23 de setembro de 2009

Ô Fase - Edição de Coleciona(DOR!)

Há algum tempo, eu reclamei aqui no blog das pessoas que ignoram minha presença na rua e transformam a Teodoro Sampaio numa espécie de área de carrinhos bate-bate, na qual quem me jogar em cima de um camelô ganha pontos extras. Toda vez que alguém ignora minha existência e esbarra em mim, eu fico puto e acho que andar na rua é algo que não poderia piorar.

Eu estava errado. Afinal, sempre pode ser pior.

Hoje foi um exemplo. A priori, hoje é uma quarta-feira normal como as outras. Mas, na verdade, 23 de setembro é o Dia Nacional de Agredir Rob Gordon na Rua. E problema é que eu não sabia disso até começarem as comemorações da data na rua.

Estava descendo para o trabalho, e começou a chover. Eu apertei o passo, porque – é claro – eu havia esquecido aquele maldito guarda-chuva de Itu na redação. E se andar pela Teodoro Sampaio já é difícil, com chuva isso se torna praticamente em uma cena deletada de Apocalypse Now – a diferença é que, ao invés de Wagner, toca Calypso.

Mas eu até que estava indo bem, desviando dos camelôs e pulando os buracos da calçada. Mas, como diria Drummond, havia uma pedra no meio do caminho. Quer dizer, isso no caso do Drummond; no meu caso, era uma velha, que saiu de uma loja e começou a subir a Teodoro na minha direção, carregando três sacolas.

Não dei muita atenção para ela até estarmos a uns três metros de distância. Porque foi aí que ela tirou o guarda-chuva de uma das sacolas. Ou melhor, ela tentou tirar.

Vou tentar explicar aqui o que aconteceu: eu estava a três passos dela. Ela pegou o guarda-chuva, mas ele estava preso em alguma coisa na sacola – ou na própria sacola, não consegui ver. Eu estava a dois passos dela; Ela puxou o guarda-chuva com força, mas ele continuava enganchado. A chuva apertou. Eu estava a um passo dela. Ela puxou com força e o guarda chuva se soltou da sacola, indo na minha direção com tudo.

Já jogaram fliperama? Foi mais ou menos isso: o guarda chuva bateu no meu joelho direito, foi para o esquerdo e ricocheteou para cima. Subiu pelo meio das minhas pernas e me acertou. Sim, ali onde você está pensando.

Senti um embrulho no estômago e perdi o ar. Imediatamente pensei em ligar para o meu irmão e dizer que “sabe aquele sonho que nosso pai tem em ter uma neta? Você vai ter que cuidar disso, porque, eu vou ser o último da linhagem. Não posso mais ter herdeiros, porque acabei de sofrer uma vasectomia na Teodoro”.

Só lembro de colocar as mãos entre as pernas, como um jogador de futebol numa barreira, e me curvar, emitindo um som que ficava no meio do caminho entre respirar fundo e gemer. A velha, provavelmente assustada com a coloração roxa do meu rosto, perguntou:

– Machucou?

– Não, tá tudo bem, respondi, suando, com uma voz que parecia um misto da entonação do Edson Cordeiro com a da Tetê Espíndola, adicionando uma ou outra pitada da voz do Mickey Mouse.

– Desculpe, o guarda chuva escapou.

– Não, tá tudo bem.

– Desculpe.

– Não, tá tudo bem.

A velha abriu o guarda chuva - felizmente, depois de tirá-lo do meio das minhas pernas, caso contrário eu não estaria aqui – e foi embora. Eu continuei descendo a Teodoro, com a mão entre as pernas, achando que iria vomitar a qualquer momento – e, dado a pancada que eu levei, morrendo de medo de vomitar algo que eu não poderia (para bom entendedor, meia palavra basta).

“Continuei descendo a Teodoro”, claro, é modo de falar. Andei mais ou menos uns cinco metros e não agüentei. Me encostei num muro e deixei a chuva cair no meu rosto, me segurando para não me entregar à tentação de abrir a calça e deixar a chuva aliviar a dor. Lembrei do Robert De Niro jogando gelo dentro da cueca em Touro Indomável e tive vontade de chorar de inveja.

Aliás, talvez eu tenha chorado, pois não sabia mais o que era chuva, o que era lágrima e o que era suor. Eu não sabia direito nem quem eu era. Só sabia que eu sentia dor. Muita dor. Aos poucos, comecei a me recuperar. Deixei meus espermatozóides lidando com a tragédia (reconstrução de prédios inteiros, contagem dos mortos, três dias de luto) e, ainda capengando, continuei andando.

Saí da Teodoro e comecei a me rastejar pela Simão Álvares, ainda sob a chuva. Andei uns quinze metros e cruzei meu caminho com dois motoboys, que conversavam sob um toldo. Um deles tinha uma mochila nas costas, e o outro estava tentando tirar algo da mochila.

