12 de outubro de 2009

Top 5 - Sala da Diretora

Durante minha vida escolar, eu fui muitas vezes para a diretoria, pelos motivos mais variados do mundo.

Mas, se ao longo do colegial eu ia para a diretoria assoviando, no primário não era assim. Eu realmente morria de medo. Eu me sentia como um prisioneiro de guerra entrando no prédio da Gestapo, com a palavra SUSPENSÃO pipocando no meu cérebro. Assim, eu já tinha uma desculpa padrão pronta para usar em casa, que era a suspensão coletiva (algo como “fizeram algo na classe, não encontraram o culpado, então suspenderam a classe inteira”).

Felizmente, nunca precisei usar, porque nunca fui suspenso – a equação “lobby mais cara de arrependimento” sempre fez milagres. Mas confesso que nos primeiros anos, o medo disso era grande. Enfim, em homenagem ao Dia das Crianças, deixo vocês com o Top 5 – Sala da Diretora.


1982 - 1ª Série
Eu sempre fui o menor da sala. Sempre. Mas sempre fui um dos mais briguentos. E, minha sala, como toda sala de aula, tinha um menino que era o dobro do tamanho dos outros. Não lembro o nome do valentão da minha 1ª série (apenas que ele tinha cabelos claros e já devia se barbear), mas lembro que ele colocava medo até nos alunos do colegial. Assim, eu nunca me meti com ele. Até, claro, o fatídico dia do balanço.

Eu estava sentado no balanço, brincando sozinho, quando de repente saí voando, sem entender o que tinha acontecido. Caí de cara no chão, e ainda sem entender o havia acontecido, ouvi a tradicional risada débil-mental atrás de mim e soube na hora de quem se tratava. Olhei para trás e vejo aquele protótipo de guerreiro viking sentado no balanço, batendo no peito e gritando: “eu vou brincar aqui agora!”.

Me senti como uma país da América Central sendo desafiado pelos Estados Unidos. Assim, fiz a única coisa que poderia: aceitei. E, para não mostrar mágoa, ainda ofereci gentilmente “quer que eu empurre?”. Ele aceitou e fui para trás dele. Ele ficou sentado ali, com as mãos nas correntes, esperando pelo empurrão. Não lembro ao certo como fiz, mas peguei a mão dele e cravei os dentes. Ele começou a chorar de dor e caiu no chão. Cuspi um pedaço de carne (mesmo!) e resmunguei um “nunca mais faça isso, filho da puta!”. Fui pra diretoria.


1985 - 4ª Série
Minha maior nêmese no primário era uma criatura de voz estridente que lecionava português: a temível Regina Céli. Era ela insuportável, e me declarou como seu pior inimigo porque detestava a lição feita com “letra feia” (palavras dela, não minhas) e minha letra sempre foi nível Meu Pé Esquerdo.

Assim, todo dia tínhamos uma rotina: ela me chamava na mesa dela, olhava minha lição, arrancava as páginas (na frente da sala inteira) e, aos berros, mandava eu fazer tudo de novo. Então, todos os alunos da classe tinham uma lição para o dia seguinte, e eu tinha duas: a do dia, e a da véspera, para refazer.

Isso durou duas semanas. Um dia, ela me chamou na mesa dela. Eu, sem sair da minha cadeira, abri o caderno e arranquei as páginas, falando “não precisa, eu refaço essa merda, pode deixar”. Fui para a diretoria (e, no dia seguinte, minha mãe foi ao colégio e destruiu a professora).


1991 – 1º Colegial
Se você estiver acompanhando a relação “ano / série”, saiba que o ano acima está correto – digamos que eu sofri algum(s) revés(es) no primeiro colegial. Assim, no meu “segundo primeiro colegial” eu tive aula de física com um sujeito que me detestava, pelo simples motivo de ter dado aula para o meu irmão, anos antes. Veja bem, meu irmão é físico. Então, nas provas do cara, ele só tirava 10; eu deveria conseguir uns 6, no máximo – e isso não numa prova, mas em todas do ano, somando todas as mensais e bimestrais.

E esse professor era metido a engraçado. No colégio em que eu estudava, havia uma ficha de disciplina, na qual o professor anotava o número do aluno e a ocorrência, dentre várias opções (como “não faz os deveres”, “desrespeita colegas e professores” etc). Eram umas vinte opções e, caso o aluno tivesse três na mesma semana, era, no mínimo, boletim de ocorrência.

