30 de março de 2010

Rob Gordon - Biografia não Autorizada

Muito tempo atrás, no meio de uma discussão, me perguntaram como eu conseguia ter resposta para tudo. Eu fiquei quieto alguns momentos, pensando sobre isso, e respondi a única coisa que me pareceu sensata no momento. “Não sei”.

E fui sincero.

Eu realmente tenho resposta para tudo, e não sei ao certo como faço isso. Uma das minhas características (não estou usando o termo “qualidade” deliberadamente, porque nem sempre isso é bom) é a velocidade de raciocínio que eu tenho. Eu passo a maior parte do tempo pensando, inventando, aprendendo, cogitando, especulando. Meu cérebro se acostumou a pensar rápido.

Talvez seja por isso que me sinto bem quando percebo que todos os meus prazos no trabalho estão apertados. Nesses momentos, eu tenho uma desculpa para soltar as amarras do cérebro e deixá-lo trabalhar na velocidade que conseguir. E este é um dos motivos que também me faz gostar de escrever no blog. Se os prazos do trabalho me permitem pensar na velocidade normal do meu cérebro, a ausência de prazos do blog, por outro lado, também permite isso. É contraditório, eu sei. A diferença é que no trabalho eu preciso ser rápido, enquanto no blog eu posso ser rápido.

A questão, na verdade, é o motivo da rapidez de pensamento.

Eu penso muito rápido porque penso o tempo inteiro. E eu penso o tempo inteiro porque, ao contrário do que possa parecer aqui, eu tenho um coração do tamanho do mundo.

Sim, eu sei que sou sarcástico, sei que sou azedo, sei que sou tirador de sarro. Mas isso é apenas conseqüência da velocidade com que meu cérebro trabalha. E ele trabalha o tempo todo simplesmente para não deixar meu coração tomar conta das minhas ações, porque meu coração entende as coisas de uma forma que não necessariamente eu concorde (independente de quem tem razão ou não).

Quem me conhece e lê o Chronicles deve saber disso. Lá é onde eu deixo meu coração pensar livremente, sem obstáculos ou impedimentos. Já me perguntaram se eu chorei alguma vez enquanto escrevia no Chronicles. Não apenas chorei como me lembro exatamente em quais textos (e em quais trechos) eu desmoronei (o termo é esse mesmo, desmoronei) enquanto escrevia.

Mas não quero falar dos blogs, quero falar de mim. Por isso que eu penso rápido, por isso que eu penso o tempo todo. É uma defesa ao meu coração – se eu parar de pensar, eu me transformo no Chronicles, e tudo pode começar a me abalar com uma facilidade enorme.

O fato de eu ter um coração desse tamanho não quer dizer que eu choro o tempo todo, que me sensibilizo o tempo todo. Talvez eu até tenha potencial para isso, mas nós dois (eu e meu coração) sabemos que se você faz isso hoje em dia, você é comido vivo em questão de minutos, na selva que existe lá fora. Não, você precisa manter as aparências, às vezes, e engolir o que sente. Triste, mas verdade.

Claro que tem (muitas) coisas – filmes, livros, músicas – que me tocam, mas não é disso que estou falando. O meu coração funciona de outra forma.

O meu coração faz com que eu tenha uma vontade muito grande de fazer as coisas de forma correta. Me cobro muito, e o tempo todo, sobre a forma que estou agindo com as pessoas ao meu redor.

Em termos práticos, eu me importo. E isso pode parecer pouca coisa, mas para mim não é, especialmente num mundo onde as pessoas parecem estar cada vez mais pouco se fodendo para tudo.

Eu me importo com as pessoas ao meu redor. De verdade.

