Tempos Modernos
(Modern Times, EUA, 1936)
Direção: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Paulette Godard
Falar que Charles Chaplin é um dos maiores gênios do cinema é chover no molhado. Chaplin pertence ao status de ícone, sendo admirado e respeitado até mesmo pelas pessoas que nunca assistiram a um filme dele. Ou você realmente acha que todaas as pessoas que compram, nas feirinhas de artesanato, aqueles espelhos cafonas com uma imagem dele (normalmente sentado na guia ao lado de Jackie Coogan em O Garoto) realmente poderiam debater se Luzes da Cidade é melhor que O Circo ou vice-versa?
Curiosamente, apesar de ser considerado um dos grandes cineastas americanos de todos os tempos, Chaplin era inglês e começou sua carreira ainda criança, nos teatros de revista. Indo para a América, conseguiu uma chance no cinema e passou a estrelar (e, posteriormente, dirigir) centenas de curtas que o tornaram um dos maiores sucessos do momento. Porém, quando começou a assinar longas-metragens, mostrou que não era apenas um comediante, mas um cineasta maduro e com uma carreira totalmente engajada.
É difícil escolher o seu maior filme, especialmente porque, mesmo dentro das fronteiras da comédia, visitava outros mundos – sem nunca perder a graça. Há o romantismo de Luzes da Cidade, o nonsense de Em Busca do Ouro, o final lacrimoso de O Circo, a inocência de O Garoto... Isso, claro, para ficar apenas na sua fase muda. Mas em toda a filmografia de Chaplin, nenhum filme tem a mesma importância que Tempos Modernos.
Antes de mais nada, é ali que ele mergulha, realmente, no seu lado engajado – criticando a automatização das fábricas e o desemprego na América – que teria continuidade em seu trabalho seguinte, O Grande Ditador. E, segundo, porque é nesta produção que ele encerra a carreira cinematográfica de seu mais famoso personagem: O Vagabundo (ou Carlitos, como é conhecido no Brasil), que se afasta das telas após resistir uma década ao advento do cinema falado, ao qual Chaplin era radicalmente contra.
A verve política de Tempos Modernos é a mais fácil de ser identificada. À primeira vista, a obra surge como apenas “mais um filme” de Chaplin, com todos os elementos essenciais de sua obra, mas a política e a crise social estão presentes em praticamente todas os momentos, desde as (clássicas) cenas na fábrica, onde ele trabalha num ritmo sobre-humano – o que abre espaço para demonstrações da genialidade de Chaplin na pantomima – até em cenas menores, como aquela em que ele é perseguido pela polícia após ser confundido com o líder de uma manifestação comunista.

Mas o ponto forte do filme está em outra camada do roteiro: é a guerra de Chaplin contra o cinema falado, inventado dez anos antes e que, segundo ele, iria acabar com o caráter universal da Sétima Arte. Sua idéia original era a de fazer um filme falado – seria o primeiro de sua carreira – mas desistiu no meio do caminho, optando em fazer um filme “com som”, mas não falado. As únicas vozes ouvidas ao longo da produção são aquelas ouvidas através de aparatos eletrônicos, como o rádio na sala do diretor da prisão e os videofones usados pelo presidente da fábrica, por exemplo – a única exceção são os cantores no restaurante. Com isso, Chaplin critica a desumanização decorrente da tecnologia, como as próprias técnicas do cinema falado, mostrando que os filmes, com inclusão de falas, perdem em brilho e espontaneidade.
Após diversos momentos antológicos, como aquele que mostra Chaplin preso dentro das engrenagens de uma máquina, ou as aventuras ao lado da órfã dentro de uma loja de departamentos deserta, chega-se a cena-chave do filme, que anuncia não apenas o final da produção, mas também a morte do personagem que consagrou o cineasta. Ambos arrumaram emprego num bar e a função de Carlitos é a de cantor. Como ele não sabe a letra da música, Godard lhe escreve uma “cola” nos punhos de sua camisa, que, obviamente, ele perde assim que entra no palco. A solução improvisada: cantar a letra num idioma inexistente.
3 comentários:
Sou simplesmente apaixonada por este filme!!! Delícia demais!!!
Champs,
Te aguardo no meu blog, agora todo reformado, com imagens para não deixá-lo só em letras, apesar das letras continuarem a ser o principal.
Beijão e aqui continua sendo um prazer visitar.
Mariliza
Esse filme é maravilhoso mesmo, eu ví a primeira vez quando era pequeno e até hoje essa cena não perdeu a graça.
Genial.
Ta passando um especial no Telecine Cult com filme dos Chaplin toda quinta...
abraços
Cara, recebi um vídeio-animação com o Chaplin no universo Spielberg... Muito interessante!
Está lá no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=PkITesFhfVo&eurl=
Dá uma olhada rapidinho antes que alguma modelo bloqueie o site de novo... rs...
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