Este professor, metido a engraçadinho, adorava fazer o seguinte: quando o aluno não fazia lição, ele pegava a ficha e começava a perguntar para a sala:

– Se ele não fez a lição, ele não acompanha as aulas, certo?

E as muppets infelizes que sentavam na primeira fileira respondiam em coro:

– Certo!

– Se ele não fez a lição, ele desrespeita colegas e professores, certo?

– Certo!

E, assim ele ia, até preencher pelo menos 15 das 20 ocorrências. O sujeito tinha apenas deixado de fazer uma lição de casa, e levava um boletim de ocorrência. Aquilo me deixava extremamente puto. Um dia, como eu não tinha mais nada a perder – já estava matematicamente rebaixado – resolvi ir à forra.

Alguém deixou de fazer a lição e o babaca começou com o showzinho. E eu estava na primeira carteira – eu era obrigado a me sentar ali. Assim que ele fez a primeira pergunta, me lembrei daquele quadro do Silvio Santos, onde um infeliz qualquer ficava dentro de uma cabine à prova de som, respondendo se queria trocar a vida da mãe por uma caixa de fósforos. Logo, tivemos:

– Se ele não fez a lição, ele não acompanha as aulas, certo?

Antes que as Muppets pudessem responder, eu coloquei as mãos nas orelhas e gritei, com voz de quem não estava ouvindo:

– Siiiiiiiiim!

– Se ele não fez a lição, é porque desrespeita colegas e professores, certo?

– Nããããããããão!

– Se ele não fez a lição, é porque não se aplica nas atividades propostas, certo?

– Nããããããããão!

A classe caiu na gargalhada. Mas as coisas pioraram quando ele percebeu o que eu estava fazendo e perguntou:

– Quer parar com essa babaquice?

– Nããããããããão!

Fui pra diretoria.


1992 – 1º Colegial
Novamente, o ano está correto. Eu já estudava em outra escola, junto com todos meus amigos de bairro. Obviamente, não iria prestar. E não prestou, desde o primeiro dia. No segundo mês de aula, tivemos aula de laboratório. O sujeito ia ensinar decantação. Colocou um pouco de vinho num canto da bancada; o vinho corria por dezenas de aparelhos, era requentado, esfriado, enfim, alguma mágica qualquer e, do outro lado da bancada, começou a pingar um líquido incolor.

Assim, o professor convidou os alunos a verem se o experimento deu certo. De acordo com ele, aquilo ali era clorofórmio; cada aluno tinha que ir até ali, molhar um pouco do avental e cheirar (com cuidado) o líquido, para se certificar disso.

Primeiro, claro, foram as muppets, que cheiravam com cuidado e faziam anotações (alucinadamente em dezenove cores diferentes) no caderno. Logo em seguida, eu e meus amigos nos aproximamos. Encharquei a manga do avental e respirei fundo. Com a boca.

– Caralho, é clorofórmio!, eu disse, já virando os olhos e começando a tremer.

Meus amigos fizeram a mesma coisa. Resultado: passamos dez minutos correndo pelas escadas, gritando e sem saber o que estávamos fazendo. Na verdade, só paramos de correr quando fomos arrastados para a sala da diretora. Mas nada aconteceu, porque éramos amigos do filho da coordenadora (e sobrinho da dona da escola), então sempre levávamos ele como escudo nessas ocasiões.


1994 – 3º Colegial
A última vez em que coloquei os pés na sala da diretora ainda é lembrada por alguns amigos. O colégio em que eu estudava não tinha uniforme: bastava uma calça de moletom ou jeans, e uma camiseta branca. Nos dias mais quentes, eu ia de moletom, para poder andar com as pernas arregaçadas – o que era permitido na escola.

A única pessoa que não sabia disso era o novo bedel, um babaca encarregado de cuidar do andar da minha sala. Aliás, vale explicar o andar: eram três salas, e, no meio, um espaço de cinco metros quadrados que normalmente estava lotado de alunos que relutavam em entrar para a aula – eu incluso. Assim, no final do intervalo, eu ficava ali enrolando, junto com dezenas de alunos. E, neste dia específico, eu estava com as calças arregaçadas.

