22 de abril de 2015

O Dia em que Eu Descobri Quem Descobriu o Brasil

Toda vez que estamos no dia do Descobrimento do Brasil eu me lembro da minha primeira série. Não, isso não quer dizer que eu já estava na escola quando o Brasil foi descoberto, como diriam os mais maldosos, mas sim por causa de uma das primeiras provas que fiz na vida.

Quando criança, eu era extremamente cdf (ainda se usa esse termo?).

Minhas notas eram todas acima de oito e eu segui nessa toada até a sexta ou sétima série. Na oitava série minhas notas caíram e eu peguei recuperação pela primeira vez na vida. Mas, aí, no primeiro colegial a coisa desandou. Foi nessa época que comecei a fumar, beber, deixar o cabelo crescer. Resultado: tomei bomba, fiz o primeiro colegial mais uma vez e tomei bomba novamente.

Mas essa historinha sobre o descobrimento do Brasil não acontece nessa época, e sim quando eu tinha seis ou sete anos, e morava em Manaus – leitores mais antigos sabem que morei no Amazonas durante dois anos. Era uma época boa, em que eu era uma criança feliz descobrindo o mundo enquanto fazia amigos, conhecia novas matérias e arrancava pedaço da mão de um menino com uma mordida no meio do pátio da escola.

É engraçado que eu não consigo me lembrar da prova em si, apenas da questão sobre o Descobrimento do Brasil, que era a última. O texto era assim:


10) O Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500. Quem descobriu o Brasil?
Resposta:



Não sei se eu lembrava ou não o nome do sujeito que descobriu o Brasil, mas não dei atenção a isso. Pois essa foi a primeira vez que usei a lógica para responder uma questão. O Brasil havia sido descoberto em 1500. Ou seja, mais de quatrocentos anos atrás (sim, na época o país ainda não tinha 500 anos, isso aconteceu no começo dos anos 80).

E quatrocentos anos era muito tempo. Não apenas para um país, mas principalmente para uma pessoa. Eu não conhecia ninguém que havia vivido tanto tempo. Quer dizer, tinha o Fantasma, mas ele não vale, já que ele não é imortal de verdade, já que o filho sempre assume o lugar do pai.

Meus avós que eram as pessoas mais velhas que eu conhecia tinham entre 60 e 70 anos. Quatrocentos anos era tempo demais. Foi quando percebi que a resposta estava à minha frente o tempo inteiro. Preenchi o espaço e entreguei a prova.

No dia seguinte, recebi a prova corrigida. Nove.

Era uma boa nota – se você somar todas as provas de química que fiz no meu primeiro-primeiro colegial deve chegar, quando muito, a uns seis. Mas eu era cdf e me indignei com isso. Corri os olhos pela prova procurando o que eu havia errado e pronto.

Lá estava o enorme X vermelho, bem ao lado da questão sobre o descobrimento do Brasil. Eu havia errado a maldita questão em que usei a lógica, ultrapassando meus limites e buscando o conhecimento e as repostas pelo meu próprio esforço, sem usar os livros. E havia fracassado.

Mas não desisti. Ignorei aquilo e continuo acreditando naquilo que descobri durante a prova da primeira série. Às vezes, em 22 de abril como hoje, eu ainda me lembro da minha resposta.


10) O Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500. Quem descobriu o Brasil?
Resposta: UM VELHO.



E ainda acho que estou certo. Mais de quatrocentos anos (hoje, mais de quinhentos) é tempo demais para uma pessoa. 

3 comentários:

Unknown disse...

Hahaha tempo demais msm.. e com a sinceridade que só um criança tem!!

Varotto disse...

Podia ter argumentado que queria dizer um velho lobo do mar. Ou então que se recusava a responder porque essa coisa de "descobrimento" é coisa de colonizador opressor que acha que chegou para salvar o povo de si próprio, mas só quer roubar as terras e as riquezas e escravizar quem puder.

Se bem que acho a primeira opção mais conveniente.

Varotto disse...

Podia ter argumentado que queria dizer um velho lobo do mar. Ou então que se recusava a responder porque essa coisa de "descobrimento" é coisa de colonizador opressor que acha que chegou para salvar o povo de si próprio, mas só quer roubar as terras e as riquezas e escravizar quem puder.

Se bem que acho a primeira opção mais conveniente.