(se você não tem idéia do que está acontecendo, leia aqui)
Senti uma pontada em algum lugar da boca que eu não soube precisar e fechei os olhos novamente. O tempo se arrastava. Cerca de dez segundos depois (para mim, pareceu horas) eu ainda sentia a picada e achei isso estranho. Porra, é uma injeção, não tem segredo. Espeta, aperta e tira. Só isso. Não tem porque demorar tanto. Abri os olhos.
Foi a visão mais aterradora da minha vida. A dentista ainda estava aplicando a anestesia, mas, pelo meu ângulo de visão, a seringa parecia ter, mais ou menos, uns três kilômetros de extensão. E, lá no horizonte, atrás da seringa, eu conseguia ver a dentista com um olhar perdido, vago, provavelmente pensando no que iria almoçar. O descaso dela com meu sofrimento começou a me incomodar mais que a dor. Porém, ela olhou para mim e vendo que eu não devia estar muito à vontade – acredito que eu estava com os olhos arregalados e sacudindo as pernas, mas não lembro exatamente – perguntou:
– Você não sabia que anestesia na boca é mais demorada para aplicar?
Ela realmente esperava que eu respondesse à pergunta? Será que ela não considerou a hipótese de que é difícil falar claramente quando se tem uma seringa do tamanho da Transamazônica na boca? Olhei para ela com ódio e ela continuou, como se nada tivesse acontecido:
– Vamos torcer para que anestesia pegue na primeira vez. Senão, vou ter que aplicar novamente.
Eu não sentia mais os dedos do pé, de tanto que eles estavam encolhidos. Como se não bastasse o talento em causar dor física, a desequilibrada ainda domina a arte da tortura psicológica. Não é possível que ela ainda consiga caminhar livremente nas ruas, enquanto o resto do planeta fala apenas em combater os terroristas. Ela tirou a maldita seringa da minha boca e, olhando com cuidado a bandeja de instrumentos, apanhou alguma coisa metálica de espessura muito, muito fina.
– Vamos ver se anestesia pegou?
– Ver como?
– Começando a raspagem, claro.
– E se a anestesia não tiver pegado?
– Aplicamos outra. Sem anestesia, você não vai agüentar.
– Não tem outro jeito de ver se pegou? Um raio-x?
– Não, temos que tentar.
– Olhe, vamos fazer o seguinte: eu vou embora, trabalhar. Se eu não estiver sentindo nada na boca, é porque ela pegou. E aí eu juro que volto.
– Abra a boca.
– Você ao menos ouviu o que eu disse?
– Com a anestesia, você não irá sentir nada
– Você não sabe se eu estou anestesiado! Você vai usar o método da tentativa-erro. E o erro vai doer em mim, não em você!
– Eu acho que a anestesia pegou, vamos apenas nos certificar.
– Você está blefando!
– Quanto mais tempo você demorar para abrir a boca, mais tempo vou demorar para começar a mexer na sua boca. E se a anestesia tiver pegado, quanto mais tempo você demorar para abrir a boca, menor será o efeito dela.
Foi a visão mais aterradora da minha vida. A dentista ainda estava aplicando a anestesia, mas, pelo meu ângulo de visão, a seringa parecia ter, mais ou menos, uns três kilômetros de extensão. E, lá no horizonte, atrás da seringa, eu conseguia ver a dentista com um olhar perdido, vago, provavelmente pensando no que iria almoçar. O descaso dela com meu sofrimento começou a me incomodar mais que a dor. Porém, ela olhou para mim e vendo que eu não devia estar muito à vontade – acredito que eu estava com os olhos arregalados e sacudindo as pernas, mas não lembro exatamente – perguntou:
– Você não sabia que anestesia na boca é mais demorada para aplicar?
Ela realmente esperava que eu respondesse à pergunta? Será que ela não considerou a hipótese de que é difícil falar claramente quando se tem uma seringa do tamanho da Transamazônica na boca? Olhei para ela com ódio e ela continuou, como se nada tivesse acontecido:
– Vamos torcer para que anestesia pegue na primeira vez. Senão, vou ter que aplicar novamente.
Eu não sentia mais os dedos do pé, de tanto que eles estavam encolhidos. Como se não bastasse o talento em causar dor física, a desequilibrada ainda domina a arte da tortura psicológica. Não é possível que ela ainda consiga caminhar livremente nas ruas, enquanto o resto do planeta fala apenas em combater os terroristas. Ela tirou a maldita seringa da minha boca e, olhando com cuidado a bandeja de instrumentos, apanhou alguma coisa metálica de espessura muito, muito fina.
– Vamos ver se anestesia pegou?
– Ver como?
– Começando a raspagem, claro.
– E se a anestesia não tiver pegado?
– Aplicamos outra. Sem anestesia, você não vai agüentar.
