Algumas noites nascem para ser perfeitas. Alguma coisa ocorre na conjunção dos planetas e estrelas, fazendo com que tudo aconteça no lugar certo, na hora certa, deixando alguns momentos da vida com cara de propaganda de cartão de crédito.
E aquela noite era uma dessas. Frio. Hotel reservado. Aniversário do primo. Tudo perfeito. Tudo planejado. Nem a dor de dente que havia enchido o saco a semana inteira me incomodava mais. A única coisa que poderia azedar tudo era uma das minhas mascotes, o Gnomo da Catástrofe, aquela entidade maldita que resulta da soma entre meu azar e minha estupidez (e é matematicamente representado pelos caracteres “ô fase”), e que sempre me acompanha, sentado no meu ombro e demolindo minha vida.
Mal sabia eu que aquela noite, aparentemente perfeita, seria um desbunde para o gnomo.
Fomos ao aniversário, eu e ela. Uísque, caipirinha de morango com saquê. Ela, com fome, pede ao garçom uma porção de fritas.
– Com cheddar, por favor.
Minutos depois, quando o garçom colocou o cheddar na mesa, eu senti um arrepio na espinha. Achei que fosse o frio. Mal sabia eu que era o Gnomo da Catástrofe olhando por cima do meu ombro como um corvo e rindo. Comemos, bebemos, nos divertimos e voltamos para o hotel, onde ainda encontramos tempo para tomar chocolate quente no saguão.
Subimos para o quarto e ela solta a primeira grande frase da noite:
– Algo não caiu bem. Estou enjoada.
Em algum lugar na noite fria, o fator Rob Gordon gargalhou cruelmente. Eu não ouvi. Desci, comprei remédio, voltei.
– Ainda estou enjoada, ela disse, indo ao banheiro.
Eu fui junto. Ela se sentou num canto e ficou esperando algo acontecer. O gnomo, sentado na pia do banheiro, ria e esfregava as mãos sordidamente. Se eu pudesse vê-lo, teria me lembrado de Peter Lorre em Casablanca. Mas eu não vi nada, estava mais preocupado com ela.
E, de repente, ela coloca tudo para fora. Tudo, literalmente (exorcista mode: on). No chão, não no vaso. (não que fez muita diferença, porque o que estava indo vaso abaixo era a minha noite). Na mesma hoje, o cheiro identificou o culpado e eu acusei em voz alta:
– Foi a porra do cheddar!
Ela, meio verde, concordou. Eu, também meio verde, olhei para o chão do banheiro. O gnomo, num canto, chorava de rir. Nem me importei. Como diria Chico Buarque, “agora eu era herói”. Coloquei-a na cama e a cobri. Levei a escova de dente e um copo de água. Desliguei o ar condicionado – ela tremia – e fui até o saguão do hotel, pensando em como contar aquilo, sem ter que explicar que “não sou um rockstar, ela não é uma groupie e não, ela não está com overdose, foi o cheddar mesmo, acreditem”.
Acordaram uma camareira que, no meio da madrugada, chegou com aparatos de limpeza. Eu, obviamente, tinha tentado limpar tudo com uma toalha mesmo, mas só piorei ainda mais a situação. Quando a camareira foi embora, ela, da cama, olhou sua calça e disse:
– Minha calça está toda suja....
– Esquece isso, amanhã, em casa, a gente lava.
Nessa hora, os olhos do gnomo brilharam. Senti, novamente, um arrepio na espinha, mas achei que fosse um reflexo do que eu havia visto no banheiro.
Dormimos. Ela acordou bem melhor. Nova em folha. Check-out no hotel. Fomos para casa e, ao chegarmos, o maldito Gnomo da Catástrofe já estava lá, nos esperando, batendo papo com o Jonas no sofá. Besta-fera não estava em casa. Ela, com uma calça de moletom minha, começou a lavar a calça suja, até que se voltou para mim com a peça de roupa molhada, nas mãos.
– Isso nunca vai secar hoje.
