26 de janeiro de 2010

Um Estranho numa Terra Estranha - Parte II

(leia o post anterior aqui)


Cerca de quinze anos atrás. São Paulo, Brasil.

Um dia eu decidi comprar uma carteira nova. Os motivos são mais ridículos do que vocês imaginam. Digamos que eu e minha antiga carteira, que ainda estava boa, simplesmente brigamos. Qualquer dia eu conto a história inteira aqui (e fecho o blog e mudo de nome e de país no mesmo dia).

Enfim, peguei uma nota de R$ 10,00 (quinze anos atrás, se comprava muita coisa com R$ 10,00), um amigo (acredito que o Rbns) e fui até o Shopping Ibirapuera. Entrei numa loja daquelas que as vendedoras usam roupas de academia e passam o tempo (ou seja, entre um cliente e outro) dançando.

Escolhi uma carteira e chamei uma vendedora. A menina parou de dançar e veio até mim.

– Posso ajudá-lo?

– Sim. Quanto custa esta carteira?

– Dez reais.

– Dez?

– Dez.

– Hum... Temos um problema.

– Como assim?

– Eu tenho apenas dez reais comigo.

– E qual o problema? Você tem dinheiro suficiente.

– Para que você acha que eu vou usar a carteira?

– Não sei.

– Pense.

– Para guardar dinheiro?

– Exatamente. E eu possuo apenas dez reais. Se eu gastar todos os meus dez reais na carteira, ficarei sem dinheiro nenhum. Logo, não precisarei mais da carteira.

Ela me olhou fixamente. Talvez na hora eu tenha pensado "ela está fazendo contas para acompanhar meu raciocínio brilhante". Hoje, mais experiente, eu sei que ela devia estar pensando algo como “porque é sempre no meu turno?”

(Aliás, hoje eu sei também que ela deve ter olhado meu amigo e pensado: “e esse babaca não poderia ao menos disfarçar quando olha para o meu decote?”)

– Você está brincando?

– Evidente que não. Se eu gastar tudo o que tenho para comprar a carteira, não terei o que guardar dentro dela. Logo, a carteira perderá seu propósito de existir na minha vida.

Era um lance arriscado. Se ela falasse "e você não vai guardar seus documentos?", eu ficaria totalmente sem resposta. Felizmente, ela não era um gênio dedutivo, e sim uma garota cuja maior realização, provavelmente, tinha sido dançar entre as prateleiras.

– Mas o que eu posso fazer?

– Me dar um desconto.

Lembro de ver meu amigo se escondendo atrás de uma prateleira, não sei se de vergonha ou se para rir. Provavelmente, ambos.

– Eu preciso falar com a minha gerente.

– Ok. Eu espero aqui. E eu não estou apenas pechinchando. Avise a ela que nós temos um paradoxo em andamento.

Minutos depois, ela voltou e, sem disfarçar a cara de saco cheio, me deu um desconto de uns 5%, o que me permitiu sair dali com a carteira e algumas moedas enfiadas nela.

Este foi um dos primeiros (e maiores) momentos Sheldon Cooper da minha vida.

E foi neste momento que os deuses do comércio marcaram meu rosto e juraram vingança. Um deles, das profundezas de seu reino, que se assemelha a um estoque, com caixas e mais caixas empilhadas, marcadores de preços e catálogos do Shoptime, disse:

– Rob Gordon, em um dia, daqui a anos, decidirás comprar uma bolsa. Neste dia, eu estarei por perto, para atar um nó em sua mente.

Claro que na hora eu não ouvi isso. E claro que no último sábado, como disse no post anterior, eu decidi comprar uma bolsa de presente.

(continua...)

21 comentários:

Tyler Bazz disse...

Sabe o que é o mais constrangedor disso tudo????

15 anos atrás, você já tinha MAIS DE VINTE ANOS! Se um moleque de 16 anos aprontasse uma dessas na loja, seria compreensível. É idade, é fase.

No seu caso, é doença.


