2 de janeiro de 2008

Mussarela & Salame, Péps & Água

Tudo o que eu não gosto durante o mês de dezembro – todos os shoppings e a Fnac com uma densidade demográfica superior a do centro de Pequim, trânsito caótico, filas onde quer que você vá – se acaba entre o Natal e o Reveillon. De acordo com um amigo meu, no dia 26 de dezembro ocorre uma espécie de êxodo, com todos os habitantes de São Paulo migrando para a Praia Grande, deixando a cidade maravilhosamente às moscas.

É nesta semana a cidade se torna um paraíso, com todas as vantagens de cidade grande e de cidade pequena ao mesmo tempo. Você vai ao cinema e ele está vazio; vai jantar fora e é bem atendido; vai ao shopping e encontra espaço para andar sem ser atropelado por casais com sete crianças (uma de colo e todas chorando) que saem caçando presentes de última hora. Nessa época, você consegue fazer tudo em São Paulo.

Menos ser atendido de forma decente naquela padaria 24 horas de Pinheiros, ao lado de casa.

Sinceramente, não vejo o que tanto falam sobre essa padaria. Muita gente sempre me convida para ir até lá como se o lugar fosse meio cult. Para mim, não passa de um boteco com algumas mesas na calçada e com enormes dificuldades de relacionamento com a Eletropaulo, já que é uma penumbra desgraçada lá dentro. Toda vez que eu entro lá á noite me sinto como um hobbit em Moria. Um dia, tentei até almoçar ali, mas o sabor da comida me fez esquecer a comparação com Moria, já que nem um orc comeria aquela comida.

Ou seja, a única vantagem dela é que ela funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, oferecendo comida ruim.

Enfim, 1º de janeiro, 20:00. Após voltar do tradicional almoço em família, hora de sair e batalhar o jantar. Padaria tradicional (a das carolinas), fechada. Pão de Açúcar, fechado. A única coisa aberta que encontrei era um boteco, mas a substância mais nutritiva que estavam vendendo era uma dose de Dreher. Rodei o bairro atrás de um plano B, mas em vão. Tive que ir naquela merda de padaria, mesmo.

Cheguei até lá e estava aberto. O ambiente estava um pouco mais escuro, acredito que desde a última vez que entrei ali, em julho ou agosto, mais umas duas lâmpadas devem ter queimado. Encostei no balcão e pedi para a atendente:

– Quero quatro pãezinhos, 250g de mussarela e 250g de presunto, por favor.

Ela virou de costas e começou a fatiar o presunto. Já fiquei meio cabreiro, porque ela colocava cada fatia na embalagem com o capricho de um funcionário público limpando os papéis velhos da sua mesa. Só faltava amassar cada fatia antes de jogar na caixinha de isopor. Resultado: recebi, junto com os pãezinhos, uma embalagem com 250g de fatias de presunto amarrotadas que formavam uma pilha desconjuntada de mais ou menos 10cm de altura.

Mal sabia eu que o show nem tinha começado ainda. Ela me olha e pergunta:

– O que mais você queria? Queijo prato?

– Não. Mussarela.

– Ah, sim.

Ela sai andando e volta com dois salames, um em cada mão.

– Perdigão ou Ceratti?

– Nenhum.

– Eu só tenho esses.

– Não tem problema. Os dois são muito bons, tenho certeza. Mas, na verdade, eu queria mussarela.

– Ah, não sei por que eles têm essa mania de fazer as coisas com nomes parecidos.

– Parecidos?

– É. Sempre acaba dando confusão.

– Salame, mussarela. Mussarela, salame. Não é muito parecido, não.

– Dá uma baita confusão.

– Ah, ok. Olhe, me dê 250 gramas, por favor.

– De mussarela?

– É!

Novamente, a delicadeza e o carinho ao fatiar o queijo. Após ela me entregar outra Torre de Pisa, perguntou:

– Algo mais?

– Eu queria uma garrafa de Coca Zero.

– Só tem Péps.

– Como assim?

– Só trabalhamos com Péps.