E não estou falando das pessoas que cruzam meu caminho na rua, no metrô, na fila do cinema. Se alguém que eu não conheço desmaiar na minha frente, eu vou socorrer, mas isso não é ter coração, isso é ser cidadão. São coisas diferentes. Emocionalmente falando, isso tem o efeito de uma esmola. Se eu dou um real para um mendigo, não quero saber depois se ele usou o dinheiro para comprar comida ou pinga. Se eu socorro alguém no metrô, não vou visitar a pessoa no hospital no dia seguinte para saber se ela está bem. Fiz o que podia, fiz o que deveria ter feito, e pronto.

Não, minha vontade de acertar envolve as pessoas que eu gosto. Família. Amigos. Namorada. E o amor que eu sinto por essas pessoas chega a ser quase insuportável. Graças à minha rotina caótica, com horários alucinantes, pode parecer que não, mas eu penso nessas pessoas o tempo todo. É o meu lado mafioso, eu cuido o tempo inteiro do que é meu. Posso estar quieto, mas estou de olho.

E não vamos cair aqui no clichê de “eu ajudo essas pessoas sempre que elas precisam”. Porque isso é o mínimo que você precisa fazer e é o mínimo que você pode esperar delas. John Lennon mesmo disse que “amor é mais que ficar de mãos dadas”. E, se você não concorda com isso, largue tudo e vá viver numa caverna, será mais fácil para você e melhor para todo mundo.

Por isso que, praticamente todas as noites, eu deito na cama e penso se estou fazendo o certo com elas, se estou no caminho certo. E, se acho que não estou, tento mudar. Tento me adequar, tento ir por outro caminho, e fico imaginando qual a melhor maneira de fazer as coisas. E se não tem jeito de melhorar, paciência, vamos levando. Uma hora melhora. Been there, done that.

Se eu erro? Como qualquer pessoa, eu erro para caralho. Às vezes por teimosia, às vezes por incompetência, às vezes por acidente. E é aí que meu coração do tamanho do mundo me sacaneia. Como eu disse, eu me importo. Eu não me importo com essas pessoas quando estou com elas, eu me importo com essas pessoas, ponto. É o outro lado da moeda do meu lado mafioso: eu admito errar com tudo, menos com esse punhado de pessoas – mesmo sabendo que inevitavelmente eu vou errar em alguns momentos.

Família, amigos, namorada... A minha famiglia. Se eu erro com eles, eu erro comigo.

E claro que, como todo mundo, às vezes eu tenho vontade de mandar tudo à merda, de jogar tudo para o alto e ir para casa. Mas não faço isso. Não apenas por mim, mas também por essas pessoas. Porque sei que, não importa onde eles estão, ou o que estão fazendo, elas contam comigo para uma série de coisas, e ser feliz, dentro dos eixos, é uma delas – porque elas sabem que eu conto com elas para isso também.

E, com isso, aprendo cada dia mais.

E, com elas, aprendo cada dia mais.

Nos últimos anos, aprendi a ouvir, mais do que havia aprendido na minha vida inteira; aprendi a perdoar (ainda preciso aprender a “me perdoar”, mas eu chego lá); aprendi que às vezes tudo o que a pessoa precisa é ficar ao seu lado, em silêncio; e aprendi a ser um pouco mais paciente. E aprendi que às vezes não há nada que possa ser feito – e se não há nada a ser feito, é porque você fez tudo o que podia, não adianta perder o sono.

Aprendi, também, que nada é definitivo. Não é porque tudo está bem hoje que você pode relaxar amanhã, e não é porque tudo está esmerdeado num dia que não pode melhorar no outro.

A vida é cheia de altos e baixos, mas o fato de prestarmos mais atenção nos baixos é culpa nossa, não dela. E não adianta também ignorar as fases de merdas. O segredo, na verdade, é se lembrar de quem estava sempre ao seu lado – tanto nos momentos ruins como nos bons.

Porque o mundo tem gente demais hoje. Pessoas entram e saem da sua vida a todo instante, mas, se você olhar ao redor, verá que tem uma meia dúzia que está ali, ao seu lado, o tempo todo. Não estou falando do cara que trabalha na mesa ao lado da sua ou do sujeito que mora no apartamento ao lado e que você mal sabe o nome.

