13 de outubro de 2012

A Voz


Hoje, me liga sempre para saber se está tudo bem. E, logo que eu atendo o telefone, reconheço a voz.

É a mesma voz que falou para eu ter cuidado ao atravessar a rua, que me contou histórias antes de dormir, que me acordou todos os dias de manhã reclamando que eu não deveria ter dormido tarde, que me contou histórias da sua infância, que beijou meu rosto dando boa noite antes de eu adormecer, que perguntou se eu havia estudado, que mandou eu parar de chutar a bola daquele jeito no portão, que voltou do banco com um chocolate de presente, que segurou minha mão andando pela rua, que brigou comigo quando eu não queria comprar roupas, que suspirou aliviada quando passei de ano depois de pegar três recuperações, que reclamou quando eu cheguei bêbado em casa de madrugada, que contou para a família inteira ter descoberto que eu havia começado a fumar, que disse gostar muito daquele meu amigo, que ficou decepcionada quando eu repeti de ano, que se questionou o tempo inteiro se estava fazendo o melhor que podia, que lamentou a falta de dinheiro, que me disse o que teríamos de almoço, que me perguntou se eu estava feliz , que apoiou minhas decisões, que me olhou com preocupação quando eu passava a noite em claro trabalhando, que não escondeu o orgulho quando eu recebi um diploma, que perguntou do meu namoro, que deu risada com as histórias que eu contava, que me beijou quando dançava comigo na cozinha, que me perguntou se havia algo de errado quando eu parecia estar triste, que me confessou não saber mais se o que eu estava fazendo valia a pena, que me consolou quando chorei a morte de um cachorro, que chorou junto comigo a morte de uma gata, que brigou comigo quando eu agi de forma errada, que me perdoou ao ver que eu havia aprendido, que me ligou para contar que havia adorado meu último texto, que nunca soube falar meu nome sem colocar dez letras “r”, que me ensinou a nunca fazer algo que fosse ter vergonha de contar a ela, que pediu para eu ir até à padaria, que parou o que estava fazendo para tomar um café comigo, que morreu de preocupação quando eu descobri ter depressão, que disse ter adorado o livro que eu dei, que me aconselhou tomando café comigo de surpresa na minha casa, que conferiu antes de mim o resultado dos vestibulares, que me deu mais broncas do que gostaria e menos do que eu merecia, que sempre se despediu pedindo que eu não demorasse para aparecer, que me ligou para perguntar do show, que me perguntou se eu estava comendo bem, que torceu por mim mais do que qualquer outra pessoa, que torceu para dar certo mesmo quando não deu, que disse que talvez isso não esteja fazendo você feliz, que ligou para contar do neto e aproveitou para dizer que está com saudade. E que sempre morreu de orgulho de mim.

Quando ela liga, eu reconheço a voz imediatamente. Pois vozes podem mudar com o tempo, mas o amor contido nelas não desaparece jamais. Assim como o amor que sentimos por algumas vozes não diminui.


Nem mesmo quando a voz completa 70 anos.

Parabéns, Mãe.

22 comentários:

.a que congemina disse...

Podia dar uma choradinha, né? :)

Camila disse...

E o Rob faz todo mundo chorar de novo. Sério, vc está cada vez melhor nisso. :P

Parabéns para a sua mãe! :)

Anônimo disse...

Não sei vc, Rob mas... Voz de mãe a gente sente mais que reconhece, por ser o som que a gente mais ouve na vida...

Forte abraço de um cara que te admira demais!

Lari Bohnenberger disse...

Ówn, que fofa!!! Feliz Aniversário para a mamãe!

Bjs!

Patricia B. disse...

Toda felicidade do mundo para a aniersariante !

Fernanda disse...

Oun.... Que lindo, Rob! Felicidades pra sua mãe!

Varotto disse...

Parabéns e muitas felicidades para a Mama Gordon.

Sabe o que você podia fazer como homenagem? Tirar uma nova foto com ela vestindo uma jardineira vermelha de palhacinho.

Ia ficar uma coisinha fofa.

Re Vitrola disse...

Que lindo texto. Merece ser escrito, enviado com uma bela foto.

Parabéns pelas palavras emocionantes. Parabéns para sua mãe!

Fagner Franco disse...

Todo mundo falando que fofo - e, de fato, foi lindo - mas não pude deixar de reparar num detalhe: você de cabelo. Foi mal. Não esperava este tipo de comentário, né? hahaha

Anônimo disse...

é disso que eu to falando!

:')

Renata Schmitd disse...

amo seus pais. imagina quando eu os conhecer pessoalmente? lindo texto.

Rob Gordon disse...

.a que congemina:

Se eu chorei escrevendo, quem sou eu para impedir vocês de darem uma choradinha lendo?

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Camila:

Obrigado - por mim e por ela.

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

@cmmarcondes:

Não sei se é o som que mais reconhecemos na vida, mas com certeza entra no Top 5.

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Larissa Bohnenberger:

Obrigado!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Patricia B:

Obrigado!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Fê:

Valeu!

Beijão!

Rob

Rob Gordon disse...

Varotto:

Me inclua fora dessa (se bem que essa jardineira ainda serviria em mim, acho).

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Mulher Vitrola:

Muito obrigado!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

Fagner Franco:

Por incrível que pareça: sou eu mesmo na foto, em sem photoshop! :)

Abraços!

Rob

Rob Gordon disse...

Moreira:

Obrigado!

Beijos!

Rob

Rob Gordon disse...

R.:

Já está convidada, quando vier para SP. :)

Beijos!

Rob