(leia a parte II aqui)
Resignado, dei de ombros e cedi aos argumentos da minha mãe. Ela olhou a calça e o terno como uma leoa estudando sua presa. A Plant, reconhecendo ali uma força superior, deu um passo para trás e colocou-se fora do campo de visão da minha mãe. Ninguém poderia imaginar quais pensamentos estariam passando pela mente daquela aparentemente inocente senhora com menos de 1.50m.
Somente eu. Eu sabia exatamente o que ela estava pensando. E sabia aonde isso iria me levar. E também sabia, por experiência própria, toda a dor que esse processo envolveria. Ficamos nesse jogo de xadrez por alguns minutos. Na verdade, o jogo era disputado entre ela e o terno. Eu era apenas o tabuleiro. E o terno nem desconfiava que iria tomar um xeque-mate em menos de cinco lances.
– A calça não está boa.
Preciso fazer algo agora, antes que ela se empolgue.
– Está boa sim, mãe. Você está com essa impressão por causa da luz. Vamos pagar e ir embora.
– Não, olhe os bolsos.
– O que têm os bolsos?
– Estão abrindo.
– E daí? Não tem nada neles mesmo.
– Se os bolsos estão abrindo, é porque a calça está justa.
– Nunca ouvi falar nisso. Você está inventando essa teoria agora.
Obviamente, a Plant não agüentaria ficar de fora disso. Essa era a oportunidade que ela precisava para entrar na discussão e selar de vez sua aliança com a minha mãe. Transparecendo tanto afeto e calor humano quanto um zagueiro do Bangu, deu o veredicto final:
– Os bolsos estão abrindo. A calça está justa.
Pronto. Lá estava eu, novamente, em desvantagem numérica. Olhei ao redor procurando por ajuda, mas encontrei apenas o velho de rabo-de-cavalo, que, claro, concordaria com qualquer coisa que a Plant falasse. Suspirei e, mais uma vez, admiti a derrota.
– Ok. O que podemos fazer a respeito disso?
Se ela respondesse “emagrecer”, eu partiria para a agressão. Porém, inesperadamente, vi uma luz nascendo no final do túnel.
– Podemos pedir para alargar a calça, quando encomendarmos os ajustes.
– Ajustes?
– Sim.
– Isso quer dizer que eu posso levar esse terno, sem experimentar outro?
– Sim, esse é do seu tamanho. Com apenas alguns ajustes, ele fica bom.
– Ótimo. Ajustes. Ajustes são perfeitos. Eu adoro a idéia de fazer ajustes. Onde eu pago?
Mas o fato da situação ter se tornado um pouco melhor não significava, automaticamente, que seria fácil escapar dali. Ao menos, com vida. Eu sabia que a Plant estava planejando algum golpe de misericórdia. Algo como me apunhalar nas costelas enquanto eu fosse para o caixa, ou colocar uma cascavel na sacola junto com o terno.
E, claro, eu estava certo. O golpe veio. Mas pelas mãos da minha mãe, que disse:
– Venha aqui. Quero ver uma coisa.
Cabe dizer aqui que esta é a frase mais temível de ser ouvida por uma mãe dentro de uma loja de roupas. Ao menos, pela minha mãe. O problema é que a minha mãe – assim como todas as outras mães – não permite que seu filho use uma roupa que não tenha passado pelo crivo dela. E o crivo dela implica em testes físicos de resistência. E os testes físicos de resistência implicam em dor.
Se toda a dor e sofrimento existente no mundo fosse um filme, essa frase seria o trailer. Tanto que ela só guarda isso para roupas especiais, nunca utilizando isso para coisas triviais como camisetas. Ou seja, a partir do momento que eu saí do provador com um terno, ela começou a me cercar e preparar o bote.
– Mãe, não faz isso.
Ela me ignorou e se abaixou na minha frente. Pegou a calça e começou a puxar todos os pedaços dela para todas as direções possíveis. Obviamente, sempre puxando minha pele junto.
– Mãe, está doendo.
Levanta, pega o terno, começa a puxar os braços para fora. De repente, começa a me agredir, alegando que está apenas alisando o terno.
– Mãe, eu sou um ser humano, não um brinquedo.
Ela não me ouvia. Estava em transe. Depois de quase um minuto e 67 marcas roxas no meu corpo, ela se levantou, mais aliviada e solta um:
– É, ficou bom.
– Podemos ir embora?
– Temos que marcar os ajustes.
Olhei para o lado e a Plant estava sorrindo, segurando cabos de vassoura. Olhei com mais cuidado e vi que não eram cabos de vassoura. Eram alfinetes, provavelmente utilizados nos rituais de magia negra que ela praticava no estoque. Resultado: fui obrigado a ficar uns cinco minutos em pé, com os braços abertos, enquanto a vendedora praticava, em mim, tudo o que ela havia aprendido em algum supletivo de acupuntura. E, claro, eu não podia me mexer. Qualquer movimento que eu fazia, era motivo de bronca. Com medo até de respirar, fiquei imóvel ali, na posição de espantalho. Parecia uma daquelas miniaturas do Cristo Redentor que vendem para turistas.