E, neste momento, eu tive aquela que seria a idéia mais brilhante da minha vida. Sabendo que o varal não resolveria, fui até o quarto e coloquei a calça por cima do aquecedor, mantendo as pernas da roupa afastadas, sobre uma cadeira. Voltei para sala e, com ar genial, disse:
– Tudo resolvido. Em meia hora, sua calça está seca.
O gnomo começou a gargalhar do meu lado. Ficamos vendo TV e, subitamente, ela pergunta, num tom até mesmo casual:
– Que cheiro é esse?
– Hum?
– É... Esse cheiro de queimado....
(O gnomo começou a chorar de rir)
– Que cheiro?
– E essa fumaça... O que é isso?
– PUTA QUE PARIU! FUDEU! A CALÇA!
Corri para o quarto. Não dava para ver nada direito, por causa da fumaça. Minha casa parecia um cenário de Blade Runner. Olhei para o aquecedor e entendi o que havia acontecido. As pernas da calça haviam escapado da cadeira e caído por cima do aquecedor e estavam em chamas.
Agora eu não era mais herói. Agora eu era um idiota, tentando agarrar a calça pegando fogo, tossindo feito um tuberculoso. O gnomo rolava na cama de tanto rir. Sai correndo pela casa com a calça em chamas, aos gritos de “sai! sai” e joguei no único lugar que me ocorreu como solução: o vaso. Empurrei a calça com o pé para dentro da água.
A fumaça agora estava na casa inteira. Menos no chão, por causa da fuligem. Abri a janela do quarto e liguei o ventilador, para tentar purificar um pouco o ambiente. O gnomo se acabava de rir na cama. Ela, provavelmente já recuperada do enjôo e do susto, também ria.
momento em que Rob Gordon secava a calça.
Eu, com os olhos lacrimejando e ainda tossindo, fui até a janela, com a sensação de que o mundo inteiro devia estar rindo de mim – e provavelmente estava mesmo -, levantei os punhos de forma ameaçadora para o céu e gritei:
– POR QUE É SEMPRE COMIGO???
Ninguém ouviu. Ou, se ouviu, não deu atenção. Peguei a calça dela no vaso e sai pela casa, espalhando fuligem pela sala. Ela ria. Jonas ria. O gnomo ria.
Algumas noites nascem para ser perfeitas?
– POR QUE É SEMPRE COMIGO???
Ninguém ouviu. Ou, se ouviu, não deu atenção. Peguei a calça dela no vaso e sai pela casa, espalhando fuligem pela sala. Ela ria. Jonas ria. O gnomo ria.
Algumas noites nascem para ser perfeitas?
Pode até ser. Mas não comigo. Talvez para o gnomo, mas nunca comigo.
Sendo assim, deixo-lhes com o Top 5 Gnomos que estão sempre ao meu lado:
1. Gnomo da Catástrofe – Quando ele está perto, me torno uma pessoa altamente destruidora. Basta eu olhar para algo que o objeto automaticamente comece a queimar, desmoronar ou explodir. E a primeira coisa que eu destruo é sempre uma parede de casa ou a quina de uma mesa, e sempre com o dedinho do pé.
2. Gnomo do Azar – Bem, era o meu apelido no colegial, logo, é o mais presente na minha vida. Foi ele o responsável pela lendária história do dia em que fui usar uma máquina de Coca-Cola, coloquei a moeda, apertei o botão escrito “Coca-Cola” e recebi em troca uma lata de Fanta Laranja.
3. Gnomo do São Longuinho – Fica escondido na minha casa. Quando eu não estou olhando, ele começa a correr, colocando minhas chaves dentro da geladeira, meu talão de cheques dentro do microondas e meu isqueiro dentro de um pé de meia esquecido sob a cama.
4. Gnomo Franco-Atirador – É o soldado de elite dos gnomos. É capaz de me encontrar no meio de uma multidão e fazer com eu seja o único a me ferrar. O dia em que um cofre cair de um prédio na avenida Paulista, as 18:00 da tarde, ele fará com o que o cofre bata em banca de jornal, ricocheteie num out-door e me acerte no peito. No peito, na cabeça não, porque seria clichê demais.