(blz. já lemos. pode por a terceira parte AGORA)

Gilmar Gomes disse...

primeirão, primeirão, primeirão... agora vou ler...

aliás... voltei... rs

Gilmar Gomes disse...

tomei... heuehuehuehuhee

Anônimo disse...

Tyler, um pequeno exercício para você (já resolvido, para seu maior conforto).

Arme e efetue: 34 - 15.

34
15 -
_______
19

Pense sobre isso, quando tiver um tempo.

(PS - Eu não tinha pensado sobre a idade que tinha, puxei de cabeça. Eu devia ter uns 15. Acho.)

Bia Nascimento disse...

hauahhahahahaa
Muito Sheldon!! Fico imaginando a cara da vendedora... Muito chato da sua parte atrapalhar o axé da moça.

Anônimo disse...

Arme e efetue. Eu não via isso desde a 5ª série.
Se eu passar mal de tanto rir, a culpa será sua Rob!
Quanto ao post em si, sempre peço desconto se pago à vista. Não vejo nada de condenável na sua atitude, ainda que no seu caso nem pechinchar seja uma coisa normal.

Camila disse...

Sheldon...brilhante...^^

Unknown disse...

Championship Vinyl também tem cultura matemática...

Aguardo continuação,

Nelson disse...

Desconto de R$0,50, realmente impressionante, hahaha.

Sheldon Gordon, um abraço!

Rafiki Papio disse...

Faz todo o sentindo, mas você não devia se meter com os deuses. A juventude não nos deixa ver muita coisa.

rbns disse...

Cara eu lembro desse dia. Os diálogos eram bem perto disso mesmo.
Só que vc. não contou que na época pensávamos isso mesmo:"Pq. comprar uma carteira se ela vai viver vazia"... afinal eu era o único da turma que andava com documentos.

Até hoje eu assombro vendedores com variações desse raciocínio.

No Cinemark: "R$15,00 o pacote da pipoca moça? Vc. está tentando ficar rica? Sabe quanto milho dá pra comprar com esse dinheiro? Pelo menos uma arroba..." e por aí vai :-)

Dani Cavalheiro disse...

Tá vendo? Tem sim uma explicação pra tudo acontecer com você!

Alexandre Greghi disse...

Cairê!!! era esse o nome das merdas das carteiras emborrachadas que eram moda qdo vc (e eu) tinhamos 15 anos. Eu tinha uma carteira dessa época, e vc provavelmente deve ter conhecido na faculdade... huahuahuahua

Alexandre Greghi disse...

PS: a minha carteira nessa época da faculdade provavelmente tinha 10 reais e umas 3 fichas de mixto dentro!

Arthurius Maximus disse...

Sensacional! O mais incrível é que já estive numa situação idêntica a essa... "êita vida!"

Mari Hauer disse...

D-U-V-I-D-O que a cabeça da vendedora não deu um nó quando você falou "paradoxo".

Bom, quero muito ler a continuação. Eu adoro comprar bolsas, ADORO! Uma sensação melhor do que comprar sapatos! E me dá sempre um nó na cabeça, coisa que eu não tenho comprando roupas, por exemplo. Deve ter sido um mega desafio! hahaha...

ro disse...

acho que todas as fichas do misto que usavamos na facu saiu da carteira do alê, pois nao lembro de termos comprado mais de 3

Kel Alves disse...

Essa coisa de história em capíulos é tentativa de fazer novela e aí descubro q Rob Gordon está muito interessado em atrair o público feminino(inda + c bolsa no meio!.

E como 'feminina' tô dooooida p ver o final da novela.

Gilmar Gomes disse...

O rbns falou do milho ali e eu resolvi comentar também... Aqui no Paraná a saca de 60kg de milho está custando 14 reais... 4 arrobas no caso... E ainda sobra um real... heueheuheuheuee

Bel Lucyk disse...

eu queria ter visto a cara da vendedora!
eu teria me escondido, como fez seu amigo, pra me ACABAR de tanto rir! kkkk
tô doida pra saber o final!

Isobel disse...

ah, tô procurando a continuação e não acho ;/