Sabe, eu entendo que um restaurante só trabalhe com um refrigerante, mas uma padaria? E escolher Pepsi, a pior marca da história do universo, que ainda faz uma campanha onde os participantes têm que falar em “arrotês”? Não, sem condições.

– Só tem Pepsi? Então não quero.

– Não é Péps Zero. Mas é Light. Não tem açúcar também.

– Meu problema não é com o algarismo. Meu problema é com a marca. Esquece. Vou levar uma garrafa de água, sem gelo.

Ela saiu do balcão e decidida do meu lado, indo para o meio da padaria. Eu fui atrás. Ela desviou de umas mesas e eu a segui até a frente de uma geladeira, onde ela abaixou e começou a procurar algo lá dentro.

– Olhe, eu queria sem gelo..., eu disse, tentando ganhar tempo.

Ela me ignorou e continuou olhando a geladeira, repleta de garrafas de Pepsi de todos os tipos e cores. Segundos depois, ela apresenta a conclusão de sua análise:

– Não tem.

– Eu pedi sem gelo e você olhou dentro da geladeira. É óbvio que não iria ter!

– É que só tem água na geladeira.

Pensei em discutir, então, porque ela perdeu tempo procurando dentro da geladeira, mas vi que era inútil. Olhei ao redor. Próximo ao balcão onde eu havia pedido os pães e os frios, três ou quatros pacotes da Minalba, com seis garrafas de 1,5 litro cada.

Suspirei.

– E aquilo?

– Ah, ali é água. Mas está sem gelo, acabou de chegar.

– Ah é? Não tem problema, eu vou levar assim mesmo.

– Você quem sabe, mas está sem gelo.

Ela me entregou a garrafa, fui até o caixa, paguei e saí.

2008 promete.

Celebrando esse pequeno trailer de como será o ano, deixo aqui o primeiro Top 5 de 2008, com os 5 estabelecimentos comerciais que eu mais gosto – e a condição básica para que cada um conquiste um Rob Gordon satisfeito.

1. Bancas de jornal: quanto maiores, melhores. Mas eu preciso localizar os quadrinhos imediatamente, antes mesmo de colocar os pés lá dentro.
2. Botequim: É necessário vender Marlboro e Coca-Cola. Na ausência de qualquer um dos dois, pode fechar as portas e mudar de ramo.
3. Loja de CDs: A parte de rock internacional precisa necessariamente ser enorme. Lojas com uma seção dedicada apenas para heavy metal e hard rock têm preferência absoluta.
4. Livrarias: A seção de livros de auto-ajuda deve ocupar no máximo 5% do espaço físico da livraria, de preferência embaixo de uma goteira.
5. Locadoras: Uma seção de clássicos gigantesca e uma prateleira enorme com DVDs usados à venda.

23 comentários:

­Redação disse...

Caraca, muito grande, e eu estou saindo nesse momento...já salveis eu blog nos favortios assim que eu voltar eu leio e comento!

Abraços!

http://odescontrole.blogspot.com/

Raquel M. Linhares disse...

Engraçado que aqui em Niterói existe o mesmo estigma, mas em relação a um restaurante, que também é o único que fica aberto até altas horas da madrugada (não tenho certeza se é 24h).
O lugar se chama Steak House, mas recebeu o apelido carinhoso de Steak Mouse. Além disso, pra você sacar o nível do lugar, tem uma placa na porta que diz "É proibido fazer batucadas e cantorias".
Da única vez que fui lá encontrei, na mesma pizza, um inseto e um cabelo de procedência duvidosa. Sem contar o episódio de uma barata aparecer em cima da mesa vizinha e pedaços de comida desaparecerem magicamente de debaixo das mesas.
A comida é ruim, o lugar é feio, imundo e mal freqüentado mas as pessoas insistem em continuar indo lá e achando bom.

Bernardo Lima disse...

putz, cara...
nem fala...
minha cidade é pequenininha e tá parecendo época de carnaval...
por ser região dos lagos, tá cheia prak...
mó tumulto...
ir no mercado é uma batalha...
praia então...
rsrs
mais já esta acabando...
feliz ano novo ae!

