11 de janeiro de 2008

(Little) Lucy in the Sky with Diamonds

Hoje à tarde dei um pulo na Fnac para escapar um pouco do trabalho. Levei apenas o dinheiro para um café e deixei a carteira no escritório, porque eu tinha planos de entrar na parte de CDs. Sim, porque toda vez que coloco os pés lá dentro, a probabilidade da minha conta bancária sofrer danos é altíssima – uma vez cheguei a voltar correndo para o trabalho buscar meu cartão de crédito.

Enquanto descia a escada rolante, dei graças a Deus pela loja estar vazia. Nada me incomoda mais que a Fnac cheia de gente, especialmente na seção de música. De cada dez pessoas que entram lá, uma delas é um daqueles débeis-mentais que ficam ouvindo o CD com fone de ouvido e cantando junto, num volume que a loja inteira consegue ouvir. Normalmente cantam tudo errado e alguns ainda se dão ao luxo de dançar ou tocar uma bateria imaginária. Ô fase.

Cheguei à seção de rock internacional e, como eu me sentia seguro – a carteira ficou no trabalho, lembram? – me enfiei na prateleira de hard rock e heavy metal. No meio do caminho vi uma garota com cerca de doze anos passeando por ali com a mãe. Nem dei muita atenção, imaginando que seria mais uma daquelas mimadas atrás de Britney Spears ou Christina Aguilera, ou outra daquelas adolescentes metidas a rebeldes, procurando qualquer coisa do Green Day (e aí vale qualquer coisa, porque todos os CDs deles são iguais).

Comecei a vasculhar os CDs do Iron Maiden, algo que faço toda vez, rezando para que eu encontrasse algo que eu ainda não tinha. Quem sabe um CD de estúdio da década de 80 que eu simplesmente esqueci de comprar? Ou um disco ao vivo que eu não conheço? Até parece. Enquanto eu ia passando pelos CDs, seguindo o ritual do “Tenho... Tenho... Tenho... Tenho... Tenho...”, a menina passou pelo meu lado e eu pude ver algo escrito na camiseta dela.

Congelei. Não pode ser.

Não... Eu devo ter visto errado.

E continuei fuçando ali. “Tenho... Tenho... Tenho... Tenho...” Obviamente, eu tinha tudo. Andei alguns metros e comecei a fazer a mesma com AD/DC. “Tenho... Tenho... Tenho... Tenho... Merda, por que eles não lançam um CD por dia?” Comecei a rodar as outras prateleiras, e enquanto me decidia entre vasculhar Alice Cooper ou Black Label Society, a menina passou novamente por mim, com uns dois CDs na mão, seguida de perto pela mãe.

Desta vez, eu tive certeza do que estava escrito na camiseta dela.

LED ZEPPELIN.

Não pode ser verdade. Eu li errado. Ela tem 12 anos! Deve estar escrito “LED ZEPPELIN é uma bosta e Green Day é bem loco” e eu só consegui ler um trecho. Só pode ser isso. Desisti de ver os CDs e fui atrás dela. Eu precisava checar isso de perto. Ela começou a vasculhar uns CDs numa prateleira de promoções e eu parei ao lado dela, fazendo a minha tradicional cara de paisagem. Quando ela se distraiu, arrisquei uma olhada e vi claramente. Led Zeppelin e o famoso desenho do anjo.

Não. Não pode ser verdade. No mínimo essa camiseta é do irmão mais velho dela, ou ela ganhou numa rifa em alguma quermesse. Ela nem conhece a banda. Aliás, ela nem sabe que isso é uma banda. Ela achou legal por causa da imagem do anjo pegando fogo. Só isso. Ela está aqui atrás de Green Day. Ou coisa pior.

De repente, numa daquelas coincidências inexplicáveis, eu ouço aquele som totalmente inumano que o Robert Plant emite (aquilo não é um grito normal, eu não conheço um verbo que poderia descrever com precisão o ato de proferir aquele som) no começo de Immigrant Song. Algum dos vendedores da Fnac aproveitou o lançamento da nova coletânea da banda e colocou o DVD bônus para tocar numa das TVs de plasma.

Ótimo, eu pensei. Isso vai desmascarar essa menina. Olhei para o lado e lá estava ela, olhando a televisão hipnotizada. Ficamos os dois ali: ela em transe olhando a televisão, e eu em transe olhando para ela. Ainda bem que a mãe dela não estava olhando, ou seria capaz de chamar a polícia achando que eu era pedófilo – seria irônico, já que qualquer pessoa de 12 anos é mais alta que eu (1.60m mode: on). Enfim, a garota, hipnotizada, começou, discretamente, a cantar, a música, bem baixinho, para ela mesma, acompanhando o Robert Plant. Os olhos dela brilhavam. Os meus também.

