23 de julho de 2007

Lord of the Rice - Parte II

(Você lê a primeira parte aqui)

Entrei no Pão de Açúcar e olhei ao meu redor. Com meus sentidos aguçados, comecei a procurar o maldito arroz em meio aquela infinidade de prateleiras. Mas, obviamente, comecei pela de chocolate, onde aproveitei para olhar a prateleira de Diamante Negro (não tentem entender, é superstição mode: on) e comprar um Crunch, como garantia. Sim, porque se eu não encontrasse o arroz, ao menos eu teria um chocolate com flocos de arroz para me consolar.

Passeando pelo mercado, percebi que meu cérebro simplesmente havia filtrado as informações relevantes às coisas que não me interessam. Certamente, eu já havia passado pelo corredor onde eles guardam o arroz, mas não fazia a mínima idéia de onde isso estava. Provavelmente, minha memória armazenou isso naquele lugar obscuro onde estão guardados os diagramas de Pauling e o nome de cada uma das malditas organelas das células humanas. E, dada a minha sorte, seria mais fácil eu achar no mercado um retículo endoplasmático rugoso ou um complexo de Golgi que um saco de arroz.

Como eu previa, rodei aquela merda umas 19 vezes e nada de arroz. Só não entrei na seção de verduras, já que não coloco os pés ali por motivos religiosos, mas até eu sei que arroz não é verdura e que não estaria colocado ali. Comecei a me sentir o Lawrence da Arábia cruzando o deserto: por mais que eu andasse, tinha a impressão de que estava sempre no mesmo lugar. A única diferença é que no deserto não fica tocando Roupa Nova, o que me deixou na dúvida sobre em quem estaria mais fudido. Bem, quando começou a tocar Daniel, não tive mais dúvidas: chupa, eu.

Comecei a me apressar. Roupa Nova, Daniel... Minha sanidade começou a depender de encontrar logo aquele arroz e sair daquele inferno. Apertei o passo e comecei a rodar pelos corredores, e acabei encontrando a prateleira de material de limpeza, onde aproveitei para comprar o Pinho Sol que eu estava há semanas procurando em vão. Pelo menos, a noite não seria perdida.

Ainda obstinado a encontrar o arroz, pedi ajuda a um funcionário que me explicou que eu estava do lado errado do supermercado e me apontou o caminho que eu deveria percorrer até chegar ao corredor de arroz. Mas, como comunicação verbal não parecia ser o forte dele, suas instruções acabaram me levando até a peixaria. Resolvi seguir por conta própria e continuei minha peregrinação pelo mercado.

"Eu fui ali, onde você indicou. Naquele corredor ali, está vendo?
Encontrei fraldas, azeitonas, Limpol, iogurte, lisossomos e baconzitos.
Nada de arroz. E fui exatamente ali, onde você indicou."

Subitamente, percebi que eu estava num corredor que eu nunca havia colocado os pés antes. Sacos de feijão, farinha e macarrão se empilhavam ao meu redor de forma ameaçadora. Feijão. Arroz. Arroz com feijão. Hum... Algo me diz que estou no caminho certo. Ok, algumas pessoas comem arroz com feijão e macarrão, o que me fez ter mais certeza disso ainda, mas essa combinação é coisa de pedreiro, não vou nem considerar. Enfim, devo estar no caminho certo.

Olhei ao redor e lá estavam, brilhando, os malditos sacos de arroz. Lentamente, caminhei até a prateleira. Inúmeras marcas, modelos e cores. Como começar? De cara, descartei todas as opções com a embalagem contendo a palavra “integral” – só o nome já tem sabor de nada. Isso me deixou com outras 39 opções. Pensei em pegar logo o primeiro, mas me lembrei de algo extremamente importante.
Eu não sei fazer arroz.

Logo, seria interessante eu escolher um que tenha instruções de como preparar no verso do pacote. Se as embalagens de Miojo (que, cá entre nós, vende apenas porque é fácil de fazer) têm instruções para débeis mentais culinários como eu, então arroz deveria vir até com um manual encartado. Peguei o primeiro saco e olhei atrás. As letras “modo de preparo”, acima de uns desenhos com canecas e panelas brilharam nos meus olhos. Bingo!

Peguei o arroz e fui ao caixa. Mas, numa crise de generosidade e extrema confiança na espécie humana, resolvi dar uma última chance à Sadia e a Perdigão e passei em frente ao corredor de congelados, procurando por arroz congelado. Quem sabe eles se tocaram da merda que estão fazendo. Olhei, procurei, revirei... Nada.
Ok, vocês acham que estou blefando? Perfeito.