Obviamente, ele conseguiu tirar o objeto – era uma jaqueta – quando eu passava ao lado deles. Obviamente, a jaqueta estava presa na mochila, e, quando soltou, saiu com tudo. Obviamente, a jaqueta saiu da mochila com destino certo: meu rosto.

Só sei que, de repente, eu tinha tomado uma jaquetada – com direito a zíper e botões na cara. Os motoboys, sem graça, olharam para mim. Um deles se aproximou:

– Nossa, mano! Desculpa!

– Não, tá tudo bem.

– Mal aí, de verdade! Machucou?

– Não, tá tudo bem.

Pensei em dizer que a culpa não era dele, era minha, mas eu não saberia explicar o motivo. Provavelmente, envolve tudo o que eu aprontei na vida até hoje (desde o jardim da infância) e karma. Mas, acreditem em mim: depois de perder parte do sistema reprodutor num guarda chuva e levar uma jaquetada na cara, você não quer pensar sobre isso; você quer apenas se arrastar até uma cama, num hospital qualquer, deitar e dormir.

Me arrastei mais uma quadra e meia até a redação, cheguei aqui e peguei meu calendário, fazendo um X com caneta vermelha no dia 23 de setembro. Não sei se é destino, se é azar, ou se meu inferno astral não sabe perder – ele acabou, teoricamente, no dia 10 de setembro – e resolveu chamar uns amigos para me pegar.

Na dúvida, em 23 de setembro de 2010 eu não saio de casa. Porque, caso eu me machuque – e eu vou me machucar – pelo menos tenho remédio em casa.

E tenho gelo também.

30 comentários:

Climão Tahiti disse...

Você deveria tentar lutar em algum vale tudo da vida.

Pelo menos de apanhar já entende.

Existe peso--homem-formiga? =p

Lelê disse...

Olha, meu querido, acho até que você terá filhos, mas todos nascerão com dor de cabeça. Smack smack.

Anônimo disse...

Nossa Rob, que horror! Estou revoltada comigo mesma porque isso não é engraçado e mesmo assim, estou chorando de tanto rir(e vou levar bronca por sua causa hoje).

E pensar que na hora do almoço lembrei de você enquanto passeava pelo largo do Belém com um guarda-chuva que mais parecia uma lona de circo e comecei a rir sozinha(sério, as pessoas desviavam de mim não apenas por causa do trambolho nas minhas mãos mas porque eu parecia uma doida, rindo daquele jeito).

Agora que consegui parar de rir posso lhe desejar melhoras rápidas.

Se cuida.

Beijos

Sil

Fagner Franco disse...

Apenas explicando o meu nada altruísta comentário no Twitter, "continue tendo azar", é porque, vc sabe, geralmente rendem boas histórias...rs...
Só tomara que eu não esteja por perto quando mais um "ô fase" acontecer. :)

Tyler Bazz disse...

Esse é o tipo de texto de que só uma mulher seria capaz de rir.


Solidarizo.

Ana Savini disse...

"E se andar pela Teodoro Sampaio já é difícil, com chuva isso se torna praticamente em uma cena deletada de Apocalypse Now – a diferença é que, ao invés de Wagner, toca Calypso."
Adorei!

Thiago Dalleck disse...

huauahuaha, dá pra fazer um curta-metragem sobre isso e ganhar vários prêmios! a desgraça alheia é sempre bem-vista =D
Imagina um rosto ficando roxo falando "Não foi nada" com a voz do Mickey + Tetê Espíndola

Eu gosto da Teodoro, nunca me aconteceu nada lá, rs

Mas ainda não sei o que me dá na cabeça quando fico tanto tempo sem entrar aqui no Champz, estou renegando risadas xD

Gilmar Gomes disse...

"ado a pancada que eu levei, morrendo de medo de vomitar algo que eu não poderia (para bom entendedor, meia palavra basta)."

Top Gang 2 mode:on

Lilian disse...

Hahahahah o seu azar fez da minha tarde uma tarde mais alegre, Rob! Obrigada pela crise de riso.

Eu sei que depois da tragédia, não tenho o direito de te encher o saco, então farei com jeitinho (ui)... depois vc arruma isso aqui, ó:

Andei uns quinze metros e cruzei meu caminho com dois motoboys, que conversavam SOBRE um toldo.

Até pq, se fosse SOBRE, com certeza eles teriam caído em cima de vc, do jeito que vc é azarado, rs... ;-)

Abs!

Kamila Bonamigo disse...

Tá Rob! Me sinto culpada, pq ri litros do teu post!
Mas que dia o teu né!?
=*

Anônimo disse...

