6 de abril de 2010

As Aventuras Sexuais do Macho da Drosófila

Quando eu morava com meus pais, e tinha cerca de vinte anos, fiz amizade com um guarda noturno que fazia a ronda na minha rua. Assim, todo dia de madrugada eu saía de casa com ele, para fazer a ronda a pé pelos quarteirões. Talvez isso tenha sido a primeira manifestação do meu DNA a respeito de trabalhar de madrugada – o que me levaria a ser jornalista – mas, na época, era bastante divertido. Afinal, não íamos atrás de ladrões, mas sim de casais transando dentro de carros.

Quando víamos automóveis parados em locais suspeitos, com as janelas embaçadas, eu e ele tirávamos na sorte quem teria a honra de se aproximar do casal que explodia de paixão lá dentro. Assim, feito o sorteio, o contemplado se aproximava e batia na janela do carro, dizendo que “aqui não pode fazer isso, eu vou chamar a polícia”.

Lembro-me de cenas hilárias. Pessoas tentando colocar as calças às pressas, mulheres escondendo peitos dentro de blusas, assustadas com a minha presença (ou com a do guarda, dependendo do resultado do par ou ímpar). E, claro que, como estávamos em Moema (leia-se perto da Avenida Indianópolis), às vezes os casais eram formados por homens e travestis, o que tornava tudo mais engraçado – e perigoso – ainda. Afinal, como eu iria explicar para minha mãe o fato de eu entrar em casa às duas horas da manhã com uma gilete enfiada no braço?

Enfim, um dia o guardinha se foi – mudou de emprego, acho – e a diversão acabou.

Mas numa manhã de carnaval, algumas semanas atrás – ou seja, já morando sozinho – pude matar a saudade disso.

Eu estava no computador e comecei a ouvir zumbidos estranhos do meu lado, vindos da varanda. Olhei para o lado e dei de cara com duas moscas copulando ali na varanda. Não estavam namorando ou conversando, estavam fornicando mesmo. Dando uminha. E bem na minha varanda, no meu apartamento, onde meu cachorro vai brincar! (O Poderoso Chefão Parte II mode: on). Estavam ali, alheias a tudo, perpetuando a espécie (e a julgar pelo volume dos zumbidos) como se não houvesse amanhã.

Não sou exatamente um fã de entomologia, mas, como a maioria das pessoas, sou fã de baixaria. Assim, me aproximei com calma e fiquei vendo e ouvindo tudo de perto. Besta-Fera, empata-foda por natureza, ameaçou ir para varanda e estragar a diversão do casal, mas consegui segurá-lo. Assim, o prendi na sala e fechei a porta da varanda, me sentando no chão, a menos de um metro das moscas, lançando, assim, uma nova tendência de vouyerismo.

Assim como nos contos da seção Fórum, da antiga Revista Ele & Ela, a atmosfera na varanda era de puro sexo. Ela estava pousada no chão, mexendo uma das patas da frente de vez em quando; ele estava montado em cima dela, por trás. E (ao menos dentro da minha cabeça) eles estavam totalmente suados e com hálito de vinho barato. Aliás, não apenas suados, mas, para continuar no clima Fórum, seus corpos lânguidos estavam transpirando prazer.

E os zumbidos, cada vez mais altos.

Enquanto eles se divertiam, não consegui evitar em pensar como eles teriam chegado até ali. Será que formavam um casal, que, procurando apimentar seu relacionamento, decidiram começar a transar em lugares perigosos (“na varanda daquele carequinha, ali do oitavo andar, tem um cachorro que pode pegar a gente! Vamos lá!”)?

Ou haviam se conhecido poucas horas antes, e partiram para uma aventura fugaz?

Como isso tudo aconteceu numa terça-feira de carnaval, fico com a segunda opção.


A foto está desfocada para
preservar a identidade dos envolvidos
(e impedir que o blog seja processado)
.


Provavelmente, se encontraram em algum baile por ai e rolou a química. Ele xavecou, ela resistiu (sim, porque gosto de pensar que ela é uma mosca de família, ou ao menos se esforça para tentar passar essa imagem). Ele insistiu e ela o mandou parar, mas sorriu. E o sorriso foi a deixa que ele precisava. Ele pagou bebidas, conversou, ficou do lado dela a noite toda, até que ela suspirou e soltou um “foda-se, é carnaval mesmo, e ele não é feio.”.

Outra coisa que pensei foi no meu antigo professor de biologia. Me deu vontade de ligar para ele e dizer que: “lembra quando você disse que o macho da drosófila não pratica crossing-over? Então, ele pratica sim, e está fazendo isso aqui na minha varanda, você precisava ver isso”. Mas mudei de idéia, claro. Mesmo porque eu não conseguiria falar no telefone com ninguém devido ao volume dos zumbidos, que aumentava cada vez mais.

Não estou exagerando. Chegou um momento que eu comecei a ficar preocupado com os barulhos. O casal, claro, não parecia se importar muito, mas sou eu que moro aqui, não eles.

E se os vizinhos estiverem ouvindo? Vão achar que sou eu, já que os sons vêm do meu apartamento. E se ficarem curiosos a ponto de colocar a cabeça para fora da janela e me verem na varanda, junto com as moscas pecaminosas?

