5 de fevereiro de 2009

Apenas o Post de Hoje

Ontem pela manhã, recebi um e-mail sobre religião aqui no trabalho. Normalmente, eu teria apagado logo de cara – tenho bronca dos e-mails desse tipo desde os malditos power points de anjinho que entupiam minha antiga conexão discada anos atrás – mas acabei lendo. Ou, ao menos, passando os olhos.

Tratava-se de um texto sobre o fato de termos que ser claros naquilo que queremos na hora de rezar. O sujeito ainda fazia um comparativo com pizzarias, dizendo que quando ligamos para uma delas, especificamos o sabor da pizza que queremos. Ainda não sei se a analogia foi bem grosseira, ou eu que não entendi a sutileza da comparação.

Enfim, na segunda metade, o texto fica um pouco melhor, dizendo que às vezes não recebemos de Deus exatamente aquilo que queremos, mas sim, as ferramentas necessárias para construir o que queremos. E que muitas vezes estas ferramentas nos são apresentadas todos os dias, em forma de oportunidades, e nós não temos a capacidade de reconhecê-las.

Tudo isso para o cara apresentar o negócio dele, um produto que elimina riscos de DVDs (não estou brincando), logo depois de colocar a frase “a oportunidade a seguir pode ser uma resposta às suas preces, ou às minhas” (não estou brincando).

Não gosto muito de entrar nesse assunto de religião aqui. Tanto que, ao contrário do que o Hóstia pensou, este post aqui não é sobre religião, mas sim sobre uma paixão adolescente. Acho que cada um tem a sua, e respeito isso, desde que o culto da pessoa não ordene que ela pegue uma espada e saia por aí matando quem acredita em outra coisa. Agora, você mandar um e-mail que ensina as pessoas a rezar, apenas para vender um produto que vai tirar os riscos daquele DVD que você deixou fora da caixinha por semanas é demais. Isso estabelece um novo padrão para o mau gosto.

O pior é que pelo tom do e-mail, a pessoa não tentou ser ofensiva, mas realmente acha que está fazendo um favor a quem lê, dando dicas de como orar, pedir e agradecer a Deus. O que ele deve ter esquecido é que cada um se relaciona com Deus de formas diferentes, e, por mais bonito que o texto seja, não necessariamente o que ele diz fará sentido para todo mundo. E, mesmo se fizesse sentido para uma única pessoa, o merchandising vagabundo no final do e-mail estragaria com tudo.

Eu, por exemplo, tenho minha religião, minha fé e o meu Deus. Claro que, como a maioria das pessoas, eu rezo muito mais para pedir do que para agradecer – mas agradeço sim, muitas vezes –, mas isso é algo que interessa somente a mim e a Ele. Agora, se eu baseasse a minha vida em conceitos religiosos, ficaria muito, muito puto e ofendido com um e-mail como este.

Todo mundo sabe que existem muitas pessoas que usam o nome de Deus para ganhar dinheiro. Afinal, assim como sexo e violência, fé é algo que vende demais. Mas daí a você eleger o seu produto como a possível solução divina às preces de alguém é chutar o pau da barraca. Ou jogar pedra na cruz, se me permitem a piadinha. Seria o mesmo que escrever um texto sobre o Sermão da Montanha simplesmente para vender Caldo Knorr em cima da frase “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor?”. Mau gosto demais.

Aí, eu falo que o mundo está totalmente errado e as pessoas brigam comigo, falam que sou pessimista e tal. Se UMA pessoa comprar este limpador de DVDs por causa deste e-mail, ela vai apenas provar que estou matematicamente certo quando digo que a humanidade não deu certo.

Enfim, não sei se é o fato do dia estar totalmente cinzento ou de eu ter sonhado com a música Norwegian Wood (This Bird Has Flown), uma das mais amargas, sombrias e bobdylanianas dos Beatles, mas este é um dos poucos posts que escrevi neste blog sem a) planejar o texto ou sequer saber onde eu queria chegar com ele; b) saber onde queria chegar mas perceber que escrever sobre o assunto mudou minha opinião, ou c) chegar até aqui e ainda não ter certeza se vou publicar esse texto - e se eu publicar, prometo manter esta última frase.

