13 de setembro de 2009

Válvula de Escape - Parte I

Felicidade.

Uma simples palavra, que, ao longo dos séculos, já foi definida das mais variadas formas, mas nunca de modo satisfatório. Com o passar dos anos, os homens tentaram entender o conceito de felicidade, mas sempre em vão.

Isso porque a felicidade muda de pessoa para pessoa. Para alguns, por exemplo, felicidade é viver sem amarras, sem idéia de qual cama irá acordar no dia seguinte. Para outros, felicidade é a segurança proporcionada por um lar, um emprego, uma família.

Às vezes, a idéia de felicidade muda até mesmo sem precisarmos mudar de pessoa. O sujeito, num dia, é feliz com a esposa e com os filhos; no dia seguinte, descobre que nada o deixa mais feliz que ficar assistindo a filmes sozinho de madrugada. Acontece. As pessoas mudam de um dia para o outro: a felicidade apenas acompanha isso.

Eu? Bem, meu conceito de felicidade mudou radicalmente nos últimos dias. Esqueçam família, amor, romance, dinheiro. Nada disso.

Hoje, felicidade, para mim, é ter a válvula da descarga aqui do meu banheiro funcionando.

Sim, porque aquela máxima “não damos valor a algo até ficarmos sem” pode ser levada à máxima potência quando se trata da válvula da descarga. Ela está lá, todo dia, fazendo a parte dela em manter limpa sua casa (ou, ao menos, o pedaço que lhe cabe neste latifúndio), e sem reclamar. E, cá entre nós, se alguém no mundo tem motivos para reclamar do emprego, é ela.

Até que um dia ela deixa de funcionar. Foi o que aconteceu aqui em casa.

Dia desses, entrei no banheiro para obedecer ao imperioso chamado da natureza. Obedeci às minhas obrigações fisiológicas e, em seguida, apertei o botão para aproveitar as vantagens da civilização e mandar aquilo para um esgoto qualquer.

Nada.

Olhei para o botão e ele olhou para mim, com cara de paisagem. Apertei de novo: nada. Apertei mais uma vez, com força. Nada.

Comecei a pensar no que poderia ter acontecido e como eu poderia contornar a situação. Obviamente, como meus conhecimentos de engenharia hidráulica se resumem apenas a saber que água é algo no estado líquido, desisti 2 segundos depois. Saí do banheiro e fui interrogar a Besta-Fera:

– Você entrou no banheiro hoje?

Ele me olhou com sua tradicional expressão de “o que foi agora?” e vi que, desta vez, ele não tinha nada a ver com aquilo. Mas foi aí que percebi, também, que identificar os culpados não me ajudaria muito. O meu grande problema não era saber o que tinha acontecido, mas sim encontrar um modo de fazer a descarga funcionar. E rápido.

Porque, neste momento, um letreiro se acendeu no meu cérebro, com luzes vermelhas, exibindo a frase “VOCÊ NÃO PODE USAR O BANHEIRO” escrita em letras garrafais.

Entrei em pânico. Como eu iria continuar a ler a minha versão em inglês de O Poderoso Chefão sem poder usar o banheiro? E a matéria sobre a morte do Michael Jackson, que saiu na Rolling Stone, e eu ainda estava guardando para ler depois? Pensei em tentar negociar com o destino (algo como “deixe eu usar o banheiro e eu prometo que não uso metade da sala e a cozinha no lugar” mas não daria certo).

Não, sem pânico. Balancei a cabeça e tentei colocar meus pensamentos em ordem. Sentei no sofá e comecei a considerar minhas alternativas. Com sorte, eu conseguiria alguém para arrumar a descarga, mas somente no dia seguinte.

Até lá, eu precisaria me virar de alguma forma.

Pensei em ir usar o banheiro da Fnac (e a idéia pareceu mais interessante ainda quando lembrei da quantidade de livros e revistas que eles têm ali), mas tudo o que eu não precisava agora era ser mal visto também ali. Eu detestaria perder o status de “um de nossos melhores clientes” que tenho na loja para me tornar apenas o “baixinho cagão”.

Além disso, a distância da minha casa até a Fnac – cerca de oito quadras – era algo a se considerar. Sim, acredito que os homens da caverna faziam suas necessidades fora da caverna em que moravam, atrás de um matinho qualquer. Por outro lado, duvido que eles precisassem descer cinco quadras da Teodoro Sampaio para encontrar o tal matinho.

Abandonei a idéia e decidi ir para o plano B. Não usaria mais o banheiro.

Ficaria doze horas sem comer e sem beber nada.