Eis que chega a mãe dela e coloca a mão no seu ombro, dizendo:

– Aqui tem aquele que você queria.

Ela se vira para a mãe, perguntando algo como “sério?” e saiu correndo na direção de uma prateleira, para onde a mãe apontava. Eu, claro, fui naquela direção, tentando ver o que ela “queria”. Ela fuçou no meio de alguns CDs e, subitamente, pegou um, que parecia ser duplo, com a caixinha branca. Tentei ver o que era, mas não consegui. E, nem precisei, porque ela anunciou em alto e bom som para a mãe:

– O volume 2 do Anthology dos Beatles! O único que não tenho!

Foi demais para mim. Quase comecei a chorar. Fui embora na mesma hora, antes que eu passasse vergonha ali no meio. Ainda emocionado, subi as escadas olhando o mundo de outra forma. O mundo ainda tem salvação. A humanidade realmente não deu certo, mas essa menina, ao contrário, tem tudo para ser a exceção à regra.

Deus: eu sei que Você é um Cara ocupado e não deve ter muito tempo para ficar lendo blogs na internet. Mas, caso você leia esse post, por favor, prometa que a minha filha será exatamente igual a essa menina?

Ah, e Deus, sabe aqueles quatro adolescentes sujos que estavam entrando na Fnac no momento em que eu estava saindo? Aqueles que usavam as calças no meio das coxas e andavam cheios de correntes? Então, você pode relevar o encontrão proposital que eu dei naquele mais magrelo, que fez questão de não desviar o caminho quando me viu na frente dele? Além disso, eles deveriam estar entrando na loja para olhar os CDs do Green Day (e sem comprar nada, porque eles já devem ter baixado tudo da internet) e iriam atrapalhar a menininha lá embaixo, que já estava ocupada demais com o Led Zeppelin e os Beatles. Você entende, né?

Bem, enquanto deixo Deus pensando sobre isso, segue o Top 5 CDs que meu (minha) filho (a) vai ganhar antes mesmo de aprender a ler (Welcome to my Nightmare é assustador demais, só ganha quando entrar no ginásio):

1. Powerslave – Iron Maiden

2. Machine Head – Deep Purple

3. Back in Black – AC/DC

4. IV – Led Zeppelin

5. Master of Puppets – Metallica

23 comentários:

Anônimo disse...

A Cruela do Calcinhas no Box me mandou isso http://champ-vinyl.blogspot.com/2008/01/diga-o-que-procuras-e-eu-te-direi-quem.html

como consequência vou fazer uma reprise do seu programa no dia 31...

vc merece

kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

khrisna ferraz
k.ferraz@delaswebradio.com

Anônimo disse...

noss..até eu me emocionei.:')

Climão Tahiti disse...

Powerslave tenho em Vinil. =D

Só não tenho onde tocar... =(

Espero que minha filha tenha esse gosto musical também, se um dia vier a ter uma.

Você poderia começar ensinando a Besta-Fera a latir a introdução de Stairway to Heaven, mesmo que sua filha não ouvisse algo mais que "Tati Quebra Barraco" (e posteriormente seria deserdada, creio) ainda sim seria famoso com o Cão Fã do Led e atépoderia ganhar uma viagem para conhecê-los. =p

E por falar em FNAC, você fala daquela que tem na Av. Paulista, relavitamente perto do Masp?

Sempre passo lá quando vou em Sampa. =D

Anônimo disse...

Gente, eu ME VI nessa menina. Aos 12 anos minha banda preferida era Metallica e eu já tinha todos os cds lançados até então. Fazia questão, inclusive, de ressaltar que os primeiros trabalhos eram os meus preferidos, pois a (até então) fase atual era "muito comercial".

Juro.

Minha primeira banda preferida; Aerosmith, aos 8, 9 anos.

Quando conto, ninguém acredita. Agora sei que tenho colegas, não me sinto mais sozinha no mundo! :P

Deixando a arrogância de lado (por alguns minutos, claro), vamos ao blog : EXCELENTE. EXCELENTE, EXCELENTE, EXCELENTE.

Estou viciada e aguardo ansiosa por mais um da série "Diga-me o Que Procuras..."

Parabéns, Rob!

taty. disse...

se você fosse meu pai, eu seria tão feliz. =}
back in black é o melhor álbum já feito na história da música, na minha opinião. mas eu só o descobri com 18 anos.

Tyler Bazz disse...

Aaaaaaaahhhh é por pessoas como EEESSSA menina que eu ainda me levanto todos os dias e bataaaaalho!!!

O Rock 'n' Roll agradece-te, pequena menina da Fnac!!


E o Back In Black talvez seja o único album do mundo que poderia NUMA BOA ser relançado como "Best Of"...


o/

Fábio Melo disse...