– Não tem outro jeito de ver se pegou? Um raio-x?
– Não, temos que tentar.
– Olhe, vamos fazer o seguinte: eu vou embora, trabalhar. Se eu não estiver sentindo nada na boca, é porque ela pegou. E aí eu juro que volto.
– Abra a boca.
– Você ao menos ouviu o que eu disse?
– Com a anestesia, você não irá sentir nada
– Você não sabe se eu estou anestesiado! Você vai usar o método da tentativa-erro. E o erro vai doer em mim, não em você!
– Eu acho que a anestesia pegou, vamos apenas nos certificar.
– Você está blefando!
– Quanto mais tempo você demorar para abrir a boca, mais tempo vou demorar para começar a mexer na sua boca. E se a anestesia tiver pegado, quanto mais tempo você demorar para abrir a boca, menor será o efeito dela.
Não tive como rebater essa última e abri a boca na mesma hora. Mas olhei para cima e pedi, mentalmente, por uma morte rápida e indolor. Talvez, se eu desejar com força, um satélite caia em cima do prédio e todos nós podemos morrer em paz e acabar logo com isso. Fechei os olhos e implorei por isso com determinação. Não aconteceu nada. Deus, por que me abandonaste?
– Abra a boca.
Respirei fundo e abri. Melhor acabar logo com isso. Com o canto do olho, pude ver que ela segurava um instrumento que faria o Wolverine se encolher de inveja e começou a mexer na minha gengiva. Se você já fez raspagem, sabe do que estou falando: ela estava, provavelmente com um capacete de mineiro, com metade do corpo dentro da minha boca, fuçando na minha gengiva com algo que parecia um ancinho.
E, curiosamente, eu não sentia nada. E não porque a anestesia deu certo. Foi justamente o contrário. Como a anestesia não fez efeito algum, acredito que meu sistema nervoso desligou automaticamente, graças ao instinto de auto-preservação, o que me impediu de sentir algo. Aliás, minto. Eu senti uma lágrima descendo pelo meu rosto. Mas provavelmente eu gritei – mesmo sem perceber –, porque ela tirou a cabeça de dentro da minha boca e perguntou:
– Está doendo?
– Claro que não. Está delicioso. Eu gritei porque não contive o prazer. Está um tesão tudo isso.
– Então, vamos contin...
– É claro que está doendo!!!
– Ah, a anestesia não pegou, então. Vamos tentar de novo.
Olhei no relógio e vi que a consulta não estava nem na metade. Suspirei, conformado, enquanto ela preparava uma nova anestesia. E não foi mais uma anestesia, foram três. Ficamos uns 15 minutos ali, com a mulher furando minha boca com aquele pedaço de metal.
Comecei a desconfiar que ela não era nazista, mas sim uma funcionária renegada da Paulipetro tentando desesperadamente encontrar petróleo na minha boca, mas mudei de idéia quando a recepcionista entrou na sala para perguntar algo. Não prestei muita atenção, mas tenho certeza de que a menina se dirigiu a ela como “mein Führer”. Ela respondeu qualquer coisa em tom ríspido e voltou sua atenção a mim.
Finalmente, a anestesia pegou. Aliás, pegou tanto que todo o lado direito do meu corpo ficou paralisado. Fiquei totalmente indefeso ali, entregue ao Deus-dará – e eu já havia percebido que Deus não iria se envolver com aquilo. Com esforço (porque eu parecia um mongolóide, sem conseguir controlar minha própria boca), abri o maxilar e me entreguei ao meu destino.
Sim, porque se a anestesia pegou, a insana saberia que era a hora dela me pegar.
Para o meu azar, a anestesia pegou.
Agora sim que ia começar a farra.
(continua)
– Abra a boca.
Respirei fundo e abri. Melhor acabar logo com isso. Com o canto do olho, pude ver que ela segurava um instrumento que faria o Wolverine se encolher de inveja e começou a mexer na minha gengiva. Se você já fez raspagem, sabe do que estou falando: ela estava, provavelmente com um capacete de mineiro, com metade do corpo dentro da minha boca, fuçando na minha gengiva com algo que parecia um ancinho.
E, curiosamente, eu não sentia nada. E não porque a anestesia deu certo. Foi justamente o contrário. Como a anestesia não fez efeito algum, acredito que meu sistema nervoso desligou automaticamente, graças ao instinto de auto-preservação, o que me impediu de sentir algo. Aliás, minto. Eu senti uma lágrima descendo pelo meu rosto. Mas provavelmente eu gritei – mesmo sem perceber –, porque ela tirou a cabeça de dentro da minha boca e perguntou:
– Está doendo?
– Claro que não. Está delicioso. Eu gritei porque não contive o prazer. Está um tesão tudo isso.
