada sobre o post. hunf!#
Também fui inocente a esse ponto...eu me odeio, ou melhor, odeio o Rob.
Sem comentários até o final da saga(embora isso já tenha sido um).
Pela Pedroso de Moraes??? Hummm
Será que a pena por roubo cai pela metade se alguém roubar o ladrão?
Daqui a pouco, a Sra. Gordon, não vai poder tentar matar o Rob, pois ela terá que defendê-lo do ódio de seus leitores....
heuheuheuheuheuheuehue
hhahahahaha Odeio pegar uma das suas sagas skaldicas pelo meio, pois sei q demorará a ler a sequencia novamente.
PS: muito bom o comentario sobre a Carol Z.
Tudo isso me lembra a Livraria Cultura, do Shopping Bourbon Country, aqui em Porto Alegre. Eu nunca consegui resistir a ela, ainda mais agora, que trabalho a poucas quadras dali. Naquele enorme buraco chamado 'entrada da loja', há um sugador muito potente, que puxa os corpos de qualquer leitor consumista que passe a um quilômetro de distância dali. São três andares de livros, livros e mais livros. Mentira. São três andares de livros, livros e mais livros, CDs, CDs e mais CDs, DVDs, DVDs e mais DVDs... dói entrar ali e dar-se conta, às 22:00 quando alguém fala no microfone que devemos nos retirar pois a loja está fechando, que aquela não é a nossa casa! Que não moramos ali.
Portanto, sou extremamente solidária às dificuldades que vc tem passado para poupar a própria vida das ameaças da senhora Gordon...
Vamos ver a continuação! Não acredito que tu vá conseguir resistir a esta última tentação...
Bjs!
Aaahh Ró-Bê!!! =/
"Merda, porque não acontece uma guerra civil no país? Assim, eu viveria daqueles mantimentos que a Cruz Vermelha entrega para os refugiados e poderia comprar meu Wii Fit. Merda de país"
Cara sua mente é estranha...
Cadê a 3ª parte?!Você vicia e depois nos coloca em abstinência.
Já estou esperando a parte final para imprimir e entregar para a senhora Varotto ler, para ela ver que eu não estou sozinho no mundo...
PS: Acho que nunca me identifiquei tanto com um texto...
Procura alguém pra filmar essa saga! Tem tudo: ação, romance, violência, romance-violência, e um protagonista com perturbações mentais!!! \o/
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