Sadia, Perdigão: a partir de agora, é pessoal.

Novamente mordido com o descaso dessas malditas empresas com minha situação, cheguei ao caixa. A atendente – uma grandona que parece todos os personagens do Simpsons – já me conhecia, mas, mesmo por hábito, fez a pergunta pão-de-açucariana padrão:
– Faltou algum produto?

Não agüentei e respondi:

– Arroz congelado.

– Ah, nós não trabalhamos com isso.

– Sim, justamente por isso que faltou.

– Aliás, eu nem sei se isso não existe.

– Bem, então você só está me dando cada vez mais razão. Se não existe, é porque está faltando, certo?

– Deu R$ 1,93.

– Não foge do assunto! Você concorda ou não?

– Bem, sim... Acho que sim.

– E você acha que não deveria existir arroz congelado?

– É... Sim, talvez, ela disse, sem me dar muita atenção.
Sorri para ela em agradecimento e paguei. Bom saber que eu não estou sozinho na minha cruzada. Então, realmente existe uma demanda de arroz congelado!

Voltei para casa com planos grandiosos.

Ainda nessa noite, iria fazer o melhor arroz do mundo! Em poucos meses, começaria a produzir diversos tipos de arroz e lançaria no mercado o Arroz Congelado do Tio Gordon, que seria um enorme sucesso de vendas. Logo, a Sadia e a Perdigão iriam implorar por uma parceria, e eu responderia todas as propostas com um “CHUPA!” enorme, escrito com pincel atômico vermelho!

Percebi que naquele momento, o destino do planeta começava a mudar. A única coisa que separava a Terra de seu novo governante era uma panela de arroz.

E eu iria ser resolvido isso assim que chegasse em casa. Olhei para o saco de arroz e o pensamento mais obviamente ambicioso possível veio à minha cabeça: “Fortune and glory, kid... Fortune and glory(Indiana Jones mode: on). Sorri e comecei a me preparar.
A partir de hoje, minha vida e o destino da humanidade iriam mudar totalmente.

(continua...)

24 comentários:

R. B. Dillinger disse...

A história tá fervendo... literalmente hahahah!

abraço!

vera maya disse...

Rsrsrsr...fiquei ansiosa!!Quando será o proximo capítulo??
Rob, tenho passado por aqui e confesso que tinha muito tempo que nao ria tanto
Parabéns, muito bom o seu texto, delicioso o seu humor..
Volto sempre,
Um abraço

Anônimo disse...

Agora é a hora da verdade! Os tão esperados grãos de arroz, cozidos e saborosos. Vamos lá, só falta o próximo capítulo!! :D

Aliás, faço parte dos que acreditam na falta do Arroz Congelado.

Abraços

Anônimo disse...

Ricardo:
Achei teu blog lá no Orkut. Comentaram do seu antes, mas não resisti: gostei muito do jeito que escreve. Costumo escrever mais ou menos assim quando estou de bom humor (quando estou de mau humor não recomendo meu blog nem pra Belzebu).
Um abraço!

Victor Zanini disse...

putz eu naum li a 1º parte :/
vou ler volto aqui e leio a 2º e volto p/ saber o final
huaeuhaeuhaeuhea

gostei do lay e da organização do blog!

abração

Anônimo disse...

Existem alguns tipos de arros vendidos em caixinha. Cada caixinha tem 4 saquinhos que você pode colocar na água com sal, esperar ferver e em 15-20mins você tem seu arroz.

Faço isso direto aqui em casa apesar de saber fazer arroz. É mais prático e rápido. ;-)

Anônimo disse...

Cú, já que vc tem um problema tão grande com arroz, vou te dar uma dica.
Compra o arroz Uncle Bens. Cada porção vem dentro de um saquinho fechado e a única coisa que vc tem que fazer é colocar uma panela com água para ferver. Depois joga o saquinho lá e espera alguns minutos. Pronto. É só tirar, rasgar o saquinho e colocar no prato.
Beijo.
Jane

Lari Bohnenberger disse...

Ehehe! Tô louca para saber como termina essa aventura, e o quão bem sucedido foi esse bendito arroz...
Bjs, Lari!
P.S. Eu gosto de Roupa Nova.

Anônimo disse...

ricardo o/

bom, eu não sei se vc participa de correntes e tal
mas qria te fazer um convite

hehe

o tema eh sobre música

da uma olhada no meu blog xD
e no do max tbm (http://pequenoinventario.blogspot.com)
pq ele escreve mto melhor q eu XD

hehe

valeu

ps: ainda não li a parte 2, mas lerei assim q voltar do trabalho


bjuus

Anônimo disse...