– Então, vamos contin...
– É claro que está doendo!!!
– Ah, a anestesia não pegou, então. Vamos tentar de novo.
Olhei no relógio e vi que a consulta não estava nem na metade. Suspirei, conformado, enquanto ela preparava uma nova anestesia. E não foi mais uma anestesia, foram três. Ficamos uns 15 minutos ali, com a mulher furando minha boca com aquele pedaço de metal.
Comecei a desconfiar que ela não era nazista, mas sim uma funcionária renegada da Paulipetro tentando desesperadamente encontrar petróleo na minha boca, mas mudei de idéia quando a recepcionista entrou na sala para perguntar algo. Não prestei muita atenção, mas tenho certeza de que a menina se dirigiu a ela como “mein Führer”. Ela respondeu qualquer coisa em tom ríspido e voltou sua atenção a mim.
Finalmente, a anestesia pegou. Aliás, pegou tanto que todo o lado direito do meu corpo ficou paralisado. Fiquei totalmente indefeso ali, entregue ao Deus-dará – e eu já havia percebido que Deus não iria se envolver com aquilo. Com esforço (porque eu parecia um mongolóide, sem conseguir controlar minha própria boca), abri o maxilar e me entreguei ao meu destino.
Sim, porque se a anestesia pegou, a insana saberia que era a hora dela me pegar.
Para o meu azar, a anestesia pegou.
Agora sim que ia começar a farra.
(continua)
13 comentários:
huahauhuahuahuahuahahuahua... pois é.... nem me fale, tenho consulta marcada para depois do feriadão!!!!
Eu realmente não precisa ter lido isso aqui!!!!
Estava com saudade de vim aki ...
Kara estou chorando de tanto rir.
Muito bom o texto. é sempre um prazer ler...
um grande abrç L.Sakssida
He! He! He! Imaginei você babando e esperneando. e lembrei-me de um filme (não sei se vc viu) Maratona da Morte. É igualzinho... (rs) Só que o dentista do Dustin Hofmann era nazista. Vai ver que a sua também é... (rs)
bem...
no outro post eu lhe desjei sorte...
mas como vc realmente anda sem ela... vou continuar a lhe desejar...
pq eu imagino o qnto isso dói pra dedéu...
Good Look...
Pense que ao final desta saga, vc poderá ser tratado como herói... rsrsrs pelo menos pelo seu ego...
IOUAHFASODFGHOSDFHGOSDFM, QUASE ACORDEI O PESSOAL AQUI RINDO :D:D:D:D
adoro teus textos, rob.
agoto eu vou voltar a procurar meu indecente mp3 que simplesmente sumiu.
Infelismente não há tratamento alternativo para a periodontite-asmática-ultra-vox-power-venusiana-colorida-avançada!
Já passei por isso, quando fui obturar um dente, o médico me deu 3 anestesias e nenhuma pegou, teve que ser naquele jeito bárbaro mesmo! Mas foi só eu botar o pé fora do consultorio que eu ja nao conseguia mais controlar todo o lado esquerdo do meu rosto!
Também não precisava lembrar disso! Proxima semana vou arrancar meus dentes do juizo! To pensando seriamente em deixar eles onde estão!
heAUHEauEAHueaheaUHEAuheAUH
Dentistas são todos alucinados por dor, nos outros, é claro!
Uh gentinha difícil. xD
Muito bom teu blog!
http://capinaremos.blogspot.com/
hauhauhuahuahauhaua muito bom! Ri demais.
PS: Odeio ir no dentista rs..
Olha...se vc confia no dentista não se sentirá mal por ter que ir...o problema é tu achar um dentista em quem confia....eu tenho a minha e não troco por nada no mundo...
Perdoe meu sadismo, mas eu to adorando isso!!! aUHAuhaUHaAUHA
Rob Gordon, eis aqui uma super fã sua! Que adora seus post irreverentes!
Por isso eu estou te indicando como um "Blog que Vale a Pena Conferir"
Você já ganhou o selo, basta ir no meu blog e pegar o selo, e se achar por melhor fazer um post com:
1. 5 blogs que você realmente ache interessante, mesmo que eles já tenham sido escolhidos por outros blogueiros para que também recebam o selo e passe adiante a campanha.
2. O objetivo é unir blogs que se comunicam e formam uma grande rede na blogosfera com textos interessantes com a intenção de compartilhar, criar e interagir com todos os blogueiros de plantão.
É... Você deveria trocar de carrasco, ops, dentista.
O problema é que vc pode encontrar no depósito os itens que ela usa depois do expediente, o cinto de couro, o chicote, as algemas, e o namorado dela, amarrado. =p
cara, seus posts são realmente bons, aliás, seus relatos. Incrível a cena dela saindo da sua boca com o capacete de mineiradora
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