(leia a parte I aqui)
Aos poucos, o cheiro de mamão começou a impregnar o lugar. Ele se espalhou como uma névoa amarela e pegajosa, grudando na pele das pessoas. Começou a invadir minhas narinas. Meu cérebro começou a derreter.
Antes que eu conseguisse dar graças a Deus por não ser mexerica – o que teria feito com que caísse no chão e sofresse uma convulsão – senti algo esbarrando no meu ombro.
Os neurônios encarregados pelo meu departamento de saco cheio pensaram em respirar fundo e olhar para cima (o que eu faço invariavelmente quando estou puto), mas, devido ao cheiro de mamão, felizmente, mudaram de idéia na última hora. Assim, eu apenas bufei.
Segundos depois, senti outro esbarrão.
Olho para trás e dou de cara com a Bruxa do Mar devorando (não há um modo gentil de descrever isso, acreditem) um iogurte com os dedos. Iogurte de mamão. Na verdade, deveria ser alguma espécie de essência concentrada de mamão, porque todo o cheiro que empesteava o mercado vinha daquele pequeno pote.
Eu e meu ódio mortal por essa maldita fruta começamos a tremer. Olhei para cima, perguntando “porque é sempre comigo?”, e vi os anjos gargalhando, apontando para mim e disputando os melhores lugares nas nuvens, para assistir a tudo de camarote.
Os velhinhos à minha frente estavam começando a passar suas compras. Tentei me acalmar, procurando me convencer de que “sou o próximo a ser atendido, isso vai acabar logo”. Claro que a Bruxa do Mar, que agora havia se tornando um híbrido entre mulher e mamão, não iria permitir que eu escapasse assim tão fácil. Segundos depois, lá estava ela, novamente, ao meu lado, fedendo a mamão e lambendo o iogurte dos dedos.
Aparentemente, ela estava olhando fixamente algo acima da fila, com aquele ar de uma criança que não estudou para a prova e agora analisa um intricado problema matemático. Ficou assim por alguns segundos, lambendo os dedos e estudando atentamente algo à sua frente. Eu, sinceramente, comecei a desconfiar que aquilo tudo era alguma pegadinha para um programa ruim de TV, e que logo o Sérgio Mallandro iria pular do corredor de biscoitos, rindo de mim.
Antes que algo assim acontecesse, porém, ela assumiu uma expressão de decepção, limpou o resto do iogurte dos dedos (na calça) e se virou novamente para mim:
– A fila é dez volumes?, perguntou, deixando claro ela e as preposições não eram particularmente amigos.
Pelo jeito, ela, até então, não havia reparado na placa enorme e azul que indicava isso. E, mesmo observando a placa agora, ela parecia ter dificuldades para compreendê-la, mesmo com aqueles desenhos semi-débil-mentais que fariam até um alienígena que acabou de pousar sua nave no planeta entender que aquele caixa não passa mais de dez mercadorias.
– Sim, este caixa é apenas para dez volumes, respondi, calmamente vingando o assassinato das preposições.
– Eu não posso passar mais de dez coisas?
Ok. Qualquer imbecil teria entendido a ilustração da placa, mas, pelo jeito, eu não estava lidando com “qualquer imbecil”, mas sim com uma imbecil bastante especial. Meu rosto começou a se contorcer. Eu estava prestes a fazer minha cara de mongol e soltar meu grito demente. E o cheiro de mamão não estava me ajudando em nada a manter o controle.
– Não.
– Eu tenho mais de dez coisas.
Os músculos do meu rosto começaram a relaxar. Olhei para o carrinho dela e só aí reparei que ele continha mais mercadorias que o Dia, do outro lado da rua. Só iogurte de mamão, vi uns oito.
– Sim. A senhora tem bem mais de dez coisas.
Ela olhou ao redor, analisando os outros caixas e vendo que todos estavam cheios. Começou a bufar e me olhou com ódio, como se a culpa fosse minha. Achei que ela fosse lançar algum feitiço e me transformar num mamão, mas, aparentemente, seu cérebro já estava trabalhando em outra solução para o problema.
– Quer saber?
Não, eu não queria. Mas ainda com medo do feitiço, resolvi guardar minha opinião para mim mesmo. Ela não se importou com meu silêncio e continuou:
– Eu vou dividir tudo em duas compras. Não tô nem aí!
Resmunguei algo como “a senhora, claramente, é brasileira e não desiste nunca”, mas ela não ouviu. Aliás, qualquer coisa que eu falasse teria sido ignorada, já que ela estava novamente analisando atentamente o próprio carrinho. Comecei a ficar com receio dela pegar um pé de alface e começar a comer ali.
– Se eu dividir por dois, dá?
– Dez vezes dois é vinte. E a senhora tem muito mais mercadorias que vinte.
– Hã?
– Nada. Não dá.
– Eu não vou para outra fila.
– Ok. Isso não muda o fato de que a senhora continua não podendo passar suas compras aqui.
Ela bufou novamente e voltou para trás de mim. Pegou mais um iogurte e abriu. Ou seja, aparentemente, a única saída que ela encontrou foi consumir todas as mercadorias ali mesmo, até sobrarem somente dez produtos no carrinho.
O cheiro de mamão começou a derreter meu cérebro. O mercado começou a rodar. Antes que eu desmaiasse, fui salvo pela mulher do caixa.
– Próximo!