Estou falando do amigo que te convida para a cerveja apenas porque quer te ver, ou que entra no Messenger perguntando “tá melhor?”, pois sabe que você não está legal; estou falando da mãe e do pai que perguntam “tudo bem?” e realmente se importam com a resposta que você vai dar; estou falando da namorada que sabe que assistir ao filme de mãos dadas é melhor que o filme em si e que dá bronca porque você está trabalhando demais.

Acredite: eles estão ali porque se importam.

O mínimo que você pode fazer por eles, então, é nortear suas ações e decisões por eles. Não vou dizer aqui que tudo o que faço, faço por eles. Longe disso.

Mas sei que a forma que faço tudo o que faço pode (e vai) se refletir na vida deles.

Justamente por isso que, entre todas minhas paixões, que vão do futebol a quadrinhos, de heavy metal a mortos-vivos, de cinema e seriados a escrever no blog, eles estão em primeiro lugar. E sempre estarão.

A cada um de vocês (e vocês sabem quem são):

Muito obrigado. Por tudo.

E os demais leitores, a partir de hoje, sabem um pouco mais sobre mim.


PS
- Caso você esteja se perguntando: sim, está tudo bem. Eu apenas precisava conversar um pouco comigo mesmo sobre isso. E, cá entre nós: se você tem um blog pessoal e não fala sobre você, qual o propósito de se ter um blog pessoal?

25 comentários:

Tyler Bazz disse...

*bebe o copo todo numa virada só, bate o copo na mesa, te abraça*
Porra véio! Vc é meu irmão! Te considero pra caralho, véio!

Beleza.. fiquei pensando em algo mais tocante/inteligente pra comentar, mas não rolou..

Você é o cara, Padrinho.

gilgomex disse...

Tyler, vc é phoda... E acho que nem preciso dizer por quê, né?

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos disse...

É por isso que eu gosto tanto do seu blog Rob, me identifico muito com você... Se eu daqui a 15 anos conseguir ser metade do que você é hoje, eu me sentirei realizado.

Engraçado como o texto me tocou, mas não foi uma revelação bombástica, seu amor pelos amigos, família, e as pessoas que lhe são queridas, apesar de poucas vezes ser expressado abertamente aqui, sempre está presente em seus textos.

E é uma das coisas que mais admiro em você. Sua capacidade de brincar, ser irônico, e o que seja, mas no fundo se importar, e muito, com "la sua famiglia".

É estranha essa relação do leitor com o lido, principalmente num blog pessoal, afinal nós não nos conhecemos, nunca nos vimos, no máximo trocamos twitts ocasionais, porém eu tenho a sensação de que te conheço, eu me importaria se algo acontecesse com você.

Rob, por mais que isso pareça estranho (raios, ta soando estranho até para mim), saiba que tem gente que você nem conhece, mas que se importa com você.

E se um dia resolver dar uma passada aqui pelo lado norte, está mais que convidado para uma picanha com cerveja, por minha conta!

Você me inspira, me ajuda com seus textos. E por mais que fãs sejam inconvenientes de vez em quando, eu tenho um enorme orgulho de ser seu fã.

Pedro Lucas Rocha Cabral de Vasconcellos, 19 anos, Ottawa

Natalia Máximo disse...

Um dos textos mais sinceros que já li na minha vida. Sei de quem ser fã (=

Bruno disse...

Aí é que se mede o tamanho de um homem. Sem ironia.

Abraço grande.

Anônimo disse...

Mais uma vez, foi um prazer Sr. Rob Gordon!

Abraço
Charlie

MaxReinert disse...

Well done, Sir!
Well done!!!

Fagner Franco disse...