E aí, como ficou o tal do arroz? ;*

Tatiana Babadobulos disse...

hahaha, muito bom. mas roupa nova e daniel, um seguido do outro, é mesmo de matar. não dá pra aturar. tô louca pra saber como ficou este tal arroz! se você assistir aos filmes "ratatouille" e "sem reservas" garanto que vai sentir vontade não apenas de fazer arroz! tudo parece tão fácil... hahaha
beijos Rob

Arthurius Maximus disse...

Mais uma incrível saga culinária. E, mais uma vez, me sinto impelido a partilhar seu sofrimento e frustração. Contudo ainda resta uma esperança e nesse mar de incompreensão, a verdade pura triunfará. Não desanime.

Isadora disse...

Jane e Rob, um conselho: eu amava o Uncle Beans exatamente pelo '15 minutos com o saquinho na água quente', e gostava muito mesmo do gosto, até achar um filhotinho de qualquer-coisa lá dentro, recém nascido: rosado e gosmento.
Ligamos pro atendimento ao consumidor e tcha-ram: senhora, tivemos alguns problemas com uma 'leva' dos nossos alimentos, mas já está tudo resolvido. Pedi o ressarcimento em abraços, eu que não como aquele arroz nunca mais.
No mais, boa sorte, Rob! Eu continuo a-m-a-n-d-o a lasanha da Sadia.

:)

Daluska disse...

mt bom o blog voltarei mais vezes... mt mais vezes!
beijão... adorei

Anônimo disse...

Rapaz, quanto drama por causa de um arroz... Devo dizer que vc foi o responsável pelo maior ataque de risos desta tarde! Seus textos são hilários e já estão nos meus favoritos!
Homem, e sozinho, é mesmo uma comédia... só faz cagada! =P
Brincadeira. Sabe que até me lembrei de vc hoje, fui a um mercado aqui da minha cidade e vi uma degustação de feijão pronto, que é só esquentar... não sei porque a implicância das empresas com o arroz, rs... mas elas ainda chegam lá!
(estou dizendo isso pq tentei comentar mais cedo, mas o blogger tava dando pau no meu PC).
Abração!

Wagner disse...

huahuahauhua

excelente!

vai ser uma honra, futuramente, eu perceber que visitava o blog do futuro governante do mundo!

hhehhe

ex-amnésico disse...

"xgvhtep"? Isso deve ser "arroz" na língua dos trolls...

Um dia desses, eu também vou ter de enfrentar o desafio da cozinha, e não apenas para fritar ovo!
Se bem que algo me diz que minha aventura será algo mais próximo ao Chamado de Cthulu: uma exploração por panoramas proibidos, cuja proximidade leva à loucura...

Grande blog! E grande saga! Sucesso rumo ao trono do mundo!

Renata Andrade Chamilet disse...

Há muito tempo um blog não me encantava tanto! Adorei!

Climão Tahiti disse...

E lá se vai mais uma empreitada.

Se comprou o arroz que vem separado em saquinhos (praticamente uma comida congelada disfarçada, ou um miojo de macarrão), já está com meio caminho andado. É praticamente impossível errar, mas possível.

Se comprou arroz polido comum, o famigerado Tipo I, prepare-se para se decepcionar, pois esse maldito arroz sempre há de virar papa em mãos inexperientes.

Se foi arroz parborizado, meio caminho andado, mas ainda tem chance, mesmo que remota, de virar uma bela papa e a Besta Fera ganhar papinha... Ou jogar em sua cabeça. =/

Anônimo disse...

to ansiosa pela parte 3,ou final de "lord of the rice"!

Eduardo Vilar disse...

demais! a parte 2 ficou ainda melhor e mais engraçada, fiquei ansioso pela parte final...

Gilgomex™ disse...

R$ 1,93??????


Como assim?

Que diabo de arroz cuta R$ 1,93???

Aliás, além do arroz ainda teve o chocolate e o pinho sol...

Só o Pinho Sol,deveria custar isso..

A revolta toma conta de meu ser...
Tenho que ir no Pão de Açúcar comprar comida.

Por esses preços, acho que vale até o gasto que teria com a viagem..

Anônimo disse...

Gomex

Coloquei um preço genérico (e acho que apenas o do arroz), para as pessoas não acharem que o Pão de Açúcar tem alguma influência editorial no blog.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO!

heheehehe

abração

Pulo no Escuro disse...

Daniel é sacanagem...