Era a única saída.

O grande problema não seria passar fome. Sou jornalista, estou mais que acostumado com isso. O problema seria mesmo lidar com o fato de que eu havia almoçado na casa da minha mãe horas antes. O menu? Panquecas recheadas com carne moída.

Isso, sim, seria um problema.

(continua)

19 comentários:

Caru disse...

É só fazer um flashback! vc saiu da casa da sua mãe faz poucos anos. Fica lá até arrumar a descarga rss

Certa vez entupiu aqui no final d semana. Eu e o Everton ficamos o final d semana inteiro tentando desentupir. Até q a gente resolve pedir uma indicação de encanador na administração do condomínio e descobrimos q tem uma empresa que vem até o condomínio, faz o serviço de graça e é 24h.

Ai q ódio!

Anônimo disse...

Rapaz ja ouviu falar na técnica do Balde, você pega encha um balde e tchum na privada, facil pratico e esconomico heheheheeheheh !!!! a descarga aqui de casa e caixa acoplada e se nao colocar a merda do botao pra cima ela nao enche e a cordinha solta !!!

Na Braga disse...

Eu ia t contar da técnica do balde... mas alguém aí em cima já fez o serviço... rs

Boa sorte! :)

Pedro Dal Bó disse...

A técnica do balde funciona prefeitamente.

Depois nada que um caça-vasos para resolver seus problemas.

A Garota da Biblioteca disse...

Pô... a técnica do balde tem eficiência. Resolve o seu problema. Não é lá muito prático, mas dá pro gasto.

Boa sorte. Pelo visto vai precisar.

Hally disse...

Pô, já contaram a técnica do balde...
¬¬

Mal posso esperar pelos "Próximos Episódios"!!!!!

=P

Tyler Bazz disse...

É com certo pesar que vos sigo: sim, ele já ouviu falar sobre a técnica do balde.

HEHEHEHE

Marcie disse...

hahaha...melhor do que qualquer outra coisa que possa existir em capítulos...escreva logo a segunda parte, por favor!

Daniela disse...

Entrei só pra falar do balde, e descobrir que esse é um mal que não aflige só o Rob e eu, mas 99% dos leitores do blog..bela estatística pra você!

Natalia Máximo disse...

Caro Anderson Prates,

Qual seria a graça desta saga se o Rob soubesse dessa técnica (embora qualquer ser humano a conheça)?

Crisolda disse...

KKkkkk
Me mudei esse mês, e só descobri que na casa nova precisava dar a descarga E usar o baldinho (que tava do lado da banheira) depois de deixar um presente pra outra moradora..

tem outra técnica; a dupla Imosec e garrafa plástica, kkkkk

Jullia A. disse...

Ia te ensinar a técnica do balde, mas os leitores são eficientes.
Tem a técnica da toalha.. prefiro não dar detalhes, mas envolve pressão. (:

Vinicius Duarte disse...

A "técnica do balde" não é definitiva, por assim dizer, pois depende do "tamanho da encomenda" deixada. Além do que exige certo sangue-frio e precisão.

Marina disse...

Também ia contar a técnica do balde. Não sei como você conseguiu sobreviver até hoje sem isso; é o tipo de coisa que todo ser humano que mora sozinho deve saber. Nada mais prático e eficiente; às vezes até mais do que a velha descarga, principalmente para privadas que vivem entupindo.

Fagner Franco disse...

Novamente, aguardo ansioso pela segunda parte.

Marcos Pinheiro disse...

Man, deixa eu te fazer uma recomendação? Trata-se do meu livro recém lançado, que saiu pela coleção Mojo Books. A editora traz uma proposta muito simples: se música fosse literatura, que história contaria? Bom... Eu me inspirei no CD Samba Meu, da dona Maria Rita. O download do livro, em formato PDF, é gratuito mediante um simples e rápido cadastro - se preferir posso te passar por e-mail, é só me avisar! Espero que leia, divulgue, recomende...

Links:

Post no meu blog #01:
http://pontodecontinuacao.blogspot.com/2009/08/disponivel-para-download-meu-primeiro.html

Post no meu blog #02:
http://pontodecontinuacao.blogspot.com/2009/09/um-pouco-mais-do-samba-meu.html

Frank Slade disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Matheus Carvalho disse...

po... o cara escolhe justamente uma historia de cagada pra fazer o mkt dele...

Kel Sodré disse...

Robdocéu!!!

Acabei de ver que você linkou o meu blog aqui. Que privilégio, meudeus!

Obrigada mesmo!