Sendo assim, deixo-lhes com o Top 5 Gnomos que estão sempre ao meu lado:
1. Gnomo da Catástrofe – Quando ele está perto, me torno uma pessoa altamente destruidora. Basta eu olhar para algo que o objeto automaticamente comece a queimar, desmoronar ou explodir. E a primeira coisa que eu destruo é sempre uma parede de casa ou a quina de uma mesa, e sempre com o dedinho do pé.
2. Gnomo do Azar – Bem, era o meu apelido no colegial, logo, é o mais presente na minha vida. Foi ele o responsável pela lendária história do dia em que fui usar uma máquina de Coca-Cola, coloquei a moeda, apertei o botão escrito “Coca-Cola” e recebi em troca uma lata de Fanta Laranja.
3. Gnomo do São Longuinho – Fica escondido na minha casa. Quando eu não estou olhando, ele começa a correr, colocando minhas chaves dentro da geladeira, meu talão de cheques dentro do microondas e meu isqueiro dentro de um pé de meia esquecido sob a cama.
4. Gnomo Franco-Atirador – É o soldado de elite dos gnomos. É capaz de me encontrar no meio de uma multidão e fazer com eu seja o único a me ferrar. O dia em que um cofre cair de um prédio na avenida Paulista, as 18:00 da tarde, ele fará com o que o cofre bata em banca de jornal, ricocheteie num out-door e me acerte no peito. No peito, na cabeça não, porque seria clichê demais.
5. Gnomo Sabotador – É uma espécie de Gnomo da Catástrofe, mas especializado em objetos pequenos e mais delicados. Quando ele está por perto, eu automaticamente derrubo o CD mais raro da minha coleção em cima de manteiga, rasgo a melhor matéria da minha revista preferida e, em alguns casos, explodo minha webcam ao tentar regular o foco.
26 comentários:
Eu costumo fazer a mesma coisa com minhas meias e cuecas no inverno mas a diferença que o aquecedor daqui é a base de água quente.
Colocar atrás da geladeira funciona embora não seja tão recomendado.
E eu achando que tinha problemas... hehehe...
kkkkkkkkkkkkkkkkk
Aposto que a foto foi tirada pelo gnomo!!!!!
Adorei! Afinal "la sae" "La sae" (se é que é assim que escreve né! OPS)
Beijão
Mariliza
gostei da imagem
ilustrou bem o incêndio
AUUAHEUAHEUAHEUHHEAUEH
PORRA ROB, FICOU MUITO BOM O TEXTO!
Muito engraçado! Adorei essa história dos gnomos, cara. Alguns gnomos "parecidos" com esses me atrapalham também.
Sabe quando você tá lá, bem alegre, aparece um gnomo, ai ele conversa com você, bem alegrinho se faz de bobo, ai ele aposta alguma coisa e você cai na dele, pensando que ele é otário? Nem adianta, eles sempre vencem, ja perdi umas sete moedas de ouro com eles.
Um dia eu saio a caçar gnomos e pegar minhas moedas de volta.
O Gnomo do Azar foi foda, hehehhe. Mas vim aqui mais para dar-lhe parabéns por ter sido premiado na categoria e tbm, peloq depender de mim, vencer o concurso como melhor blog. Bom, parabens de novo e abraços!!
eita cabeça de jaca. idéia brilhante esta de secar a calça. mas post ótimo. morri de rir.
PQP. Tu é azarado pra kct! Pelo amor!
Mas vou te contar uma verdade.
Adoraria ter visto esta cena. HAUhAU
Tua cara de vencedor e depois a tua corrida pela casa com a calça na mão. NÃO TEM PREÇO!
Abraços
Hauhauahuahauhauahuahauaimeudeuseuvomorredirri...
taloco. digamos que colocar a calça no aquecedor foi burrice demais, não?
se esse gnomo se junta com teu blog, aquele chato do Champ, tu tá ferrado!!!