Quando ele viu aquilo, veio me encher o saco na mesma hora, pedindo para eu abaixar a calça. Não tive dúvidas: me levantei calmamente – eu estava sentado no chão – e, fazendo a maior cara de vagabunda possível, abaixei a calça. Veja bem, eu não abaixei as pernas da calça, eu abaixei a calça. Fiquei só de cueca ali.

Obviamente, ele ficou branco. Sua expressão indicava que eu tinha feito algo semelhante a arrancar os olhos da mãe dele com um garfo. O fato de dezenas de alunos ao redor dele terem começado a gritar porque eu estava de cueca não ajudou muito acalmá-lo.

Ele começou a gaguejar, suar, tremer e gritou:

– Levante essa calça!

Eu levantei. As pernas continuaram arregaçadas.

– Agora, abaixa isso, ele disse, apontando para minhas pernas.

Eu abaixei tudo de novo e fiquei, novamente, de cueca.

– LEVANTA ESSA CALÇA!

Eu não me mexi. Apenas cruzei os braços e perguntei:

– Vem cá, a gente vai transar logo, ou você vai ficar com essa palhaçada de “sobe calça”, “desce calça”?

– VAMOS PARA A DIRETORIA!

– Mas sem calça?

– Coloca a calça!

Obviamente, fui para a diretoria.

29 comentários:

Natalia Máximo disse...

Meu Deus, eu era um muppet hahahaha

Anônimo disse...

Rob, EU.TENHO.MEDO.DE.VOCÊ.

#prontofalei

(Cara, vc á canibal! Como conseguiu aquilo?)

Dee disse...

Primeiro, claro, foram as muppets, que cheiravam com cuidado e faziam anotações (alucinadamente em dezenove cores diferentes) no caderno.


Meu Deus, eu era um muppet, hahahaha!
(2)

Tyler Bazz disse...

Sua vida escolar devia virar filme, sem duvida!!!!!

Vc é um gênio do mal.. sorte nossa que não é extremista de nenhum tipo.....
certo?

Sil disse...

E eu, definitivamente, VOU CONTAR para o seu filho.

Meus genros agora têm certeza de que sou doida porque estou rolando de rir aqui.

Feliz Dia das Crianças!

Beijos

Sil

Otavio Cohen disse...

se eu tivesse sido seu colega, vc me odiaria. mas td bem, eu te odiaria tb. e provavelmente seria pq eu ia qrer ser desse jeito tb ehhe

May. disse...

Sério, ge-ni-al. Confesso que minha vida escolar também foi um pouquinho "conturbada", mas suas idéias eram ÓTIMAS.

Camila disse...

Você era terrível! Ri demais!

O Frango... ® disse...

Que medo do rob na escola. Fato!

Eu sentava na frente até a oitava série, mas com certeza não era um Muppet. Só fui descambar de vez no ensino médio, mas deixa pra lá, as suas histórias são um pouco piores que as minhas...

Só uma correção nerd? No seu segundo primeiro ano, você estava fazendo uma destilação, não uma decantação... três anos de técnico de química têm que me servir de alguma coisa =P

Pedro Dal Bó disse...

– Vem cá, a gente vai transar logo, ou você vai ficar com essa palhaçada de “sobe calça”, “desce calça”?

Eu tenho muito medo de você Rob. Só para constar. O que aconteceu com você na diretoria nesse dia?

Marina disse...

Eu morria de medo da diretoria, por isso era fã do povo que volta e meia acabava passando lá. Meu ídolo.

Anônimo disse...

Pedro

Então, cheguei na diretoria com o bedel. Acho que fui a primeira pessoa que esse bedel "apreendeu", porque a diretora deu uma risada e falou algo como "tinha que ser você".

Aí ela perguntou o que eu tinha acontecido e eu respondi:

- Não sei, era algo errado com minha roupa. Porque ele mandou eu tirar a calça, colocar a calça, tirar a calça...

Aí o bedel (o nome dele era Gil) interrompeu e começou a falar, todo atrapalhado, "ele estava com as calça arregaçada".

Eu não aguentei e comecei a rir. Ela soltou algo como "Rob, vai pra sala. Gil, deixa eu te explicar uma coisa sobre as calças..."

Ou seja

Rob 2 X 0 Gil

Charlie Dalton disse...

Você não era uma pessoa fácil de se lidar. Pra enxergar alguma qualidade em você era preciso um pouco mais de esforço. (Capaz que hoje seja a mesma coisa.)