Eu já estava parecendo uma almofada de alfinetes quando ela levantou, esfregando as mãos.
– Pronto.
– Ótimo, eu vou tirar e nós vamos embora.
Corri para o provador e tirei a roupa. Quase cheguei ao clímax quando coloquei meu jeans surrado de novo. Coloquei meu tênis, saí e dei de cara com minha mãe.
– Você ainda precisa de camisas.
– Mãe...
Antes que eu pudesse reagir, a Plant saiu correndo e voltou quatro segundos depois, segurando dez camisas na mão.
– Elas são de algodão.
– Ah. Que ótimo. Algodão. Era tudo o que eu queria. Eu tenho que experimentar, certo?
– Sim, disse a Plant.
– Sim, disse a minha mãe.
E lá fui eu. Coloquei a camisa, saí e procurei um espelho.
Quando me olhei, quase vomitei. Parecia um misto de pirata de filmes dos anos 30 com cantor de bolero.
– Mãe, eu não vou usar isso com o terno.
– Ela é bonita.
– Mãe, eu pareço um pirata.
– É só arrumar aqui.
E começa o ritual do puxa-empurra-aperta-estica.
– Está linda.
– Que ótimo. Eu uso outro dia, de preferência quando eu puder ficar em casa. Eu vou levar outra camisa. Uma normal. Com botões, mangas e só. Mais nada.
– Mas esta camisa...
– Ok, eu levo essa! Mas vou levar outra.
A Plant surgiu do nada com outra camisa normal na mão. Impressionante como toda vez que ela aparecia do meu lado, do nada, eu sentia cheiro de enxofre.
– É do mesmo tamanho que essa. Então, você não precisa experimentar.
– Ótimo. Finalmente uma boa notícia. Mãe, vamos embora. Onde eu pago?
– Você não está precisando de casacos?
– Não, mãe, eu estou precisando pagar e ir embora.
– Mas o inverno...
– O inverno que compre seus próprios casacos! Tchau!
Fui até o caixa e ainda fui convencido a abrir um cartão da loja. Enquanto assinava todos os mil documentos – que, provavelmente, garantiam que a minha alma pertencia, agora, a Plant – entrou um japonês na loja e pediu um casaco para a Plant. Cheiro de enxofre de novo. Minha mãe chegou a comentar comigo o quanto o casaco que ele estava experimentando era bonito.
Eu nem dei atenção. Paguei tudo, terminei de assinar a entrega da minha alma e fui embora dali. Sentei numa escada ao lado da loja e acendi um cigarro. Apoiei a cabeça nos joelhos e comecei a orar, agradecendo a Deus por estar vivo. Menos de cinco minutos depois, acabei de fumar, levantei e olhei para a loja.
Fechada.
E nem sinal do japonês.
27 comentários:
Primeirooooooooooooooo :D
Certeza que pegaram esse japonês para fazer um ritual satânico!
"Enquanto assinava todos os mil documentos – que, provavelmente, garantiam que a minha alma pertencia, agora, a Plant."
And she's buying a stairway to heaven...
Ela vai vender sua alma e comprar a entrada dela no céu.
cadê o top5?
huauhahua... Coitado do japa. O que será que aconteceu com ele?
Abraçoo
velhooo
que bom q naum foi vc e sim o maldito japa o q seria de nos sem o rob?
^^
"Se ela respondesse “emagrecer”, eu partiria para a agressão" kkkkkkkkkkkk²
[...]
ah.. fico imaginado vc de piratinha...
hsaiuhiaushiaushius
flws o/
abraçaum
Sextoooooooooooooo o_0
A segunda foto foi o melhor do post! aUHahuaUHauhAUHauhA
(teve outros, teve outros...)
O foda, Rob, é essa sua mania de dormir em bancos de shopping e sonhar com essas coisas bizarras... mães más, vendedoras de lojas que se parecem deuses do rock, japoneses... onde já se viu?!
o/
Ahahahahahahahahah!
É bem coisa de homem, mesmo! Não saber nem o número da calça e querer levá-la embora sem experimentar. Tenho que dar razão para a tua mãe. Ainda bem que ela estava junto. Rssssss!
Bjs!
sei que não tem nada a ver com o enredo do post, mas... eu AMO o pinhead!!! @.@
Dessa vez, e só desta vez... As imagens escolhidas por você para ilustrar o texto, valeram mais que mil palavras.
E olhe, que vc é o cara que conheço que mais coloca palavras em posts, sem fazer a gente desistir de ler até o fim.
décimo...
eu fiz esse comentário só pra escrever "nono" no comentário anterior e me chamarem de vovô!!!!