Gilmar Gomes disse...

sobre o top 5...
bancas, atualmente, são meu sonho de consumo.
não, não quero comprar uma, quero ter uma para comprar alguma coisa.

morar em C.U. of the World é phoda!
Aqui não tem banca... só tem livraria que vende gibis...

bem... vendia.
hoje em dia eu só tô conseguindo manter a coleção do Homem-Aranha Ultimate...
assinatura nem pensar (se eu tivesse todo aquele dinheiro pra pagar duma vez só, eu não teria uma TV de 14 polegadas com mais ou menos uns 23 anos de idade).
é feio viver... aqui.

Tyler Bazz disse...

E a galera não sabe, depois, porque é que o desemprego é tão grande, porque é que o Brasil não vai pra frente. Essas coisas...

E a Péps, sempre ela... u.u


Eu concordaria com o Top5. Mas não compro cd faz uns... 20 anos (tirando de umas bandas BR independentes e dos Forgotten Boys); raramente alugo filmes (tenho uns amigos que tem MUITOS sabe...); e a maioria dos livros eu compro em Sebo...

Mas eu gosto de Bancas de Jornal grandes também :D

o/

Anônimo disse...

Ahahaha passa o endereço dessa coisa aí, pra eu manter uma boa distância. Aqui na V.Mariana tem umas opções boas para as "emergências noturnas".
Sobre o top 5, discordo sobre a loja de CD's. A "seção enorme" deveria é ser recheada sim é de SINGLES (de todos os gêneros). Locadoras com clássicos, só a 2001 mesmo. É $$$$, mas não há nada que você não vá achar.

E olha aí em cima o 1o. comentário. Famoso "Nem li, mas olha aqui meu blog". kkkkk... Ô FASE.

Lari Bohnenberger disse...

Nossa! Essas figurinhas só aparecem pra ti, Rob! Confundir mussarela com salame...
Mas compartilho da mesma adoração pelas cidades desertas, entre Natal e Ano-novo. Porto Alegre também fica assim. Eu só desejaria que os assaltantes também migrassem para que nós - a meia dúzia que aqui permanecem - pudéssemos ter um pouco de sossego!
Bjs!

P.S. Vou colocar a sua sugestão da goteira em cima dos livros de auto-ajuda na caixinha de sugestões de todas as livrarias que eu conheço!

Anônimo disse...

hahahahahaa.. parece que nao foi so eu que começou o ano do avesso!





-> faço do seu, o meu top 5

Anônimo disse...

ééé... e o 1º comentário de 2008 com certeza vai te agradar...

auauhuhahuahua

Danilo Moreira disse...

Rapaz, vc encontra cada figura por ai... q em aquele do "Sou de outro praneta"...hauhauhauhau!!!!!!

Eu adoro essa época em q SP ta vazia, pelo menos uma vez no ano a gente consegue viver um pouco sem filas, sem muvuca e GRAÇAS A DEUS, SEM TRÂNSITO!!!

Abçs!!!

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http://emlinhas.blogspot.com/

EM LINHAS...
Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã.

Novo texto: Uma Pequena Parada no Acostamento
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Unknown disse...

Haehueahueaea

Também acho inaceitavel um lugar que não vende coca. Onde eu moro tem muitos restaurantes que só servem Pepsi. Felizmente as padarias sempre tem coca. Só que eu tenho medo de padarias, tenho a lingua presa e quando eu peço "Três pães de trigo" sai "TLês" e a maioria dos atendentes acham que eu tou pedindo Seis. Mesmo falando errado dá de entender perfeitamente haha

Agora eu só peço por 4 pães, ai eles não tem como fazer nada.

Se me permite:
Chupa, atendentes! hahaeuheau

La disse...

É bom ver que, mesmo começando um ano novo, vida nova, algumas coisas nunca mudam... e uma delas é seu magnetismo em direção a vendedores/atendentes obtusos! E, lógico, a mais um post ótimo sobre o cotidiano. Aliás, um post por dia? A produção neste final/início de ano está boa!
Beijos,

Zanfa disse...