Achei que o pesadelo tinha acabado.
Eu estava errado.
(continua aqui)
24 comentários:
Primeira? O.o
Sério, você tem mais paciência que eu. Não sei o que teria feito, mas certamente não conseguiria manter um diálogo com essa criatura, mesmo com medo de ser transformada num mamão. Na verdade, até gosto de mamão.
São Longuinho, São Longuinho: Se o Rob publicar logo a continuação eu te dou três pulinhos!
Garota.
ASDGJKLASDGHKLASDFGJKL
Pra entender esse, li o anterior.
O ápice é na paerte em que ela fica na frente do carrinho e o menino faz um circulo no erro da fila!
Ri durante a segunda parte inteira imaginando um circulo na bruxa do mar!
JURO. JURO. JURO.
TÔ MORRENDO DE RIR, DE PERDER O AR.
CARA, SOU SUA FÃ!!!!!!!!
HUAHDUAHDUHASDHAUSHUAIHUSAHSIAHSUOIHAUSHIAHSHAPSUHAPSHPAHSAISAUHSUAHUSHAUSA
PQP, ri muuuuuito aqui!
Rob, não me leva a mal, mas você atrai as situações mais bizarras e engraçadas que eu já vi!! xDD
Vai ser difícil uma saga competir com essa nas Melhores de 2009
"– Eu tenho mais de dez coisas.
Os músculos do meu rosto começaram a relaxar. Olhei para o carrinho dela e só aí reparei que ele continha mais mercadorias que o Dia, do outro lado da rua. Só iogurte de mamão, vi uns oito."
Quando eu li isso acordei todo mundo de casa de tão alto que eu ri, putz...
Aguardo a próxima parte!
Abraços
AAAAHHHHHH! CONTINUA?!?!?!?!?!?!
EU VOU VIAJAAAAAAAARRRRR!!!
NÃO VOU LER A CONTINUAÇÃO!!!!!
Tá, sem drama,eu vou dar um jeito de ler, é claro ;P
Você devia mudar o nome da "senhoura" para Mulher-Mamão.
Bom feriado
Beijo
Sil
me chama a atenção que ela não pediu pra você passar parte das compras dela...
Pensei a mesma coisa que o meu "xará" acima... mas como a história ainda não acabou, isso ainda pode acontecer... ou algo pior.
Não deu pra rir.
Senti pena de você e vontade de esganar a mulher.
Provavelmente ela vai jogar as coisas dela no seu carrinho e pedir (ou seria melhor dizer, "invocar feitiço e ordenar") para dividir com ela o fardo.
Ah coitado... =/
Rob, sinceramente. Eu tinha mandado essa anta catar coquinho. Paciência zero com gente tosca desse calibre.
Então, eu adoro mexerica.
Mas jamais comeria iogurte de mamão. Aliás, certeza que ela tem prisão de ventre, hein? 8 iogurtes de mamão??
Eu vou comentar este texto. Eu apenas estou esperando...
(continua)
"Antes que eu conseguisse dar graças a Deus por não ser mexerica"
Odeio mamão!Mas o que a pobre mexerica fez com você?
odeio o continua tb.
Finalmente alguém q odeia cheiro de mamão e mexerica tanto qto eu!!
Rob, vc tem minha total compaixão.
Cara, você tem uma grande fixação por mamão hehe, estou aguardando a continuação.
Eu acho que ela vai pedir pra vc passar umas "coisas", aushauhua
Meu Deus, como uma pessoa tão despreparada para viver em sociedade pode andar sozinha pelas ruas?
Meu, sério, talvez eu esteja errada, mas tô com raiva dessa mulher!
Ansiosa pela parte III.
ainda nao li.
cumprindo o que disse que faria. Leio tudo quando tudo estiver postado. oká?
Aguardando ansiosamente a próxima parte. Adoro as desgraças... digo, as sagas do Rob xD
PELO AMOR DE DEUS, CONTINUA ISSO LOGO!
(entao, hoje, diiiias depois, seu blog deixou eu postar meu comentário no primeiro post da saga...sabe o que seria uma vingancinha pra mim? se ele nao deixasse eu postar os outros ne!? ... ai ai será que vc lê isso? ahn?)
odeio...e eu disse, ODEIO meeeesmo... pessoas que perguntam o óbvio. mas essas pessoas me amam (pelo jeito te amam tb nee?) na placa: caixa preferencial. pergunta: esse caixa é preferencial? - eu de uniforme abrindo a porta do escritorio. pergunta: vc trabalha aqui? - eu entrando no onibus, cuja placa traz em letras garrafais: CENTRO. pergunta: esse onibus vai pro centro?
ai ai haja paciência (e ela geralmente não há)
você nao tem noção da vontade que me deu de tomar iogurte de mamão. ou vitamina de mamão. ou doce de mamão... aliás... posso esperar um post que conte seu trauma de mamão??
bom...saiba que, a imagem na minha cabeça ficou ainda mais bizrra, lá estava vc na fila do carrefour e um desenho animado devorando iogurte atrás de vc (e o iogurte era de verdade, nao era de desenho Oo)
la vou eu, ler o terceiro e ultimo post da serie e comentar la tb
(será que vai o comentário? )
para constar...tentei 5 vezes hj até ir... o que é que o Champ tem contra mim?!?!? contra os meus comentários??? será que é pq eles ficam quase do tamanho do post??
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