Falto as TOP 5 piores lojas de ir com a mãe. ¬¬
ahahahaha
ja tentou comprar sapatos com a sua mãe do lado? ja tentou ir ao Mc'Donalds e tentar pedir um big mac sem q ela faça uma cara feia? ahahaaha
adoro o champs. não o rob, o champs! =D
hauhauhauhaa...óbvio que teria o ritual de ajustes.... só espero que o terno fique pronto na data marcada!!!!
hehehehhehe
Agora vc jà tem um super presente p/ o Dia das Mães: aparecer com a camisa de pirata! Sò pede para alguém tirar uma foto e depois posta aqui, tà? Eu pago p/ ver!!!
X)
Pior que sair com mãe para comprar roupas, é sair com mãe que vai pagar as roupas.
tente lembrar, é bem pior. Sempre vem algumas coisas que vc detesta e que provavelmente vai enrolar a vida toda pra usar.
enfim, visita ilustre, obrigada.
Sr. Rob Gordon não esta tento ultimamente muito tesão e tempo, para responder comentários.
Opnião certa ou levemente equivocada?
=p
Olá Rob,
obrigado pelo carinho. Sempre acompanho seus posts, ainda não havia linkado seu blog no meu simplesmente porquê peço permissão antes faze-lô, e como você não manifestou sua vontade, fiquei queta. Mas agora meu caro, já era... Deu sinal de vida!!! Seu blog está devidamente linkado no meu.
bjos
Tadinho do Japinha...
Ainda bem que vc nao quis ver o casaco...e foi bem prudente o tempo todo...e na verdade, apesar de vc coloca-la como "inimiga" nesta "luta", aposto que o fato sua mãe estar por perto lhe conferiu certa proteção...se vc estivesse sozinho, talvez tivesse a mesma (falta de) sorte do pobre nipônico....
nhá *_____* comentou no meu humilde bloguinhu! valeuz...
É... Cara, eu odeio :
. Sair para supermercado com minha mãe
.Comprar roupa com ela - ela não aceita meu estilo indiferentemente diferente
.Passear - pagar conta - com ela
Prefiro ficar em casa, aqui no computador, sou livre! Enfim, acho que eu e você e todos passaram alguma vez por esse ritual...
http://world-of-philosophy.blogspot.com/
Ufa, ainda bem que você escapou :D
E não reclama de mãe, a gente sempre sabe o que fica bonito nos filhos. ^_^
Bom fim de semana.
Beijos para você e para a Sra Gordon
Sil
1. Graças a Deus sua mãe foi com você.
2. Eu não iria. Nunca.
3. Como assim a calça estava apertada? Você usa EMBAIXO da barriga! Tá malhando o bumbum, amor?
4. Vocês entenderam pq eu não vou NUNCA, repito: NUNCA, comprar roupas com ele? Esses dias já disse "não tenho roupa de frio, amor...". HAM-HAM !
5. Unlucky: ir no Mc Donalds com mãe: - um x burguer; - mas só pão, carne e queijo, hein filho! - um x burguer, moça... - ele não come cebola! só pão, carne e queijo, hein! - mãe... - que foi? depois o lanche vem errado e eu tenho que trocar! sem pedra hein!? sem pedra de gelo!
6. no final o terno ficou gatíssimo ;)
oi, vou te linkar no meu blog tudo bem?
adorei isso aki. bjs.
"Impressionante como toda vez que ela aparecia do meu lado, do nada, eu sentia cheiro de enxofre."
hahahahahahahahahaha
Ela ia lá no "estoque" e dizia: chefe, o sujeito tá dificultando pro nosso lado. Acho melhor deixar o ritual para o próximo.
E o "chefe" repondia: okay, mas faça o rapaz assinar aquele formulário antes de deixar a loja.
E sobrou pro japinha...
Aconteceu o que todos temiam... o Rob tá enjoando do blog e postando menos e menos...
=(
HUAhuahu...
Realmente, sair pra comprar roupas com a Mãe é uma experiência única. Ainda mais com um vendedora do inferno como essa. Mas no final, você conseguiu se livrar das amarras desse mundinho, voltou para o seu saboroso cigarro (espero que seja Marlboro vermelho), porque depois dessa, só um vermelho pra aliviar a tensão.
Abraços
*vc tem uma imaginação du tamanho do universo...
**vai ver a plant estava com dor de barriga...
***adoro fazer compras de roupas com mamãe... principalmente qndo é ela qm paga...
rsrs
ah, sim!
vigésima sexta e vigésima sétima...
rsrsr
"Com medo até de respirar, fiquei imóvel ali, na posição de espantalho. Parecia uma daquelas miniaturas do Cristo Redentor que vendem para turistas."
Realmente ótimo, eu ri muito . Achei seu blog ontem e já estou adorando .
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