– Marli, vem ver! Aquele baixinho do oitavo andar está fazendo um ménage na varanda! Com um casal de moscas!

– Meu Deus! Vamos chamar a síndica, Sérgio!

– Pelo menos aquele cachorro dele não está ali. Senão já seria uma suruba!

– Que pouca vergonha! E assim, em plena luz do dia? Que pessoa doentia!

– O que ele acha que o nosso prédio é? Uma versão pornô da Arca de Noé?

– Aposto que ele passa a noite toda vendo fotos de bichos pelados na internet.

Felizmente, nada aconteceu, ninguém apareceu. As moscas continuaram ali, vivendo no pecado, até que os zumbidos se tornaram muito mais altos e intensos. As moscas estavam quase sem fôlego.

De repente, tudo se acalmou.

O macho da drosófila desceu das costas da parceira, e – tenho certeza – deu uma esticada de pernas na varanda. Ela deu uma sacudida nas asas e, gosto de pensar que ela suspirou. E ficaram ali, um lado do outro, alguns segundos, provavelmente perguntando se “você gostou?” e “tem um cigarro?”.

Mas a despedida foi a melhor: sem beijinho, sem nada. Cada um saiu voando para um lado e pronto: estava encerrado o crossing-over. Talvez o macho da drosófila tenha soltado um "te ligo".

Tudo isso não durou mais que três minutos.

Chico Buarque tinha razão: amor mal feito e depressa, bater as asas e partir.

19 comentários:

Fagner Franco disse...

No mínimo doente, esse seu interesse em bisbilhotar qq ser vivo copulando, não? hahaha... E ow, três minutos? Fodinha essa mosca, hein? (adolescente mode: on) hahaha

rbns disse...

Então... acho que a dosagem do seu remédio está baixa. :-)

Anônimo disse...

Não se pode trepar...
Não se pode ser mosca...
Vida injusta =(

Mari Hauer disse...

Hahahahahahahaha... Você imagina o que as moscas pensam, o que o Besta-Fera pensa e tudo mais!

O “foda-se, é carnaval mesmo, e ele não é feio.” foi uma das melhores partes! Que mosca safada!

Esses dias tbm escutei uns barulhos estranhos do apartamento de cima, que duraram beeemmm mais que 3 minutos. Vou imaginar que eram moscas, também!

E o Chico sempre tem razão... deve ter tirado isso observando casais de moscas na varanda dele! :)

May. disse...

Na páscoa, vi duas libélulas acasalando. E a propósito, elas fazem isso voando.

Tyler Bazz disse...

Garanto que nem lembram mais uma da outra.



E esse blog já foi mais família!!! E pensar que um dia eu cogitei indicar pra minha irmã mais nova...

Eduardo T disse...

Por mais um post, genial, pra ler e curtir.
Deus lhe pague

Anônimo disse...

Meu Deus, que mente mais pornográfica, não perdoa nem ao menos as coitadas moscas, isso é quase zoofilia em. hehehe

Apesar de ser muito imoral, vou indicar esse post pra todos meus amigos, não pude deixar de rir muito!

Varotto disse...

Cara... Já falei que você tem pobrema?

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

Cara, ao contrário do rbns, acho que a dose do seu remédio está muito alta...

Natalia Máximo disse...

Foram transar na varanda da sua casa? Ninguém respeita mais a moral e os bons costumes nessa cidade!

Gilmar Gomes disse...

"Aposto que ele passa a noite toda vendo fotos de bichos pelados na internet."

heuheheuhuehuehuehuehuee

Fazia tempo que eu não ria assim de um de seus posts (que estavam meio emos)... Pacabáderirmesmo!!!

Leandro disse...

Ontem: "mulheres escondendo peitos dentro de blusas".

Hoje: "moscas trepando na varanda".

Que fase né?

Lucas Casasco disse...

Husahuaash. Rob, eu achei teu blog por acaso e todo santo dia venho aqui dar uma olhada.
Velho, tu escreve pra cacate.
Esse post ai animou meu fim de dia. Rí de mais.
Lembrei de um post antigo meu que eu falo de um dialogo que eu tive com uma barata aqui em Taiwan...

Anônimo disse...

Please see! money as debt

http://www.youtube.com/watch?v=vVkFb26u9g8

ZEITGEIST: ADDENDUM

http://www.zeitgeistmovie.com/

project camelot magnetic motor

http://www.youtube.com/watch?v=hkgyY47duCM

Important please pass forward

Varotto disse...

Cara, eu tentei me conter, mas agora não dá mais pra segurar!

Drosophilas são aquelas mosquinhas bem pequenas que ficam voando em volta das frutas, isso que você fotografou foi um casal de moscas domésticas (Musca domestica).

Pronto... falei...

marcelo b. disse...

eu não ri, mas fiquei contente.

belo post.

André disse...

Por isso que blogs são diversão garantida. Aonde mais eu iria me informar sobre a vida sexual das moscas?

E tal dono, tal cachorro, hein? Os dois empata-foda.

Otavio Oliveira disse...

"Besta-Fera, empata-foda por natureza"

q revelador.

hahahaha