Bonito e sincero texto, Rob. Parabéns. Uma frase clichê e que se tornou chata de tanto ouvida, faz sentido. E muito. "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida". Não sei se vai achar que essa frase se encaixa no seu texto, mas li e me identifiquei em vários pontos e sempre me lembro de cuidar daqueles que gosto. Você faz isso. Parabéns.

Ana Savini disse...

E, apesar de se dizer tão sarcástico, azedo e tirador de sarro o Sr. Rob Gordon nos mostra que é um "menino de ouro".
O texto é lindo e é apenas uma confirmação do que já sabíamos.
:D

Anônimo disse...

Puta que o pariu.

I'm speechless.

Rafiki Papio disse...

Sabe? Isso tudo é lindo!

Olha que coisa, acho que te entendo.

Varotto disse...

Viadagens à parte, tem de ser muito macho para se expor assim.

Àqueles que, embora sensíveis, fazem os atendentes de SAC chrarem, we salute you!

Anônimo disse...

A melhor parte de ter um blog pessoal é poder desabafar, pois quando não tem ninguém por perto pra te ouvir no momento é com o blog que você conversa.

Sinceramente, a cada dia gosto mais desse blog, e a cada dia gosto mais de você, parabéns cara!

André disse...

É engraçado pensar como as pessoas sempre estão com a gente, mesmo com a distância, mesmo sem se ver depois de sabe-se lá quanto tempo.

Eu também sempre me pego pensando em todas as pessoas que passaram na minha vida, mesmo que eu tenha perdido contato, ou não fale ha muito tempo. Penso no que estão fazendo, se casaram, tiveram filhos, estão ganhando dinheiro, se estão felizes...

Elas não podem saber, e na opinião delas pode ser até um pouco de egoísmo de minha parte (totalmente equivocado, diga-se de passagem), mas essa é a minha forma de me preocupar com elas.

Wagner Brito disse...

Esse texto mostra bem a falta que eu sentia de ter um blog pessoal, depois que mudei a "linha editorial" do meu.

Camila disse...

Deu um nó na garganta, RóbiGórdu!

;D

Abraços!

Camila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camila disse...

Parabens, mais uma vez uma atitude/texto q faz com q seus leitores o admirem mais.
Tem q ter muita coragem pra se expor assim, mesmo sendo um blog pessoal...
Adoro o blog( este e o chronicles)...Sensacionais!

rbns disse...

Então... acordou bem emmo hoje hein? Acho tão lindo "homem" sensível...

Rob Gordon disse...

Rbns

Até onde me lembro, você sempre achou lindo "homens". Não sabia que você tinha se especializado em "sensíveis".

Boa sorte em sua nova empreitada.

:-)

gilgomex disse...

Ai ai... Esse desgraçado escreve textos que fazem a gente rachar de rir. Esse fiadaputa escreve textos que conseguem nos fazer chorar (já chorei lendo Chronicles e tb um texto sobre família escrito aqui mesmo no Champ). E o paunocu ainda consegue escrever textos sérios que nos fazem refletir...

Por isso que eu adoro essa bosta.

Parabéns, Rob! Você me deixou com cara de bunda de novo ao olhar para o Word e não ter idéia do que escrever...

Ah... Feliz Páscoa pra você e pros leitores do blog.

PS: rbns curte "Livin' La Vida Loca????

rbns disse...

Hahahahahahahahahahahahaha

Luilton disse...

Eu me identifiquei.
Antes de cada decisão importante (ou não), eu penso nas consequências que inferirão na vida dos meus próximos, e penso rápido também.

Às vezes, essa de pensar rápido ou de confiar na rapidez de raciocínio, faz a gente fazer algumas merdas... Mas com o tempo a gente se acostuma.

Abraços.

Anônimo disse...

Rob ... é feito puramente de emoções, no mais pura.

só me pergunto: como sentir tanto(!) num mundo q nem nos permite pensar?


(dúvida)
--XD--

Otavio Oliveira disse...

mata a pau.