Anônimo disse...

Ou seja, CHUPA GIL.

Anônimo disse...

O Frango:

Valeu pelo toque. Realmente, eu não fazia idéia disso. A última coisa que aprendi (e entendi) em química foi "isótopos, isóbaros e isótonos". O resto, meu cérebro bloqueou totalmente.

Charlie:

Na verdade, eu tinha outras qualidades. Tirando os percalços do primeiro colegial, minhas notas foram excelentes durante quase a vida inteira.

Alguns professores me adoravam de paixão - essa professora de português e o de física foram exceções, nós já nos estranhamos desde o 1o dia.

E a maioria dos alunos também - tanto é que eu quando eu arranquei um naco da mão do moleque no dente foi (se eu não me engano) o mais perto que eu cheguei de brigar dentro de uma escola.

Mas eu era insolente, sim, admito. :-)

Varotto disse...

"Alguns professores me adoravam de paixão - essa professora de português e o de física foram exceções, nós já nos estranhamos desde o 1o dia."

Adoravam ou tinham medo?!?!?

Pri disse...

Eu Fiquei com medo de vc agora! uahauahua
Nunca seria capaz de pensar coisas assim na escola... agora na facul...

Lari Bohnenberger disse...

Rob Gordon, mas que peste tu era... rssssss!

A cena do clorofôrmio me trouxe muitas lembranças... uma vez um professor de química do cursinho sintetizou lança-perfume, pra nós ali. Só dava a galerinha chapado no recreio, depois!
Rsssss!

Bjs!

Anônimo disse...

Eu era pior do que você e não ia parar na diretoria, nem quando eu incendiei uma lixeira (sério)...

Eduardo disse...

A coisa mais legal que fiz na escola foi botar um clips de papel(devidamente isolado com uma borracha) na tomada da sala.. Foi um show e tanto.

hoje faço eng.elétrica!

hahhaha otimas historias.

Jullia A. disse...

Aminha melhor lembrança da escola foi o dia em que o pessoal do terceiro, que se comparavam a voce, decidiu colocar groselha na caixa d'agua.
Então a descarga era vermelha, e no bebedouro saia groselha! eu devia estar na sexta série, foi Genial! GeniaL! dhaisuhdaisudh

Lua Durand disse...

meu deus, você é louco.

[sorriso]

.

Benito Bondoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rbns disse...

Essa da calça foi ótima. Lembro do cara. Ele não tinha a atitude conciliatória do seu Natálio que rapidamente aprendeu que a vida dele seria mais fácil se nos desse cobertura.
Nessa época nós éramos o mais perto que se podia chegar de ser um marginal sem ser preso...
Lembra do McFly no primeiro ano e aquela fixação em fazer bombas?

Deise Rocha disse...

Oba! Um assunto que gosto.

Se eu não fizesse pedagogia, poderia com certeza dizer a vc: NOSSA! Quanto tempo eu não escuto a palavra colegial.

Achei q vc tava sendo tão bonitinho, até cravar os dentes do rapaizinho viking do colegial. Mas tá certo, tem que se defender mesmo.

Que bom que a sua mãe foi "destruir" a professora. E aí vou levantar uma questão: olha como o colegial é um universo tão feminino. Vc não escuta mtas meninas dizendo ter tido esses tipos de problemas nessa fase, ou escuta?

Mas pra concluir: vc deveria ter aproveitado e ter feito boas amizades com os diretores. Pelo tempo que frequetava as salas da diretoria. Eu fiz isso no ensino médio, e escapei diversas vezes de uma advertência.

É Rob... gostei desse texto, viuoh!
=]

Hally disse...

Desculpa, mas enquanto eu não parar de rir, não poderei comentar, sinto muito...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Eduardo disse...

Nossa! eu poderia muito bem ter aproveitado mais meu tempo de colégio!

Fernanda disse...

HAHAHA, não tinha lido essa historia antes, mas adorei!

Eu não era uma muppet, mas era meio muppet e meio Rob. Ou seria um Rob-Muppet?!
rss

Elise disse...

Eu também era uma muppet! Mas o colegial salvou a minha vida... =P

Quer dizer, salvou em partes, eu matava aula pra ficar enfiada na biblioteca... mas eu ficava lendo sobre o que realmente me interessava, so...