Hahaha sensacional!

Vai ver o tio do mercadinho tava carente, afinal todo mundo foi pra praia...

=P

Anônimo disse...

Essa padaria, guardadas as devidas proporções, me lembra o Bob's aqui no Rio. Assim como no McDonalds existe um treinamento para padronizar o atendimento, sempre me pareceu que no Bob's eles fazem a mesma coisa para padronizar o atendimento péssimo em todas as lojas.

Uma vez cheguei no Bob's vazio às 22:00 e pedi um milkshake de ovomaltine pequeno (a primeira vez da minha vida em que resolvi pedir o menor), e o que se seguiu foi o seguinte:

- Por favor um maltine pequeno...

- Grande?

- Não, pequeno.

- Grande???

- Não, PEQUENO.

- Ah, tá... Salta um Maltine grande!

Nesse momento eu contei sete pessoas do lado de lá do balcão para me atender. Duas batiam a cabeça tentando me preparar o shake e cinco olhavam. Me senti em um quadro dos Trapalhões. Depois de módicos cinco minutos meu milk shake saiu. Não vou nem dizer Ô FASE, porque, nesse caso, nem é questão de fase. É sempre assim.

Quanto às bancas de jornal, se eu passar por dez bancas na mesma rua, vou parar para dar uma olhada (mesmo que só uma paradinha na porta) nas dez. Se eu estiver de carro, sou capaz de reduzir a velocidade para dar uma olhadinha.

Não vou nem comentar sobre lojas de CDs e DVDs...

Fashionista Butterfly disse...

Seu post ficou hilário...rsrsr...mas não entendi seu preconceito com Pepsi, rs!!
Beijo

Otavio Cohen disse...

como assim vc não entende a confusão que existe entre mussarela e salame??

provavelmente é um sintoma da falta de coca-cola no sangue.

ou da abstinência das Carolinas (que nesse ponto já tá com letra maiúscula).

rob, meu 2007 foi mais feliz com o seu blog (que me faz rir no trabalho, inclusive, como a maioria das pessoas por aqui.)
que o seu 2008 seja tão produtivo e cheio de coisas bizarras que se contar ninguém acredita.

quando eu crescer quero ser igual a você. sem o cigarro.

meusanosincriveis.blogspot.com

Climão Tahiti disse...

2008 realmente promete.

E eu dedico a maior parte de meu tempo vago lendo livros que não posso comprar, pois se comprasse teria que comer papel, e papel tem um gosto horrível.

Feliz 2008 e que seja muito bom pra você =D

\o/

Maps disse...

Rob,

Meus pêsames. Realmente você tem um ímã natural de qualquer coisa criticada em tempo recorde!

Este primeiro comment de 2008 só pode ser pegadinha. SÓ PODE! Não é possível que o PRIMEIRO tenha sido isso!

Jonas, é você? Por favor, diz que é você!!!! AAAAAAAARRRGGHHHH!!!

Anônimo disse...

Banca de jornal? O que é isso? Ah, você tá falando dos pontos de venda do Trident de melancia? Adoro também!

Climão Tahiti disse...

Lembrei de uma coisa.

Por causa do seu blog passei dias enchendo o ouvido de minha esposa a respeito de Carolinas e ela também está a procura da guloseima aqui no rio.

E quando encontramos também disseram que não tinha. =/

Anônimo disse...

Acho que estou cega.... Sua lista Top 5 de estabelecimentos comerciais não inclui churrascaria? Vc mudou, Rob. Vc mudou...

Bjs,

BLOGDOED disse...

Puts...na boa, achei opostmuito grande.
Acho que num veículo como um blog, os textos devam ser mais curtos.

abçs

Anônimo disse...

fala gagotinho
entao 2008 promete a todos...
Mas um comentário... pois a principio, eu pensava a mesma coisa sobre a "Péps", mas a um tempo tomei a twist light..........


Caraio..

Faz uns 3 meses que não tomo coca.. de nenhuma espécie.

Espegmenta!

Daru (pirulito - velhas)