Powerslave eu tenho em vinil... [2]

=]

Ainda não tenho filhos, mas os meus certamente vão ouvir muito RUSH! Meu sobrinho já tá iniciado no Hard Rock =]

Pois bem, vê só: fiz uma levante lá no blog para votarem no teu blog (não que precise né xD)! Dá um sacada lá blz?!

Fui!

___________________________________
TemPraQuemQuer <<< Entra!

Anônimo disse...

pô... ginásio não...
Ensino Médio...

Anônimo disse...

"ginásio não... Ensino Médio"
VELHO mode: on.

hmmmm... no que depender dos pais, vai ser Iron Maiden e OZ o tempo todo, nossa pequena miss sunshine (of your loôoooooo-ve!)

:)

Juliana ♥ disse...

Adorei a história da menininha! Gostei mesmo!

Beijos.

Braga disse...

Primeiro de tudo: O que é Fnac? ahaha.

Powerslave eu tenho só em CD mesmo, queria ter em vinil... que inveja. São meninas como essa que fazem do mundo um lugar melhor para se viver, mesmo que tudo já tenha dado errado!

O fato da guriazinha cantarolar Immigrant deve ter sido o troço mais emocionante, cara. Eu queria muito presenciar esse momento

Anônimo disse...

Engraçado, eu totalmente não me lembro de como eu era com 12 anos. Com certeza eu gostava de Green Day (mas da fase mais antiga - sim, isso existe, tá? Eles ainda eram pessoas normais e não robôs. Talvez igualmente debilmentais, mas autênticos), e eu sei que eu também gostava de Beatles e yada yada. Mas sei lá, eu fui uma criança estranha. Acho que eu passava as tardes fazendo a Time Warp de Rocky Horror Picture Show.

Não te interessa. disse...

No aniversário de 1 ano do meu filho vai tocar Ramones.

A menininha de 12 anos deve ver o OZZY que vem ao Brasil em abril.

fui...

Unknown disse...

quais as chances de ela ser uma anã metaleira?

pequenas, eu espero...

An@Lu disse...

agora me senti excluída... eu ouvia xuxa back in the 80's...

Anônimo disse...

Robbs...
Pelo visto vamos ter uma banda de pimpolhos (num futuro... calma, não estou gravido). Não conheço a sua "senhora" pessoalmente, mas me baseando pelas fotos que ja vi, sinceramente espero que qualquer cria de vocês puxe a ela. Por que senão, em vez de Eowins e Legolas nascerão varios Guinlezinhos, seja lá de que sexo forem (nerd mode :on)

Anônimo disse...

Meu pimpolho têm três anos e adora música desde sempre. Mas também vive cercado em casa por CDs, DVDs e pelas minhas (até agora) onze guitarras. Ontem eu fui colocar ele para dormir e ele ficou cantando "We will rock you".

Mais uma da série "Você me enche de orgulho"...

PS: Andei pensando e acho que aquele ser que chegou ao seu blog procurando por "Tum Tum Pá" deveria estar procurando por "We will rock you" e não sabia o nome da música. Coitado, ele não sabia que o Google ainda não tem software de reconhecimento de onomatopéias. Sinistro...

Samuel Bryan disse...

caralho, eu to emocionado!
sério, emocionado mesmo

Sil disse...

O importante é treinar as crianças desde bebês. As meninas dormiam ao som rock pesado para desespero da minha mãe que insista em me dar CDs de cantigas de ninar. Infelizmente elas também curtem algumas dessas coisas que chamam de música de hoje em dia(menos pagode e funk porque senão eu expulso de casa MESMO). Mas a preferência musical delas tende ligeiramente para o "nosso" lado.
Sugestão : comece de leve, com Zeppelin, depois aumente gradativamente a dose. Seu bebê -que, apesar de um comentário aí em cima, será uma gracinha se for parecido com você- vai adorar ^^
Beijos
Sil

Nathy. disse...

Eey não é pra me gabar, mas eu tenho 14 anos e amooo GUNS N' ROSES, AC/DC E NIRVANA. Êee o muundo tem salvaçãao siim.
adoreei o post, e como já disse antes vc é o meu idoolo, seu blog é o melhor que já li.

relosilla - chaverinho disse...

eu teria pedido para a mãe dela deixar eu adotar ela para mim.
por isso que digo.. meus filhos vão ouvir pink floyd na hora de dormir!

Unknown disse...

Que lindo,e é muito raro pessoas assim,ela foi um achado *.*
Eu creio que a melhor estrategia é por os filhos pra ouvirem música desde pequenos mesmo,lembro que quando tinha 7/8 anos meu pai me chamou pra ver um DVD do Queen com ele,e minha vida mudou naquele momento,acho ate que eu poderia estar ouvindo um Créu da vida hoje,não fosse aquele dia... (3 vivas a Freddy Mercury!!!)

Isobel disse...

confesso que leio o mesmo texto várias e várias vezes ;)