Não tenho a intenção de crucificar o sujeito, mas, de repente, esse e-mail se tornou, para mim, uma forma de exemplificar como está tudo invertido hoje em dia, de como as coisas são vazias e descartáveis, e de como ninguém dá mais valor para absolutamente nada – e isso não apenas na internet, mas fora dela também. O e-mail que eu recebi não existe apenas porque ele é um e-mail (ou seja, algo rápido, fácil e indolor de ser mandado), mas sim porque o mundo está como está, com ou sem internet.

Se eu disser que falta amor no mundo, vai soar piegas demais; se eu disser que falta respeito ou comprometimento, vai soar velho demais. Acho que tudo isso falta, sim, mas o que falta mesmo é um pouco mais de conteúdo. No mundo todo. Tudo se tornou barato demais, fácil demais, trivial demais.

E, de repente me vem à cabeça um diálogo entre Marlon Brando (que não é Deus, mas chega perto) e Martin Sheen em Apocalypse Now:

Kurtz (Brando): Você desaprova os meus métodos?

Willard (Sheen): Eu não consigo identificar método algum, senhor.

Acho que, na verdade, queria apenas escrever sobre o assunto ou “ouvir” as opiniões de vocês a respeito disso. Afinal, se eu aprendi algo nestes dois anos de blog, é que tenho a sorte de ter leitores que, na maioria das vezes, têm mais a falar sobre o assunto do que eu. E, em nome de vocês, prometo que vou colocar algo mais fácil de ser digerido no próximo post.



Sim, ele ateou fogo no apartamento dela.

16 comentários:

Barbarella disse...

É, o mundo está uma bosta. Isso sinceramente para um psicólogo é interessante se for pensar em $$$$$. hehe

Mas concordo em gênero, número e grau Rob Gordon, as pessoas estão perdendo a noção do ridículo e o pior usando o nome de Deus em vão.
E descontamos nossas frustrações na internet, na comida, e nos amores malucos. E haja prozac para tanta merda.

**

George Marques disse...

Eu concordo absolutamente que "a humanidade não deu certo"

Anônimo disse...

A explicação para esse "fenômeno" é muito simples na verdade: Os "crentes" aprenderem que basta colocar frases ou textos de efeito que despertem a atenção de seus semelhantes para que crie-se imediatamente um volume de compradores dispostos a contribuir com "o irmão".

Assim, mesmo os que não fazem parte dessas igrejas, usam desses artifícios como forma de atrair esse público incauto que é influenciado pelos pastores. É comum nessas "igrejas" as frases "crente vota em crente"; "crente compra de crente" e por aí vai.

Passem a observar que muitos estabelecimentos comerciais agora colocam coisas como "até aqui nos ajudou o Senhor" e outras coisitas mais.

A fé é (e sempre foi) um excelente negócio.

Otavio Cohen disse...

Talvez o mais significativo de tudo seja o sonho com Norwegian Wood. Uma vez eu percebi que é uma das poucas músicas dos Beatles que começam com a letra N.

Mas o tal limpador-de-dvds nem percebeu que contrariou um tanto de mandamento em que ele mesmo deve acreditar. de novo a questão não é religião. é falta de parar e pensar.

Lucas L. disse...

Pra mim religião sempre se tratou disso mesmo: pessoas usando o sobrenatural pra manter outras pessoas na linha, seja pra lucrar com isso, ou simplesmente pra obter poder psicológico sobre essas pessoas.

A diferença é que agora muita gente abriu os olhos, e aos poucos estão ficando mais críticos com relação a esse assunto.

Acho que mais importante que crer em um Deus "A" ou "B" é ter inteligência suficiente pra evitar brigas, discussões, e nos amarmos. Sabe, pra tipo... ser um Mundo decente.

Mas isso é utopia. NUNCA vai acontecer. Basta ver a reação de quem assiste "novela das oito" e acha um absurdo as pessoas adorarem (religiosamente) uma vaca. Elas falam: "que burros, dá zero pra eles! Eles acham que vacas são sagradas! haha, troxas, babacas, idiotas, imbecis, manés, bobões!"

Quer dizer, a maioria dos brasileiros acham que o homem veio do pó e conversou com um serpente. Acham que um homem conseguiu multiplicar pães e transformar água em vinho. E nem o Mister M descobriu o truque.

Eu, como "ateu observante", não to dizendo que um é certo e o outro é errado. Eu to dizendo que as pessoas não se gostam, não se respeitam, e a humanidade nunca vai dar certo.

Esse é o preço da diversividade humana.