Lilian

Já arrumei! Valeu pelo toque (e por não "encher o saco" sobre isso)

Beijos

Rob

MaxReinert disse...

... e assim o mundo fica livre de possíveis "descendentes" do Sr. Rob Gordon....

Dia pra marcar no calendário meeeesmo!!!

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Jullia A. disse...

Eu estava rindo alto sozinha na frente do computador e cliquei nos comentários, para que eu pudesse deixar o meu. Quando de relance li o do Tyler. Tive uma síncope. Entrei em acesso. Travei de verdade. Sinceramente? espero qeu voce continue apanhando na Teodoro. Deixa a semana mais fácil de passar. ;D

Anônimo disse...

Olha na Boa as vezes penso que eu era o unico Forest Gump existente mas o problema que o seus contos sao reais e incrivel mas acho que hoje foi zica total mesmo, o meu cartao de debito quebrou dentro da maquina do restaurante, o de credito ficou em casa, tive que pedir bem dizer umas esmolinhas na redaca pra pagar o estacionamento, lembrando que o apelido de forest gump foi dado pela @tatibaba

Layla Barlavento disse...

Ler o seu texto foi o que mais interessante aconteceu no meu dia. Devo confessar que você foi responsável por todas as gargalhadas de hoje.
Ah, não posso esquecer o serviço de utilidade pública: Inferno Astral dura um mês antes e um mês depois. Ou seja: 23 de setembro ainda está no prazo...

Abraços!
Layla Barlavento
http://culpadowalter.blogspot.com

Pedro Dal Bó disse...

Sério Rob, as vezes eu penso em rezar algumas novenas para você.

É inacreditável que tantas coisas bizarras ocorram com uma pessoa só.

Procure um guarda costas para o próximo ano.

Boa sorte.

Charlie Dalton disse...

Tem dias que pel'amor! No seu caso parece que são quase todos os dias.

Talvez seja porque vc escreva suas desventuras aqui. Deve ter muita gente que passa pelas mesmas situações que vc, só que não as divulga nem mesmo usando um heterônimo.

Saudações, guri, desse outro guri que observa e escreve!

Marcos Pinheiro disse...

Já ficou chato que dizer que suas histórias são sempre muito hilárias, apesar de todas as falidades sofridas por ti, mas cara... Sei lá, não sei mais qual adjetivo inventar pra tanta criativida em tornar fatoso corriqueiros em pura literatura divina. Tu tem algum livro, véio? Tu é escritor? Diz que quero correr logo pra garantir meu livro!

Marina disse...

OK, eu sou mulher e me dei o direito de rir da história. Hahaha!

(Ia ser até bom a Lilian te "encher o saco", assim compensaria o desfalque causado pela pancada. rs)

Nelson disse...

A única explicação lógica sobre tudo isso é que você foi Hitler na outra encarnação. Só isso faz sentido.

abraço!

Hally disse...

"Esse é o tipo de texto de que só uma mulher seria capaz de rir."

Desculpa, mas eu ri!

XD

Uma observação: Teu inferno astral respeita datas? O meu não.

Nash disse...

Ora Rob,

Você sabe muito bem "como o cóixxxmoxxx funciona"

=]

Thiago Apenas disse...

"o guarda chuva bateu no meu joelho direito, foi para o esquerdo e ricocheteou para cima. Subiu pelo meio das minhas pernas e me acertou."

Você levou um combo! 3 Hits!

Anônimo disse...

Thiago:

O problema não foi o combo em si. Foi o "Fisnih him" logo em seguida.

Aliás, você pode até montar a cena na sua cabeça: eu, encurvado, no meio da Teodoro, e a velhinha com o guarda chuva na mão, e o letreiro "You Win! Perfect!" acima dela.

Abraços.

Alexandre Rigotti disse...

E ai Rob,

ficou com 4 amigdalas?

hahahaha

Otavio Cohen disse...

oahoohaaho

pqp flawless victory total.

Deise Rocha disse...

Esse é o tipo de texto de que só uma mulher seria capaz de rir. [2]
Fato.

E ainda por cima achar q pelo início do texto, vc estava tendo uma crise eistencial...

Mas tive compaixão de vc. Acredite. Melhoras.

Deise Rocha disse...

*existencial - corrigindo, né...

Nathália disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nathália disse...

rob me desculpe mas eu ri muito, sorte a minha que não posso sentir essa dor,- egoismo mode: on . detalhe: aprendi isso com voce - como todos homens reclamam deve ser insuportavel. parabéns novamente pelo texto!

p.s: pelo menos vc não estava se arrumando pra sair pra SUA festa de aniversário e simplesmente começou a chover granizo! pois é, aconteceu cmg, no dia 18 de setembro do ano passado! (nunca vou esquecer)
bjs