[]'s
Olá!!
Estou passando por aqui para dar meus parabéns
pela sua indicação, ao prêmio blog 5 estrelas!
Seu blog é muito original, parabéns 2x!
rsrs...
Boa semana!
=]
A sua indicação veio daqui: http://web.mac.com/fabio.c.martins/
Ankhmaya/FolhetimOnLine/Entries/
2007/8/21_Prêmio%3A_Blog_5_Estrelas.
html
da uma conferida!
=]
o melhor é que todo mundo tá se cagando de rir do MEU enjoo e da MINHA calça queimada.
vai ter volta Rob, e na minha versão, nao tem porra de Gnomo nenhum !
(a nao ser, claro, q consideremos as nossas "alturas". Gnomo Catastrofe & Duende Cataclisma. puta dupla!)
mas foi bonitinho no final, gente, eu ganhei 2 calças novas :D
Só tó passando pra dizer que indiquei o teu blog para o prêmio Blog 5 estrelas. Depois dê uma passada lá pra saber do que se trata.
Abraços e boa sorte.
Coitada da Isa! Não bastasse o chedar, veio o aquecedor, malditos inimigos!!!
òtimo post
mal posso esperar para ler a outra versão!
Bjos
Como ninguém
Poxa vida... eu tenho presentes na minha vida, também, um gnomo da catástrofe e um gnomo sabotador. Ou é um gnomo único, o Gnomo do dos desastres múltiplos, que obviamente une as características desses dois.
Como você mesmo diria, Ô FASE!!!
Acho que tenho um gnomo franco-atirador atrás de mim.(rs) O negócio tá "brabo".
hauhauhauhahauh.... quando lí o título pensei que ia ser um post super narcisista mode on!!! ... mas, é claro que não!!!!!!!! Nunca se espera nada menos brilhante daqui!!! hehehehe......
P.S.: Minhas coisatas estão até doendo da sova que estou levando no concurso de blogs!!!!!!!
Rob,
Mais um meme na tua lista: as cinco maiores invenções humanas.
Acabei de te indicar para responder! :D
Grande abraço!
D Bituca - http://dbituca.blogspot.com
Minha nossa...
É por isso que cheddar com fritas não deve ser opção de comida num jantar assim! Já fui vítima do cheddar também.
Ainda bem que vc não culpou a Lei de Murphy! ehhehe!
E esses gnomos aí, viu... também curtem me azucrinar :-(
Um abraço!
Vc foi meio egoísta ao gritar "pq comigo?" ou algo do gênero.. afinal a coitada q passou mal... e foi ela q perdeu a calça rsss...
Aliás... nunca vou comer batata com cheddar no opção rs
Bjos
caraca, véio! teu blog é show de bola! como é que eu faço pra ter dez por cento dessa criatividade que cê tem? parabéns pelos neurônios. eles estão me matando de inveja.
Caso sirva de consolo, você me fez rir até não poder mais!
Simplesmente magnífico!
oolá Rob, como não sei como perguntar isso de uma forma menos... digamos... mal-educada xD vou logo perguntar sem enrolação. eu nãão entendi se ele botou tudo pra fora por cima ou por baixo.? heiueeiuehieueheiu fiiquei em duvida nessa parte xD mas o resto ta otimo ameei a foto,'
Morri de rir com o gnomo do azar e a fanta laranja.
Fiquei imaginando você apertando o botão e saindo um pepsi e, em seguida, uma fatia de limão e uns cubinhos de gelo.
Se fizessem um filme sobre essas suas histórias, acho que ficaria algo parecido com "Entrando Numa Fria" ou "Marley & Eu".
Caralho Rob... tenta contratar um irlandês pra te fazer um exorcismo...
ahuahuahauhauhauahuah
Rob, passei aqui para ler com meus próprios olhos esta história, já que ontem ouvi o outro lado da história e MORRI de rir...
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