Lucas L. disse...

E perdão pelos erros de concordância. :-D

Alexandre Rigotti disse...

Bom, vamos comentar por partes: inicialmente uma pessoa que sonha com essa música não é normal, acho que você precisa de internação imediata. Rsrs
Sobre a propaganda, o problema aqui é a religião. Como a religião está colocada em um plano “sagrado” ela não pode ser discutida. Assim, quando uma propaganda insinua que se vocês possuir o cartão XYZ aquelas mulheres lindas sairão com você ninguém se importa. Que você bebendo um determinado tipo de uísque será bem sucedido, tudo bem. Mas religião é outra esfera: ela é sagrada, não se pode discutir. Cada um tem a sua e não são permitidos comentários é algo como um segredo.
Em tempo, completando o pertinente e muito bem argumentado comentário do Matheus Silva, a campanha não é em favor do ateísmo, é apenas uma forma de sermos vistos e respeitados. É interessante, (sou ateu desde os 14 anos) as pessoas não admitem isso, acham que nossa vida é vazia, sem significado, sem moral nem ética. Não importe qual religião a pessoa professa, ela será aceita, mas ao falar que você acha que a idéia de um deus (sic) é estranha de mais para ser crível que as pessoas vem com os argumentos mais estranhos e incoerentes do mundo.
Mas, só para terminar, ROB vai ao médico, você não é normal rsrsrs

Rafiki Papio disse...

Não eu não tenho muito a falar sobre o assunto. Estou em acordo com o que escreveu.

No mais, não acho que exista pessimismo em você, a humanidade realmente não seguiu o plano piloto.

Thiago Dalleck disse...

Esse mundo em que tudo é fácil demais, que você consegue qualquer tipo de informação e produto, mas ao mesmo tempo não dá valor e não adquire nenhum conteúdo (somente futilidades) tem um significado: globalização (o cruzamento de tecnologia com capitalismo).

Cristaleo disse...

as pessoas lidarem com deus cada uma de sua forma é uma mudança trazida pela Reforma. antes disso, e se for pensar, de modo geral na Igreja Católica, só existia uma forma correta de falar com deus, que era através da Igreja e sob intervenção de padres e santos.

meu ponto é: o que vemos hoje como comum, nem sempre foi tão comum assim. talvez, então, nossa percepção de "tudo está mudado" apenas tenha sentido porque temos um tempo limitado de vivência neste mundo (o quê? uns 70/80 anos?) e não possamos realmente avaliar a extensão de todas as mudanças pelas quais a sociedade já passou.

eu não acho que o mundo está mudado/perdido. acho que ele está mudando, como sempre.

Lina :) disse...

Seu blog é ótimo o/

Chicletinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Chicletinha disse...

Por Deus (no qual eu realmente acredito-Jeová) que li duas vezes e não consegui chegar a uma conclusão.
Não que eu tenha duvidas sobre minha religiao/crença, a duvida é sobre o que tu sentiu ao ler o dito e-mail.
Prefiro não entrar nesta qustão e (quem sabe) ler este post mais tarde ou simplesmente descarta-lo como alguns coment´s e continuar lendo os proximos como se este assunto jamais tivesse sido discutido.
Isso nao significa q stou fugindo do assunto, significa apenas que essas questoes, para nao serem interpretaram de forma errada, nao deveriam ser tratadas desta forma.

Bom domingo...
=)

Varotto disse...

Nós ateus, ou agnósticos, temos um problema porque, aos olhos do mundo já começamos errados. Difícil discutir com alguém que acha que você, por definição está errado.

A charge a seguir, no blog Capinaremos, resume muito bem, e de forma muito inteligente, os tormentos que nossa tribo enfrenta:

http://capinaremos.com/2008/12/vamos-nos-respeitar/

Lari Bohnenberger disse...

Falta uma penca de coisas no mundo, na verdade. Bom senso e noção das coisas são duas delas. O que dá mais medo é que as pessoas como este cidadão do email que vc citou, não estão apenas se utilizando da fé das pessoas para verder friamente seu produto, mas realmente acreditam estejam cumprindo a missão que Deus lhe deu, como vc disse. SOCORRO! A humanidade não deu nem um pouco certo, e isso não é pessimismo, apenas uma conclusão baseada na observação detalhada do mundo que nos rodeia. Mais uma vez, SOCORRO!

Anônimo disse...

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